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Espetáculo infantil indígena ‘Pa’ra – rio de memórias’ estreia no Sesc Consolação

São Paulo, por Kleber Patricio

Foto: Ethel Braga.

Com direção de Marina Esteves e dramaturgia de Idylla Silmarovi e Lenise Oliveira, esta também responsável pela atuação, o espetáculo infantil indígena Pa’ra – rio de memórias’, conflui as memórias de infância da atriz no Jurunas – uma das maiores periferias de Belém (PA) – com a cosmovisão de seu povo, os Sateré-Mawé. A temporada de estreia acontece entre os dias 15 de março e 10 de maio de 2025 no Teatro Anchieta do Sesc Consolação, com sessões todos os sábados, às 11h.

Quando se mudou para São Paulo, em 2021, Lenise precisou lidar com várias formas de violência, como a discriminação social, a desvalorização dos seus saberes e um processo de ‘aculturação’ forçada. Por isso, ‘Pa’ra – rio de memórias’ faz um resgate ancestral. Na trama, uma criança indígena chamada Dalú é obrigada a deixar o território do seu povo, em Mairi (Belém do Pará), e migrar com a mãe para a periferia de um grande centro urbano, Nhe’e ry (São Paulo). Nesse novo local, elas enfrentam muitos desafios, como o preconceito e a truculência policial.

Quando o pior acontece e a casa das duas é invadida, a menina clama por seus ancestrais e embarca em uma viagem em busca das riquezas do seu povo – tudo ao lado dos seus melhores amigos boldo, alecrim e capim cidreira. Nesse mundo, o rio das memórias, a protagonista escuta os conselhos da natureza, onde os vivos não se distanciam dos encantados e dos seus ensinamentos.

Sobre o espetáculo

Pa’ra – rio de memórias’ está estruturado em três eixos: infância, corpo e territorialidade. Segundo Lenise, o aspecto mais importante da montagem é debater os direitos das crianças indígenas no contexto urbano. “A educação nas comunidades indígenas, por exemplo, deve ser bilíngue e intercultural, respeitando as tradições e os idiomas nativos. No entanto, o sistema educacional brasileiro, em muitos casos, falha em promover esse tipo de educação. O que resulta em um processo de alienação cultural, em que as crianças indígenas são forçadas a se adaptar a uma cultura dominante. Muitas precisam sair do território para estudar na cidade e enfrentam todo tipo de violência”, comenta a idealizadora. Para dar conta dessas questões, as artistas fugiram dos estereótipos. Por isso, elementos como penas e pinturas corporais não foram incluídos na encenação.

O espetáculo combina a estética afro-minimalista, presente na pesquisa de Marina Esteves, com a imersão na cultura Sateré-Mawé e paraense, desenvolvida pela atriz e idealizadora Lenise Oliveira. Fugindo das representações coloniais dos povos originários, a direção adota uma paleta vibrante de vermelho, azul e marrom para compor a identidade visual da obra.

Na trama, Dalú embarca em uma jornada lúdica por um mundo imaginário, onde encontra seres que simbolizam figuras importantes para a população indígena, cada um carregando histórias e ensinamentos essenciais. “Partindo do conceito de ressignificação dos objetos, chegamos aos bancos de Pajé, que, ao longo da narrativa, se transformam em animais, guarda-chuvas, cidades e tudo o mais que precisarmos”, explica Marina.

A trilha sonora, criada exclusivamente para a obra, tem assinatura de Dani Nega. musicista se inspirou nas sonoridades típicas do Pará. Dessa forma, a musicalidade Sateré-Mawé se mistura ao brega e ao techno brega das aparelhagens.

Por todos esses elementos, Pa’ra – rio de memórias também se converte em um espaço de resistência cultural onde as tradições indígenas são celebradas e reimaginadas. Nesse processo, o público é convidado a refletir sobre suas próprias identidades em um mundo que frequentemente tenta apagá-las.

A peça é um desdobramento do projeto ‘Perspectivas Indígenas em Cena’, que foi contemplado pelo programa Funarte Retomada 2023 – Teatro e contou com o apoio do Museu das Culturas Indígenas.

Sinopse | Pa’ra – rio de memórias conta a trajetória de Dalú, uma menina indígena do povo Sateré-Mawé que é levada a uma viagem no mundo dos ancestrais para retomar as riquezas de seu povo e ajudar a sua família a lidar com conflitos territoriais na cidade grande. Ao se encontrar com encantados e antepassados, a peça convida o público a navegar por esse rio de memórias e dialogar em torno das infâncias indígenas dentro e fora das aldeias.

Ficha Técnica

Idealização e atuação: Lenise Oliveira

Direção geral: Marina Esteves

Diretora assistente: Roberta Araújo

Dramaturgia: Idylla Silmarovi e Lenise Oliveira

Orientação em dramaturgia: Marina Esteves

Orientação e pesquisa da etnia Sateré-Mawé e cultura paraense: Lenise Oliveira

Direção musical e trilha sonora original: Dani Nega

Música ‘Legado’, gentilmente cedida pela artista paraense e indígena tupinambá: Liège

Desenho de luz: Juliana Jesus

Direção de movimento: Marina Esteves e Key Sawao

Preparação corporal: Key Sawao

Concepção em coreografia: Marina Esteves

Preparação Vocal: Marisa Brito

Cenografia: Marília Piraju

Objetos e adereços: Marília Piraju, Abmael Henrique, Artzion

Pintura Artística: Vincent Guitox

Confecção Porantin: Cassio Omae

Cenotecnia: Giovanna Guadanholi e Andieli Gorci

Figurino: Ayomi Domenica

Assistente de figurino: Regina Torres

Costura: Jonhy Carlo

Operação de luz: Juliana Jesus

Operação de som: Dani Nega

Ilustrações do programa: Mara Carvalho

Fotografia de divulgação: Ethel Braga

Mídias sociais: Liège

Assessoria de imprensa: Canal Aberto – Márcia Marques, Daniele Valério e Carina Bordalo

Produção geral: Tati Caltabiano e Lenise Oliveira

Produção jurídica: Corpo Rastreado

Apoio: Museu das Culturas Indígenas

Realização: Sesc São Paulo.

Serviço:

Pa’ra – rio de memórias

Temporada: De 15/3 a 10/5. Sábados, 11h. Dia 1/5. Quinta, 11h.

Teatro Anchieta – Sesc Consolação (280 lugares)

Rua Dr. Vila Nova, 245, Vila Buarque, São Paulo – SP

Telefone: (11) 3234-3000

Site: sescsp.org.br/consolacao

Horário de funcionamento: Terça a sexta: das 10h às 21h30; sábados: das 10h às 20h; domingos e feriados: das 10h às 18h.

Ingressos: R$40,00 (inteira), R$20,00 (meia-entrada), R$12,00 (credencial plena). Crianças até 12 anos não pagam.

Venda on-line: em centralrelacionamento.sescsp.org.br e no app Credencial

Venda presencial: na bilheteria de qualquer unidade do Sesc SP

Duração: 50 minutos | Classificação: Livre

Acessibilidade: teatro acessível a cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida

sescsp.org.br/consolacao

Facebook e Instagram.

(Com Daniele Valério/Canal Aberto Assessoria de Imprensa)

Programação no Theatro Municipal de São Paulo em abril tem concerto Clamor Pela Paz com Orquestra Sinfônica e Coral Paulistano

São Paulo, por Kleber Patricio

Orquestra Sinfônica Municipal. Foto: Larissa Paz.

Em abril, a programação do Theatro Municipal de São Paulo apresenta um espetáculo que dialoga com tradições da música popular, como ‘Danças’, um programa que une três obras dedicadas ao Quarteto de Cordas da Cidade de São Paulo. Além disso, a Orquestra Sinfônica Municipal, sob regência de Roberto Minczuk, e o Coral Paulistano, apresentam ‘Clamor Pela Paz’, com obras que convidam o público a reflexões sobre a guerra e a paz.

No dia 3, quinta-feira, às 20h, na Sala do Conservatório, o Quarteto de Cordas da Cidade apresenta Danças. Com Betina Stegmann e Nelson Rios, violinos, Marcelo Jaffé, viola e Rafael Cesario, violoncelo. O repertório terá Quarteto nº 1, de Osvaldo Lacerda, Suíte Brasileira, de Kleberson Buzo, e São Tango, de Alejandro Drago. Os ingressos custam R$35, a classificação é livre e a duração de 60 minutos, sem intervalo.

Camerata da Orquestra Experimental de Repertório. Foto: Larissa Paz.

Sob regência do maestro Roberto Minczuk, a Orquestra Sinfônica Municipal apresenta, ao lado do Coral Paulistano, Clamor Pela Paz. O concerto conta com a participação da violinista Fernanda Krug, do barítono Savio Sperandio e do narrador Tuna Dwek. O repertório terá Sinfonia nº7, II. Allegretto, de Ludwig Van Beethoven, Para o funeral de um soldado, de Lili Boulanger e Um Sobrevivente de Varsóvia, de Arnold Schönberg, entre outros. As apresentações acontecem no dia 4, sexta-feira, às 20h, e dia 5, sábado, às 17h, na Sala de Espetáculos. Os ingressos variam de R$10 a R$70, a classificação livre e a duração, de 90 minutos, já com intervalo.

No dia 11, sexta-feira, às 19h, na Sala do Conservatório da Praça das Artes, a Camerata da Orquestra Experimental de Repertório, sob regência Leonardo Labrada, apresenta Solos Insólitos, com a participação de César Petena, na viola caipira e viola de cocho, Giovana Carcanholo, no piccolo, e Leonardo Lima e Daniel Mengarelli, contrabaixos. Para o primeiro o concerto da série Cameratas da Orquestra Experimental de Repertório, a proposta foi trazer solistas e instrumentos inusitados. Sendo assim, conta com os dois extremos da orquestra como solistas, o mais agudo das madeiras bem como o mais grave das cordas, Piccolo e Contrabaixo. Na escolha das obras para estes instrumentos estão dois compositores bastante conhecidos – porém não as obras – Bottesini e Vivaldi.

O repertório terá Delírios Licantrópicos de uma viola selvagem para viola caipira e cordas, de Matheus Bitondi, e Concerto para piccolo e orquestra em Dó Maior, RV 443, de Antonio Vivaldi, entre outros. Os ingressos custam R$35, a classificação é livre e duração de 40 minutos, sem intervalo.

Quarteto de Cordas da Cidade de São Paulo. Foto: Larissa Paz.

No dia 11, sexta-feira, às 20h, e dia 12, sábado, às 17h, na Sala de Espetáculos, a Orquestra Sinfônica Municipal apresenta Harmonias Celestiais, com a participação da harpista Jennifer Campbell. A regência é de Priscila Bomfim, maestra assistente da Orquestra Sinfônica Municipal desde janeiro de 2025.

O repertório terá grandes nomes da composição, como Camille Pépin, uma das jovens compositoras de maior destaque da França na atualidade. O Concerto Henriette Renié será interpretado por Jennifer Campbell, exímia solista escocesa, vencedora de prêmios internacionais e que, desde 2014, é harpista solista da Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal de São Paulo, entre outras obras. Os ingressos variam de R$10 a R$70, a classificação é livre e a duração de 90 minutos, sem intervalo.

Por fim, dia 17, quinta-feira, às 20h, na Sala do Conservatório, Quarteto Convida Paulo Braga. Com Betina Stegmann e Nelson Rios, violinos, Marcelo Jaffé, viola e Rafael Cesario, violoncelo e a participação do pianista Paulo Braga. O repertório terá Valsas de Arrigo Barnabé em arranjos especiais para quarteto e piano. Os ingressos custam R$35, a classificação é livre e a duração de 60 minutos, sem intervalo. Mais informações disponíveis no site.

(Com Letícia Santos/Assessoria de imprensa do Theatro Municipal)

Lílian Rocha apresenta seu álbum de estreia, ‘Do Nilo’, no teatro do Sesc Bom Retiro, sexta-feira, dia 21/3

São Paulo, por Kleber Patricio

Crédito da foto: Dani Souza.

A compositora e cantora Lílian Rocha apresenta o show do álbum ‘Do Nilo’, no teatro do Sesc Bom Retiro, sexta-feira, dia 21/3, às 20h. O repertório explora as conexões entre a música popular brasileira e as sonoridades africanas. Além da participação da cantora e compositora paulista Luana Bayô, Lílian Rocha sobe ao palco do Sesc Bom Retiro acompanhada de Mayara Almeida, saxofones e flauta transversal, Arthur Souza, contrabaixo, Filipe Gomes, bateria, Valentina Facury, percussão, Tuco, cordas e voz, e Vitor Arantes, piano e teclados. O álbum que deu origem ao show reúne 13 faixas e traz a essência da obra autoral de Lílian, navegando por ritmos regionais do Brasil e explorando influências musicais do Magreb e da África Ocidental, entrelaçadas com o jazz. Com canções e peças instrumentais, o repertório revela o diálogo com artistas como Milton Nascimento, Moacir Santos (1926–2006) e Mayra Andrade. O projeto é fruto da experiência da cantora como pesquisadora dessas tradições, celebrando a cultura afro-diaspórica contemporânea, tendo entre os destaques as músicas ‘Cumbuca’, ‘Sua Vez’ e ‘Redonda’, que trazem novidades nos arranjos para este show.

Lílian Rocha

Compositora, cantora, bailarina e performer paulista de origem mineira, com atuação nas artes do corpo, costura experiências nas narrativas de tradição oral, nas danças de matrizes afro-brasileiras e africanas, além de música vocal. Técnica em Canto (2015), graduada em música (2020) e pós-graduanda em Pedagogia Vocal (2024). Como cantora intérprete colaborou com artistas nacionais e internacionais, principalmente africanos, ao longo dos últimos oito anos. Em 2024 lança o seu primeiro disco de estúdio, Do Nilo, com show de estreia em outubro/2024, no Centro Cultural São Paulo e na mintour Juiz de Fora/MG.

Luana Bayô

Luana Bayô é cantora, educadora e compositora paulistana de Campo Limpo, São Paulo. Tem um trabalho primoroso fortemente marcado pela presença da música negra em diáspora. Foi a vencedora do Prêmio da Música 2023 na categoria cantora revelação. Sua carreira artística é múltipla o que lhe permitiu atuar em espetáculos como ‘Peles Negras, Máscaras Brancas’ da Cia. Treme Terra, além de participar de bloco afros de São Paulo e integrar o coletivo de Mulheres Negras no Samba ‘Massembas de Ialodês’.

Serviço:

Lílian Rocha | Participação de Luana Bayô | Show do álbum Do Nilo

Dia 21/3 – sexta, às 20h

Ingressos: R$18 (Credencial Plena), R$30 (Meia) e R$60 (Inteira)

Local: teatro (291 lugares) – 10 anos

Venda de ingressos disponíveis pelo APP Credencial Sesc SP, no site sescsp.org.br/bomretiro ou nas bilheterias.

Estacionamento do Sesc Bom Retiro – (vagas limitadas): O estacionamento do Sesc oferece espaço para pessoas com necessidades especiais e bicicletário. A capacidade do estacionamento é limitada. Os valores são cobrados igualmente para carros e motos. Entrada: Alameda Cleveland, 529.

Valores: R$8 a primeira hora e R$3 por hora adicional (Credencial Plena). R$17 a primeira hora e R$4 por hora adicional (Outros). Valores para o público de espetáculos: R$11,00 (Credencial Plena). R$21,00 (Outros).

Horários: Terça a sexta 9h às 20h; sábado 10h às 20h e domingo, 10h às 18h.

IMPORTANTE: Em dias de evento à noite no teatro, o estacionamento funciona até o término da apresentação.

Transporte gratuito: O Sesc Bom Retiro oferece transporte gratuito circular partindo da Estação da Luz. O embarque e desembarque ocorre na saída CPTM/José Paulino/Praça da Luz. Consulte os horários disponíveis de acordo com a programação no link https://tinyurl.com/3drft9v8.

Sesc Bom Retiro

Alameda Nothmann, 185, Campos Elíseos, São Paulo – SP

Telefone: (11) 3332-3600

Siga o @sescbomretiro nas redes sociais: Facebook, Instagram, Youtube

Fique atento se for utilizar aplicativos de transporte particular para vir ao Sesc Bom Retiro: É preciso escrever o endereço completo no destino, Alameda Nothmann, 185, caso contrário o aplicativo informará outra rota/destino.

(Com Flávio Aquistapace/Sesc Bom Retiro)

[Artigo] Ainda Estou Aqui: o luto familiar dos entes de desaparecidos políticos

São Paulo, por Kleber Patricio

Cena do filme ‘Ainda Estou Aqui’, que retrata o sofrimento da família com o desaparecimento do deputado federal Rubens Paiva. Reprodução/Divulgação.

Com a vitória no Oscar do filme brasileiro ‘Ainda Estou Aqui’”, que trata do luto da Família Paiva pela perda de Rubens Beyrodt Paiva – sequestrado e morto no DOI-CODI em 1971 –, vem à tona a urgência de debater os lutos não resolvidos da Ditadura Militar.

Três desafios afligem a família em um luto inconcluso. Primeiro, a ocultação do corpo e da verdade força a família do desaparecido a escolher entre apostar na esperança do regresso ou presumir a morte para poder seguir a vida em frente. Exige-se dela uma tarefa mais complexa do que no luto comum: em vez de processarem a perda em razão da morte constatada, aqui o dilema é ‘manter vivo’ ou ‘matar’ subjetivamente uma figura, da qual desconhecem o paradeiro. Portanto, o sumiço do corpo prolonga a prática da tortura, agora infligida atemporalmente aos familiares.

Seguidamente, outro aspecto desse luto traumático é o preconceito. Como os discursos oficiais da Ditadura Civil-Militar estereotipavam os opositores do governo como ‘subversivos’ e ‘rebeldes’, até hoje os familiares das vítimas sofrem discriminação em função desse legado narrativo. Sua busca por justiça continua sendo censurada e criticada como um ato de defesa em prol de ‘criminosos’, vide que no último domingo, Marcelo Rubens Paiva, filho de Rubens e Eunice Paiva e autor do livro Ainda Estou Aqui, foi agredido durante um desfile de carnaval em São Paulo.

Quando a Doutrina de Segurança Nacional disseminou a ideia de que as pessoas presas, mortas, torturadas, ocultadas e desaparecidas ‘mereceram’ esse destino por ameaçarem à pátria, a dor dos familiares é invalidada, a justiça é negada e o desejo de reparação é obstado.

Por fim, a sensação de impunidade é outro trauma que entra no processo de elaboração do luto familiar. As autoridades, ao abnegarem a responsabilidade pelos crimes cometidos no período da Ditadura, perpetuam o ciclo de dor e de violência. Sendo assim, a resiliência interna das famílias é a única arma contra a opressão e a injustiça.

Tais famílias tendem a se sentir desamparadas em razão da contenção solitária do próprio trauma. Por isso, a literatura, os filmes, as peças teatrais, os protestos e os movimentos de resistência, além de catárticos, proporcionaram alívio à sensação de loucura familiar imposta pelas deslegitimações da Ditadura Civil-Militar.

Romper o pacto de medo

Nesse cenário, as famílias que rompem com o pacto de medo atestam publicamente sua sanidade, revelando assim a verdadeira ameaça da sociedade: o governo. Se precisam ocultar fatos e corpos, atestam tacitamente que são criminosos.

Enfrentar o silenciamento é essencial para construir uma ressignificação dos fatos, produzindo uma memória coletiva sobre os eventos traumáticos e fantasmáticos. Desse modo, o sofrimento pode ser retirado da sensação de ser um delírio pessoal, ganhando assim um caráter de realidade que possibilita novas inscrições psíquicas. Através da realidade pessoal compartilhada, o processo de luto das famílias pode ser facilitado.

Através da relação com outros interlocutores, o testemunho familiar perde o efeito do desmentido, da negação da tortura, da morte e da desqualificação realizada pelo sistema necropolítico da Ditadura. A justiça, enquanto vingança sublimada, requer agressividade; e a capacidade de resistir às perversões do Estado evidencia a força interna das famílias enlutadas.

Com a validação social e jurídica dos depoimentos, a família alivia o fardo de sustentar sozinha a memória do desaparecido, agora localizado no domínio público. Afinal, a história de vida de um desaparecido é um capítulo inacabado, possui começo e meio, mas sem os ritos e símbolos e fatos que confirmam o seu fim. É um nome sem corpo, um morto sem a celebração final da passagem pelo mundo que ampara a elaboração sadia do luto.

Em que medida a busca por respostas influencia o equilíbrio emocional dos familiares?

Apesar de ser torturante emocionalmente, o sofrimento da busca por respostas pode ser a forja do trabalho de luto. Quando a família mobiliza todos os seus esforços para solucionar o enigma do desaparecimento, ela pode pacificar os sentimentos de culpa provocada pela inércia e resignação em razão do medo de represálias.

A investigação empírica do desaparecimento permite à família concluir a separação entre fantasia e realidade, e entre a descoberta e o que foi contado, deduzindo a verdade pelo reconhecimento da mentira. Quando ela atravessa o rochedo das omissões, ocultações e falácias, passando pelo instante de ver, compreender e concluir dedutivamente, o status de desaparecido pode ser alterado para morto. Presumir a morte, por mais difícil que seja, possibilita preservar a memória em detrimento da esperança do retorno.

Assim, a figura desaparecida pode ser retirada desse limbo subjetivo, do lugar de ser um morto-vivo, um ausente-presente, um ente fora das coordenadas do espaço-tempo, que se presentifica eternamente porque a família foi privada do direito de simbolizá-lo no reino dos mortos.

Portanto, a busca por respostas possibilita a ritualização do luto, um direito subtraído pela ocultação do cadáver. Nesse caso, o tempo não cura, a verdade não aparece e a justiça falha e tarda. Tudo isso convoca os familiares a agirem ativamente para concluir o luto do desaparecido, construindo artificialmente, a partir dos próprios esforços, os ritos de passagem que possibilitam admitir a perda.

Marcos Torati, psicólogo e psicanalista. Foto: Divulgação.

Em última análise, através do teste de realidade, o psiquismo é capaz de criar uma representação simbólica para a morte a partir da noção do corpo sem vida. Contudo, a noção de ‘desaparecimento’ é um conceito irrepresentável para a mente, algo inominável e vazio de sentido, tal qual ao conceito de ‘nada’. Contudo, são os atos de amor para com os desaparecidos que sustentam a silhueta humana do corpo que a Ditadura Militar tentou apagar.

Sobre Marcos Torati | Mestre em Psicologia Clínica pela PUC-SP, com especialização em psicanálise (abordagem winnicottiana) e psicoterapia focal. É supervisor de atendimento clínico e professor e coordenador de cursos de pós-graduação em Psicologia e Psicanálise.

(Com Vinicius Cavallero/Agência Contato)

Editora universitária lança coleção de livros gratuitos para formação docente

Porto Alegre, por Kleber Patricio

Coleção Fronteiras que Conectam. Imagem: Divulgação.

Despertar o interesse de crianças e adolescentes pelos processos de produção do conhecimento é essencial para o desenvolvimento do pensamento crítico, da curiosidade intelectual e da capacidade de resolução de problemas. Uma pesquisa realizada pelo British Council e pela Fundação Carlos Chagas revelou que mais da metade – 51,7% – dos alunos do ensino básico estão nos níveis mais primários de letramento científico. A fim de mudar esse cenário, a PUCPRESS – editora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) –, em parceria com a FTD Educação e a Iniciação Científica e Tecnológica da PUCPR, lança a coleção ‘Fronteiras que conectam: Educar para transformar’.

Composta por quatro títulos de acesso gratuito em formato de e-books e audiolivros, a coleção é voltada para a atualização e qualificação de professores de todos os níveis de ensino. Reunindo reflexões sobre Educação, Ciências, Sustentabilidade e Inovação com ênfase no desenvolvimento de habilidades de pesquisa, pensamento crítico e envolvimento social para transformar a prática docente, a iniciativa tem curadoria assinada por pesquisadores da PUCPR e pelas equipes especializadas da PUCPRESS e da FTD Educação. “A coleção representa um marco na atuação da PUCPRESS no mercado editorial educacional e um investimento na qualificação docente. A proposta central é fomentar o desenvolvimento de habilidades essenciais para o professor do século XXI, oferecendo suporte teórico e prático para que estes possam atuar como mediadores do conhecimento e agentes de mudança. O material também está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, promovendo a reflexão sobre sua integração às práticas educacionais, com o propósito de ampliar seu impacto na sociedade”, explica Michele Oliveira, gerente da PUCPRESS.

Os volumes apresentam uma abordagem multidisciplinar e contemporânea, buscando conectar a pesquisa acadêmica com a prática pedagógica transformadora. “A iniciação científica pode ser considerada um núcleo de resistência na formação do jovem, opondo-se ao consumo fast food de informações na internet, bem como às fake news, e ainda despertando a visão crítica de problemas e mobilizando os estudantes para se envolverem na busca de soluções”, destaca Cleybe Hiole Vieira, coordenadora da Iniciação Científica e Tecnológica da PUCPR.

Com os títulos ‘Educação para a mudança’, ‘Cuidando do nosso planeta’, ‘Construção de um amanhã verde’ e ‘Nosso futuro sustentável’, a coleção oferece aos educadores ferramentas e reflexões para aprimorar suas práticas em sala de aula e contribuir para uma sociedade mais justa e sustentável. Cada volume também conta com materiais de apoio com propostas de experimentos simples, roteiros de projetos, atividades exploratórias ou investigativas, além de dicas que auxiliam o educador a debater com seus estudantes as atividades aplicadas em sala de aula. “Ao trazer temas estruturantes como sustentabilidade, inovação, diversidade, energia e meio ambiente, ‘Fronteiras que conectam’ não apenas amplia o repertório dos educadores, mas também provoca novas práticas pedagógicas, incentivando a aprendizagem ativa e a abordagem transdisciplinar”, revela Isabelle Porteles, gerente de desenvolvimento educacional da FTD Educação.

A coleção Fronteiras que conectam: Educar para transformar está disponível gratuitamente no site da PUCPRESS.

Serviço:

Fronteiras que conectam: Educar para transformar

Editora: PUCPRESS

Outras informações: www.pucpress.com.br.

Sobre a PUCPRESS 

A PUCPRESS, editora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), é referência no mercado editorial brasileiro, com mais de 40 anos de história e um catálogo diversificado de títulos acadêmicos e científicos em áreas como Filosofia, Educação, Direitos Humanos, Inovação e Tecnologia, Bioética, Cidades, Saúde e Biotecnologia, Energia, Tecnologia da Informação e Comunicação. Alinhada aos valores do Grupo Marista e às áreas estratégicas da PUCPR, a editora busca disseminar conhecimento de qualidade, promover o avanço da ciência e impactar positivamente a sociedade. Com publicações que abrangem desde livros impressos a e-books e audiobooks, a PUCPRESS também colabora com iniciativas globais, como o SDG Publishers Compact da ONU, reafirmando seu compromisso com a educação, inovação e sustentabilidade. Outras informações: www.pucpress.com.br