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Instituto Argonauta libera Baleia-jubarte presa em cabo de pesca em Ilhabela

Ilhabela, por Kleber Patricio

Cabo estava preso na cauda da Jubarte e foi cortado pela equipe do Instituto Argonauta. Fotos: Instituto Argonauta.

Uma baleia-jubarte (Megaptera novaeangliae) ficou presa em um apetrecho utilizado em pesca de espinhel e foi desemalhada em Ilhabela, litoral norte de São Paulo, na tarde desta terça-feira (27) pela equipe do Instituto Argonauta.

A ação contou com o apoio da embarcação Pontoporia da Terramare e o acionamento foi feito pelas equipes da embarcação Megafauna e do VIVA Instituto Verde Azul, que avistou a baleia pela manhã e solicitou apoio da Megafauna, que estava na região observando baleias, a bordo com equipes dos Projetos Baleia à Vista e Mantas de Ilhabela, além de fotógrafos.

Segundo informações da equipe de desemalhe do Instituto Argonauta, a baleia que estava emalhada tinha um tamanho aproximado de oito a nove metros. Ela estava arrastando um cabo de nylon com poita (peso para manter o petrecho no fundo), que estava preso a sua cauda, medindo cerca de 80 metros e espessura de 8 a 10mm. Esse é um tipo de apetrecho utilizado em pesca de espinhel – formado pela linha principal, linhas secundárias (alças) e anzóis.

A equipe especializada do Instituto Argonauta, com os biólogos Marcelo Rezende e Vinicius Damasceno, seguindo todo o protocolo exigido para a operação, conseguiu efetuar com sucesso o corte do cabo e a liberação do animal. Durante a ação, outra baleia jubarte menor, que media de 6 a 7 metros, acompanhava a baleia emalhada. A equipe observou que o cabo preso à jubarte estava muito pesado e que ficou surpresa como o cetáceo estava conseguindo nadar com o apetrecho enroscado.

O desemalhe de uma baleia é uma atividade extremamente arriscada, que precisa ser feita seguindo protocolos específicos e regulamentados no Brasil pelo CMA-ICMBIO e por uma equipe técnica capacitada e treinada para evitar ao máximo o risco a vida da equipe de salvamento. A capacitação e o uso de equipamentos corretos e adequados para este tipo de atividade são muito importantes para o sucesso da operação.

O desemalhe de uma baleia segue protocolos específicos e deve ser realizado somente por uma equipe técnica capacitada e treinada.

“Quando as pessoas tentam, nas melhores das intenções, fazer o desemalhe para ajudar o animal, acabam se colocando em risco e comprometendo, na maioria das vezes, a operação. As equipes utilizam equipamentos específicos para minimizar o risco da baleia causar ferimentos às pessoas que estão tentando ajudar. Importante também lembrar que, não se deve, em hipótese alguma, entrar na água para tentar desemalhar o animal”, enfatiza o biólogo do Instituto Argonauta Manuel da Cruz Albaladejo.

Diretora executiva do Instituto Argonauta, a bióloga Carla Beatriz Barbosa explica o motivo desses animais aparecerem na região. “As baleias-jubartes migram da Antártica para a costa sul da Bahia durante o inverno para reprodução e amamentação. Durante seu deslocamento, são avistadas na região do Litoral Norte – um dos caminhos da sua longa trajetória”, comenta.

A baleia-jubarte recentemente foi enquadrada no status segura/pouco preocupante ou, em inglês, Least Concern (LC), de acordo com a Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas (em inglês IUCN Red List ou Red Data List). Isso porque, depois que sua caça foi proibida, a população das Jubartes no Oceano Atlântico sul ocidental está em plena recuperação.

No entanto, a espécie sofre com outras ameaças, como a pesca incidental. “É quando esses animais acabam se enroscando em algum apetrecho de pesca que não era destinado a elas. Não é o objetivo dos pescadores que a baleia se emalhe, pois acabam perdendo seus petrechos, mas é um dos grandes desafios de gestão das áreas marinhas. Elas ainda podem ser atropeladas por lanchas, barcos ou navios e tem também as pessoas que não respeitam as normas de avistamento, o que pode causar o molestamento desses animais”, alerta Carla.

O Instituto Argonauta, que atua em todo litoral norte do Estado de São Paulo, tem em seu histórico, conjuntamente com Aquário de Ubatuba e Projeto Tamar, o resgate de uma baleia jubarte no ano de 2000 que encalhou na Praia do Bonete em Ubatuba e que foi reavistada em Abrolhos com comportamento normal de reprodução oito anos depois.

Na ponta do cabo havia uma poita – peso para manter o apetrecho no fundo.

Segundo o oceanógrafo e presidente do Instituto Argonauta Hugo Gallo Neto, “Um dos momentos mais importantes e mais realizadores de todo trabalho de resgate e reabilitação de fauna que já executamos ao longo destes 25 anos em toda a região é justamente quando conseguimos liberar um animal tão especial quanto uma baleia e descobrir que ele vai poder continuar a sua trajetória de vida por mais tempo na natureza. Nestes momentos, eu chego a pensar que, pelo menos um pouco, nós estamos tentando e conseguindo reverter o grande impacto que a atividade humana causa na fauna marinha”.

Sobre o Instituto Argonauta

O @institutoargonauta foi fundado em 1998 pela Diretoria do Aquário de Ubatuba (@aquariodeubatuba.oficial) e reconhecido em 2007 como Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público). O Instituto tem como objetivo a conservação do Meio Ambiente, em especial dos ecossistemas costeiros e marinhos. Para isso, apoia e desenvolve projetos de pesquisa, resgate e reabilitação da fauna marinha, educação ambiental e resíduos sólidos no ambiente marinho, dentre outras atividades.

Seja um Argonauta

Também é possível baixar gratuitamente o aplicativo Argonauta, disponível para os sistemas operacionais iOS (APP Store) e Android (Play Store). No aplicativo, o internauta pode informar ocorrências de animais marinhos debilitados ou mortos em sua região, bem como informar ainda problemas ambientais nas praias, para que a equipe do Argonauta encaminhe a denúncia para os órgãos competentes.

Conheça mais sobre esse trabalho em www.institutoargonauta.org, www.facebook.com/InstitutoArgonauta e Instagram: @institutoargonauta.

(Fonte: Instituto Argonauta)

Abrasel desenvolve campanha para promover visibilidade e reconhecimento aos catadores de recicláveis em todo o Brasil

Campinas, por Kleber Patricio

Campanha da Abrase e Ancat visa valorizar profissionais da reciclagem. Foto: Glênio Campregher.

Coletar o que pode ser reaproveitado ou reciclado e reintegrar esses materiais à cadeia produtiva: o trabalho dos mais de 800 mil catadores que todos os dias cruzam ruas e cidades de norte a sul do Brasil vai muito além da logística reversa dessas embalagens e produtos – o que já não é pouca coisa. “Eles empreendem vida em nossas ruas, cuidam do nosso futuro”. É assim que Paulo Solmucci, presidente-executivo da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), sintetiza a missão dos catadores, que prestam um serviço essencial para toda sociedade.

E é com objetivo de reconhecer e valorizar esse trabalho que a Abrasel, em parceria com a Associação Nacional dos Catadores (Ancat), lançou a campanha “De mãos dadas com os catadores”. “Queremos que eles sejam respeitados, acolhidos, reconhecidos e integrados à cadeia produtiva do nosso setor. São ações simples e acessíveis a qualquer um que queira apoiar nossa iniciativa. É um chamado para toda a sociedade”, convida Solmucci.

“Estamos confiantes de que esta campanha em parceria com a Abrasel promoverá a visibilidade dos catadores e catadoras, especialmente com o setor de bares e restaurantes, e o reconhecimento da prestação de serviços dos principais atores da cadeia da reciclagem, e que fazem a economia circular girar de verdade no Brasil”, destaca o catador e presidente da Ancat Roberto Rocha.

Simples e eficaz

A campanha conta com diferentes fases, cada uma delas destacando a integração e a colaboração entre catadores e o setor de bares e restaurantes. A primeira etapa tem foco em tirar esses trabalhadores da invisibilidade, com o chamado “Quem faz um trabalho de encher os olhos não pode ser invisível”. Na sequência, o objetivo é alertar a todos sobre os pequenos gestos que deveriam ser a tônica do relacionamento com esses trabalhadores. Dar bom dia, perguntar o nome e oferecer um copo d’água são bons exemplos. “Você consumiu, ele passou e a vida se renovou” dá o tom da terceira fase, cujo objetivo é integração desses profissionais a cadeia produtiva.

Para Getúlio Andrade, catador há 28 anos em Belo Horizonte, a campanha é uma oportunidade de reconhecimento ao trabalho realizado por ele e por milhares de catadores. “Muitas vezes somos julgados pelo trabalho que a gente presta, né? Então acho muito importante ser reconhecido por este trabalho. Chegar para recolher um material e a pessoa te oferecer uma água, perguntar se você está precisando de alguma coisa, motiva a gente a cada vez mais a estar imbuído nessa causa. Já vai proporcionando muita gente a entender a importância que é fazermos a reciclagem, até para termos um mundo melhor”, comenta.

Participe

A iniciativa é aberta a qualquer empresa, formador de opinião, organização ou cidadão que queira fortalecer o reconhecimento aos catadores. Para participar, basta entrar no site, baixar as peças gratuitamente e compartilhar nas redes sociais e em outros canais: https://materiais.abrasel.com.br/parceria-circular.

“Queremos, num futuro próximo, promover ganho de eficiência para catadores, para otimizar o tempo das coletas e a qualidade do material recolhido, por exemplo. Entendemos que o primeiro passo para isso é criar uma relação de gentileza, acolhimento e parceria entre esses profissionais e a nossa sociedade”, afirma Paulo Solmucci.

Para mais informações, acesse https://abrasel.com.br/noticias/noticias/abrasel-ancat/.

(Fonte: Assessoria de Imprensa Abrasel Regional Campinas)

Maria Luiza Jobim lança “Azul”, seu segundo álbum autoral

Rio de Janeiro, por Kleber Patricio

Maria Luiza Jobim. Foto:
Zabenzi .

“Tem o mar que mora na gente. Das emoções. O fundo do mar, que me inspira a compor e nadar. Mas nadar com as marés e não contra elas”. Assim é “Azul”, novo álbum de Maria Luiza Jobim que narra o seu retorno ao Rio de Janeiro e o resgate da paixão pelo mar e pela cidade.

Essa artista – cuja voz surge pela primeira vez gravada em 1994, no disco homônimo do pai, “Antônio Brasileiro” – teve uma banda de jazz, depois um duo eletrônico, até gravar, em 2018, seu primeiro álbum solo, “Casa Branca”. “Se ‘Casa Branca’ é minha origem, ‘Azul’ é meu presente. É como eu atuo no mundo. O que eu quero e como ando. Voltei para mim depois da maternidade, cura, os apaixonamentos, os encontros e desencontros. A vida é luz e sombra o tempo inteiro”, situa.

E por falar nele, “O tempo”, composição em parceria com Felipe Fernandes e Lucas Vasconcellos, é o início dessa narrativa com cara de trilha sonora. Diz a letra: “Veja agora tudo já mudou / E pra mim você é o tempo / Mais do mesmo pode ser tão bom / Se você é esse mesmo”.

Arnaldo Antunes e Cezar Mendes assinam ‘O culpado é o cupido’, faixa foco do lançamento e “absolutamente bela”, como define Maria Luiza. A música foi paixão à primeira vista e conta com os graves de Antunes nos vocais e a guitarra de Dadi Carvalho (Novos Baianos, A Cor do Som e Barão Vermelho). A letra é flerte, um jogo de palavras que conquistou a artista. “Me apaixonei e gravamos todos. Diz assim: Estou desacompanhado / Quero ser seu namorado / Mas eu topo só ficar / Só não posso ser amigo / O culpado é o cupido/ Que insiste em me flechar”.

Azul “é um disco com músicos dos meus sonhos. Reencontrei o Paulinho Braga, o Jaques Morelenbaum. São os sons que cresci ouvindo”, afirma a artista. E os encontros continuam com Adriana Calcanhotto. Assistindo a série Minha Música, sobre os processos criativos e a trajetória dessa compositora, Maria Luiza identificou-se com a relação de Adriana com seu pai, também músico, baterista de jazz. “Escrevi uma carta para ela e uma música anexada sem letra. Meses depois, trabalhando juntas, a resposta veio em forma de letra para a música”, conta Maria Luiza. A letra, aliás, também é uma carta aos pais… Papais, para ser mais exato.

Drama é o momento da ironia do álbum, com um som latino, dos mais envolventes. “É um convite bem-humorado à reflexão sobre os contratos dos afetos, que devem ser olhados e revisitados sempre para manter sua interessância”, define.

“Blue e azul no universo das emoções querem dizer coisas opostas. em inglês, é estar triste e em português, ‘tudo azul’ é uma expressão de alegria. Essa dualidade numa mesma palavra traz a ideia de luz e sombra do disco. Azul é a cor mais rara da natureza e a cor dos olhos do meu irmão Paulinho, que partiu enquanto escrevia o disco. Para ele, cantei a música ‘Samba do Soho’”, conta Maria Luiza.

A última música, “Nada Sou Sou” aponta para o outro lado do mundo. Gravada em japonês, foi apresentada a Maria Luiza por Lisa Ono durante sua viagem a Tóquio, no ano de 2023. “A melodia e a plasticidade do som das palavras; não entender literalmente o que a letra dizia, me levou para muitos lugares, sons, cores e emoções. É sinestésico. É muito por onde eu gosto de caminhar nas minhas composições. É para onde vou”, conclui.

Sobre Maria Luiza Jobim

“Comecei muito cedo a compor, antes mesmo de saber o que estava fazendo”, conta Maria Luiza Jobim sobre sua pré-história artística. Filha de Tom e Ana Jobim, aos sete anos participou, ao lado do pai, do álbum “Antonio Brasileiro” (que ganhou o Grammy de melhor performance de jazz latino).

Em 2006, gravou com Daniel Jobim a versão em português do clássico “Wave”, tema da novela “Páginas da Vida”, da Rede Globo. Mas, a música só se tornou um ofício para Maria Luiza aos 23 anos de idade, quando integrou sua primeira banda, a Baleia, na cena indie jazz carioca.

Depois, ao lado de Lucas de Paiva, formou o duo eletrônico Opala, com pegada dançante e um resgate nostálgico da década de 1980.

O primeiro álbum solo foi “Casa Branca”, em 2018. Concebido a partir de memórias, cenas e acontecimentos, as oito músicas tem a marca da suavidade e da delicadeza. A faixa de encerramento, “Antonia”, foi inspirada no nascimento da sua primeira filha.

A voz e a poesia por trás do Samba de Maria Luiza encontra em “Azul” o seu momento e desenha o seu futuro. É um caminho que se une aos outros trabalhos, com a força das melhores referências compondo uma nova identidade artística.

Siga Maria Luiza Jobim no Instagram

Ouça “Azul” agora.

(Fonte: Access Midia)

Mira Schendel ganha exposição de Toquinhos na Galatea

São Paulo, por Kleber Patricio

Mira em Porto Alegre, ca. 1952.

A galeria Galatea apresenta 60 obras da série Toquinhos em exposição da artista suíça radicada no Brasil Mira Schendel. Em uma iniciativa inédita, a mostra reúne um conjunto abrangente de trabalhos dessa série que foi produzida, principalmente, entre 1972 e 1974. Com texto crítico da curadora e crítica de arte Lisette Lagnado, “Mira Schendel: Toquinhos” também é a primeira individual da expoente da arte contemporânea em solo brasileiro nos últimos cinco anos. A última apresentação exclusiva da artista ocorreu em 2018, no Museu de Arte Moderna de São Paulo, por ocasião dos 30 anos de sua morte.

Os sócios-fundadores Antonia Bergamin, Conrado Mesquita e Tomás Toledo realizam coquetel de abertura na galeria nesta quarta-feira, 28 de junho, a partir das 18h. A exposição estará aberta para visitação de sexta-feira 30 de junho a 19 de agosto.

Após ter sido presenteada pelo amigo Mario Schenberg, crítico de arte e importante físico brasileiro, com uma enorme quantidade de papel de arroz japonês, Mira criou cerca de dois mil desenhos que compõem a série Monotipias, produzida principalmente entre 1964 e 1967. Ao continuar experimentando com esse material, criou outras séries, como os Objetos Gráficos, produzidos sobretudo entre 1967 e 1973. São trabalhos compostos por folhas de papel de arroz repletas de rabiscos, traçados, rasuras, tipos datilografados e letraset inseridas entre duas placas de acrílico suspensas por fios de nylon e dispersas no espaço, longe das paredes, jogando com a luz, o dentro e o fora, a frente e o verso. Progressivamente, o desenho, a escrita cursiva e a rasura passaram por um processo de síntese no trabalho de Mira, chegando ao que o ensaísta alemão Max Bense chama de “reduções gráficas”. As obras da série Toquinhos apresentadas nesta exposição demonstram bem esse processo.

Mira Schendel 1919-1988, Sem título, da série Toquinhos.

“Mira Schendel: Toquinhos” apresenta trabalhos em que a artista cria camadas colando sobre o papel japonês recortes geométricos (tingidos ou não) do mesmo papel, normalmente acompanhados de sinais de pontuação e letras. Ao ser questionada, em 1975, pela jornalista Norma Couri: “Por que letras?”, Mira responde: “São o pré-texto ou o pretexto do pós-texto”. Comentando tal diálogo, o teórico Geraldo Souza Dias afirma em sua monografia sobre a artista intitulada “Mira Schendel: do espiritual à corporeidade” (2009): “A completa redução da forma a círculos e retas desenvolvida nos tipos sem serifa da fonte Futura, a preferida da artista, permite considerar a relevância ótica das letras enquanto elementos de um conjunto. Nos trabalhos de Mira, o significado original dos sinais caligráficos – letras e números – transforma-se pela ação da letra autocolante, assumindo um caráter novo, puramente plástico”.

Sobre Mira Schendel (1919–1988)

Myrrha Dagmar Dub nasceu em Zurique, Suíça, em 1919, e cresceu na Itália. Entre 1930 e 1936, fez alguns cursos de arte em uma escola livre e, segundo ela mesma, desenhava compulsivamente nesse período. Em 1937, ingressa na Università Cattolica del Sacro Cuore, em Milão, para estudar Filosofia. Com o acirramento do fascismo e do antissemitismo pelo início da Segunda Guerra Mundial (1939–1945), é obrigada a abandonar os estudos de filosofia devido a um decreto-lei que proibia a inscrição de judeus estrangeiros nas escolas superiores; assim, em 1939, aos 20 anos, deixa a Itália.

Desloca-se continuamente pela Europa em um período pouco documentado de sua história, passando por países como Bulgária, Hungria, Viena, Croácia, Eslovênia. Após o armistício, em 1944, passa a viver em Roma com o seu então marido croata Jossip Hargesheimer, onde trabalhou na Organização Internacional para Refugiados, que orientava a emigração dos chamados “deslocados de guerra” [displaced persons] para países das Américas. Com isso, Schendel e Jossip partem, em julho de 1949, de Nápoles rumo a Porto Alegre. Na cidade, dedica-se aos estudos artísticos, trabalhando em desenhos, esculturas, cerâmicas, e frequenta a escola de Belas Artes. Nessa época, também aprende técnicas gráficas no Senai, vindo a trabalhar em uma tipografia e em outras empresas do ramo. Passa a se dedicar como nunca à pintura a partir de 1950, prática que, segundo a artista, a ela se impôs como uma questão de vida ou morte. Nessa fase, é notável a influência de Giorgio Morandi sobre os temas e as paletas de suas telas, como as naturezas-mortas e os tons terrosos.

Mira Schendel, Sem título, da série Toquinhos.

Sua participação na 1ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1951, permite contatos internacionais e a sua inserção na cena artística da época. Dois anos depois, em 1953, muda-se para São Paulo e adota o sobrenome Schendel. Nos primeiros anos na cidade, Mira se aproxima do círculo de pensadores que logo se tornariam seus amigos e primeiros críticos – entre eles, Mário Schenberg, Haroldo de Campos, Theon Spanudis e Vilém Flusser. Em 1955, ela participa com suas pinturas da 3ª Bienal de São Paulo ao lado de Lygia Clark e Alfredo Volpi, já tendo feito sua primeira exposição individual a convite do Museu de Arte Moderna de São Paulo.

Continua a desenvolver, no início da década de 1960, o seu trabalho em pintura, que foi se inclinando para investigações mais abstratas e menos figurativas em relação àquelas da década de 1950. Ao ser presenteada com infinidades de papel de arroz japonês, mergulha em uma série de experimentações com o material e dá vazão a interesses que tomam grande espaço em sua pesquisa artística, tais como a expressão do vazio, a experiência do tempo, o estar no mundo e os mistérios da transparência. Toda essa investigação arrebata Mira de uma forma que a leva a pintar cada vez menos. Assim, a partir de 1964, cria a série Monotipias, em que desenhava de forma peculiar sobre o papel de arroz – ou, como diz o crítico Rodrigo Naves, “pelas costas”. Em 1966, nasce a série Droguinhas, elaborada com papel de arroz retorcido e trançado.

Em 1967, começa a produzir obras utilizando o acrílico como suporte, como nas séries Objetos Gráficos e Toquinhos. Também nesse período passa a introduzir no seu trabalho os decalques de letraset, que ganham proeminência diante da caligrafia explorada até então. Em 1969, apresenta a instalação “Ondas palavras de probabilidade” na 10ª Bienal de São Paulo – a obra constitui-se de fios de nylon pendentes do teto até o chão acompanhados de trecho do texto bíblico do Livro dos Reis impresso em placa de acrílico presa à parede. Segundo a artista, a obra trata-se de uma “tentativa de mostrar que o ‘lado atrás’ da transparência está na sua frente e que o ‘outro mundo’ é este”. Ao longo da década de 1970, segue as suas investigações acerca do processo de “transparentização” do mundo e da temporalidade. Em 1974, criou a série Datiloscritos, em que “desenhava” (datilografava) letras, sinais, palavras e sentenças com uma máquina de escrever de cilindro grande.

Artwork.

Na década de 1980, recupera vigorosamente seu interesse pela pintura. Produz as têmperas brancas e negras, os Sarrafos e inicia uma série de quadros com pó de tijolo. Após sua morte, instituições nacionais e internacionais lhe dedicaram mostras individuais e retrospectivas, difundindo sua obra dentro e fora do Brasil. Em 1994, a 22ª Bienal Internacional de São Paulo lhe dedicou uma sala especial. Em 2007, suas obras participaram da Documenta 12, em Kassel, na Alemanha. Entre as individuais realizadas desde então, destacam-se Mira Schendel, Jeu de Paume, Paris, 2001; Tangled Alphabets: León Ferrari and Mira Schendel, Museum of Modern Art – MoMA, New York, 2008 / Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofia, Madrid, 2010 / Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, 2010; Mira Schendel: avesso do avesso, Instituto de Arte Contemporânea, São Paulo, 2010; Mira Schendel – pintora, Instituto Moreira Salles, Rio de Janeiro, 2011; Mira Schendel, Tate Modern, London, 2013 / Fundação de Serralves, Porto, 2014 / Pinacoteca de São Paulo, São Paulo, 2014; Mira Schendel – Poesie in Letraset, Neues Museum Nürnberg, Nuremberg, 2014, e Mira Schendel: sinais/signals, Museu de Arte Moderna de São Paulo, São Paulo, 2018.

Sobre a Galatea

A Galatea é uma galeria que surge a partir das diferentes e complementares trajetórias e vivências de seus sócios-fundadores: Antonia Bergamin esteve à frente por quase uma década como sócia-diretora de uma galeria de grande porte em São Paulo; Conrado Mesquita é marchand e colecionador, especializado em descobrir grandes obras em lugares improváveis; e Tomás Toledo é curador e contribuiu ativamente para a histórica renovação institucional do MASP, de onde saiu recentemente como curador-chefe.

Tendo a arte brasileira moderna e contemporânea como foco principal, a Galatea trabalha e comercializa tanto nomes já consagrados do cenário artístico nacional quanto novos talentos da arte contemporânea, além de promover o resgate de artistas históricos. Tal amplitude temporal reflete e articula os pilares conceituais do programa da galeria: ser um ponto de fomento e convergência entre culturas, temporalidades, estilos e gêneros distintos, gerando uma rica fricção entre o antigo e o novo, o canônico e o não canônico, o erudito e o informal.

Mira Schendel, Sem título, da série Toquinhos.

Além dessas conexões propostas, a galeria também aposta na relação entre artistas, colecionadores, instituições e galeristas. De um lado, o cuidado no processo de pesquisa, o respeito ao tempo criativo e o incentivo do desenvolvimento profissional do artista com acompanhamento curatorial. Do outro, a escuta e a transparência constante nas relações comerciais. Ao estreitar laços, com um olhar sensível ao que é importante para cada um, Galatea enaltece as relações que se criam em torno da arte — porque acredita que fazer isso também é enaltecer a arte em si.

Nesse sentido, partindo da ideia de relação é que surge o nome da galeria, tomado emprestado do mito grego de Pigmaleão e Galatea. Este mito narra a história do artista Pigmaleão, que ao esculpir em marfim Galatea, uma figura feminina, apaixona-se por sua própria obra e passa a adorá-la. A deusa Afrodite, comovida por tal devoção, transforma a estátua em uma mulher de carne e osso para que criador e criatura possam, enfim, viver uma relação verdadeira.

Serviço:

Mira Schendel: Toquinhos

Local: Galatea

Endereço: Rua Oscar Freire, 379, loja 1 – Jardins, São Paulo – SP

Abertura: 28 de junho, quarta-feira, às 18h

Período expositivo: 30 de junho a 19 de agosto de 2023

Funcionamento: segunda a sexta-feira, das 10h às 19h; sábados, das 11 às 15h

Mais informações: https://www.galatea.art/

Estacionamento no local.

(Fonte: A4&Holofote Comunicação)

Lucas Bambozzi propõe reflexão sobre impactos ambientais da mineração em exposição inédita no MAC USP

São Paulo, por Kleber Patricio

Imagem de Lucas Bambozzi em Córrego do Feijão (2019).

O conceito de solastalgia – estresse mental e/ou existencial causado por mudanças ambientais abruptas não só por consequências naturais, mas também, por modelos de extrativismo danosos – norteia e intitula a exposição inédita que o cineasta, artista visual e pesquisador em novas mídias Lucas Bambozzi exibe entre os dias 1º de julho e 1º de outubro no MAC – Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo. A mostra, com curadoria assinada por Fernanda Pitta, traz quatro videoinstalações que servem como uma espécie de convite para o público refletir sobre o impacto social e ambiental das atividades mineradoras no Brasil.

A exposição abre com montanhas e paisagens dilaceradas na obra “Solastalgia” (2023), uma instalação que nasce do processo de realização do longa-metragem “Lavra” (2021, 91 minutos), também de Lucas Bambozzi. Por meio de uma linguagem mais sensorial – mais imagética, sem diálogos, personagens e/ou narrativas ficcionais presentes no documentário –, a instalação evidencia as tragédias causadas pela mineração de ferro no entorno de Belo Horizonte (MG). “As imagens explicitam uma lógica extrativista que destroça modos de vida em nome de uma noção arcaica de progresso. Se antes estávamos expostos a formas de solastalgia apenas em função de acidentes tidos como naturais, hoje, os acidentes são causados por negligências – por modelos de extrativismo danosos e também por uma noção de desenvolvimento que entra em conflito com outros modos de se viver”, comenta Bambozzi.

Instalação “Solastalgia – Imagem em Movimento”. Fotos: Lucas Bambozzi.

As narrativas de tragédias, acidentes naturais ou causados por ações exploratórias também aparecem na obra inédita “Extra, Extra” (2023), vídeo criado a partir de imagens e registros de fotojornalismo publicados por diversos veículos de imprensa.

Na série Paisagens Rasgadas (2021), Bambozzi adentra no espaço aéreo e exibe em cinco telas LCD passeios virtuais por meio do Google Earth Studio, ferramenta que agrega imagens aéreas de diferentes fontes a partir de coordenadas de latitude e longitude. Na obra, também em formato de vídeo, o artista apresenta imagens de crateras de extração de minério de ferro de grandes mineradoras multinacionais localizadas em espaços de controle privado e até então inacessíveis a registros fotográficos usuais.

Em “Luzes” (2023), painéis luminosos posicionados no chão recebem projeções de frases que sintetizam a ideia de solastalgia sob o olhar de 3 pensadores convidados: Ailton Krenak, líder indígena, ambientalista e filósofo; Christiane Tassis, escritora, roteirista do filme “Lavra”, e a artista, Giselle Beiguelman. Ao longo do período expositivo, novas participações de artistas devem se somar ao espaço da instalação, em diálogo com as redes sociais e com a exposição em sua integralidade.

“Considero o desdobramento do filme em uma instalação um processo rico e ao mesmo tempo espontâneo, pois são formas interconectadas de diálogo com públicos distintos. Dediquei os anos 2019–2022 para o lançamento do documentário, mas a ideia que move o filme também aconteceu de outras formas, como uma instalação na Bienal de la Imagen en Movimiento (BIM), no Museu da Imigração – Centro de Arte Contemporáneo (Buenos Aires, Argentina), no segundo semestre de 2022. E, agora, o trabalho se configura como uma nova proposta; uma exposição autônoma, envolvendo um espaço maior e agregando novas obras, para que assim, possa conciliar com a complexidade que o tema exige. O MAC USP é um museu ligado à pesquisa, ensino e extensão universitária – é um espaço que produz reflexão sobre suas atividades. Então, poder retomar essa conexão com o circuito da arte contemporânea, por meio do filme e agora com este projeto de audiovisual expandido no MAC USP – que comemora os seus 60 anos –, é um processo que me dá grande satisfação”, pontua Lucas Bambozzi.

“Solastagia” é um projeto contemplado pelo ProAC Edital 09/2022, por meio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo.

Sobre Lucas Bambozzi

Artista multimídia e pesquisador em novos meios, Bambozzi produz vídeos, instalações, performances audiovisuais e projetos interativos, com trabalhos já apresentados em mais de 40 países. Conduziu atividades pioneiras ligadas à arte na Internet no Brasil (1995–1999) na Casa das Rosas. Foi curador e coordenador de eventos como Sónar (2004), Life Goes Mobile (Nokia Trends 2004 e 2005), Motomix (2006), Red Bull House of Art (2009) e Lugar Dissonante (2010), além de também ter atuado em eventos coletivos, tais como Mídia Tática Brasil (2004), Digotofagia (2005) e Naborda (2012). Foi artista residente no CAiiA-Star Centre/I-DAT (Planetary Collegium) e concluiu seu MPhil na Universidade de Plymouth, na Inglaterra, com a tese “Public Spaces And Pervasive Systems, a Critical Practice”. É doutor em Ciências pela FAU USP, com a pesquisa “Do Invisível ao Redor: Arte e Espaço Informacional”, envolvendo a emergência de campos eletromagnéticos em espaços públicos.

Cratera Mutuca.

Como artista, Bambozzi se dedica à exploração crítica de novos formatos de mídia independente. Em 2010, foi premiado no Ars Eletronica, em Linz, na Áustria, com o projeto Mobile Crash e, em 2011, teve uma retrospectiva de seus trabalhos no Laboratório Arte Alameda, na Cidade do México. Em 2023, participou das exposições Tecnofagia (Instituto Tomie Ohtake, São Paulo) e da Bienal Zero1 (San Jose, EUA) com trabalhos comissionados pelos organizadores. Entre 2013 e 2014, participou da Bienal de Artes Mediales (Chile), Bienal de La Imagen en Movimiento (BIM – Buenos Aires), Gambiólogos 2.0 (Oi Futuro, Belo Horizonte), Singularidades (Itaú Cultural, São Paulo) e WRO Media Art Biennale (Wroclaw, Polônia).

É criador e coordenador do Festival arte.mov – Arte em Mídias Móveis (2006–2012) e do Labmovel, um veículo criado para atividades laboratoriais e artísticas em espaços públicos (2012) que recebeu em 2013 menção honrosa no Prixars, do Ars Electronica. Lucas Bambozzi também é um dos idealizadores e curadores do Multitude – evento de arte contemporânea que tem como ponto de confluência o embate com o termo ‘multidão’. Assinou a curadoria do projeto Visualismo (MAR – Museu de Arte do Rio e Parque Lage, 2015), foi co-curador do projeto AVXLab (2017 – 2021), do Festival Cidade Eletronika (Belo Horizonte, 2018) e do Prenúncios e Catástrofes (Sesc Pompeia, 2018). Atualmente, em seus trabalhos, Bambozzi aborda questões relacionadas ao conceito de espaço informacional e as particularidades de uma arte produzida a partir das mobilidades do contexto urbano. “Lavra”, seu último filme, estreou em 2021 em 13 salas de cinemas. É professor da FAAP – Fundação Armando Álvares Penteado nos cursos de Artes Visuais e na Pós-Graduação em Arte Contemporânea e Cinema Expandido.

Serviço:

Solastalgia, individual de Lucas Bambozzi

Curadoria: Fernanda Mendonça Pitta

Local: MAC USP | Av. Pedro Álvares Cabral, nº 1301, Vila Mariana – São Paulo/SP (3º andar – Ala A2)

Período expositivo: de 1º de julho a 1º de outubro de 2023

Funcionamento: terça a domingo, das 10h às 21h. Fechado às segundas

Entrada gratuita

Livre.

(Fonte: Marrese Assessoria)