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Encontro Latino-Americano de Dança, Performance e Ativismo apresenta sua 9ª edição

São Paulo, por Kleber Patricio

“El Cuidador”, com Natty Fuster. Foto: divulgação.

Em sua 9ª edição, o Dança à Deriva – Encontro Latino-Americano de Dança, Performance e Ativismo se reconhece como um espaço de aproximação e troca entre artistas do continente. Serão dez dias de apresentações, conversas, laboratórios e performances em que os cerca de 40 participantes de nove países – Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, México, Paraguai, Peru e Venezuela – mostram a pesquisa e o resultado das “ideias, inquietações, modos de ser, viver e fazer neste continente tão diverso e adverso”, como coloca a coordenadora e idealizadora do projeto, Solange Borelli, da Radar Cultural Gestão e Projetos. A realização do evento é da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo ao lado da própria Radar Cultural.

Ao todo, serão vinte espetáculos e intervenções artísticas apresentados no Centro de Referência de Dança (CRD), no Centro Cultural Olido, em espaços urbanos e espaços independentes entre os dias 8 e 17 de dezembro de 2022. Estão previstos três laboratórios de investigação criativa com o artista, curador, professor e pesquisador da cena liminar entre Performance, Teatro e Dança Marcos Bulhões e com dois destaques internacionais do evento: Fèlix Oropeza, diretor da Compañia Agente Libre, da Venezuela, e Marco Ignácio Orellana, diretor da Compañia Amateur, do Chile. A programação conta também com espaços para conversas, ação chamada ‘Ponto de Fuga’, em que artistas e público estabelecem diálogos sobre os mais diversos temas da contemporaneidade, além do 2º Entramadas – Encontro de Artistas Gestores da América Latina, atividade híbrida (presencial e virtual).

Felix Oropeza. Foto: divulgação.

No dia 8 de dezembro, o Núcleo Improvisação em Contato e a banda Macaco Fantasma com o show “Seas Tu” dão boas-vindas aos grupos, artistas e público. O trabalho de Eduardo Fukushima “Como superar o grande cansaço?” abre as apresentações no dia 9, às 19h, no CRD e o encerramento com o Grupo Batakerê, dirigido por Mestre Pedro Peu – uma festa sonora que celebra o corpo, a dança, a música e a latinidade de todos nós.

Nesta edição, apresentam-se os seguintes coletivos internacionais: Agente Libre, dirigido por Felix Oropeza, da Venezuela; Leila Loforte, da Argentina; Elenco Alas Abiertas, dirigida por Sergio Nuñez, do Paraguai; Compañia Amateur, dirigido por Marco Orellana, que também dança ao lado da artista La Merce, e Danza a Pie, do Chile; Natti Fuster, do Paraguai; Alejandra Rivera, do México, e Organización Tremenda Espacio Cultural, do Peru. Do Brasil, participam Coletiva Profanas, Coletivo Nuvem e Coletivo Menos1 Invisível, atuantes na cidade de São Paulo, e Calé Miranda, do Rio de Janeiro.

A primeira edição do evento aconteceu em 2012 com o nome de Mostra de Dança e já idealizada e coordenada por Solange Borelli, uma das mais atuantes curadoras e gestoras de projetos culturais, há mais de vinte anos representando diversos coletivos artísticos da cidade de São Paulo. “Dança à Deriva nasceu da ideia de reunir artistas latino-americanos com o intuito de nos conhecermos e nos reconhecermos, dançarmos, falarmos de nós, de nossas produções. Ao longo das edições, percebemos que não era apenas uma mostra e sim um encontro de artistas das artes performativas”, revela Solange.

“Poemas Atlânticos” com Menos1 Invisível. Foto: divulgação.

Parte desse entendimento se deve ao envolvimento dos participantes. Para a coordenadora, a essência do Dança à Deriva é a imersão dos encontros que seguem pela “manhã, tarde, noite e, por algumas vezes, nas madrugadas também”, coloca. “Nesses dias, convivemos intensamente desenvolvendo experiências artísticas, pedagógicas e apreciativas, ativando diálogos e partilhando nossos fazeres. O encontro é aberto ao público, que também participa dessas experiências e passa a conhecer outras realidades dos países vizinhos, que pouco ou nada sabemos”, completa.

A curadoria parte de uma convocatória aberta em que os interessados apresentam suas propostas e também de convites feitos pela direção do encontro que, ao longo do ano, viaja e observa o movimento artístico cultural da América Latina. “Costumo questionar as curadorias, os jogos de poder e subalternidades. Ambiente onde se proliferam e se legitimam discursos que instituem verdades sobre modos de ser, pensar, fazer e até de existir, deixando à margem outros possíveis modos de existência e concepções. Há uma potencialidade crítica e política quando se faz escolhas”, diz Solange Borelli.

Por isso, a dança apresentada no Dança à Deriva traz experiência corpórea e sensorial em que se organizam ideias de insurgências. “É a deriva pensada enquanto desgoverno da embarcação levada pelo vento, que rompe com a racionalidade das representações e dos limites fronteiriços”, completa.

“Como superar o cansaço”, com Eduardo Fukushima. Foto: Rogerio Ortiz.

Com tal modo de ver e fazer dança, o Dança à Deriva despertou interesse nos meios acadêmicos e hoje é objeto de estudo e investigação na EACH-USP, no Programa de Mudança Social e Participação Política.

Artistas e coletivos

Um dos destaques da programação, o venezuelano Fèlix Oropeza, já presente em outras edições, traz o trabalho “La canción de la verdad sencilla”, em que fala de uma dança transformada em parábola do espírito humano, com suas virtudes e miséria.

O Chile apresenta três trabalhos nesta edição: “Bruta”, da Compañia Amateur, dirigida por Marco Orellana – também artista destaque em 2022 –, leva o corpo ao limite físico e emocional para que se concretize uma transformação sem gênero. Marco Orellana retorna ao palco em uma estreia nesta edição do Dança à Deriva: “Ano-Malas, la oscuridad baila”, duo com a artista La Merce, peça que deseja fluir nas contradições, fugir à ordem normal das coisas, sair da submissão e traçar um plano para descongelar as fixações identitárias. Ainda representando o Chile, “Antifas; Sueños de Agua”, o mais recente trabalho do Coletivo Danza a Pie, que usa o espaço público como motor para suas criações.

“Esther”, com o Coletivo Alas Abiertas. Foto: divulgação.

Do Paraguai, o espetáculo “Esther”, dirigido por Sergio Nuñez, traz sete bailarinos para a cena, com e sem deficiência visual, e apostam na escuta como ponto fundamental para seguirmos. Do mesmo país, Natti Fuster apresenta o solo “El Cuidador”, pequeno trabalho em dança-teatro com canções à capela em que procura transportar o público para um espaço e tempo indefinidos.

Leila Loforte, da Argentina, traz “Pulsiones Salvajes”, um solo inspirado na morte do cisne de Michel Fokine em um tempo pós-pandemia e tecnológico. Em parceria com a brasileira Luciana Hoppe, Leila também apresenta “Es Uma”, criada a partir da relação entre as duas artistas durante a pandemia e que questiona os corpos individualizados e alienados.

Em “Mucho ruido y…”, a artista Alejandra Rivera, do México, trata de um tema caro aos nossos dias: a indiferença diante da banalização da notícia. Também com abordagem política, “Lugares Otros”, com direção de Urpi Castro Chávez, coloca quatro mulheres em cena para questionar os arquétipos femininos a partir de suas memórias.

“Orí”, com Calé Miranda. Foto: Marco Netto.

De São Paulo, três grupos apresentam suas pesquisas: a Coletiva Profanas, durante seis horas, faz a performance “Ritu.1/Penetra!”, um manifesto pelo direito de fazer o que desejar com o corpo sem medo da ação do próximo; o Coletivo Nuvem apresenta “Nós”, em que a investigação coreográfica reflete as possibilidades e complexidades de permanecer no coletivo, com movimentações que se desdobram em um princípio único: permanecer de mãos dadas; e o Coletivo Menos1 Invisível apresenta “Poemas Atlânticos”, tendo a água como fio condutor e inspirada no pensamento do ensaísta, filósofo e poeta negro martinicano Édouard Glissant e no quadro “Navio Negreiro” (1840), do pintor pré-impressionista Willian Turner. Do Rio de Janeiro, Calé Miranda traz “Orí”, que significa “cabeça” em yorubá e é designada para identificar os Orixás protetores do iniciado no Candomblé (religião afro-brasileira).

Um dos destacados artistas da cena contemporânea brasileira atual, Eduardo Fukushima faz a abertura com “Como superar o grande cansaço?”, um trabalho em que desenvolve a questão em linguagem corporal: a dança é a própria pergunta como vontade de potência e geradora de movimento. Dirigido por Pedro Peu, na intervenção “Transbordando nos Quintais”, a música percussiva – como em outros trabalhos do grupo Batakarê – é guia nesse convite à celebração, unindo dança, brincadeiras afro-brasileiras e canto em uma grande roda, em que o público também pode participar.

Serviço:

Dança à Deriva – 9º Encontro Latino-Americano de Dança, Performance e Ativismo

De 8 a 17 de dezembro de 2022

Entrada gratuita, retirar ingressos com uma hora de antecedência

Centro de Referência da Dança – Galeria Formosa Baixos do Viaduto do Chá s/n, Praça Ramos de Azevedo – Centro Histórico de São Paulo, São Paulo – SP

Centro Cultural Olido – Av. São João, 473 – Centro Histórico de São Paulo, São Paulo – SP

https://www.facebook.com/dancaaderiva | www.dancaaderiva.com.br.

(Fonte: Canal Aberto Assessoria de Imprensa)

Brew Festival comemora 8 anos com edição especial na Lagoa do Taquaral

Campinas, por Kleber Patricio

Fotos: Átila Liberato.

O Brew Festival, uma das mais importantes, tradicionais e consagradas festas da cerveja artesanal do interior do Estado de São Paulo, celebra oito anos de sucesso com mega edição na Lagoa do Taquaral, no Parque Portugal, em Campinas. O evento acontece entre os dias 8 e 11 de dezembro, quinta-feira a domingo. A entrada é gratuita com acesso pelos portões 5 e 7.

A programação começa na quinta-feira (8), feriado de Nossa Senhora da Conceição, padroeira de Campinas, às 12h. As atrações prosseguem até às 22h. Na sexta-feira (9), o horário do evento é das 16h às 22h. Já no sábado (10) e no domingo (11) o Brew Festival recebe o público das 11h às 22h.

Quem é apaixonado por cerveja artesanal tem a chance de degustar ao menos 250 estilos oferecidos por 39 cervejarias de diferentes regiões. O festival tem como principal objetivo mostrar ao público a evolução do mercado das artesanais. São rótulos de qualidade produzidos com puro malte, sem processos industriais.

Concurso gratuito para cervejeiros amadores

Além do amplo parque cervejeiro, o Brew Festival traz na programação workshops, brassagem ao vivo e palestras com especialistas, que vão abordar temas referentes ao universo da cerveja.

Cervejeiros amadores podem participar do concurso “Brew Festival – Homebrew – A Fórmula”. As inscrições são gratuitas e limitadas e podem ser feitas no endereço eletrônico https://www.sympla.com.br/concurso-de-cerveja. O espaço ainda conta com uma grande feira, onde é possível encontrar as principais novidades do mercado.

“Para celebrar oito anos do Brew Festival, preparamos uma edição especial para Campinas e toda a região, com número recorde de cervejarias e estilos. O público vai encontrar tudo o que há de melhor e as principais novidades no mercado cervejeiro. Além disso, nossa festa terá concurso, palestras e workshops com renomados especialistas, além de farta gastronomia e shows ao vivo. Nossa intenção é proporcionar momentos inesquecíveis de lazer em um ambiente em que se preza a família e sua segurança”, diz o responsável pela organização do Brew Festival, Túlio Henrique Waetge, proprietário da WB Produções, empresa referência na organização de eventos, festas corporati vas, feiras e festivais.

Muita gastronomia e diversão

Além da diversidade de rótulos e sabores de cerveja e toda a programação direcionada ao universo cervejeiro, o Brew Festival traz a Campinas o Espaço BBQ, que concentra alguns dos principais assadores e churrasqueiros do Estado de São Paulo. Os mestres do churrasco vão apresentar um cardápio especial, cada um com sua peculiaridade de cortes e maneiras de preparar a carne, seja na brasa, bafo, fogo de chão, na parrilla ou pitsmoker.

A praça de alimentação a céu aberto montada em um dos principais cartões-postais de Campinas, a Lagoa do Taquaral, ainda conta com área Food com ampla variedade de iguarias da chamada gastronomia de rua. O parque também recebe a alameda dos doces com opções de sobremesas que farão a alegria de crianças e adultos.

Outra atração do Brew é a exposição de produtos alimentícios, como cachaças e queijos, acessórios para churrasco e cozinha, artesanato e vestuário. A galera jovem pode aproveitar a festa para fazer tatuagem ou colocar o sonhado piercing. O evento traz como diferencial uma ampla área kids para diversão das crianças. Se a preocupação são os animais de estimação, o festival é pet friendly, ou seja, todos estão convidados para a festa.

Aventura nas alturas

Uma das principais atrações do Brew Festival, em Campinas, é o Bar nas Alturas, que proporciona momentos inesquecíveis de lazer e entretenimento. Para uma verdadeira aventura, a estrutura é suspensa a 40 metros de altura. Lá o público pode degustar sua bebida preferida e ter uma visão completa das paisagens e do pôr do sol de Campinas.

O Bar nas Alturas obedece a todos os protocolos de segurança e é recomendado para pessoas a partir de 8 anos de idade. O ingresso individual permite a experiência de 15 a 20 minutos.

Shows

Para incrementar o espaço durante o Brew Festival, em Campinas, sete shows estão confirmados. São dois no feriado de quinta-feira (8), um na sexta-feira (9) e outros quatro entre o sábado (10) e o domingo (11). Para a abertura da programação, sobe ao palco na quinta-feira (8), às 14h, a banda Rockaway. Depois, às 19h, a atração é o grupo PopMind.

Na sexta-feira (9), Shelly Simon traz a Campinas o “Amy Winehouse Tribute & Divas do Pop”. O show começa às 19h. No sábado (10), se apresentam Barbie Kills, às 14h, e a banda Eruption que faz o Van Halen Tribute, às 19h. para encerrar o festival no domingo (11), as atrações musicais são Retrô Vitrola, &a grave;s 13h, e Rock Memory, às 18h. Em um segundo palco instalado no recinto, o público tem a chance de aproveitar diferentes intervenções artísticas.

Serviço:

Brew Festival – 8 anos

Local: Lagoa do Taquaral (Parque Portugal), com acesso pelos portões 5 e 7

Endereço: Avenida Doutor Heitor Penteado, 1671, Parque Taquaral, Campinas-SP

Dias: 8, 9, 10 e 11 de novembro (quinta e sexta-feira, sábado e domingo) Horários:

12h às 22h (quinta-feira)

16h às 22 (sexta-feira)

11h às 22h (sábado e domingo)

Entrada: gratuita

Estrutura: Espaço Kids, Bar nas Alturas, dois palcos, feira de cervejas

Agenda: Workshops, palestras, brassagem ao vivo

Concurso para cervejeiros amadores: “Brew Festival – Homebrew – A Fórmula”. Inscrições são gratuitas e limitadas no link https://www.sympla.com.br/concurso-de-cerveja

Evento pet friendly

Realização: WB Produções & Promoções

Informações: (19) 99494-2787 (WhatsApp)

Redes Sociais: @brew_festival (Instagram) e /brewfestival (Facebook)

Programação de shows

Quinta-feira, dia 8 de dezembro

14h: Rockaway

19h: PopMind

Sexta-feira, dia 9 de dezembro

19h: Shelly Simon (Amy Winehouse Tribute & Divas do Pop)

Sábado, dia 10 de dezembro

14h: Barbie Kills

19h: Eruption (Van Halen Tribute)

Domingo, dia 11 de dezembro

13h: Retrô Vitrola

18h: Rock Memory

Cervejarias e polos cervejeiros: Antuérpia | Marés | Tábuas | Dama Bier | St. Patricks | Frederícia | Brotas Beer | Copina | Mr. Wolf | Toca da Mangava | GBK Barrosa | Lemans | Nineties | Gonçalves | Blacaman | Germânia | BreWork | Dortmund | Stomy Beer & Co | BodeBrown | Tesla | Zev | Campos de Jordão | Bamberg | Berggren | Hausen | Cevada Pura | Campinas | Mosteiro | Base | Locals Only | Everbrew | Hoffen | El Coyote | Polo Cervejeiro de Jundiaí | Cervejarias Prisma, Tex Beer, Fralths, A Beer & Co e Duklan

Espaço Barbecue: Crivelaro’s BBQ | Estação Patricia Sally | Estalar do Fogo | Fumaça de Chef | Dom Pimenta | O Bom e Velho Churrasco | Brasa Burger

Área Food: Paraty Burger | Na Brasa Espetos | Parada Obrigatória | Souzas Craft Beer & Foods | Locomotiva Barão | Coxinhas Sabor e Amor | Pizzaria Ladie Olive | Piporca

Sweet Brew: Expresso Churros | Delícias da Vovó | Douce Douce Confeitaria | Love’s Cookies | Seu Churros | Donuts Thalita

Expositores: Cusco | Link Park Tattoo & Piercing | Camisaria Molotov | Prestige | Canto da Cachaça | Doctor Queijo | AMB Acessórios | Botas Caterpillar | Yellowme

Espaço Kids: Aloha Brasil | Jump | Grua humana gigante

Nick Eventos: Tiro ao Alvo | Kid Play | Pescaria | Chute a Gol

Império Eventos: Infláveis | Carrinhos elétrico e motorizados | Trenzinho da Alegria.

(Fonte: Ivan Lopes Assessoria de Imprensa)

Cinemateca Brasileira apresenta 8ª Mostra Mosfilm de Cinema Soviético e Russo

São Paulo, por Kleber Patricio

A Sala Grande Otelo da Cinemateca. Fotos e stills: divulgação.

Dezesseis longas metragens compõem a programação da 8ª edição da Mostra Mosfilm de Cinema Soviético e Russo, que acontecerá este ano entre os dias 14 e 18/12 na Cinemateca Brasileira, em São Paulo.

“Vladivostok” (2021), último lançamento do Estúdio Mosfilm nos cinemas, é o filme de abertura da Mostra. Dirigido por Anton Bormatov e com roteiro e produção executiva de Karen Shakhnazarov, diretor geral do estúdio, o longa é um thriller dramático e extremamente contemporâneo.

Duas datas importantíssimas para a cultura e o cinema mundiais serão celebradas na programação: o aniversário de 200 anos do grande escritor russo Fyodor Dostoievski, um dos maiores romancistas e pensadores da história da literatura, e os 100 anos do premiado diretor e roteirista Yuri Ozerov, realizador de mais de 20 filmes, entre documentários e longas metragens.

Still de “O Idiota”.

“O Idiota”, dirigido pelo consagrado Ivan Pyryev e lançado em 1958, é baseado na primeira parte do romance de Dostoievski e destaca-se pela fidelidade ao texto original e pela atuação de Yuri Yakovlev, ator que ganhou destaque internacional justamente por conta da repercussão do filme.

De Yuri Ozerov, está na programação a série “Libertação”, de cinco filmes, completa. Recentemente restaurado pelo Estúdio Mosfilm em 4K, o épico é considerado uma referência entre os filmes de guerra e é uma coprodução da União Soviética com Itália, Alemanha Oriental, Iugoslávia e Polônia. Ozerov o concebeu entre 1967 e 1971, retratando os momentos mais importantes da Segunda Guerra Mundial: a batalha de Kursk, a travessia do Dnieper, a libertação de Kiev, a conferência de Teerã, as intensas batalhas por Berlim e a tomada do Reichstag, a rendição da Alemanha nazista e a conferência dos chefes da coalizão anti-Hitler em Yalta.

O ator e diretor Vladimir Menshov, famoso por sua representação do homem comum russo e da vida da classe trabalhadora em seus longas, também será homenageado na programação, com exibições de dois filmes: a comédia romântica “Amor e Pombos” (1984), um dos filmes mais queridos de todos os tempos pelo povo russo, e o drama “Moscou Não Acredita em Lágrimas” (1979), vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1981. Menshov faleceu em julho de 2021, aos 81 anos, por complicações ocasionadas pela Covid-19.

Still de “Vladivostok”.

No sábado, 17/12, às 15h, haverá uma exibição especial do filme “Rua Mercantil nº 3” (1927), do diretor Abraham Room, considerado uma das obras primas do cinema silencioso soviético. O longa será exibido com trilha sonora composta e executada ao vivo pela pianista Dudah Lopes.

Completam a programação “Uma Banda Divertida” (1934), de Grigory Aleksandrov com música de Isaac Dunaevsky; “Ilia Muromets” (1956), do mestre da fantasia e dos efeitos especiais Aleksandr Ptushko; “Andrei Rublev” (1966), de Andrei Tarkovsky; “Os Ciganos Vão Para o Céu” (1976), de Emil Loteanu, recentemente restaurado em 4K; o drama autobiográfico “Os Órfãos” (1977), de Nikolai Gubenko, e “Enfermaria nº 6” (2009), de Karen Shakhnazarov, com roteiro baseado no romance de Anton Chekhov.

A Mostra é uma realização do Centro Popular de Cultura da União Municipal dos Estudantes Secundaristas de São Paulo (CPC-UMES), em parceria com a Cinemateca Brasileira e a Embaixada da Rússia no Brasil. Dos 16 filmes da programação deste ano, nove estão em 4K, sendo oito recentemente restaurados, além do lançamento “Vladivostok” (2021).

Apoio: Agência de Assuntos da Comunidade dos Estados Independentes da Federação da Rússia (Rossotrudnichestvo), Sputnik Cultural e Associação Cultural Grupo Volga de Folclore Russo.

8ª Mostra Mosfilm de Cinema Soviético e Russo

De 14 a 18 de dezembro – grátis

Programação completa – acesse aqui

Cinemateca Brasileira

Largo Senador Raul Cardoso, 207 – Vila Mariana – São Paulo (SP)

Horário de funcionamento

Espaços públicos: de segunda a segunda, das 8 às 18h

Salas de cinema: conforme a grade de programação

Biblioteca: de segunda a sexta, das 10h às 17h, exceto feriados

Sala Grande Otelo (210 lugares + 04 assentos para cadeirantes)

Sala Oscarito (104 lugares)

Retirada de ingresso 1h antes do início da sessão.

Exposição “As Matryoskhas”, por Nadia Ramirez Starikoff

Dos dias 14/12 a 18/12 estará em cartaz no foyer da sala Grande Otelo a exposição “As Matryoskhas”, de Nadia Ramirez Starikoff. Filha de mãe russa, a artista tem sua trajetória marcada pela migração. Inspiradas nas bonecas de origem russa, as obras retratam as origens ancestrais, a materialidade do corpo, as conexões com o outro, as relações com o ambiente e, por fim, a relação com o universo em sua mais infinita amplitude. Sábado, 17 de dezembro, das 13h às 21h.

Comidas, bebidas e artesanato típico do Leste Europeu

Um pedacinho da tradicional Feira do Leste Europeu estará na Cinemateca no sábado, 17/12, com barracas de comidas, bebidas e artesanato típicos da região. A Feira do Leste Europeu acontece mensalmente na Vila Zelina, bairro que concentra o maior número de imigrantes de países do Leste Europeu em São Paulo. Sábado, 17 de dezembro, das 13h às 21h.

Sobre o Mosfilm

Em 30 de janeiro de 1924, com a estreia do longa-metragem “Asas ao Alto”, de Boris Mikhin, surgia o Mosfilm, um dos mais antigos e pioneiros estúdios de cinema do mundo.

Durante seus 98 anos de existência vêm sendo produzidos nos estúdios Mosfilm mais de 2.500 longas-metragens, de inúmeros diretores que contribuíram para a criação da história do cinema mundial, como Serguei Eisenstein, Vsevolod Pudovkin, Ivan Pyriev, Grigori Aleksandrov, Mikhail Romm, Grigori Chukhray, Mikhail Kalatozov, Serguei Bondarchuk, Andrei Tarkovsky, Leonid Gayday, Gleb Panfilov, Karen Shakhnazarov e muitos outros.

Ainda hoje é o maior estúdio da Rússia e um dos maiores da Europa, contando com cidades cenográficas e equipamentos de alta tecnologia que permitem realizar o ciclo de produção do cinema em sua totalidade. O Mosfilm é um órgão público e Karen Shakhnazarov, diretor geral do estúdio desde 1998, é também presidente do Conselho de Cultura da Câmara Pública da Federação Russa.

CPC-UMES Filmes

Braço do Centro Popular de Cultura da União Municipal dos Estudantes Secundaristas de São Paulo, a distribuidora CPC-UMES Filmes está no mercado nacional de home vídeo desde 2014, com 59 títulos lançados em DVD e Blu-Ray além de uma parceria de lançamento em Blu-Ray com a Versátil Home Vídeo. Com licenciamento direto do Mosfilm, os filmes contemplam clássicos do cinema soviético e russo de diretores como Sergei Eisenstein (“O Velho e o Novo”, 1929, com codireção de Grigori Aleksandrov; “Aleksandr Nevsky” (1938), Andrei Tarkovsky (“Solaris”, 1972; “Stalker”, 1979; “Andrei Rublev”, 1966), Elem Klimov (“Vá e Veja”, 1985), e Serguei Bondarchuk (“Guerra e Paz”, 1965-67), entre outros.

Além da atuação em home vídeo, o CPC-UMES filmes organiza, desde 2014, a Mostra Mosfilm de Cinema Soviético e Russo, que acontece em São Paulo, com edições em Porto Alegre e Fortaleza. Em 2018, iniciou atividades no circuito comercial de cinemas com o lançamento de “Anna Karenina. A História de Vronsky”, com ótima receptividade de crítica e público. O filme foi lançado em junho do mesmo ano e a estreia contou com a presença do próprio Karen Shakhnazarov, diretor do filme e do Estúdio Mosfilm.

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Cinemateca Brasileira

A Cinemateca Brasileira, maior acervo de filmes da América do Sul e membro pioneiro da Federação Internacional de Arquivo de Filmes – FIAF, foi inaugurada em 1949 como Filmoteca do Museu de Arte Moderna de São Paulo, tornando-se Cinemateca Brasileira em 1956, sob o comando do seu idealizador, conservador-chefe e diretor Paulo Emílio Sales Gomes. Compõem o cerne da sua missão a preservação das obras audiovisuais brasileiras e a difusão da cultura cinematográfica. Desde 2022, a instituição é gerida pela Sociedade Amigos da Cinemateca, entidade criada em 1962 e que recentemente foi qualificada como Organização Social.

O acervo da Cinemateca Brasileira compreende mais de 40 mil títulos e um vasto acervo documental (textuais, fotográficos e iconográficos) sobre a produção, difusão, exibição, crítica e preservação cinematográfica, além de um patrimônio informacional online dos 120 anos da produção nacional. Alguns recortes de suas coleções, como a Vera Cruz, a Atlântida, obras do período silencioso, além do acervo jornalístico e de telenovelas da TV Tupi de São Paulo, estão disponíveis no Banco de Conteúdos Culturais para acesso público.

Site Oficial

Instagram: @cinemateca.brasileira

Facebook: @cinematecabr

Twitter: cinematecabr

Spotify.

(Fonte: Trombone Comunica)

Pirarucu protege terras indígenas no Amazonas

Amazonas, por Kleber Patricio

Fotos: Adriano Gambarini.

“As crianças não conheciam mais o pirarucu”, lembra Maria do Rosário Paumari, referindo-se a um passado não tão distante, no qual as três terras indígenas de seu povo, no rio Tapauá, sul do Amazonas, eram constantemente invadidas por barcos pesqueiros de grande porte, que estavam tornando escassas o pirarucu e outras espécies de peixes e quelônios. Essa realidade começou a mudar quando os indígenas iniciaram o manejo sustentável e comunitário de pirarucu. Em dez anos de pesca sustentável da espécie, comemorados em 2022, as comunidades geraram uma receita bruta de quase 1,5 milhão de reais com a atividade, que recuperou a população de pirarucu, fortaleceu a vigilância dos territórios, garante a segurança alimentar e ajuda a conservar milhares de hectares de floresta.

Da escassez à abundância

Maior peixe de escamas de água doce do mundo, o pirarucu pode chegar a duzentos quilos e três metros de comprimento. Sua carne é muito apreciada nos estados do norte do Brasil e, por isso, a espécie já esteve próxima da extinção. Em 1996, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) proibiu a pesca do pirarucu no Amazonas, permitindo a captura do peixe apenas no âmbito de iniciativas de manejo sustentável de pirarucu.

Hoje, essas iniciativas são responsáveis pela recuperação do pirarucu e de outras espécies de peixes em áreas protegidas do estado. Os Paumari foram um dos percursores a implementar o manejo sustentável de pirarucu em terras indígenas. Desde 2009, eles intensificaram a vigilância dos lagos e passaram a monitorar os estoques de pirarucu anualmente.

Foram necessários cinco anos de restrição da pesca no território para que a população de pirarucu começasse a se recuperar. Só após esse período, em 2013, foi realizada a primeira pesca sustentável. Todo ano, o Ibama permite que as comunidades que desenvolvem o manejo sustentável pesquem uma cota de até 30% dos pirarucus adultos contados. Podem ser capturados e comercializados apenas indivíduos acima de 1,5 metros – o tamanho indica que o peixe já está na fase adulta e que já foi capaz de se reproduzir. A pesca dos chamados bodegos, ou pirarucus juvenis, é proibida, porque neste estágio os peixes ainda não estão maduros para a reprodução. Com a proteção dos lagos e a regulação da pesca, os Paumari aumentaram em mais de 600% a população de pirarucu em seu território desde a primeira contagem, em 2009. “Ontem vimos pirarucus boiando no rio Tapauá, o que não acontecia há muito tempo. Isso significa que os lagos estão cheios, porque os peixes estão saindo dos lagos para o leito do rio”, celebrou Sara Paumari, liderança pioneira do manejo.

Vigilância fortalecida

Um dos primeiros passos para a implementação de uma iniciativa de manejo sustentável é o fortalecimento da organização coletiva das comunidades para cuidarem da biodiversidade de seus territórios, seja pela vigilância, que evita invasores e atividades predatórias, seja pela construção de acordos coletivos para o uso sustentável dos recursos. “A pesca predatória estava causando escassez de peixes, que são fundamentais para a subsistência e para a cultura paumari. Apresentamos uma alternativa que permitiria garantir a qualidade de vida das futuras gerações e o povo trabalhou junto na abertura desse novo caminho. Hoje, o manejo ajuda a conservar a biodiversidade nas terras indígenas e é uma fonte de renda sustentável”, afirma Gustavo Silveira, coordenador técnico da Operação Amazônia Nativa – OPAN, que, por meio do projeto Raízes do Purus, patrocinado pela Petrobras, apoia os Paumari desde 2013.

Atualmente, os Paumari têm sete bases flutuantes posicionadas em pontos estratégicos dos territórios, onde costuma haver invasões. “Quando os rios começam a secar, posicionamos as bases e vigiamos as entradas de lagos e igarapés vinte e quatro horas por dia. Fora esse período mais intenso de vigilância, fazemos quatro rondas por todos os pontos vulneráveis das terras indígenas em diferentes épocas do ano”, explica Francisco Paumari, coordenador do manejo sustentável de pirarucu do povo. O sistema de vigilância tem surtido efeito na inibição das invasões, mas este continua sendo um problema enfrentado cotidianamente pelas comunidades.

“Eles ficam de olho na nossa rotina e quando vamos para reuniões, aproveitam para invadir para pegar quelônios e pirarucus. Por isso, mesmo durante a pesca, as equipes precisam estar de plantão”, comenta Margarida Paumari, do conselho de lideranças da Associação Indígena do Povo da Água (AIPA), que representa as comunidades das três terras indígenas no rio Tapauá, e é fruto da organização coletiva promovida pelo manejo. Nesse contexto, apontam os Paumari, é fundamental contar com o apoio dos órgãos responsáveis pela fiscalização de áreas protegidas, que podem efetivamente expulsar os invasores. “A gente pede para os invasores saírem, explicamos que não podem pescar no nosso território. Mas alguns ignoram, e ficam contrariados. É importante que a gente tenha o apoio das autoridades”, relata Maria do Rosário.

Trabalho árduo

Quando se trata de manejo sustentável de pirarucu, não é apenas o peixe, conhecido como gigante amazônico, que impressiona. Durante a pesca, que dura em média três semanas, as comunidades se dividem em equipes que trabalham vinte e quatro horas por dia pescando, transportando e tratando o peixe, além de outras tarefas, como preparo das refeições e lavagem dos uniformes. São necessárias 46 toneladas de gelo para refrigerar o pirarucu entre a pesca e a sua chegada à cidade de Manacapuru, onde fica o frigorífico que processa e embala o pescado. Esse percurso é feito de barco e leva, em média, quatro dias.

Em 2012, foram contados 448 pirarucus adultos e a cota autorizada pelo Ibama foi de 50 indivíduos, totalizando três toneladas de peixe. Em 2021, foram contados 2995 pirarucus adultos, resultando em uma cota de 650 indivíduos e mais de 36 toneladas de proteína animal de alta qualidade comercializadas por meio da AIPA para a Associação dos Produtores Rurais de Carauari (Asproc), que coordena um arranjo comercial justo e coletivo de pirarucu de manejo sustentável que reúne associações de base comunitárias indígenas e ribeirinhas que realizam o manejo em seus territórios. O grupo criou uma marca coletiva chamada Gosto da Amazônia para vender o pirarucu em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília e Recife.

Coletivamente, os Paumari decidiram que 30% da renda gerada pela comercialização do peixe seriam destinadas ao caixa da AIPA. Este recurso é investido na vigilância do território e em melhorias na estrutura usada na pesca, além de compor um fundo de capital de giro para as pescas futuras. Os 70% restantes são divididos entre as pessoas que participam do manejo, por meio de um sistema de pontos que são acumulados pelas horas de trabalho.

Com o apoio do Raízes do Purus e de outros projetos realizados pela OPAN, os Paumari vêm se capacitando progressiva e continuamente para a gestão de sua associação e para os processos relacionados ao manejo e à pesca e conseguiram importantes avanços na estrutura de que dispõem para essas atividades, em especial a aquisição de flutuantes destinados à vigilância e ao pré-beneficiamento do pirarucu. Este último tem mesas de inox, um guincho para suspender e mover o peixe e mangueiras com água tratada, usada na limpeza do pirarucu.

Entre os Paumari, o orgulho é o sentimento que prevalece quando o assunto é manejo sustentável de pirarucu. “A gente fica muito alegre com a fartura não só de pirarucu, mas de outros peixes e caças no nosso território e com a qualidade da estrutura que conquistamos para o manejo. É uma responsabilidade dos jovens continuarem nosso trabalho, porque estamos garantindo a qualidade de vida das atuais e das futuras gerações”, ressalta Nilzo Paumari.

(Fonte: DePropósito Comunicação de Causas)

Theatro Municipal abre exposição “Presente! – Presenças negras no Theatro Municipal de São Paulo”

São Paulo, por Kleber Patricio

Reprodução de fotos dos programas de espetáculos e eventos do acervo do Theatro Municipal com Milton Nascimento. Reproduções: divulgação/TMSP.

A história do Theatro Municipal de São Paulo e das culturas e movimentos negros no Brasil tem pontos de contato muito marcantes – foi nas escadarias do Theatro, por exemplo, que em 1978 o Movimento Negro Unificado (MNU) foi publicamente lançado. Artistas e ativistas de importância mundial se apresentaram dentro e fora da centenária edificação e, para celebrar sua vida e presença, o Complexo Theatro Municipal abre no dia 8 de dezembro, na sala de exposições da Praça das Artes, a exposição “Presente! – Presenças negras no Theatro Municipal de São Paulo”, com curadoria participativa do Núcleo de Acervo e Pesquisa/Gerência de Formação, Acervo e Memória do Complexo Theatro Municipal. A exposição segue em cartaz até 29 de março de 2023, de terça a sábado, das 10h às 18h. No dia da abertura, a Orquestra Sinfônica Municipal fará, no vão da Praça das Artes, a apresentação do Hino da Abolição, de Gomes Cardim (1888), à época, dedicado a Luiz Gama. A partitura manuscrita também integra a exposição.

A exposição é fruto de um importante levantamento documental realizado pelo Núcleo de Acervo e Pesquisa, que encontrou mais de 280 registros de diferentes espetáculos, eventos e intervenções políticas que tiveram como protagonistas mulheres e homens negros. Programas de espetáculos, fotografias, borderôs, vídeos, cartazes, partituras, trajes e adereços documentam uma presença fragmentada e difusa, porém perene de 1915 até os dias atuais.

Longe de ser apenas um acumulado de registros historiográficos enfileirados, contudo, “Presente!” quer ser um libelo sobre a importância e conquista desta presença que (r)existe, um vocativo mesmo. Para isso, a expografia, cujo projeto é assinado por Ricardo Muniz Fernandes, abusa da figura das encruzilhadas (ou encruzas), que serão um fundamento e se multiplicará pelo espaço externo e interno da Praça das Artes. As encruzas serão um tempo-espaço onde o movimento, a profusão de possibilidades e as histórias e futuros se cruzarão, propondo um outro mundo e transgredindo a lógica branca e ocidental, seus territórios e limites. Dicotomias serão questionadas, assim como a ideia de dentro e fora.

reprodução de fotos dos programas de espetáculos e eventos do acervo do Theatro Municipal com Sarah Vaughan.

Ao reunir um conjunto significativo de diferentes documentos, desde 1915 até os dias atuais, que marcam a presença de artistas negros, no Theatro Municipal, a exposição “Presente – Presenças Negras no Theatro Municipal” aponta, por um lado, o que tem sido o Brasil nesses 110 anos de existência do Theatro: a presença exígua de artistas negras e negros no palco do Theatro, em relação à massiva atuação de brancos. Ao mesmo tempo, exibe a qualidade e competência dessa participação, diz Ana Lúcia Lopes, gerente de Formação, Acervo e Memória. E completa: “Porém, por outro lado, a exposição aponta para o futuro quando reúne esses artistas em uma demonstração incômoda, para muitos, de excelência. A competência é inquestionável, ficando para nós o compromisso antirracista de mudar essa história”.

“A ideia da encruzilhada como disputa, luta e jogo, envolta em ritmo e dança, tomando outras referências além do fato concreto, e buscando para lá do real o encantamento que vive em tudo”, diz o texto de parede da exposição. “A expografia proposta é também uma gira, uma mixagem da estética das ruas e dos museus, das quebradas e dos palácios. (…). Um ponto de partida, um início, um sem fim, a provocação de uma história ainda por se fazer”, explica o texto expositivo.

Fotografia presente em um programa de espetáculo do acervo do Theatro Municipal da companhia de dança de Alvin Ailey, em junho de 1978 no Municipal.

Somado a esse material, exposto de forma a ocupar um espaço presente, e não apenas passado, buscando a sensibilização e o vocativo, estarão trechos das 34 entrevistas realizadas com funcionários negros do Theatro, dando uma face e uma voz à presença negra atualíssima, que constroi o Complexo Theatro Municipal em seu cotidiano. “Essa experiência de registros documentais de história oral de trabalhadores, serviu como uma primeira experiência para uma ação que pretendemos aprofundar e produzir registros da história oral dos trabalhadores do Theatro Municipal de São Paulo”, completa Anita Lazarim, pesquisadora do Núcleo de Acervo e Pesquisa.

Nesses testemunhos, emoções, vivências e as contradições inerentes a uma sociedade estruturada pelo racismo constroem um edifício de vozes que permite pensar a escrita da história cotidiana a partir de um protagonismo de quem produz a arte, nos mais diferentes níveis, no dia-a-dia, e potencializará reflexões sobre o mundo e a história negra dentro do Municipal.

Um palco histórico para o que acontecia fora do Theatro também

Além de difundir o rico acervo da casa, a exposição pretende visibilizar a atuação de entidades e organizações da sociedade civil, sobretudo negras, que se articularam ao longo de mais de cem anos para ocupar a programação do Municipal de diferentes formas. “A exposição revela que o Theatro Municipal também foi constantemente disputado por outros grupos sociais que não somente a elite; que existiram – e de alguma forma se realizaram – outros projetos, tensões, diferentes perspectivas de cultura e política. A exposição ajuda a construir uma perspectiva mais plural acerca do significado do Municipal para a cidade de São Paulo, para o Brasil”, diz Rafael Domingos, coordenador do Núcleo de Acervo e Pesquisa do Complexo Theatro Municipal.

Para Anita de Souza Lazarin, “é fundamental dizer que, ao longo da história do Theatro Municipal de São Paulo, não houve uma gestão comprometida com as pautas raciais que estabelecesse políticas concretas nesse sentido em sua programação. Dessa forma, a ampla maioria das expressões e linguagens artísticas apresentadas no Municipal advém da vocação da casa de casa de ópera seus corpos artísticos. No entanto, apesar disso, variados grupos e sujeitos negros e de entidades negras conseguiram se articular para ocupar a programação do TMSP, deixando uma inegável contribuição artística e histórica”.

Programa de sala recital de Marian Anderson no Theatro Municipal de São Paulo, em 1937. Série: Programas de Espetáculos e Eventos do Theatro Municipal de São Paulo. Coleção Museu do Theatro Municipal de São Paulo. Centro de Documentação e Memória – Praça das Artes – Complexo Theatro Municipal de São Paulo.

Muitas preciosidades poderão ser encontradas pelo público, reveladas por essa imersão no acervo da instituição. E cada objeto conta uma história profunda – caso do Jornal Progresso, que representa a articulação da imprensa negra em 1931 e a campanha política organizada pelo escritor Lino Guedes para a construção de um monumento para Luiz Gama. “Para arrecadar fundos para a campanha, esse grupo do jornal Progresso conquistou um espaço na programação, realizando um evento no Theatro Municipal de São Paulo em meados de fevereiro de 1931. Meses depois, o monumento foi inaugurado no largo do Arouche. O acervo do Theatro possui um registro desse evento, que informa detalhes das apresentações daquela noite”, revela Anita Lazarim sobre apenas um dos inúmeros objetos presentes na exposição.

Houve situações ainda em que uma apresentação artística deu endosso a uma luta. “Ainda nessa década, em 1937, durante o recital da cantora lírica negra e estadunidense Marian Anderson, a Frente Negra Brasileira esteve na plateia prestigiando a artista e organizou uma homenagem a ela na sede da organização, a qual a cantora prontamente aceitou, indo conhecer o espaço de articulação. Isso foi noticiado na imprensa da época”, explica a pesquisadora do Núcleo de Acervo e Pesquisa, lembrando ainda do Teatro Experimental do Negro (TEN), de Abdias do Nascimento, que ocupou o Theatro com a peça “Sortilégio” na década de 1950, além da correspondência que há entre o aumento da programação com artistas negros e um repertório afro-brasileiro nos anos 1970 e 1980 e o fortalecimento da organização dos movimentos negros, que culminou na fundação do Movimento Negro Unificado (MNU), em 1978.

A história do Brasil também poderá ser reconhecida em documentos como o lendário programa de sala do show “Milagre dos Peixes”, de 1974, de Milton Nascimento, com a banda Som Imaginário e a Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal. O show é um marco na história da música brasileira, pois registra o momento do encontro de um artista popular com sua banda e uma orquestra sinfônica, proposta pouco usual no período, além de esse ser um álbum em que Milton abusou dos vocalizes na maior parte das faixas, todas censuradas pelo regime ditatorial da época.

Quem quiser conhecer mais a fundo a história dos documentos, no mesmo dia da abertura da exposição (8/12) será lançada a publicação do Núcleo de Acervo e Pesquisa: “Índice de Fontes: a presença negra no acervo do Theatro Municipal de São Paulo”.

Trazendo para o presente e para o espectador o protagonismo, cadeiras e holofotes se voltarão aos espectadores, que verá que a história não é única e tampouco fixa, se refaz e, com a articulação de testemunhos antes ideologicamente minimizados e mesmo silenciados, uma nova história surgirá a partir de nomes já conhecidos como Luiz Gama, Alvin Ailey, Milton Nascimento, Abdias do Nascimento, Elizeth Cardoso, Agostinho dos Santos, Elizete Cardoso, Art Blakey, Bobby McFerrin, Sarah Vaughan, Milton Nascimento, Marian Anderson, Alvin Ailey, Charles Mingus, Earl Hines, Dizzy Gillespie. Dionne Warwick, Nancy Wilson, Winton Marsalys, Barbara Hendricks e de nomes anônimos, além da perspectiva do próprio público, convidado a pensar ele mesmo uma nova história que se reconfigura ao colocar os holofotes em nomes antes não convidados a protagonizar espaços como o Theatro. Um movimento de escuta que empresta muito da psicanálise, de descoberta, de revelações, reelaboração e emergir de novas narrativas.

Serviço:

Exposição “Presente! – presenças negras no Theatro Municipal de São Paulo”

8 de dezembro de 2022 a 29 março de 2023

Terças-feiras a sábados, das 10h às 18h

Sala de Exposições – Praça das Artes

Ingressos: gratuitos

Classificação livre para todos os públicos – sem conteúdos potencialmente prejudiciais para qualquer faixa etária.

(Fonte: Approach Comunicação)