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Lucas Bambozzi propõe reflexão sobre impactos ambientais da mineração em exposição inédita no MAC USP

São Paulo, por Kleber Patricio

Imagem de Lucas Bambozzi em Córrego do Feijão (2019).

O conceito de solastalgia – estresse mental e/ou existencial causado por mudanças ambientais abruptas não só por consequências naturais, mas também, por modelos de extrativismo danosos – norteia e intitula a exposição inédita que o cineasta, artista visual e pesquisador em novas mídias Lucas Bambozzi exibe entre os dias 1º de julho e 1º de outubro no MAC – Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo. A mostra, com curadoria assinada por Fernanda Pitta, traz quatro videoinstalações que servem como uma espécie de convite para o público refletir sobre o impacto social e ambiental das atividades mineradoras no Brasil.

A exposição abre com montanhas e paisagens dilaceradas na obra “Solastalgia” (2023), uma instalação que nasce do processo de realização do longa-metragem “Lavra” (2021, 91 minutos), também de Lucas Bambozzi. Por meio de uma linguagem mais sensorial – mais imagética, sem diálogos, personagens e/ou narrativas ficcionais presentes no documentário –, a instalação evidencia as tragédias causadas pela mineração de ferro no entorno de Belo Horizonte (MG). “As imagens explicitam uma lógica extrativista que destroça modos de vida em nome de uma noção arcaica de progresso. Se antes estávamos expostos a formas de solastalgia apenas em função de acidentes tidos como naturais, hoje, os acidentes são causados por negligências – por modelos de extrativismo danosos e também por uma noção de desenvolvimento que entra em conflito com outros modos de se viver”, comenta Bambozzi.

Instalação “Solastalgia – Imagem em Movimento”. Fotos: Lucas Bambozzi.

As narrativas de tragédias, acidentes naturais ou causados por ações exploratórias também aparecem na obra inédita “Extra, Extra” (2023), vídeo criado a partir de imagens e registros de fotojornalismo publicados por diversos veículos de imprensa.

Na série Paisagens Rasgadas (2021), Bambozzi adentra no espaço aéreo e exibe em cinco telas LCD passeios virtuais por meio do Google Earth Studio, ferramenta que agrega imagens aéreas de diferentes fontes a partir de coordenadas de latitude e longitude. Na obra, também em formato de vídeo, o artista apresenta imagens de crateras de extração de minério de ferro de grandes mineradoras multinacionais localizadas em espaços de controle privado e até então inacessíveis a registros fotográficos usuais.

Em “Luzes” (2023), painéis luminosos posicionados no chão recebem projeções de frases que sintetizam a ideia de solastalgia sob o olhar de 3 pensadores convidados: Ailton Krenak, líder indígena, ambientalista e filósofo; Christiane Tassis, escritora, roteirista do filme “Lavra”, e a artista, Giselle Beiguelman. Ao longo do período expositivo, novas participações de artistas devem se somar ao espaço da instalação, em diálogo com as redes sociais e com a exposição em sua integralidade.

“Considero o desdobramento do filme em uma instalação um processo rico e ao mesmo tempo espontâneo, pois são formas interconectadas de diálogo com públicos distintos. Dediquei os anos 2019–2022 para o lançamento do documentário, mas a ideia que move o filme também aconteceu de outras formas, como uma instalação na Bienal de la Imagen en Movimiento (BIM), no Museu da Imigração – Centro de Arte Contemporáneo (Buenos Aires, Argentina), no segundo semestre de 2022. E, agora, o trabalho se configura como uma nova proposta; uma exposição autônoma, envolvendo um espaço maior e agregando novas obras, para que assim, possa conciliar com a complexidade que o tema exige. O MAC USP é um museu ligado à pesquisa, ensino e extensão universitária – é um espaço que produz reflexão sobre suas atividades. Então, poder retomar essa conexão com o circuito da arte contemporânea, por meio do filme e agora com este projeto de audiovisual expandido no MAC USP – que comemora os seus 60 anos –, é um processo que me dá grande satisfação”, pontua Lucas Bambozzi.

“Solastagia” é um projeto contemplado pelo ProAC Edital 09/2022, por meio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo.

Sobre Lucas Bambozzi

Artista multimídia e pesquisador em novos meios, Bambozzi produz vídeos, instalações, performances audiovisuais e projetos interativos, com trabalhos já apresentados em mais de 40 países. Conduziu atividades pioneiras ligadas à arte na Internet no Brasil (1995–1999) na Casa das Rosas. Foi curador e coordenador de eventos como Sónar (2004), Life Goes Mobile (Nokia Trends 2004 e 2005), Motomix (2006), Red Bull House of Art (2009) e Lugar Dissonante (2010), além de também ter atuado em eventos coletivos, tais como Mídia Tática Brasil (2004), Digotofagia (2005) e Naborda (2012). Foi artista residente no CAiiA-Star Centre/I-DAT (Planetary Collegium) e concluiu seu MPhil na Universidade de Plymouth, na Inglaterra, com a tese “Public Spaces And Pervasive Systems, a Critical Practice”. É doutor em Ciências pela FAU USP, com a pesquisa “Do Invisível ao Redor: Arte e Espaço Informacional”, envolvendo a emergência de campos eletromagnéticos em espaços públicos.

Cratera Mutuca.

Como artista, Bambozzi se dedica à exploração crítica de novos formatos de mídia independente. Em 2010, foi premiado no Ars Eletronica, em Linz, na Áustria, com o projeto Mobile Crash e, em 2011, teve uma retrospectiva de seus trabalhos no Laboratório Arte Alameda, na Cidade do México. Em 2023, participou das exposições Tecnofagia (Instituto Tomie Ohtake, São Paulo) e da Bienal Zero1 (San Jose, EUA) com trabalhos comissionados pelos organizadores. Entre 2013 e 2014, participou da Bienal de Artes Mediales (Chile), Bienal de La Imagen en Movimiento (BIM – Buenos Aires), Gambiólogos 2.0 (Oi Futuro, Belo Horizonte), Singularidades (Itaú Cultural, São Paulo) e WRO Media Art Biennale (Wroclaw, Polônia).

É criador e coordenador do Festival arte.mov – Arte em Mídias Móveis (2006–2012) e do Labmovel, um veículo criado para atividades laboratoriais e artísticas em espaços públicos (2012) que recebeu em 2013 menção honrosa no Prixars, do Ars Electronica. Lucas Bambozzi também é um dos idealizadores e curadores do Multitude – evento de arte contemporânea que tem como ponto de confluência o embate com o termo ‘multidão’. Assinou a curadoria do projeto Visualismo (MAR – Museu de Arte do Rio e Parque Lage, 2015), foi co-curador do projeto AVXLab (2017 – 2021), do Festival Cidade Eletronika (Belo Horizonte, 2018) e do Prenúncios e Catástrofes (Sesc Pompeia, 2018). Atualmente, em seus trabalhos, Bambozzi aborda questões relacionadas ao conceito de espaço informacional e as particularidades de uma arte produzida a partir das mobilidades do contexto urbano. “Lavra”, seu último filme, estreou em 2021 em 13 salas de cinemas. É professor da FAAP – Fundação Armando Álvares Penteado nos cursos de Artes Visuais e na Pós-Graduação em Arte Contemporânea e Cinema Expandido.

Serviço:

Solastalgia, individual de Lucas Bambozzi

Curadoria: Fernanda Mendonça Pitta

Local: MAC USP | Av. Pedro Álvares Cabral, nº 1301, Vila Mariana – São Paulo/SP (3º andar – Ala A2)

Período expositivo: de 1º de julho a 1º de outubro de 2023

Funcionamento: terça a domingo, das 10h às 21h. Fechado às segundas

Entrada gratuita

Livre.

(Fonte: Marrese Assessoria)