Notícias sobre arte, cultura, turismo, gastronomia, lazer e sustentabilidade

Inscreva seu e-mail e participe de nossa Newsletter para receber todas as novidades

Conhecimento sobre frutas amazônicas pode ajudar a combater desnutrição e a manter a floresta em pé

Amazônia, por Kleber Patricio

Frutas amazônicas como o buriti podem contribuir para a nutrição das comunidades ribeirinhas. Foto: Daniel Tregidgo/Acervo pesquisador.

As frutas amazônicas são fundamentais para a alimentação, a saúde, a cultura e para a preservação da biodiversidade. Em livro lançado na terça (26), pesquisadores do Instituto Mamirauá, da Universidade Federal do Pará (UFPA) e do Laboratório de Biodiversidade e Nutrição (LabNutrir) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) destacam o potencial nutritivo de frutas como açaí-do-mato, buriti, tucumã e jenipapo no combate à fome e à desnutrição.

O livro “Frutas da Floresta: o Poder Nutricional da Biodiversidade Amazônica” tem o objetivo de disseminar informações nutricionais e culturais desses alimentos de forma acessível e lúdica, com esquemas e ilustrações. Ele será distribuído para professores escolares, merendeiras e agentes de saúde de comunidades do Amazonas.

Desde 2022, o grupo de pesquisadores, formado por biólogos e nutricionistas, tem realizado trabalhos de campo sobre a sociobiodiversidade amazônica com as comunidades locais. Mas os estudos na região do médio Solimões têm sido desenvolvidos antes mesmo dessa data e já deram origem a diversos projetos locais, como oficinas de culinária. “A população ribeirinha tem um conhecimento imenso sobre a ecologia e os usos da biodiversidade na alimentação, enquanto nós, pesquisadores, sabemos pelas tabelas nutricionais que as frutas amazônicas são riquíssimas em nutrientes”, explica Daniel Tregidgo, autor do livro e pesquisador do Instituto Mamirauá, sobre a motivação da obra.

Além de propriedades nutricionais e formas de processamento para uso humano de dez frutas, o lançamento compila dados culturais, poemas e curiosidades tradicionais sobre esses vegetais. “Por exemplo, que o nome da fruta camu-camu vem do som que os frutinhos fazem quando caem na água, atraindo os peixes que se alimentam deles. Percebendo isso, os pescadores usam esse alimento na pesca”, comenta Tregidgo.

Ainda, para estimular o consumo desses alimentos, a obra traz mais de 20 receitas de farofas, risotos, pães, bolos e outros pratos feitos com base nas frutas da região amazônica.

Para os pesquisadores, apesar de a desnutrição ser um problema complexo e que exige soluções estruturais, a publicação pode contribuir para a valorização dos alimentos disponíveis no bioma. “É uma triste realidade que um dos piores níveis de insegurança alimentar e desnutrição no Brasil ocorre nas comunidades ribeirinhas da Amazônia – justamente onde tem essa grande riqueza de alimentos da biodiversidade”, explica Tregidgo. “Queremos fortalecer o conceito de que a floresta amazônica oferece saúde para sua população quando se sabe aproveitar bem o que ela fornece”, destaca.

A nutricionista e também autora Yasmin Araújo, cujo trabalho de conclusão de curso originou o projeto do livro, explica que a alimentação da população ribeirinha está muito suscetível às variações climáticas. O cultivo de muitas espécies na várzea, como a mandioca, é mais comum nas épocas de seca. O livro inova ao trazer foco para espécies de frutas que quebram essa lógica. “Escolhemos frutas disponíveis em todas as épocas, seja nas cheias ou na seca, tanto em áreas de terra firme como em áreas de várzea”, aponta a pesquisadora.

A obra também pretende contribuir para a preservação da biodiversidade e poderia gerar, segundo os pesquisadores, um aumento na comercialização de frutas amazônicas com uma possível integração delas nas políticas públicas de alimentação como o Programa Nacional de Alimentação Escolar. Isso poderia trazer mais valor econômico e cultural para a manutenção da floresta amazônica.

(Fonte: Agência Bori)

[Artigo] A luta e o legado do cientista César Lattes

São Paulo, por Kleber Patricio

O físico brasileiro César Lattes em 1954. Foto: Wikimedia.

Por Leonardo Capeleto — Em julho de 2024 serão comemorados os 100 anos do nascimento de Cesare Lattes – que é provavelmente, até hoje, o pesquisador brasileiro que chegou mais perto de um prêmio Nobel.

Quando cientistas iniciam suas carreiras no Brasil, se deparam com Lattes: um banco de currículos científicos atualizado pelos pesquisadores que atuam no país. Porém, muitos dos que utilizam a plataforma ainda desconhecem o pesquisador homenageado pela plataforma, César Lattes, e sua luta pela valorização da ciência brasileira.

Cesare Mansueto Giulio Lattes, mais conhecido como César Lattes, nasceu em 1924 em Curitiba. Filho de imigrantes italianos, estudou em Porto Alegre e em São Paulo. Em 1941, um ano antes do Brasil entrar na Segunda Guerra Mundial, iniciou seus estudos no curso de Física da Universidade de São Paulo (USP). Se formou em 1943, aos 19 anos de idade. Fluente em italiano, Lattes trabalhou na mesma instituição como assistente do físico ítalo-ucraniano Gleb Wataghin e com o físico italiano Giuseppe Occhialini.

Com o fim da guerra, Lattes foi para a Universidade de Bristol trabalhar no laboratório de Cecil Powell com emulsões de chapas fotográficas usadas para capturar a trajetória de raios cósmicos. No fim do mesmo ano, Occhialini expôs chapas durante suas férias, com maior quantidade de “bórax” proposta por Lattes, nos Pirineus franceses. Nestas chapas, os pesquisadores encontraram rastros de uma partícula prevista dez anos antes pelo japonês Hideki Yukawa: o “méson pi” ou “píon”. Para confirmar o achado e ter melhores registros, as placas precisariam ser expostas em altitudes mais altas. Em 1947, Lattes foi para o Monte Chacaltaya, nos Andes bolivianos.

Os resultados destas pesquisas foram publicados por Lattes, Occhialini e Powell em artigos na revista Nature no mesmo ano. Em função destas descobertas, Yukawa foi premiado com o Nobel de Física de 1949 e Powel, em 1950, “pelo desenvolvimento do método fotográfico de estudo de processos nucleares e por suas descobertas sobre mésons feitas com este método”. Até aquele momento, o prêmio Nobel era concedido apenas ao líder e orientador do projeto de pesquisa. Lattes e Occhialini jamais receberam o prêmio por suas descobertas, apesar das sete indicações ao Nobel.

Mesmo sem o merecido prêmio, o reconhecimento das pesquisas alavancou a carreira de Lattes. Alguns anos depois, trabalhou no maior acelerador de partículas do mundo, na Universidade da Califórnia. E em 1949, no auge de sua fama, retornou ao Brasil, sendo recebido como celebridade. Nos anos seguintes, contribuiu com a criação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) – sendo homenageado com o lançamento da Plataforma Lattes em 1999. César Lattes morreu em 2005, aos 80 anos.

Lattes lutou pela pesquisa brasileira e, mesmo em meio a oportunidades externas e conflitos internos, escolheu permanecer no país. Atualmente, mais de 70 anos depois destes eventos, o Brasil ainda não possui nenhum Nobel, seus pesquisadores ainda brigam por investimentos e o país busca soluções para evitar a “fuga de cérebros”. Prêmios de nível internacional demandam investimentos de nível internacional. E em meio a tantos desafios científicos e cobranças por publicações e protagonismo internacional, os pesquisadores ainda precisam lutar constantemente contra os cortes na ciência brasileira.

Quando retornou para o Brasil, em uma carta a um colega, Lattes escreveu: “Prefiro ajudar a construir a ciência no Brasil do que ganhar um Nobel”. Que os cem anos de César Lattes sirvam de inspiração tanto para os novos pesquisadores que criam seus currículos na Plataforma, quanto para aqueles que investem na ciência brasileira.

Sobre o autor | Leonardo Capeleto é pesquisador do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá.

(Fonte: Agência Bori)

Mostra “Ar: Acervo Rotativo” chega ao MARP

Ribeirão Preto, por Kleber Patricio

Fotos: Laerte Ramos/Divulgação.

A exposição coletiva “Ar: Acervo Rotativo” acontece até 4/5/2024 no MARP – Museu de Arte de Ribeirão Preto Pedro Manuel-Gismondi, no centro de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo. Com organização e curadoria de Laerte Ramos, a mostra reúne 400 artistas visuais com obras medindo até 5 x 5 cm.

O projeto foi premiado pelo edital ProAC nº 13/2023 – Artes Visuais/Circulação de Exposição, sendo apresentado no MACS – Museu de Arte Contemporânea de Sorocaba (11/2023 a 1/2024), no interior de São Paulo. Previamente, foi mostrado no Lux Espaço de Arte (16/9–14/10/2023), no Edifício Vera, no centro, e na Oficina Cultural Oswald de Andrade (28/10-19/11/2021), no Bom Retiro, ambas em São Paulo, com realização do Adelina Instituto.

O projeto segue somando artistas por onde passa e, em sua plataforma no Instagram [@acervorotativo], apresenta com transparência seu acervo público-independente em construção e a possibilidade de conexão aos artistas via depoimentos em vídeo na plataforma do IGTV e seus perfis em redes sociais para contatos e pesquisas. O acervo tem obras de artistas do Brasil – assim como do Japão, Nova Zelândia, Bélgica, Uruguai e Argentina – possibilitando em breve parcerias com instituições culturais também no exterior.

Sobre Ar: Acervo Rotativo

A missão do projeto é a formação de um acervo público-independente com obras de artistas visuais contemporâneos brasileiros e estrangeiros. Os artistas são instigados a sintetizar sua poética de trabalho nas dimensões 5x5cm ou até 5x5x5cm. Todas as obras em exibição física ou na plataforma on-line são doadas pelos próprios artistas ao “Ar: Acervo rotativo” e serão expostas em museus, centros de cultura e instituições culturais.

O pequeno formato pode ou não ser interpretado como um desafio dentro da poética e pesquisa do artista, mas trará consigo a preciosidade do gesto e sua essência. O “Ar – Acervo rotativo” visa criar este acervo por meio da participação dos artistas para atuar como um agente em diversas regiões, possibilitando um recorte significativo da produção nacional e internacional.

Sobre o curador

Laerte Ramos (Brasil/São Paulo, SP, 1978) destaca-se no panorama da arte contemporânea brasileira especialmente pela produção em gravura e instalações em cerâmica. Trabalha com diversas linguagens como xilogravura, serigrafia, pintura, escultura, tapeçaria, objetos, utilizando técnicas e materiais que o desafiam como artista-pesquisador.

Graduado Bacharel (2001) e Licenciatura (2002) em artes plásticas pela Fundação Armando Alvares Penteado-FAAP, as pesquisas por ele empreendidas têm como principal eixo condutor os meios reprodutivos da imagem, as seriações em diferentes suportes e a relação com as cidades em que são produzidas ou expostas. Seus trabalhos excedem o caráter de meras peças unitárias e cruzam diferentes linguagens para modificar o compreensão destas e do espaço em que se inserem. Desde a segunda metade da década de 1990, Laerte Ramos tem participado de importantes mostras coletivas e, nos últimos 26 anos, realizou diversas exposições individuais no Brasil e no exterior. Participou de programas de residência artística (França, Suíça, Holanda, Portugal, Estados Unidos e China) e foi contemplado com prêmios, dentre os quais podem ser destacados o prêmio suíço Lelocleprints (2004), o Prêmio Marcantônio Vilaça – Pró Cultura/ MinC (edições de 2012 e 2013) e o Prêmio Mostras de Artistas no Exterior da Fundação Bienal de São Paulo/Phoenix Institute of Contemporary Arts (2011).

Representou o Brasil na Expo Milano/2015 com uma grande instalação de cerâmica que ocupou o Octógono da Pinacoteca de São Paulo no ano anterior. Tem o recorde de 54 exposições individuais, 8 participações em residências artísticas e 32 prêmios como artista.

Já como curador, Laerte possui 13 exposições e três prêmios, destacando o Prêmio Marcantônio Vilaça em 2020 com a mostra “Compreensão do Ar” ou (E = M2). Atua desde 2017 também como curador e é diretor do Ar: Acervo Rotativo – uma coleção independente de arte contemporânea em pequenas dimensões. A frente da produtora “Studium Generale” possibilita diversas frentes de troca de saberes com residência em seu ateliê e projetos de exposições entre outras parcerias culturais. Vive e trabalha em São Paulo. https://www.laerteramos.com.br/

Sobre o MARP

O prédio onde está instalado o MARP – Museu de Arte de Ribeirão Preto Pedro Manuel-Gismondi foi construído no início do século passado para ser a primeira sede da Sociedade Recreativa de Ribeirão Preto.

O projeto para a sede da Sociedade Recreativa é de autoria do arquiteto Affonso Geribello e, a execução da obra, pelo construtor Vicente Lo Giudice. O Baile inaugural da Sociedade Recreativa aconteceu em 31/12/1908.

Aproximadamente em 1922, o terreno ao lado da sede foi adquirido para construção da primeira ampliação, que ocorreu por volta de 1924. Novas adaptações para melhoria das acomodações do prédio, para conforto dos sócios, aconteceram em 1935.

Em 1945, foi aprovado pelo Conselho Deliberativo da Sociedade Recreativa, a construção de uma nova sede em substituição ao antigo prédio, a ser demolido, pois foi considerado inadequado às necessidades do momento. Este fato não chega a se concretizar e em 1951 a Sociedade Recreativa institui um concurso para projeto de construção da nova sede social em terreno da sede de campo.

Em 1956, a antiga sede da Sociedade Recreativa, após reforma efetuada pela Prefeitura, passa a ser ocupada pela Câmara Municipal de Ribeirão Preto, que funcionava desde 1917 no Palácio Rio Branco, juntamente com a Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto.

No piso térreo do prédio foram instalados a Sala das Comissões, da Secretaria, dos secretários, da Presidência, o Arquivo e Bar. No piso superior localizava-se a Sala de Jornalistas, Sala dos Edis e Sala das Sessões. A Câmara Municipal funcionou neste local até o ano de 1984, quando foi transferida para o pavimento superior da Casa da Cultura.

Após uma grande reforma no antigo prédio da Sociedade Recreativa e, posteriormente, Câmara Municipal, é inaugurado em 22 de dezembro de 1992 o MARP – Museu de Arte de Ribeirão Preto, com o objetivo de reunir todo o acervo de artes plásticas da Prefeitura – obras do SARP – Salão de Arte de Ribeirão Preto e do SABBART – Salão Brasileiro de Belas Artes adquiridas pelo poder público, bem como obras doadas, como o conjunto de obras.

Em 2000, o MARP – Museu de Arte de Ribeirão Preto recebeu o nome de Pedro Manuel-Gismondi. https://www.ribeiraopreto.sp.gov.br/portal/marp

Serviço:

Exposição “Ar: Acervo Rotativo”

Organização e curadoria: Laerte Ramos

Visitação: até 4/5/2024 – terça a sexta, das 9h30 às 12h e das 13h às 17h30 (exceto feriados e pontos facultativos); aos sábados, nos dias 6/4, 20/4 e 4/5, das 9h às 15h

Obs.: Exceto feriados e pontos facultativos.

MARP – Museu de Arte de Ribeirão Preto Pedro Manuel-Gismondi

Rua Barão do Amazonas, 323 – Centro – Ribeirão Preto – SP

Tel: (16) 3635 2421

Site: https://www.ribeiraopreto.sp.gov.br/portal/marp

E-mail: marp.cultura@rp.ribeiraopreto.sp.gov.br

Valor: gratuito

Redes sociais:

Acervo rotativo @acervorotativo

Laerte Ramos @laertertamos

MARP @marpmuseudearte.

(Fonte: Marmiroli Comunicação)

“Chego até a janela e não vejo o mundo” leva ao palco o encontro de Graciliano Ramos e Nise da Silveira na prisão

São Paulo, por Kleber Patricio

Chego até a janela e não vejo o mundo. Fotos: Giorgio D’Onofrio.

O encontro da psiquiatra Nise da Silveira (1905–1999) e do escritor Graciliano Ramos (1892–1953) na prisão em 1936, durante a Era Vargas, é tema da peça “Chego até a janela e não vejo o mundo”. Os dois alagoanos, que até então não se conheciam, iniciam uma amizade que extrapola o cárcere e seria levada até a morte do escritor, anos depois. O espetáculo tem direção e dramaturgia de Gabriela Mellão e João Wady Cury e é protagonizado por Simone Iliescu e Erom Cordeiro. A estreia acontece no Itaú Cultural em 28 de março e a temporada segue até 14 de abril, de quinta-feira a sábado, às 20h, e, aos domingos e feriados, às 19h. As sessões são gratuitas.

A obra parte da história real – o encontro entre esses dois personagens maiores da história brasileira – e segue o caminho da ficção. “Para contar essa história vivida por Nise e Graciliano, abordar o horror da perseguição política e a beleza da amizade nascida entre grades, nos interessava a cumplicidade criada no claustro entre eles sem abrir mão de uma narrativa onírica e poética de um lado e também aterrorizante e delirante do outro. Sem esse abstrato, não há como retratar o que eles passaram na prisão”, conta Gabriela Mellão.

Quando foram presos, os dois estavam em momentos diferentes da carreira. Graciliano já tinha publicado ‘Caetés’ (1933) e ‘São Bernardo’ (1934), além de ter sido prefeito de Palmeira dos Índios e diretor da Instrução Pública de Alagoas, cargo equivalente a Secretário Estadual da Educação. Já Nise da Silveira trabalhava no Serviço de Assistência a Psicopatas e Profilaxia Mental do Hospício Nacional de Alienados, no Rio de Janeiro, após ter concluído uma especialização em psiquiatria.

A maneira com que Nise e Graciliano se relacionam evidencia o modo como eles viam a vida. São duas personalidades muito diferentes que compartilham o interesse pelas questões humanas e voltam suas atenções aos que estão à margem do sistema. A experiência da prisão, uma imersão neste universo, reafirma o caminho escolhido por eles, ao mesmo tempo em que ressalta a importância do afeto para o homem em circunstâncias adversas.

O encarceramento gerou impactos diferentes em cada um. “Graciliano publicou livros logo ao sair da prisão, filiou-se ao Partido Comunista, foi candidato a deputado e relatou sua experiência em ‘Memórias do Cárcere’, publicado postumamente. Ao contrário dele, depois de liberada, Nise passou oito anos escondida no interior da Bahia por medo de ser presa novamente. Só retomou sua carreira em 1944, quando a perseguição política do Estado Novo foi amenizada”, acrescenta o diretor e dramaturgo.

Nesse cenário, “Chego até a janela e não vejo o mundo” é um elogio à liberdade que busca retratar de uma maneira simbólica o horror da Era Vargas e da perseguição política. As pesquisas realizadas para o espetáculo apontam que nem o escritor, nem a psiquiatra foram torturados. No entanto, o simples fato de estarem em um ambiente violento foi suficiente para marcar definitivamente as vidas dos dois alagoanos – e o texto evoca isso.

Sobre a encenação

Foi durante o isolamento social vivido por João Wady Cury e Gabriela Mellão na pandemia de Covid-19 que nasceu a peça. A estratégia adotada pela dupla para mergulhar o máximo possível na psiquê desses personagens envolveu uma constante troca de correspondências entre os dois dramaturgos, Mellão como Nise e Cury como Graciliano Ramos. A partir daí, começaram a elaborar a dramaturgia.

Simone Iliescu e Erom Cordeiro dão vida a essas figuras icônicas. Já o clima que transita entre o afetuoso e o aterrorizante é criado por meio da iluminação de Aline Santini, do cenário de Camila Schmidt e da trilha sonora original de Federico Puppi.

GRACILIANO | Eu escrevo. Somente escrevo. Escrevo o que vejo, não invento coisas que não existem porque o mais importante é retratar a realidade como ela é para que as pessoas que não vivem esta realidade saibam como é. O mundo das minhas histórias é o mundo que eu vejo e que vivo. É por isso que escrevo. Para as pessoas. Como você. Fazemos pelo outro, por quem precisa, por quem merece.

NISE | Você acha que eu compreendo as pessoas que estão doentes, que são pobres e que sofrem por estar aqui? Eu me identifico com elas, me sinto uma delas.

GRACILIANO | Há frases que tomam todas as horas do dia, até que fiquem como eu espero. Não faço planos, sigo, somente sigo. (..) As crises passam, tão certo como a vida passa. Então por que diabos prende indivíduos como eu, para quê?

NISE | Ser livre é ter espaço interno para poder ser o que se é? Eu sei quem sou? Em nome do que eu me corrompo? Em nome de desejos? (…) Ter de seguir as normas sociais, as leis e as imposições? De quais condutas estou me referindo, as do sistema, as dos poderosos, do meu ego, do meu inconsciente? Trechos da dramaturgia “Chego até a janela e não vejo o mundo”

Sobre Graciliano Ramos

Primogênito de 16 irmãos, Graciliano Ramos nasceu dia 27 de outubro de 1892 em Quebrangulo (AL). Casou-se aos 23 anos com Maria Augusta de Barros, com quem teve quatro filhos: Márcio, Júnio, Múcio e Maria Augusta, que recebe o nome de sua mãe, falecida no parto. Em 1928, casa-se com Heloisa Leite de Medeiro, em 20 de março de 1953, com quem também tem quatro filhos.

Na vida profissional, além de ser um romancista, contista e cronista notável, o autor de “Vidas Secas” e “Memórias do Cárcere”, entre outras obras-primas da literatura brasileira, foi jornalista, tradutor e teve uma série de cargos públicos, incluindo o de Inspetor Federal de Ensino Secundário do Rio de Janeiro.

Sobre Nise da Silveira

Nise da Silveira nasceu em 15 de fevereiro de 1905, em Maceió (AL). Entre 1921 e 1926, foi a única mulher dentre os 157 alunos da turma na Faculdade de Medicina na Bahia. Especializando-se em Psiquiatria, a médica lutou contra as formas agressivas de tratamento existentes na época, como internação, eletrochoques e lobotomia.

Nise foi responsável por introduzir a arte no cuidado com os pacientes do Centro Psiquiátrico Pedro II. Quem frequentava a Seção de Terapêutica Ocupacional e Reabilitação (STOR) da instituição era convidado a se expressar artisticamente. Todos tinham acesso a ateliês de desenho e pintura, aulas de esportes variados, além de oficinas de teatro, marcenaria e sapataria.

Em 1952, funda o Museu de Imagens do Inconsciente, um Centro de Estudo e de Pesquisa ainda em atividade que reúne as obras de atividades produzidas nos ateliês. Parte do trabalho é exibido no II Congresso Internacional de Psiquiatria, em Zurique, em 1957, a convite de C. G. Jung.

O interesse do fundador da psicologia analítica e da psiquiatra brasileira pela expressividade do inconsciente em pinturas e desenhos sob a forma de mandalas aproxima-os. Além de se corresponderem, Nise viaja algumas vezes à Suíça para visitar e estudar no Instituto C. G. Jung em Zurique. Em 1955 ela forma o Grupo de Estudos C. G. Jung no Brasil.

Sobre o encontro

Nise e Graciliano estiveram presos praticamente no mesmo período, entre os anos de 1936 e 1937. Foram apresentados por um amigo comum, justamente por serem alagoanos, em uma situação curiosa narrada em Memórias do Cárcere, quando precisaram se encarapitar para se ver. A partir daquele momento, iniciou-se uma profícua amizade baseada na cumplicidade das grades.

Nos poucos momentos em que puderam se encontrar, fosse nos banhos de sol ou mesmo na enfermaria da prisão, passaram a conversar sobre assuntos de interesse comum — é importante lembrar que homens e mulheres ficavam em alas separadas, apesar de muitas vezes contíguas. Graciliano e Nise, além de terem em comum o Estado de Alagoas, comungavam do interesse no ser humano.

Sinopse | Graciliano Ramos e Nise da Silveira são presos durante a ditadura Vargas. Nesta situação de restrição absoluta, acabam se conhecendo e nasce uma amizade que se estende até o final da vida entre o escritor, um dos mais importantes do país, autor de Vidas Secas e São Bernardo, e a psiquiatra que revolucionou o tratamento psiquiátrico no Brasil com a inserção da arte na vida dos internos em manicômios. São duas personalidades muito diferentes que têm em comum o afeto, a compreensão de suas condições e o tamanho do mundo.

Ficha Técnica

Texto e direção: Gabriela Mellão e João Wady Cury

Atuação: Simone Iliescu e Erom Cordeiro

Cenografia: Camila Schmidt

Desenho de luz: Aline Santini

Assistente de iluminação: Gabriela Ciancio

Trilha sonora original: Federico Puppi

Operador de som: May Manão e Lucas Bressanin

Figurinista: Dani Tereza Arruda

Preparador físico e coreógrafo: Reinaldo Soares

Fotografia: Giorgio D’Onofrio

Designer gráfico: Ana Fortes

Produção: Corpo Rastreado – Letícia Alves

Assessoria de Imprensa: Canal Aberto – Márcia Marques.

Serviço:

Chego Até a Janela e Não Vejo o Mundo

Temporada: 28 de março a 14 de abril – de quinta-feira a sábado, às 20h, e, domingos e feriados, às 19h

Na Sala Itaú Cultural (Piso Térreo)

Duração: 70 minutos aproximadamente

Capacidade: 224 lugares

Classificação Indicativa: 16 anos (temas sensíveis, prisão, tortura)

Entrada gratuita. Reservas de ingressos pela plataforma INTI – acesso pelo site do Itaú Cultural www.itaucultural.org.br.

(Fonte: Canal Aberto Assessoria de Imprensa)

Nikkey Restaurante: uma jornada culinária única para usufruir no bairro da Liberdade

São Paulo, por Kleber Patricio

Foto: Monica Quinta.

Localizado no primeiro subsolo do tradicional Nikkey Palace Hotel, o Nikkey Restaurante é uma joia culinária que encanta tanto hóspedes quanto visitantes na região da Liberdade, em São Paulo. Com uma proposta gastronômica diversificada e um ambiente acolhedor que remete ao mundo oriental, este estabelecimento oferece uma experiência única para os apreciadores da culinária oriental e brasileira.

Uma das características mais distintivas do Nikkey Restaurante é a sua capacidade de atender tanto os hóspedes do hotel quanto o público externo. Seus serviços de café da manhã, almoço e jantar garantem que todos possam desfrutar das delícias gastronômicas oferecidas e comportam até 100 pessoas no salão principal.

Foto: Divulgação.

As opções de refeição são vastas e incluem pratos da gastronomia japonesa, chinesa e brasileira. Os clientes podem optar pelo rodízio ou à la carte, sendo que o almoço é servido também em estilo de buffet, proporcionando uma ampla variedade de sabores e texturas das 11h30 às 14h30 diariamente.

No jantar, o destaque fica por conta do rodízio, disponível de terça a domingo das 18h às 21h. Os clientes têm a oportunidade de saborear uma seleção de pratos frios e quentes que combinam ingredientes frescos e saborosos.

Para os apreciadores de um café da manhã completo, o Nikkey Restaurante não decepciona. Das 6h30 às 9h30, os clientes podem desfrutar de uma variedade de opções que incluem tanto pratos tradicionalmente japoneses, como sunomono, tsukemono e yakizakana, quanto opções mais ocidentais, como pães, frios, sucos, frutas e iogurtes.

Foto: Divulgação.

Além disso, o restaurante oferece uma experiência única nas suas Ozashiki, salas de tatame japonês, onde os clientes podem desfrutar de uma refeição em um ambiente intimista e exclusivo. Com capacidade para acomodar até 8 pessoas cada, as três salas podem ser reservadas por um valor fixo. Adicionalmente, as divisórias podem ser retiradas para formar uma única sala, ideal para grupos maiores de até 23 pessoas. Mais informações: www.nikkeyhotel.com.br.

(Fonte: Assimptur)