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Além do esporte: organização Mempodera transforma vida de meninas no âmbito social

Brasil, por Kleber Patricio

Mikaelly em pé, vestindo uniforme na cor preta e auxiliando as alunas. Fotos: Dayse Pacifico.

Um projeto muda vidas. Pessoas alegram vidas. Um propósito transforma vidas – é isso que a Mempodera e equipe fazem na vida de centenas de meninas. A organização possui atuação em Cubatão (SP) e em São Luís (MA) e oferece aulas de wrestling e inglês para meninas e meninos buscando promover a igualdade de gênero por meio do esporte e da educação. Grande parte das jovens atendidas pela iniciativa vivem em situação de vulnerabilidade social.

Para mudar essa realidade, a equipe trabalha arduamente e busca levar informação, educação, esporte e dignidade para essas meninas e suas famílias. Muitas histórias surgem em meio às atividades e conversas informais com as atendidas. Em uma dessas, foi possível conhecer Mikaelly Lima, uma jovem de 20 anos moradora de Cubatão e que, após cinco anos participando do projeto, passou a ser a primeira ex-aluna contratada da organização e hoje atua como monitora.

Caminhos de Mikaelly se cruzaram com a Mempodera em 2017

Para entendermos a jornada da Mikaelly na Mempodera, é preciso voltar lá atrás. “Minha infância foi cheia de brincadeiras. Eu brincava bastante na rua de pega-pega, de futebol com os meninos e também de roubar bandeira. Eu conheci a Mempodera com 14 anos. Um dia o projeto foi ao meu colégio, pensei em participar e acabei gostando”, relembra.

Apesar de ser bem engajada no projeto atualmente, a rotina para participar das atividades nem sempre foi tão fácil, como conta a coordenadora Mayara Amália. “A Mikaelly está no projeto desde o início, quando começamos a atender no colégio que ela estudava, que foi a primeira escola em que nós atuamos. Ela começou como aluna e passou por todas as dificuldades. A turma foi tendo evasão e ela continuou, mesmo tendo que cuidar dos irmãos. Ela ‘levava eles’ para as aulas e a gente revezava, pegava e ficava olhando. Teve uma irmãzinha recém-nascida também, de quem ela tinha a responsabilidade de cuidar”.

A luta ensinada no projeto não é tão tradicional no Brasil e muitas das meninas possuem o primeiro contato com ela quando fazem parte da organização. Esse também é o caso da Mikaelly, que conheceu o wrestling na Mempodera. O esporte é um dos mais antigos e até hoje possui modalidade proibida para mulheres, a Greco-romana. Apesar de ser um esporte de contato, no qual dois atletas têm o objetivo de deixar o adversário com as escápulas no solo, os benefícios para quem o pratica estão na força, desenvolvimento de habilidades pessoais e inteligência para lidar com conflitos e desafios.

“O projeto é minha segunda família. Eles têm um sentimento enorme pela minha família de sangue e por mim, especialmente a Mayara, Aline e a Lídia (fundadora e presidente da Mempodera). Eu sou grata por ter essas três mulheres na minha vida. Elas são muito importantes para mim, são minhas amigas, me dão conselhos e puxam minha orelha se faço algo de errado, mas eu sei que é para o meu bem”, destaca.

A mudança de chave após o projeto

Após alguns anos sendo aluna, surgiu a oportunidade de Mikaelly passar a integrar o time de colaboradores da organização. “Quando abriu a possibilidade de contratar alguém, eu acho que por merecimento, por todo esforço e por todos os motivos que ela teve para desistir e ela continuou, então a gente viu ali uma potência para poder trabalhar conosco. Não ter desistido foi uma coisa que a gente observou muito, mas também a questão de dar oportunidade de mudança e talvez uma possibilidade de mudança para a vida”, explica Mayara.

O começo como monitora das professoras de wrestling foi um período de difícil adaptação. “A Mayara já tinha falado que eu ia ser contratada e ela, Aline e Lídia conversaram comigo. No começo foi bem difícil para mim, porque não gosto de pedir ajuda para ninguém, então eu ficava quieta e na minha. Agora não, está muito diferente, agora se eu não sei de algo, peço ajuda para as meninas”, conta Mikaelly, que agora também auxilia nas demandas das aulas de inglês.

A parceria da jovem com a organização vai além do laço de contratação. Foi lá que Mikaelly começou a entender questões maiores sobre si mesma e sobre a vida, além de poder aprender sobre temas que, talvez, longe da Mempodera, não teria a chance. “As mudanças dela foram muito positivas, principalmente em se expressar. Ela é uma menina que não chega atrasada e é super comprometida. Mesmo com as limitações que teve e tem, ela se esforça para conseguir entregar e tem um lado muito responsável, principalmente de organizar e acompanhar as meninas. Percebo que ela está se tornando mais empoderada”, descreve Mayara.

Mikaelly afirma que o sentimento de ensinar o que um dia já aprendeu é de alegria. “Eu sou o espelho delas, né? Eu já fui aluna do projeto e agora eu tenho que ensinar o que passaram para mim e o que aprendi. A sensação é boa e de alegria imensa, porque nunca imaginei ser uma monitora do projeto em que eu já fui aluna. As meninas me chamam de tia e eu penso que já chamei a minha professora de tia. A sensação de chegar na escola e uma aluna falar: ‘tia, está tudo bem com você?’ não tem preço. Elas tiram um sorriso do rosto quando você não está bem e é uma alegria ser tia dessas meninas”.

Sobre a Mempodera | A Mempodera é uma organização que oferece aulas de wrestling e inglês para meninos e meninas de seis a 17 anos de forma gratuita desde 2017. O projeto busca a igualdade de gênero por meio do esporte, da educação e do fortalecimento de vínculos. Sua atuação é em Cubatão (SP) e São Luís (MA) e mais de 600 jovens já passaram pelo pela organização e tiveram suas vidas transformadas. Para mais informações, acesse https://www.mempodera.com/.

(Fonte: DePropósito Comunicação de Causas)

Sete em cada dez brasileiros que reduzem o consumo de carne são mulheres de alta renda e escolaridade

Brasil, por Kleber Patricio

Chamada de flexitarianismo, dieta que reduz o consumo de carne é trampolim para veganismo e vegetarianimo. Foto: Bulbfish/Pexels.

Mulheres de alta renda e de alta escolaridade que vivem em centros urbanos são a maioria (76%) das pessoas que escolhe diminuir o consumo de carne na sua alimentação. A constatação é de um estudo inédito de pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) publicado no último dia 8 na revista científica “Appetite”.

A investigação teve como objetivo caracterizar o perfil socioeconômico, demográfico e motivações dos chamados flexitarianos, que restringem o consumo de carne. Os pesquisadores analisaram dados coletados por uma pesquisa online com 1029 pessoas que se autodeclararam como flexitarianos. Esse padrão alimentar é caracterizado pelo consumo de carne bovina pelo menos duas vezes por semana e frango até três vezes por semana, sendo complementado por fontes de proteína de origem vegetal e ovos como os principais substitutos da carne.

Mais da metade (56%) das pessoas escolhem uma dieta com baixo consumo de carne por causa de preocupações ambientais e de bem-estar animal. “As preocupações com a degradação ambiental e a forma como os animais são tratados para fins de consumo parecem estar conectadas com o perfil político, de renda e nível educacional destas pessoas”, analisa Carla Djaine, cientista social pesquisadora da UFRN e principal autora do estudo. Em seguida, estão as preocupações com a saúde individual.

O estudo revela que os flexitarianos consultados têm um salário médio relativamente mais alto em comparação à renda média da população brasileira: eles ganham 3,6 vezes mais, ou seja, R$9.050,92, enquanto a renda média é de R$2.533, segundo dados do IBGE.

“Isso mostra que o poder de compra pode não ser o principal motivador da redução do consumo de carne, sendo importante diferenciar flexitarianos daqueles que limitam o consumo por questões financeiras”, afirma Djaine. Entretanto, o aumento de gastos com a alimentação é um fator relevante. A pesquisadora comenta que a dieta flexitariana pode custar até 60% a mais do que dietas convencionais, de acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).

A escolha pelo flexitarianismo pode ter uma relação de gênero que precisa ser mais investigada. “É preciso entender os motivos de as mulheres serem uma maioria tão expressiva. Acredito que elas têm uma maior preocupação com o outro, seja em relação ao meio ambiente, aos animais ou à saúde própria e da família”, afirma Djaine.

Outro ponto levantado pela pesquisa é que o flexitarianismo é considerado uma transição para o veganismo e vegetarianismo. Assim, a prática pode servir como trampolim para sistemas alimentares mais sustentáveis. “Mas é preciso que existam políticas públicas e campanhas que incentivem uma alimentação diversa, com o uso de alimentos subutilizados da biodiversidade brasileira, como as plantas alimentícias não convencionais (PANCs), que são ótimos substitutos para a carne animal”, conclui a pesquisadora.

(Fonte: Agência Bori)

“La Traviata” volta ao Theatro Municipal RJ após mais de 20 anos

Rio de Janeiro, por Kleber Patricio

As solistas Michele Menezes, Ludmila Bauerfeldt e Laura Pisani. Foto: Daniel Ebendinger.

Depois de mais de duas décadas ausente, com o Patrocínio Oficial Petrobras, “La Traviata”, de Giuseppe Verdi, está de volta ao palco do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. A ópera, baseada em “A Dama das Camélias”, romance e peça teatral de Alexandre Dumas Filho, narra a história de Violetta Valery, famosa cortesã parisiense que se apaixona por um jovem estudante. É uma das óperas mais queridas do público e chega a partir de 17 de novembro, às 19h, para a alegria do público.

Nos principais papéis estão os cantores Ludmilla Bauerfeldt, Laura Pisani e Michele Menezes (Violetta), Matheus Pompeu, Ricardo Gaio e Ivan Jorgensen (Alfredo), Lício Bruno e Vinicius Atique (Germont). As récitas contarão com a participação do Coro e da Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal. A concepção e direção cênica são de André Heller-Lopes e a direção musical e regência ficam a cargo do maestro Luiz Fernando Malheiro.

“São 22 anos de espera para recebermos novamente esse grande espetáculo no palco do Municipal. Desde 1974, nenhum brasileiro dirigiu essa ópera e agora temos a oportunidade de receber uma nova versão de André Heller-Lopes. O TMRJ, com o Patrocínio Oficial Petrobras, mais uma vez abre suas portas para que você possa se emocionar junto com a gente”, convida Clara Paulino, presidente da Fundação Teatro Municipal do Rio de Janeiro.

“É uma alegria programar La Traviata, um título tão querido e pedido pelo público e artistas da casa, que ficou tanto tempo fora das temporadas do TMRJ. Com uma equipe de primeiríssima, poderemos oferecer sete apresentações com três elencos distintos. Com Traviata fechamos um ciclo de seis títulos operísticos neste ano – um em concerto e cinco montagens. Que este número cresça bastante em 2024″, complementa o diretor artístico do Theatro Municipal, Eric Herrero.

“Interessa-me o fato de a ópera tratar do universo da alta prostituição e seus conflitos com uma moral religiosa; no entanto, é na cortesã que está o amor, enquanto que a morte vem pelas mãos das imposições de uma sociedade moralista que pretende tomar para si a palavra divina. Ambos os temas permanecem atuais em nosso mundo — e arrisco dizer que assim continuarão por muitos anos futuros, infelizmente. Seja no século XIX ou num futuro distópico, La Traviata mantém-se contemporânea”, ressalta o diretor cênico da ópera, André Heller- Lopes.

Na concepção de Heller, não se trata de um acaso que o título inicialmente previsto por Verdi e Piave para a ópera La Traviata seja “Amore e morte”. Para o diretor cênico, esses dois elementos permeiam toda concepção do espetáculo, enlaçados pelo tema onipresente: o curso inexorável do tempo.

A montagem de La Traviata está cheia de novidades. O cenário, por exemplo, será representado por um espaço dominado por estruturas em ferro fundido, remetendo à influência francesa, muito presente na arquitetura do Rio. Isso é apenas um spoiler do que vai ser apresentado. As récitas acontecerão nos dias 17, 19, 23, 24, 25 e 26.

No dia 23, haverá uma atividade educativa voltada para 260 pessoas, entre refugiados da Cáritas Brasileira, estudantes da UERJ, Faetec e idosos, que serão convidados para assistir à récita.

Antes de cada apresentação, será realizada uma palestra gratuita no Salão Assyrio, com presença de um intérprete de Libras. Lugares especiais para portadores de deficiência física e idosos, rampas de acesso, elevadores e banheiros adaptados. Legendagem e audiodescrição.

Ficha Técnica:

Ludmilla Bauerfeldt, Laura Pisani e Michele Menezes, Matheus Pompeu, Ricardo Gaio e Ivan Jorgensen, Lício Bruno e Vinicius Atique

Cenário: Renato Theobaldo

Figurinos: Marcelo Marques

Iluminação: Gonzalo Córdova

Coreografias: Bruno Fernandes e Mateus Dutra

Concepção e direção cênica: André Heller-Lopes

Direção musical e regência: Luiz Fernando Malheiro

Diretor Artístico do TMRJ: Eric Herrero.

Serviço:

La Traviata, de Giuseppe Verdi

Com Coro e Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal do Rio de Janeiro

Datas e horários:

17, 23, 24 e 25/11 – 19h

19 e 26/11 – 17h

Duração: Total de 3h10 com dois intervalos de 20 minutos e uma pequena pausa técnica.

Classificação: 14 anos

Ingressos:

Frisas e Camarotes – R$80,00 (ingresso individual)

Plateia e Balcão Nobre – R$60,00

Balcão Superior – R$40,00

Galeria – R$20,00

Os ingressos podem ser adquiridos através do site theatromunicipal.rj.gov.br ou na bilheteria do Theatro

Patrocinador Oficial: Petrobras. Apoio: Livraria da Travessa, Rádio MEC, Rádio Paradiso Rio FM, Rádio Roquette Pinto – 94.1 FM. Realização Institucional: Fundação Teatro Municipal, Associação dos Amigos do Teatro Municipal

Lei de Incentivo à Cultura

Realização: Ministério da Cultura e Governo Federal, União e Reconstrução.

(Fonte: Assessoria de Imprensa TMRJ)

Acervo do fotógrafo e ativista Januário Garcia (1943–2021), nome central do movimento negro brasileiro, será preservado pelo IMS e pela Unicamp

São Paulo, por Kleber Patricio

Marcha Zumbi está Vivo, Rio de Janeiro, 18 de novembro de 1983, manifestantes na Cinelândia. Crédito: Januário Garcia.

Ao longo de sua trajetória, Januário Garcia (1943–2021) produziu um dos mais importantes registros do ativismo e da cultura negra brasileira no século 20. Unindo o exercício da fotografia com a militância política, documentou marchas e atos organizados pelo movimento negro, além de personalidades centrais, como Lélia González e Abdias Nascimento. Atuou ainda no mercado publicitário, no fotojornalismo e na indústria fonográfica assinando capas de álbuns de músicos como Leci Brandão, Tom Jobim, Belchior e Raul Seixas. Em paralelo aos trabalhos como fotógrafo, ocupou cargos de destaque na militância, como o de diretor do Instituto de Pesquisas das Culturas Negras (IPCN).

Falecido em 2021, Januário completaria 80 anos no dia 16 de novembro. Durante sua vida, construiu um amplo e variado acervo. Esse material será agora preservado e difundido por duas instituições em uma parceria inédita: o Instituto Moreira Salles (IMS), responsável por armazenar a produção fotográfica do artista, e o Arquivo Edgard Leuenroth (AEL) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a cargo da salvaguarda dos documentos reunidos por Januário em sua atuação no movimento negro.

As duas instituições farão um arranjo arquivístico único do acervo e, futuramente, as fotografias e os documentos digitalizados integrarão as duas bases de dados. Além disso, será formado um conselho consultivo autônomo composto por pessoas que pesquisam a obra de Januário e que conviveram com ele na militância.

O material guardado pelo IMS é composto por cerca de 70 mil fotografias, equipamentos fotográficos e de laboratório e uma biblioteca com publicações focadas em artes visuais e fotografia. Já a coleção presente no AEL inclui documentos referentes ao movimento negro, entre cartazes e folders de eventos, jornais e outros itens, além de textos assinados pelo ativista e uma biblioteca com livros focados na temática étnico-racial. No âmbito da Unicamp, a coleção integra o projeto Afro Memória, que reúne acervos relacionados ao ativismo negro no Brasil e é fruto de uma parceria da universidade com o Afro Cebrap, a linha de pesquisa Hip Hop em Trânsito (CEMI/IFCH/Unicamp) e a Universidade da Pensilvânia (Upenn).

O material possibilita inúmeras frentes de pesquisa, num panorama da trajetória de Januário, cuja obra contribuiu para a criação de novas narrativas, como pontuou o próprio artista em entrevista para a pesquisadora Vilma Neres: “Aconteceu que a minha interação com a militância e com a fotografia se deu dessa forma. E em cima disso eu fui construindo todo um legado, porque eu acredito numa coisa que é o seguinte: as pessoas dizem ‘O brasileiro não tem memória’. E eu cheguei à conclusão seguinte: ‘Não, o Movimento Negro, no meu tempo, vai ter uma memória, e ele está tendo uma memória desde 1975’”.

Mais sobre o fotógrafo

Marcha Zumbi está Vivo, Rio de Janeiro, 18 de novembro de 1983, Av. Rio Branco. Crédito: Januário Garcia.

Januário nasceu em Belo Horizonte em 1943. Aos cinco anos, ficou órfão de pai e, aos 10, de mãe. Ainda pré-adolescente, foi sozinho para o Rio de Janeiro. Em 1963, ingressou no Exército, onde se formou como paraquedista. Com o valor recebido no trabalho, comprou sua primeira câmera fotográfica. A partir do final da década de 1960, frequentou aulas de história da arte no Museu Nacional de Belas Artes (MNBA), estudou na International News Cameramen Association do Rio de Janeiro e no Museu de Arte Moderna do Rio, onde fez o curso de fotografia sob orientação de Georges Racz.

Na década de 1970, passou a colaborar com jornais independentes e, posteriormente, para grandes veículos, como O Globo e Jornal do Brasil. Para manter sua autonomia e posicionamento político, optou por atuar sempre como freelancer. Nesse período ainda, começou a participar de encontros para discutir as questões em torno das relações raciais no Brasil e conheceu nomes centrais do ativismo e pensamento negro, como Beatriz Nascimento e Abdias Nascimento. Cada vez mais engajado nas lutas, tornou-se um dos fundadores do Movimento Negro Unificado (MNU) e do Instituto de Pesquisas das Culturas Negras (IPCN), que viria a presidir posteriormente por 10 anos.

Na dupla condição de fotógrafo e ativista, comparecia a inúmeros atos e eventos, sempre carregando sua câmera e utilizando uma boina de crochê com linhas nas cores verde, vermelho, preto e amarelo – um símbolo de autoafirmação em referência ao movimento do pan-africanismo.

Entre os atos que documentou, estão a Marcha Zumbi Está Vivo, o I Simpósio sobre Racismo e Discriminação Racial, ambos em 1983 no Rio de Janeiro, a Marcha contra a Farsa da Abolição, em 1988, também no Rio, e o I Encontro Nacional de Entidades Negras, em 1991, em São Paulo, além das mobilizações na década de 1980 pelo tombamento da Serra da Barriga, onde ficava o Quilombo dos Palmares. Ao fazer esses registros, Januário sabia da importância das disputas pelas narrativas históricas, como afirmava em entrevistas: “Existe uma história do negro sem o Brasil. O que não existe é uma história do Brasil sem o negro.”

Outra faceta importante de sua carreira é a atuação no campo da indústria fonográfica. O fotógrafo registrou mais de 90 artistas, para quem produziu capas de discos e imagens de turnês. São dele as fotografias de álbuns como “Alucinação” (1976), de Belchior, “Urubu” (1976), de Tom Jobim, “Coisas do meu pessoal” (1977), de Leci Brandão, “Há 10 mil anos atrás” (1976), de Raul Seixas, “Cores, nomes” (1982), de Caetano Veloso, “Das bênçãos que virão com os novos amanhãs” (1985), de Beth Carvalho, e “Martinho da Vila Isabel” (1984), de Martinho da Vila, entre outras.

Januário também colaborou bastante com o mercado publicitário. Em seus trabalhos no meio, atuou para valorizar a imagem de pessoas negras, criticando abertamente peças racistas. Foi um dos responsáveis, inclusive, pela campanha “O negro na publicidade brasileira”, que estimulava a contratação de atores e atrizes negros para comerciais.

Sua atuação tanto como fotógrafo quanto como ativista também fez com que ele viajasse por 27 países, registrando sempre que possível a população negra da diáspora em nações como Colômbia, Uruguai e Venezuela. Também clicou manifestações culturais como o primeiro ensaio do Bloco Afro Olodum, em 1982. Outro importante conjunto, feito como projeto pessoal, é a série de imagens que registra o cotidiano e a religiosidade dos moradores do Morro do Salgueiro, no Rio, na década de 1980.

Morro do Salgueiro (Rio de Janeiro/RJ). Crédito: Januário Garcia.

Ao longo de sua trajetória, Januário foi um importante personagem da história dos movimentos sociais brasileiros, colaborando para a produção de novos imaginários em torno das populações negras e das manifestações culturais do país. Ao preservar seu acervo, as duas instituições agem para reforçar e expandir o legado do ativista.

O coordenador de fotografia do IMS, Sergio Burgi, comenta a importância de difundir a obra do fotógrafo: “A chegada do acervo de Januário Garcia ao IMS estabelece um compromisso da instituição com uma representação mais ampla, mais diversa da fotografia realizada no Brasil. O acervo reúne o trabalho de um fotógrafo de extrema sensibilidade, com uma longa trajetória tanto no campo profissional quanto como militante político. Januário foi uma importante liderança do ativismo negro e, com sua fotografia, contribuiu para documentar a memória do movimento negro e do país.”

Sobre a parceria, Burgi também afirma: “O acervo de Januário transcende o arquivo fotográfico, reunindo uma ampla documentação que é essencial para o Brasil. Por esse motivo, o projeto foi estabelecido no âmbito de uma parceria entre o IMS e o AEL. Essa parceria permitirá que as duas instituições processem os arquivos de forma integrada, com um olhar que vincule os diversos documentos e garanta que nenhum segmento deixe de ser pesquisado. Dessa forma, os processos de luta e vida de Januário poderão ser pesquisados em suas múltiplas dimensões.”

Ainda sobre a importância de estimular a pesquisa e o acesso aos documentos, o diretor do Arquivo Edgard Leuenroth, Mário Medeiros, afirma: “O AEL se orgulha de poder colaborar para preservar a memória de Januário Garcia. Entre julho de 2020 e junho de 2021, dialogamos intensamente com ele, nos momentos mais difíceis da pandemia de Covid, por meio de videochamadas onde construímos ideias e ações sobre a salvaguarda de seu acervo, o sentido público de seu trabalho de memória acerca da população negra brasileira e da diáspora. Seu falecimento inesperado chocou a todos nós. E foi muito importante a partir daí dar sequência ao projeto de Januário em parceria com o IMS e sua família, visando a alcançar o que ele almejava em vida: que a população negra conhecesse e se reconhecesse em sua história de lutas e conquistas. E jamais se esquecesse delas.”

Mais informações sobre eventos relacionados ao acervo realizados pelas duas instituições serão divulgados em breve, além de outros dados e materiais a respeito da coleção.

Mais sobre o fotógrafo:

Januário Garcia: um olhar com 50 anos de fotoescrevivências. Revista ZUM. Por: Vilma Neres Bispo.

Trabalho de Januário Garcia no Programa Convida (programa de incentivo à produção artística lançado pelo IMS na pandemia, no qual Januário foi um dos contemplados)

Página do projeto Afromemória

Site oficial de Januário Garcia

Dissertação: BISPO, Vilma Neres. Trajetórias e olhares não convexos das (foto)escre(vivências): condições de atuação e de (auto)representação de fotógrafas negras e de fotógrafos negros contemporâneos. Rio de Janeiro: Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca, 2016, 158p.

(Fontes: Instituto Moreira Salles e Unicamp)

Cantor e violeiro Chico Lobo celebra 60 anos de vida e 40 de carreira com show gratuito em São Paulo

São Paulo, por Kleber Patricio

Repertório traz sucessos e músicas do álbum “Chico Lobo 60 Anos”, seu 28º projeto da carreira, que traz as participações de Maria Bethânia, Renato Teixeira, Zeca Baleiro, Roberto Mendes, Cláudio Venturini, Marcus Viana e MPB-4, entre outros. Fotos: Marcos Hermes.

O respeitado e celebrado músico Chico Lobo realiza espetáculo com entrada franca que marca seus 60 anos de vida, 40 de carreira e lança seu novo álbum “Chico Lobo 60 Anos” no Teatro Cacilda Becker, zona oeste de São Paulo, no dia 21 de novembro, às 21h. No comando de violas e voz e acompanhado por Marcelo Fonseca, violino e voz, Chico Lobo apresenta canções do seu novo disco, entre elas “Benvirá”, “Hoje Amanheci em Paz”, “Alma Barroca”, “Filho é Pro Mundo” e “Talvez Viola Verso e Canção”. Mas, o público presente também pode contar com alguns clássicos que marcaram a carreira e vida do violeiro, como “Disparada”, de Geraldo Vandré, “Zóio Preto Matador”, que integrou a trilha sonora da novela “Bicho do Mato”, da Rede Record, “No Braço Dessa Viola”, que deu nome ao primeiro CD e “Maria”, canção feita especialmente para Maria Bethânia no álbum “Viola de Mutirão”, entre outras.

O público presente vai poder comemorar com o violeiro mineiro, que chega em 2023 aos seus 60 anos de vida e mais de 40 dedicados à viola. E, para celebrar esta data tão especial, lança pela produtora e gravadora Kuarup o seu 28° álbum, “Chico Lobo 60 Anos”.

Para o incansável violeiro, esse novo trabalho é quase uma autobiografia de sonhos, desejos, estradas e sentimentos que marcam sua vida. As músicas compostas para esse álbum trazem uma reflexão profunda de Chico sobre seus passos e sobre suas estradas desde que saiu de sua cidade natal de São João Del Rei, na década de 80, mudando-se para Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, que foi ponto de partida para percorrer o chão mineiro, brasileiro e de tantos países pelo mundo afora com os sons de sua viola.

Ao passear por ritmos bens regionais, revendo a origem de seu trabalho e também dialogar com a música popular brasileira e o folk, ele nos apresenta a riqueza e a pluralidade de sua obra, tradição e contemporaneidade, que tecem um belíssimo diálogo. Decidido a se cercar de referências, que o fizeram ser o violeiro que hoje é, o álbum traz participações luxuosas de Maria Bethânia, MPB-4, Renato Teixeira, Zeca Baleiro, Roberto Mendes, os mineiros Cláudio Venturini, Marcus Viana, Renato Boechat e o tocantinense Genésio Tocantins, além de apresentar a aclamada dupla caipira Elcio Dias & Amorim, de São Paulo. Outra presença especial no álbum é o cantor português Pedro Mestre, parceiro de Chico Lobo, amizade conquistada há muitos anos, fruto do intercâmbio do violeiro mineiro em festivais de viola em Portugal e no Brasil.

Lobo com Maria Bethânia.

O disco “Chico Lobo 60 Anos”, que foi lançado dia 10 de novembro nas plataformas digitais e em edição física, conta com a produção musical impecável do parceiro e produtor Ricardo Gomes, que assina também os arranjos, baixos, violões, teclados e vocais. Conta com a presença de músicos companheiros de estrada: Leo Pires na bateria, Carlinhos Ferreira na percussão, Marcelo Fonseca nas cordas, Marcelo Sylvah nos violões de aço e os vocais de Gih Saldanha. Produzido e distribuído pela Kuarup, que Lobo considera sua casa musical, o álbum está sendo lançado nas plataformas digitais e também em edição física comemorativa. “Chico Lobo 60 Anos” mergulha na sua história, se conecta com a atualidade e ressalta sentimentos de esperança, resiliência, amor, amizade e deixa claro que ainda há muito pra se fazer. Uma celebração justa e comemorada por Chico Lobo, um artista tão ativo e incansável da música brasileira. E quem ganha é o público. A seguir, o violeiro conta sobre a criação de cada música e sobre os convidados.

“Celebração! Esse é meu estado de espírito e o momento que tenho passado esse ano todo. O show é um passeio pela minha história e referências. Alegria, esperança e resiliência. O público pode esperar eu cantar o Brasil profundo que a 40 anos atrás decidi cantar e hoje aos 60 anos me sinto cada vez mais apaixonado por esse Brasil construído de tantos Brasis”, explica Chico Lobo. “O público pode esperar emoção, afetividade, festa e muita viola”, complementa.

Serviço:

Chico Lobo: Show de lançamento do CD Chico Lobo 60 Anos

Dia: 21 de novembro de 2023 – terça-feira – 21h

Local: Teatro Cacilda Becker – Rua Tito, 295 – Vila Romana – Lapa – São Paulo – SP

Entrada franca.

Repertório:

1- Benvirá – Cantiga que abre o álbum e tem um apelo pela valorização da terra, da união do homem do campo. Uma referência de Chico Lobo ao disco “Das Terras do Benvirá”, de Geraldo Vandré, lançado em 1973. Traz a participação especial do MPB4, grupo vocal brasileiro formado em Niterói, no Rio de Janeiro, em 1965, banda importante e necessária para música brasileira e para a força da mensagem de Benvirá. Nessa cantiga, Lobo também fez uma pequena citação à revolução dos cravos em Portugal, que aconteceu 25 de abril de 1974 e que derrubou a ditadura de Salazar. “Seguir na estrada que me leva pra casa, com cravos a me enfeitar”.

2 – Hoje Amanheci Em Paz – É uma belíssima balada que namora com o folk, uma reflexão de Chico Lobo sobre seu estado de espírito após seus mais de 40 anos de viola nas estradas. “A vida é estrada longa, trilha de se cumprir”. É também uma canção que celebra o pós-pandemia e a forma como o artista venceu as dificuldades. Tem a voz potente e ao mesmo tempo lírica de Zeca Baleiro, um dos principais artistas da música brasileira atual, parceiro e amigo do violeiro já de longa data. Um encontro mágico.

3 – Viola, Verso e Canção – É uma parceria de Chico Lobo com o poeta e educador Jorge Nelson. Um batuque mineiro que ganha ares de chula do recôncavo baiano com a presença fantástica do mestre Roberto Mendes, nascido em Santo Amaro da Purificação, onde reside até hoje. Artista respeitado por todos e, para Chico Lobo, um mestre, que ele admira há muito tempo. Juntar a viola, o violino arrabecado do músico Marcelo Fonseca, com a voz e o violão inconfundível de Roberto Mendes, rendeu à música toda uma atmosfera de festa de mutirão.

4 – Vida Bela – É a história em versos de música sobre o relacionamento do violeiro Chico Lobo com Angela Lopes, sua produtora há 29 anos e esposa há 28. Relação que foi construída nas cordas da viola. Tem a participação de Tuia, artista da nova geração do folk, do pop, que Lobo conheceu nos encontros em São Paulo, na casa da Kuarup. A voz de Tuia deu a essa canção a força que ela precisava para essa declaração de amor. “Hoje a vida é mais calma, estamos juntinhos assim. Envelhecendo com o tempo, lado a lado plantamos jardins”.

5 – Alma Barroca – Composição de Chico Lobo em parceria com Thales Martinez, tem a participação especial do cantor Renato Teixeira, por quem o violeiro tem grande admiração e afeto. A canção é quase uma autobiografia de seus sonhos e desejos. Sentimento de gratidão que marca sua vida, uma reflexão profunda de Chico, sobre suas estradas, desde que saiu de sua cidade natal São João Del Rei, na década de 80, mudando-se para Belo Horizonte, capital de Minas Gerais e assim se pôs a percorrer o chão mineiro, brasileiro e de tantos países mundo afora. Cantiga que aproxima o rural da cidade grande.

6 – Meu Primeiro Amor – Um clássico da música de raiz, é a única regravação do álbum. Chico Lobo tem a memória afetiva de ouvi-la criança em casa, por ser a música que seu pai Aldo Lobo e sua mãe Nieta cantavam em casa e nas serestas. Nesse “Chico Lobo 60 Anos”, ela vem como uma homenagem às suas raízes. E para cantar ao som de sua viola, só poderia ser a voz de quem Lobo considera a maior cantora do Brasil: Maria Bethânia. Os dois já havia se juntado em 2016 na faixa “Maria”, do álbum “Viola de Mutirão”. “Para mim foi uma emoção sem fim quando Bethânia delicadamente aceitou cantar novamente ao som de minha viola. Um presente para os meus 60 anos” – assim diz Chico Lobo.

7 – Violas de Minha Terra Canção – É uma parceria de Chico Lobo com Marcus Viana, reconhecido artista mineiro compositor de inúmeras trilhas que povoam nossos corações e que já o havia convidado várias vezes para colocar viola em suas trilhas. Lobo tece a letra para uma melodia linda de Marcus Viana, que o violeiro definiu como uma pequena rapsódia caipira. Aos sons de suas violas, se juntam os arranjos de teclado e violinos inconfundíveis de Marcus Viana.

8 – Nascente de Rio – Canção de Chico Lobo que mergulha nas belezas de Minas Gerais. Tem uma forte influência do rock rural, marca da banda 14 Bis, formada em 1979 na cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais, pelos irmãos Flávio e Cláudio Venturini, Hely Rodrigues, Vermelho e Sérgio Magrão. E assim Lobo convida o músico Cláudio Venturini, que com sua voz doce e marcante e sua guitarra precisa, se junta ao violeiro para cantarem suas montanhas e nascentes musicais. “Nessas montanhas de Minas, o nosso amor, a nossa sina é nascente de rio”.

9 – Trovador de Sonhos – é a música que define a sina de Chico Lobo, ao entender que a vida “é doce mistério”, “sou um trovador de sonhos”. Lobo nos apresenta como participação seu amigo de fé, o cantor e compositor Renato Boechat, natural de Governador Valadares, interior de Minas Gerais, e dono de uma bela e possante voz de quem transita pelo rock, folk e MPB. Música que tem um belíssimo arranjo de cordas de Ricardo Gomes, produtor do álbum e executado nos violinos dobrados de Marcelo Fonseca. Destaca-se o belo vocal de Gih Saldanha.

10 – Frutos da Terra – Uma canção lírica, com forte influência ibérica, que Chico Lobo compôs em uma de suas várias idas a Portugal. Ela se funde a um tema tradicional do Alentejo, Lírio Roxo. Nas comemorações de seus 60 anos, não poderia faltar a presença de seu parceiro e amigo português Pedro Mestre, um dos principais artistas da música tradicional portuguesa, ganhador do Prêmio Carlos Paredes, dono de uma voz forte e que empunha a viola campaniça, uma viola de arame da região do Alentejo. Juntos também temos as presenças dos portugueses Pedro Calado, Luis Baldão e Miguel Carreira. Destaque para o belo violino de Marcelo Fonseca.

11 – Roçado – Parceria de Chico Lobo com Marília Abduani, nos apresenta a textura e o colorido festivo das folias e reisados. Com uma percussão forte de Carlinhos Ferreira junto à bateria de Léo Pires e o belo vocal de Gih Saldanha, traz o ritmo do regionalismo mineiro. E num encontro de culturas, tem a participação de Genésio Tocantins, um dos principais artistas do estado que ele leva no nome. Genésio aprendeu com o pai a cantar versos em feiras de sua região de nascimento e, com a mãe, frequentou rodas de folias, onde aprendeu cantos do divino. Aí se entende esse forte encontro de Chico Lobo e Genésio Tocantins.

12 – Harmonia – É uma autêntica toada caipira, uma homenagem de Chico Lobo para o cantor, compositor e apresentador Rolando Boldrin. “Eu queria fazer uma toada que me lembrasse das modas que eu e papai Aldo Lobo cantávamos dos discos lançados por Seu Boldrin”. Desta forma, Chico Lobo convida a dupla de Embu das Artes, São Paulo Élcio Dias & Amorim, artistas da Kuarup, para participarem da música. Para Lobo eles são a dupla herdeira da musicalidade linda de Pena Branca & Xavantinho. O resultado é emocionante e descortina fortemente as raízes do violeiro.

13 – Filho É Feito Pro Mundo – Cantiga com ares de xote e reggae. Chico Lobo fez para seu filho Tomás, que nesse ano de 2023 saiu de sua casa em Belo Horizonte para cursar Educação Física na Universidade Federal de São João Del Rei, terra natal do pai e, assim, ele vem recuperar as raízes. Chico Lobo se despede do filho e canta “Quando eu era jovem saí de casa… Hoje chegou a sua vez, filho, não relute um segundo”. Assim o nosso violeiro mineiro do mundo encerra o álbum “Chico Lobo 60 Anos”, na homenagem do pai ao filho que inicia sua vida, seus sonhos. Como há mais de 40 anos, Chico Lobo saiu de sua terra para viver de suas cantorias.

Sobre Chico Lobo

Natural de São João Del Rey, o violeiro Chico Lobo tem mais de 40 anos de carreira e é considerado pela crítica como um dos artistas mais atuantes no cenário nacional na divulgação e valorização da cultura de raiz brasileira. Com 27 CDs lançados, dois DVDs, livro e shows por todo o Brasil e diversos países como Portugal, Itália, China, Canadá, Argentina, Chile, Colômbia, o músico canta suas raízes e as conecta com nossa contemporaneidade.

Folias, catiras, modas, batuques, causos e toques de viola, desfilam com alegria em suas apresentações. Venceu por quatro vezes consecutivas (2015, 2016, 2017 e 2021) o Prêmio Profissionais da Música como Melhor Artista Regional, prêmio que acontece anualmente em Brasília. O artista mantém em sua cidade natal o Instituto Chico Lobo, que desenvolve projeto de ensino de viola e cultura raiz para as crianças das zonas rurais na cidade mineira de São João Del Rey. Desde 2006 Chico Lobo mantém relação artística com Portugal no Encontro de Violas, em parceria com o músico e parceiro português Pedro Mestre, representante maior da viola campaniça da região do Alentejo. Esse encontro gerou o CD “Encontro de Violas” e o DVD “De Minas ao Alentejo”, dando vida a um encontro ainda maior que já vai para a 11ª edição do Encontro de Violas de Arame. Chico Lobo, o representante brasileiro nesses encontros, já trouxe duas edições presenciais ao Brasil e uma virtual amizade e partilha pelas cordas da viola que une Brasil e Portugal. Em 2015, Maria Bethânia escolheu sua cantiga “Criação” para compor o repertório de seu show e DVD “Abraçar e Agradecer”, comemorando os 50 anos de carreira. Depois, Bethânia gravou participação no álbum “Viola de Mutirão” cantando a moda de viola “Maria”, que Chico Lobo fez em sua homenagem. Apresentador de TV, de rádio, produtor musical, escritor, cantor, o violeiro inquieto faz com que sua obra torne a aldeia global mais caipira.

Sobre a Kuarup | Especializada em música brasileira de alta qualidade, o seu acervo concentra a maior coleção de Villa-Lobos em catálogo no país, além dos principais e mais importantes trabalhos de choro, música nordestina, caipira e sertaneja, MPB, samba e música instrumental em geral, com artistas como Baden Powell, Renato Teixeira, Ney Matogrosso, Wagner Tiso, Rolando Boldrin, Paulo Moura, Raphael Rabello, Geraldo Azevedo, Vital Farias, Elomar, Pena Branca & Xavantinho e Arthur Moreira Lima, entre outros.

(Fonte: Tempero Cultural)