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Instituto Moreira Salles lança site dedicado ao fotojornalismo brasileiro

Rio de Janeiro, por Kleber Patricio

O Congresso fechado pelo AI-5, 1968. Crédito: Orlando Brito.

Com o objetivo de difundir o passado e o presente do fotojornalismo brasileiro, o Instituto Moreira Salles lança o site Testemunha Ocular. Disponível a partir de 2 de junho, o portal apresenta a produção e carreira de fotógrafos de diferentes gerações e regiões do país. Também inclui dossiês, ensaios críticos e depoimentos em vídeo, além de outros materiais que ressaltam a importância da atividade na documentação da realidade brasileira e na construção da memória nacional.

A concepção do projeto é do jornalista Flávio Pinheiro, que atuou como superintendente-executivo do IMS entre 2008 e 2020. O jornalista Mauro Ventura assina a edição do site e o fotógrafo Leo Aversa, por sua vez, foi responsável pela edição de imagens durante a criação do projeto.

O portal tem como ponto de partida a forte presença do fotojornalismo no acervo do IMS, que reúne desde coleções autorais até o conjunto de imagens dos Diários Associados, adquirido em 2016. O portal destaca esse rico material, mas também aborda a obra de outros profissionais, além de diferentes assuntos relacionados à área. É destinado tanto a pesquisadores quanto ao público em geral, que pode navegar pelas histórias, imagens e reflexões ali reunidas.

Barcos ancorados em trecho assoreado da Praia das Pedrinhas, em São Gonçalo. Baía de Guanabara. Rio de Janeiro. 31/01/2014. Crédito: Custodio Coimbra/Acervo Instituto Moreira Salles.

Testemunha Ocular está dividido em seis seções. A primeira apresenta a produção e trajetória de fotojornalistas cujos acervos estão sob a guarda do IMS. Inicialmente, estarão presentes seis nomes: José Medeiros, Luciano Carneiro e Henri Ballot, todos profissionais que pertenceram aos quadros da revista O Cruzeiro, Evandro Teixeira, Custodio Coimbra e Walter Firmo, cuja obra atualmente está em cartaz em exposição no IMS Paulista. Para cada um, há uma página no site, contendo sua biografia, uma amostra de 50 imagens e dossiês bibliográficos. Composto por mais de 100 páginas, o dossiê sobre José Medeiros, por exemplo, tem todas as matérias com fotos suas publicadas no Cruzeiro.

Já a seção seguinte traz o trabalho de 44 fotojornalistas de diversas regiões do Brasil, com idades, trajetórias e perspectivas distintas, que não integram o acervo do IMS. A seleção inclui dois grandes nomes da imprensa brasileira que faleceram neste ano: Orlando Brito, que atuou por mais de cinco décadas registrando o cotidiano do poder em Brasília, e Erno Schneider, conhecido especialmente pela popular foto de Jânio Quadros com as pernas enroscadas. No conjunto, estão tanto fotojornalistas veteranos, como Reginaldo Manente, Rosa Gauditano e Hélio Campos Mello, quanto jovens em ascensão, como Gabriela Biló, Júlio César, Felipe Dana e Victor Moriyama.

Há também profissionais de diferentes estados, incluindo o gaúcho Ricardo Chaves, as pernambucanas Hélia Scheppa e Ana Araújo, a mineira Isis Medeiros e o baiano Renan Benedito, entre outros. Todos os contemplados têm uma página no site, com a biografia e uma seleção de 20 imagens (veja a lista completa abaixo).

Incêndio na favela da Praia do Pinto, Rio de Janeiro. 11 de maio de 1969.
Crédito: Acervo Diários Associados RJ/Instituto Moreira Salles.

Outro destaque é a seção dedicada a fotos históricas provenientes do acervo dos Diários Associados e de outras coleções do IMS. Cada postagem desse núcleo trará um conjunto de imagens junto com um texto de contextualização. O site inaugura com a série de registros do incêndio que destruiu a favela da Praia do Pinto, em 1969, no bairro do Leblon, no Rio de Janeiro.

O site publica ainda comentários críticos sobre determinadas fotos produzidos por acadêmicos e escritores. O jornalista Mário Magalhães, por exemplo, comenta uma imagem feita em 1976, por Orlando Brito, que registra um tenente do Exército envergando uma braçadeira com a inscrição “Imprensa”. A historiadora Ynaê Lopes dos Santos, por sua vez, assina um texto sobre uma foto de Luiz Morier realizada em 1982, durante uma batida policial em que homens negros foram amarrados pelo pescoço.

Há também conteúdo em vídeo. Na seção Relance, profissionais contam a história de uma imagem que marcou sua carreira. O fotógrafo José Francisco Diorio, por exemplo, comenta a foto de um incêndio na favela do Buraco Quente, em São Paulo, que realizou para o jornal O Estado de S.Paulo em 2004 e lhe rendeu prêmio do World Press Photo. Já o núcleo Vida Longa traz depoimentos de fotojornalistas sobre suas carreiras, começando com o de Evandro Teixeira.

João Butão e seus cabritos. Canudos, BA, 1994. Crédito: Evandro Teixeira/Acervo Instituto Moreira Salles.

O site contará ainda com notícias sobre o fotojornalismo atual, destacando premiações e registros marcantes. Flávio Pinheiro comenta o projeto: “Testemunha Ocular cumpre o papel de ser uma memória do fotojornalismo brasileiro vindo do passado até o presente. Os 50 profissionais que mostram seus trabalhos no site foram e são perspicazes observadores da cena brasileira com toda sua diversidade social e regional, de raça e de gênero. Revelam que, apesar do avanço das imagens em movimento, as imagens fotográficas ainda produzem forte impacto e são necessárias para o entendimento da realidade”.

Lista de fotógrafos contemplados no site

Presentes na seção Fotógrafos do IMS: Custodio Coimbra | Evandro Teixeira | Henri Ballot | Luciano Carneiro | José Medeiros | Walter Firmo.

Presentes na seção Em Foco: Ana Carolina Fernandes | Ana Araújo | Amanda Tropicana | Adriana Zehbrauskas | Antônio Gaudério | Antônio Milena | Ari Cândido | Celso Oliveira | Cris Mattos | Daniel Marenco | Edgar Rocha | Egberto Nogueira | Erno Schneider | Felipe Dana | Gabriela Biló | Hélia Scheppa | Hélio Campos Mello | Isis Medeiros | Ivo Gonzalez | João Wainer | Jonne Roriz | Jorge Araújo | Juca Varella | Júlio César | Lalo de Almeida | Luiz Alfredo | Luiz Morier | Márcia Foletto | Marlene Bergamo | Marcelo Carnaval | Michael Dantas | Orlando Brito | Paula Simas | Raphael Alves | Reginaldo Manente | Renan Benedito | Ricardo Stuckert | Ricardo Chaves | Rogério Reis | Rosa Gauditano | Sérgio Amaral | Sérgio Moraes | Ueslei Marcelino | Victor Moriyama .

Serviço:

Site Testemunha Ocular

Lançamento: 2 de junho

No próprio dia 2/6, será divulgado o endereço do site.

(Fonte: IMS)

Cientistas alertam para projeto de lei que ameaça a população indígena e a floresta amazônica

Brasil, por Kleber Patricio

Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil.

O projeto de lei 191/2020, que busca autorizar a abertura de terras indígenas para mineração, ganhou novo fôlego a partir do cenário de guerra na Ucrânia. Argumentando prejuízos na importação de fertilizantes à base de potássio vindos da Rússia, o governo federal pediu urgência na tramitação da proposta no Congresso. Trata-se, no entanto, de uma desculpa para a destruição da Amazônia, segundo cientistas. O alerta está em carta divulgada na revista “Science” na quinta (26) por pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA), do Grupo de Ecologia Aquática, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), da Universidade Federal do Tocantins (UFT), da University of Wisconsin–Madison, da Universidade Federal do Ceará (UFC) e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA).

De acordo com os autores, os representantes do agronegócio no legislativo justificam seu apoio ao projeto de lei com o argumento enganoso de que a preservação das terras indígenas afetaria negativamente a produção agrícola do Brasil. “O argumento é falso, primeiramente, a jazida não fica dentro de terras indígenas, então não teria por que a Lei ser aprovada com base nesta justificativa. Além disso, não teria tempo hábil para construir a mina para resolver o problema atual de potássio. Devemos levar em conta, também, que existem alternativas, como o próprio potássio brasileiro fora da Amazônia, que é suficiente para suprir a demanda brasileira até 2100, e outros exportadores mundiais, como o Canadá”, explica Philip Fearnside, um dos cientistas que assina a carta.

Carta já divulgada critica outro projeto de lei que fragiliza proteção das terras indígenas

O projeto de lei 490/2007, que altera a legislação da demarcação de terras indígenas, tramita com urgência no Senado com apoio da bancada ruralista e do governo federal. Em carta publicada no dia 19, também na revista “Science”, cientistas do INPA criticam o PL e ressaltam que o discurso de ódio do atual governo contra os povos indígenas e as políticas de desmantelamento da proteção de seus territórios propiciaram o aumento de invasões e ataques às terras indígenas, públicas e de conservação nos últimos anos.

O projeto de lei impõe o chamado marco temporal, que define como terras indígenas somente aquelas que estavam ocupadas pelos povos tradicionais em 5 de outubro de 1988, dificultando os procedimentos de demarcação. “O PL corre rápido no Congresso e irá abrir as terras indígenas para exploração, seja ela como mineração, hidrelétrica, lavoura de soja, madeireira, entre outros”, afirma Philip Fearnside, que assina a carta com seu aluno Lucas Ferrante. Atualmente, existem 303 terras indígenas em processo de obtenção de proteção que poderiam ser impedidas de homologação, caso o PL 490/2007 fosse aprovado. “Já estamos vivemos um surto de invasão às terras indígenas”, acrescenta o cientista.

Outro ponto que chama a atenção é o possível aumento do desmatamento da Amazônia em decorrência da aprovação da lei. “Tudo isso é um motor para o desmatamento. A razão de existir a demarcação de terras indígenas são os direitos humanos assegurados a estes povos, mas também tem uma função ambiental. O Brasil depende de manter a Floresta Amazônica”, alerta Fearnside. Conforme ressaltam os autores, as terras indígenas protegem 25% do bioma amazônico brasileiro, onde o desmatamento já está próximo do limite que a floresta pode tolerar. Ao invés de afetar negativamente a produção agrícola do Brasil, a preservação das terras indígenas ajuda o agronegócio pelo papel da floresta em reciclar água que é transportada pelos “rios voadores” para áreas agrícolas fora da Amazônia, apontam os pesquisadores.

(Fonte: Agência Bori)

Green House Indaiatuba lança nova marca IBTW

Indaiatuba, por Kleber Patricio

Lançamento da IBTW aconteceu na sede da Green House, em Indaiatuba. Fotos: divulgação.

A Green House Indaiatuba acaba de lançar sua nova empresa, a IBTW, uma grife que vai além dos padrões de móveis outdoor. Como diferenciais, esta versão apresenta um acabamento com maciez singular e uma infinidade de cores e combinações – tudo para compor ambientes com muito design e brasilidade.

A novidade surgiu para atender o desejo dos consumidores de terem peças ainda mais sofisticadas, com desenho moderno e exclusivo, utilizando toda a expertise da Green House. São produtos 100% outdoor, com o toque e conforto do indoor.

A principal diferença entre a Green House e a IBTW é que esta veio com proposta de trazer o conceito visual e sensorial do toque, dos tecidos de área interna, porém com a qualidade e propriedades de móveis para área externa, sem citar o design super moderno das peças e os renomados designers que assinam a nova marca, como Ronald Sasson, Sérgio Matos, Daniela Ferro, Atelier Öi e Giorgio Bonaguro.

Wanessa Cannonieri, James Consani, Ronald Sasson e José Tonin Jr.

O lançamento aconteceu em um evento fechado no último dia 10 de maio, com direito a bate-papo descontraído com Sasson.

A marca de móveis externos Green House atua há mais de 22 anos no mercado e aposta no conceito de outdoor design. Com um extenso catálogo de móveis para varandas, jardins e piscinas, os exemplares também podem ser usados em ambientes internos com o propósito de tornar a decoração mais sofisticada.

Suas instalações ocupam 36 mil m² de área total, sendo 21 mil m² de área construída. Desta forma todo o processo criativo, desde a concepção até a finalização das peças, é realizado no mesmo espaço, otimizando as etapas, garantindo a qualidade dos produtos e agilidade na entrega. A fábrica também exporta para Colômbia, Peru, Chile, Uruguai e Paraguai, EUA, Bolívia, Venezuela, Argentina e Panamá.

Serviço:

Onde encontrar as peças da IBTW: Rodovia Santos Dumont, km 56,5 – Itaici – Indaiatuba (SP)

Telefone: (19) 3825-4444 | Site: https://www.ibtw.com.br/.

(Fonte: Assessoria de Imprensa Antonia Maria Zogaeb)

Mostra SESI de Música Instrumental acontece em maio no SESI Amoreiras

Campinas, por Kleber Patricio

Ricardo Valverde se apresenta no dia 27 de maio. Foto: divulgação.

Nos dias 26, 27 e 28 de maio, às 20h, a segunda edição da Mostra SESI de Música Instrumental apresenta, no Teatro do SESI Amoreiras, os shows ‘Amilton Godoy – 80 Anos’, ‘Ricardo Valverde – Teclas no choro’ e ‘Buena Onda Reggae Club – A luta continua’. A entrada é gratuita e os ingressos podem ser reservados pelo Meu SESI.

A mostra acontece no mês de maio nos Teatros do SESI-SP: Campinas, Itapetininga, Paulista, Ribeirão Preto, São José dos Campos e São José do Rio Preto e proporciona um encontro de músicos novos e consagrados, oferecendo de forma gratuita 20 shows para este projeto.

Amilton Godoy se apresenta no dia 26. Foto: Dani Godoy.

O evento reúne a diversidade de estilos da Música Instrumental Brasileira e Internacional, com o universo do reggae, ska instrumental, Choro, Samba, Maxixe e Bossa-Nova, entre tantas identidades instrumentais.

Confira a programação do evento no Teatro do SESI Amoreiras:

Dia 26/5, às 20h: Amilton Godoy – 80 Anos | Considerado um dos maiores pianistas brasileiros de todos os tempos, ele tem muita história para contar e celebrar. É neste tom que fará este show onde homenageia os compositores que tanto o inspiraram e fizeram parte de sua trajetória musical permeada pelos gêneros popular e erudito. Reservas de ingressos no Meu SESI.

Dia 27/5, às 20h: Ricardo Valverde – Teclas no choro | No show de seu primeiro álbum solo, “Teclas no Choro”, Ricardo Valverde apresenta um repertório composto por obras de grandes mestres do gênero e composições próprias. Reservas de ingressos no Meu SESI.

Buena Onda Reggae Club se apresentará no dia 28. Foto: Fabio Ponce.

Dia 28/5, às 20h: Buena Onda Reggae Club – A luta continua | Durante os 80 minutos de apresentação, são apresentadas as especialidades da casa; como o reggae e o ska, que receberam um sabor especial graças à fusão de estilos como o blues, o rocksteady, a cumbia, o R&B e a salsa. Reservas de ingressos no Meu SESI.

Serviço:

“Mostra SESI de Música Instrumental”

Local: SESI Amoreiras – Avenida das Amoreiras, 450 – Pq. Itália, Campinas/SP

Datas e horário: 26, 27 e 28 de maio, às 20h

Capacidade do teatro: 361 lugares

Duração: 60 minutos

Classificação indicativa: Livre

Gênero: Instrumental

Informações: WhatsApp (19) 99642-1499

Entrada gratuita – Reservas antecipadas pelo Meu SESI. O ingresso tem validade até 15 minutos antes da apresentação. Os ingressos remanescentes serão distribuídos 10 minutos antes do início do espetáculo.

(Fonte: Comunicação I SESI Campinas)

Exposição combina jardins e Inteligência Artificial para discutir preconceito e colonialismo

São Paulo, por Kleber Patricio

Obra da série Flora mutandis. Créditos: Giselle Beiguelman | Museu Judaico de São Paulo.

De 28 de maio a 18 de setembro, o Museu Judaico de São Paulo apresenta sua primeira grande exposição de 2022. Em “Botannica Tirannica”, mostra inédita concebida especialmente para o Museu, a artista e pesquisadora Giselle Beiguelman investiga a genealogia e a estética do preconceito embutidos em nomes populares e científicos dados a plantas como Judeu errante, Orelha-de-judeu, Maria-sem-vergonha, Bunda-de-mulata, Peito-de-moça, Malícia-de-mulher, Catinga-de-mulata, Ciganinha e Chá-de-bugre, entre muitos outros.

A mesma lógica se observa em nomes científicos, entre os quais são comuns palavras como virginica, virginicum e virgianiana para designar flores brancas, e Kaffir, uma palavra que é altamente ofensiva aos negros e considerada na África subsaariana um equivalente da palavra “nigger” que se convencionou chamar ‘N-word’ pelo grau de violência social que carrega.

Um dos ícones da exposição é a planta popular Judeu errante (Tradescantia zebrina), título de uma narrativa medieval que foi um dos baluartes da propaganda nazista e que tem o mesmo nome em várias línguas, como alemão, francês e inglês, sendo uma das muitas expressões depreciativas usadas contra os judeus.

Obra da série Flora mutandis.

Reunindo imagens impressas, vídeos, aquarelas e um ensaio audiovisual, a artista Giselle Beiguelman propõe uma investigação estética e conceitual a respeito do imaginário colonialista presente no processo de nomeação da natureza, cujas espécies, caso das plantas ditas “daninhas”, recebem nomes ofensivos, preconceituosos e misóginos.

Em conjunto com seu Jardim da resiliência, que ocupa as áreas externa e interna do Museu e onde são cultivadas espécies dotadas de nomes ofensivos e preconceituosos, na série “Flora mutandis”, a artista cria com a Inteligência Artificial seres híbridos, plantas reais e inventadas, em um jardim pós-natural. “O patriarcalismo está entranhado no discurso científico. Na divisão binária das plantas criada por Lineu, há as ‘masculinas’, que têm órgão reprodutor masculino androeceu (do grego andros, homem) e são superiores às ‘femininas’,  que têm gineceu (do grego gyne, mulher)”, analisa Giselle.

Para a artista, “a botânica clássica antropomorfiza o mundo vegetal e faz das plantas um espelho do homem. O modo como se nomeia o mundo é o modo como se criam as divisões, os preconceitos, e se consolida o pensamento binário”. Por isso, afirma a artista, “a nomenclatura é um ritual de apagamento”.

Obra da série Flora mutandis.

A extensa pesquisa realizada durante um ano e meio permitiu reunir nomes de centenas de plantas que Giselle Beiguelman organizou em cinco grupos: antissemitas, machistas, racistas, e discriminatórios com relação a indígenas e ciganos (uma palavra contestada por associar grupos como roma e sinti a trapaça e roubo). Muitas dessas plantas têm sido categorizadas tradicionalmente como “ervas daninhas”, sempre combatidas, nunca erradicadas, característica que acabou sendo adotada pela artista como um manifesto de resiliência e de resistência, propondo um contra discurso.

A artista destaca que as ervas daninhas, uma invenção colonialista para designar plantas “parasitas” e sem utilidade econômica, foram uma metáfora do discurso eugenista, “uma forma de racismo científico que defende a ideia de que o mundo é um jardim e que as chamadas ervas daninhas devem ser eliminadas para que a humanidade possa florescer”, diz.

A eugenia foi um movimento idealizado no final do século 19 pelo britânico Francis Galton, inspirado em seu primo Charles Darwin, que propôs o uso de práticas científicas dedicadas a melhorar características genéticas de gerações futuras a partir de seres humanos selecionados, descartando os demais.

Botannica Tirannica | Giselle Beiguelman. Foto: Denise Andrade.

O uso da Inteligência Artificial, ao mesmo tempo ferramenta e objeto de crítica, foi feito por meio de redes neurais generativas (StyleGAN): “Para tanto, estimulamos um curto circuito nos parâmetros da IA, de modo a rever os sistemas de padrões do mundo ocidental, que classifica tudo em categorias, centrais no pensamento taxonômico e nos pressupostos das metodologias de trabalho com IAs. Assim, ao mesmo tempo em que analisamos como parâmetros estéticos são criados a partir de preconceitos, usamos engenharias reversas para indicar caminhos para uma próxima natureza, sem categorias superiores dominando categorias inferiores”, afirma a artista.

Também produzidos com IA, cinco vídeos, um para cada grupo de pesquisa, compõem a série “Flora rebelis”. Um ensaio audiovisual de 15 minutos passeia pelos fundamentos e processos do trabalho de investigação e criação da artista, desde o nascimento da botânica até o uso de IA.

Também compõe a mostra o Jardim da resiliência, jardim circular montado no recinto expositivo e intervenções em áreas externas. Arrematando esta exposição de múltiplas mídias e linguagens, estão presentes três luminosos com as frases “Toda erva daninha é um ser rebelde”, “A nomenclatura é um ritual de apagamento” e “Mais clorofila, menos cloroquina”.

A mostra também conta com obras do artista convidado Ricardo Van Steen, que produziu sete aquarelas inéditas, de estética naturalista e científica, em que retrata jardins imaginários a partir de cada um dos grupos de pesquisa.

Para Felipe Arruda, diretor executivo do Museu Judaico de São Paulo, “a mostra ‘Botannica Tirannica’ está totalmente alinhada a uma das vocações do Museu de mapear, trazer à tona e desconstruir preconceitos, contribuindo para uma sociedade mais informada, consciente e que respeita a diversidade”.

A curadora da mostra, a crítica e pesquisadora Ilana Feldman, afirma que “Giselle Beiguelman é uma criadora de imagens dedicada a pensar a natureza das próprias imagens na contemporaneidade, mobilizando de maneira crítica, imprevista e inventiva a relação entre estética e política, arte e tecnologia”.

Sobre a artista

Giselle Beiguelman é artista e professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAUUSP). Pesquisa arte e ativismo na cidade em rede e as estéticas da memória na contemporaneidade. É autora de “Políticas da imagem: Vigilância e resistência na dadosfera” (UBU Editora, 2021) e “Memória da amnésia: políticas do esquecimento” (Edições SESC, 2019), entre outros. Suas obras artísticas integram acervos de museus no Brasil e no exterior, como ZKM (Alemanha), Jewish Museum Berlin, MAC-USP e Pinacoteca de São Paulo. Recebeu vários prêmios nacionais e internacionais, como o Prêmio ABCA 2016, da Associação Brasileira dos Críticos de Arte e The Intelligent.Museum, com Bruno Moreschi e Bernardo Fontes, promovido pelo ZKM e Deutsches Museum (2021).

Sobre o museu | O Museu Judaico de São Paulo (MUJ), espaço que foi inaugurado após vinte anos de planejamento, é fruto de uma mobilização da sociedade civil. Além de quatro andares expositivos, os visitantes também têm acesso a uma biblioteca com mais de mil livros para consulta e a um café que serve comidas judaicas. O MUJ conta com patrocínio da Fundação Arymax, Antonietta e Leon Feffer, Sergio Zimerman, Banco Itaú, Banco Safra, Instituto Cultural Vale, Lilian e Luis Stuhlberger | Verde Asset Management, Hapvida, entre outros apoiadores essenciais para a realização.

Serviço:

“Botannica Tirannica”, de Giselle Beiguelman

Museu Judaico de São Paulo (MUJ)

Curadoria: Ilana Feldman

Período expositivo: de 28 de maio a 18 de setembro

Local: Rua Martinho Prado, 128 – São Paulo, SP

Funcionamento: terça a domingo, das 10 horas às 18 horas

Ingresso: R$20

Classificação indicativa: Livre

Acesso para pessoas com mobilidade reduzida.

(Fonte: a4&holofote comunicação)