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Cinemateca Brasileira digitaliza conjunto da coleção em nitrato de celulose

São Paulo, por Kleber Patricio

Foto: Caio Brito e João Pedro Albuquerque.

A Cinemateca Brasileira recebeu o patrocínio de 13 milhões do Instituto Cultural Vale, via Lei Federal de Incentivo à Cultura, para o Projeto Nitratos – Preservação e Acesso, que viabiliza a conservação e catalogação de uma coleção de três mil rolos de imagens de valor histórico único – cinejornais, documentários, ficção, filmes domésticos e publicidade produzidos entre as décadas de 1910 e 1950.

É a primeira vez em 65 anos que a Cinemateca Brasileira recebe recursos específicos para tratar o conjunto da coleção de nitratos, a mais antiga e mais frágil, responsável por quatro incêndios (1957, 1969, 1982, 2016) ao longo da sua trajetória. A iniciativa inclui ainda a digitalização de títulos para difusão e ações de formação técnica e cultural.

Na coleção de Nitratos, estão filmes do Ciclo Recife (1923-1931), Cinejornais do Departamento de Imprensa e Propaganda do Estado Novo (1938-1946), Cinejornal da Agência Nacional (a partir de 1946), importantes documentários como São Paulo, a Symphonia da Metrópole (1929), Sociedade Anônima Fábrica Votorantim (1922), Fragmentos da Vida (1929), de José Medina e o primeiro longa-metragem de animação da história do Brasil, “Sinfonia Amazônica” (1953).

“A coleção de filmes em nitrato de celulose da Cinemateca Brasileira tem valor incalculável e é essencial para preservar a memória e a cultura do nosso país. É simbólico que o público possa, em breve, ver, pela primeira vez na história da instituição, estes registros preciosos de outras épocas. A cultura faz de nós quem somos. Temos orgulho de apoiar a Cinemateca, tudo o que ela representa, e a recuperação deste acervo tão delicado quanto especial”, afirma Hugo Barreto, diretor-presidente do Instituto Cultural Vale.

Importante ressaltar que os três mil rolos correspondem praticamente à totalidade das obras remanescentes do cinema antigo no Brasil, pois a Cinemateca, a partir da criação do seu Laboratório de Restauro, em 1976, passou a concentrar todos os títulos sobreviventes em arquivos e cinematecas do país. Trata-se, portanto, de um grande avanço no rumo da preservação da memória cinematográfica do país. É a concretização de um esforço de décadas, pois desde 1975 a Cinemateca vem enfrentando o fantasma do salvamento da coleção dos filmes de nitrato, sem jamais ter vislumbrado uma solução global para o problema, como agora se apresenta.

A Cinemateca Brasileira possui o maior acervo de filmes da América do Sul, com mais de 40 mil títulos e um vasto acervo documental (textuais, fotográficos e iconográficos) sobre a produção, difusão, exibição, crítica e preservação cinematográfica.

Cinemateca Brasileira

A Cinemateca Brasileira, maior acervo de filmes da América do Sul e membro pioneiro da Federação Internacional de Arquivo de Filmes — FIAF, foi inaugurada em 1949 como Filmoteca do Museu de Arte Moderna de São Paulo, tornando-se Cinemateca Brasileira em 1956, sob o comando do seu idealizador, conservador-chefe e diretor Paulo Emílio Sales Gomes. Compõem o cerne da sua missão a preservação das obras audiovisuais brasileiras e a difusão da cultura cinematográfica. Desde 2022, a instituição é gerida pela Sociedade Amigos da Cinemateca, entidade criada em 1962, e que recentemente foi qualificada como Organização Social.

O acervo da Cinemateca Brasileira compreende mais de 40 mil títulos e um vasto acervo documental (textuais, fotográficos e iconográficos) sobre a produção, difusão, exibição, crítica e preservação cinematográfica, além de um patrimônio informacional online dos 120 anos da produção nacional. Alguns recortes de suas coleções, como a Vera Cruz, a Atlântida, obras do período silencioso, além do acervo jornalístico e de telenovelas da TV Tupi de São Paulo, estão disponíveis no Banco de Conteúdos Culturais para acesso público.

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Instituto Cultural Vale

O Instituto Cultural Vale parte do princípio de que viver a cultura possibilita às pessoas ampliarem sua visão de mundo e criarem novas perspectivas de futuro. Tem um importante papel na transformação social e busca democratizar o acesso, fomentar a arte, a cultura, o conhecimento e a difusão de diversas expressões artísticas do nosso país, ao mesmo tempo em que contribui para o fortalecimento da economia criativa. São mais de 300 projetos criados, apoiados ou patrocinados em 24 estados e no Distrito Federal em execução em 2022. Dentre eles, uma rede de espaços culturais próprios, patrocinados via Lei Federal de Incentivo à Cultura, com visitação gratuita, identidade e vocação únicas: Memorial Minas Gerais Vale (MG), Museu Vale (ES), Centro Cultural Vale Maranhão (MA) e Casa da Cultura de Canaã dos Carajás (PA). Onde tem Cultura, a Vale está. Visite o site do Instituto Cultural Vale.

(Fonte: Trombone Comunica)

Hidrelétrica Henry Borden completa 96 anos

Cubatão, por Kleber Patricio

A antiga “Usina de Cubatão”, hoje Henry Borden, foi inaugurada em 10 de outubro de 1926 como a maior hidrelétrica do país à época. Acervo sobre a obra encontra-se na Fundação Energia e Saneamento. Foto: Luiz Kagiyama.

A hidrelétrica Henry Borden, em Cubatão, na Baixada Santista, considerada durante muito tempo a maior hidrelétrica do país e parte de um empreendimento mundialmente pioneiro, comemora 96 anos no dia 10 de outubro deste ano. A usina teve papel essencial no desenvolvimento do estado de São Paulo no século passado e foi alvo de bombardeio na Revolução de 1932. A Fundação Energia e Saneamento detém e preserva a documentação histórica da construção do Complexo Henry Borden – operado pela Empresa Metropolitana de Águas e Energia (EMAE), oriunda da antiga Light –, como relatórios, mapas e fotos, disponíveis a pesquisadores de forma gratuita.

Na primeira metade do século 20, a hidrelétrica forneceu eletricidade que garantiu o crescimento do parque industrial paulista e a expansão da urbanização de boa parte da capital e região metropolitana. A usina integrou um projeto de engenharia que contemplou a criação de outras estruturas, como o reservatório Billings e o canal Pinheiros. Hoje, ambos possuem outras funções primordiais na capital, como o abastecimento de água e controle de cheias.

O complexo Henry Borden, localizado no sopé da Serra do Mar, utiliza água da Bacia do Rio Tietê, que teve seu curso alterado para descer a Serra do Mar. Do Rio Pinheiros, a água vai para a Represa Billings e depois para a Represa Rio das Pedras, reservatório da usina, percorrendo túneis abertos na serra até a usina em Cubatão. A primeira unidade do complexo foi inaugurada em 1926 e as demais foram instaladas até 1950.

A Usina Henry Borden integra um grande investimento da companhia canadense The São Paulo Tramway, Light and Power Company Limited, a Light, pioneiro no mundo, e foi a principal obra do Projeto da Serra, a maior hidrelétrica do Brasil, projetada entre as décadas de 1920 e 1960 para aumentar o fornecimento de energia elétrica para a capital paulista, que estava crescendo rapidamente.

O projeto pioneiro teve grande impacto econômico, social e ambiental, com seus reservatórios e barragens, além de inversões e canalizações de rios. A usina mudou a paisagem da baixada e contribuiu para a criação do polo industrial de Cubatão. A região foi escolhida por ficar entre São Paulo e Santos, pela proximidade com a estrada de ferro da São Paulo Railway e pelo desnível de 720 metros entre a serra e o nível do mar, dando força às águas para movimentar as turbinas.

As obras tiveram início em 1925, com cerca de seis mil operários. A Usina ainda conta, atualmente, com o maquinário original e com a atuação de cerca de 200 pessoas na operação e manutenção das instalações do complexo Henry Borden, que integra duas usinas, externa e subterrânea, que totalizam 889 MW de capacidade. As principais instalações do Projeto da Serra foram as barragens no Rio Tietê, a retificação do Rio Pinheiros e a construção das usinas elevatórias no canal, o Reservatório Billings e a Henry Borden.

Bombardeio na Revolução de 1932

Na Revolução de 1932, que surgiu de uma crise entre o Estado de São Paulo e o governo federal, resultando em um grande confronto bélico, uma das táticas usadas pelo Governo Vargas para forçar a rendição paulista foi interromper o fornecimento de energia, bombardeando a Usina de Henry Borden, então Usina de Cubatão, na época a maior usina paulista, responsável pelo abastecimento direto de energia a São Paulo.

O bombardeio tinha o propósito de pressionar os rebeldes e interromper o abastecimento de energia para as fábricas adaptadas em indústrias de guerra, prejudicando a produção e o fornecimento das tropas paulistas. No dia 29 de julho, a usina foi atingida por bombas lançadas por aviões do governo federal. A Revolução de 1932 durou três meses e a rendição foi assinada em 1º de outubro, com a derrota dos rebeldes.

Acervo Histórico

A Fundação Energia e Saneamento desenvolve projetos completos de organização de arquivos, sistematização, racionalização e recuperação rápida e eficiente das informações contidas nos documentos arquivados. Coordena a implantação do sistema Enerweb, ferramenta digital desenvolvida pela Fundação e para gestão de acervos arquivísticos, bibliográficos e museológicos.

A história da Fundação começa em 1998, quando as empresas do setor elétrico brasileiro estavam sendo privatizadas e o governo estadual paulista criou um órgão para preservar a memória e o patrimônio do gás e da eletricidade no Estado. Em 2004, a Fundação incorporou a temática do saneamento e surgiu o nome Fundação Patrimônio Histórico da Energia e Saneamento ou Fundação Energia e Saneamento.

Organização sem fins lucrativos, a Fundação atua em todo o Brasil desenvolvendo projetos culturais e educativos que contribuem para a democratização do acesso ao patrimônio cultural, visando o fortalecimento da cidadania e o uso responsável dos recursos naturais.

O acervo da Fundação é composto por mais de 1.600 metros lineares de documentos técnicos e gerenciais, 260 mil documentos fotográficos, cerca de 4.000 objetos museológicos, 50 mil títulos na biblioteca, além de documentos cartográficos, audiovisuais e sonoros, reunidos a partir de meados do século 19.

A Fundação guarda também um rico patrimônio arquitetônico e ambiental. São quatro Centrais Geradoras Hidrelétricas (CGHs), as usinas Parque de Salesópolis, Rio Claro, Brotas e Santa Rita do Passa Quatro, algumas com áreas remanescentes de Mata Atlântica, e dois imóveis urbanos em Itu e Jundiaí.

Saiba mais: https://www.energiaesaneamento.org.br/ | https://www.energiaesaneamento.org.br/acervo.

(Fonte: Betini Comunicação)

Pinacoteca recebe instalação de Dalton Paula no octógono

São Paulo, por Kleber Patricio

Dalton Paula – “Rota do algodão”, 2022. Fotos: Paulo Rezende.

A Pinacoteca de São Paulo apresenta a instalação “Dalton Paula: Rota do Algodão” no Octógono da Pinacoteca Luz. O site-specific foi pensado e desenvolvido a partir de uma pesquisa em torno do plantio e da economia do algodão, assim como da sua importância cultural e medicinal nos Estados Unidos e no Brasil.

Viajando ao longo dos rios Mississippi (Louisiana) e Itapecuru (Maranhão), Dalton acessou diversas camadas de uma história de ascensão e abandono do comércio do algodão, de exploração dos trabalhadores escravizados nas respectivas fazendas e da falência de uma indústria inteira nas regiões ribeirinhas e portuárias no final do século XIX. Hoje, o Brasil é líder mundial na produção de algodão sustentável, principalmente originário no estado de Goiás, onde o artista reside.

Caminho do ouro branco

A instalação é composta por oito conjuntos de tamboretes populares de madeira e couro, agrupados e decorados como altares improvisados, sobre os quais repousam diversas garrafas, jarras e barris revestidos de lona de algodão. Nesse conjunto de objetos estão organizadas imagens e motivos que evocam complexas histórias da “Rota do Algodão”.

Encontramos vistas de paisagens marcadas pelo cultivo e processamento do chamado ouro branco, vistas de grandes armazéns e embarcações, de ferramentas e máquinas de processamento, de corpos invisibilizados, de objetos e atos de resistência política e espiritual. Tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, o conhecimento sobre as propriedades terapêuticas do algodão se manteve nos quilombos e comunidades afrodescendentes e foi nestes mesmos espaços que nasceram movimentos culturais diversos e muito singulares.

O artista, que já participou da Triennial no New Museum em Nova York, cria uma síntese de elementos encontrados, ressignificados e transformados em pinturas tridimensionais. O tamborete é um objeto central nas religiões de matriz africana, assim como o arranjo de garrafas de diversas escalas e formas. E o revestimento delas faz ainda referência às amarrações na cultura vodum (religião mantida pelos escravos trazidos para o Brasil que tem raízes primárias entre os povos Jeje-Fom do Benim).

Dalton Paula trabalha com pintura, desenho, vídeo, performance e instalação. A figura central da sua pesquisa é o corpo negro em diáspora, seus ritos, rituais e histórias. Em “Rota do Algodão”, Dalton desdobra sua investigação acerca do Atlântico Negro e sua rica linguagem simbólica, sendo o terceiro grande projeto após aquele que deu luz à obra “Rota do Tabaco” (2016) e à pesquisa acerca da “Rota do Ouro”. Dela resultaram as obras “Bamburrô” (2019) e “Anhanguera” (2019). Esta última consiste em uma estante com lamparinas pintadas. A obra faz parte do acervo da Pinacoteca e está em exposição no segundo andar do museu.

Sobre Dalton Paula

Dalton Paula (1982, Brasília/DF). Vive e trabalha em Goiânia/GO. É bacharel em Artes Visuais e aborda o corpo silenciado no meio urbano. Em 2021, participou da exposição “Enciclopédia Negra”, na Pinacoteca de São Paulo; em 2020, fez sua primeira exposição individual internacional “Dalton Paula: um sequestrador de almas”, na Alexander and Bonin Gallery, em Nova York. No ano de 2019, foi um dos cinco vencedores da 7ª edição do “Prêmio CNI SESI SENAI Marcantonio Vilaça de Artes Visuais” e também expôs no 36º Panorama da Arte Brasileira: Sertão, no Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo.

Em 2018, foi selecionado para a “Songs for Sabotage – Triennial” no New Museum em Nova York. Também participou da 11ª Bienal de Artes Visuais do Mercosul, em Porto Alegre/RS, “O Triângulo Atlântico”; da exposição “Histórias Afro-Atlânticas”, no Museu de Arte de São Paulo (MASP) e no Instituto Tomie Ohtake. Em 2017, participou da exposição “O Triângulo Atlântico” (Goethe Institut em Lagos, Nigéria), e no ano de 2016 foi um dos artistas convidados para a 32ª Bienal de São Paulo.

Sobre a Pinacoteca de São Paulo

A Pinacoteca de São Paulo é um museu de artes visuais com ênfase na produção brasileira do século XIX até a contemporaneidade e em diálogo com as culturas do mundo. Museu de arte mais antigo da cidade, fundado em 1905 pelo Governo do Estado de São Paulo, vem realizando mostras de sua renomada coleção de arte brasileira e exposições temporárias de artistas nacionais e internacionais. A Pina também elabora e apresenta projetos públicos multidisciplinares, além de abrigar um programa educativo abrangente e inclusivo.

Serviço:

Dalton Paula: Rota de algodão

Período: 8/10/2022 a 30/1/2023

Curadoria: Jochen Volz

Edifício Pinacoteca Luz

Praça da Luz, 2, São Paulo, SP, Octógono

De quarta a segunda, das 10h às 18h

Gratuitos aos sábados

R$20,00 (inteira) e R$10,00 (meia-entrada) | Ingressos no site oficial ou na bilheteria da Pinacoteca

Redes sociais da Pinacoteca de São Paulo:

Instagram | Facebook |Twitter.

(Fonte: Marmiroli Comunicação)

As fragilidades da Política Nacional de Proteção e Defesa Civil em um cenário de quase 8 milhões de desabrigados em 30 anos

Brasil, por Kleber Patricio

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil.

Nos últimos 30 anos, o Brasil teve em torno de 63 mil ocorrências de desastres. No total, foram contabilizadas 7,8 milhões de pessoas desabrigadas e desalojadas, 4.307 óbitos, mais de 3 milhões de habitações destruídas ou danificadas e uma média de R$18,26 bilhões por ano em termos de danos materiais e prejuízos. Devido à sua extensão territorial, posição geográfica e grau de desigualdade, o país conta, ainda, com um variado perfil de risco de desastre.

O enfrentamento dessa realidade requer a superação de uma série de fragilidades. Uma das principais é a insustentabilidade financeira que reflete na implementação da Política Nacional de Proteção e Defesa Civil (PNPDEC). Uma análise do orçamento anual destinado à Defesa Civil entre os anos de 2018 e 2021, considerando a correção monetária pelo IPCA, demonstra uma diminuição nos recursos destinados à área com uma perda estimada de R$612 milhões. Mas o problema não é só o déficit orçamentário.

Pesquisa realizada entre 2020 e 2021 resultou no Diagnóstico de Capacidades e Necessidades Municipais em Proteção e Defesa Civil. Uma das necessidades identificadas pelo estudo diz respeito aos meios de obtenção de recursos. De acordo com os resultados: 72% das defesas civis não têm recurso orçamentário; 76% não contam com recursos do tesouro; 74% não recebem recursos de outras secretarias; 97% e 96% não contam com doações ou fundo de reserva, respectivamente; 95% não utilizam recursos oriundos de emendas parlamentares e 90% não receberam auxílio de programas estatais em 2021.

A combinação desses dados com o incremento de desastres no país exige uma reflexão sobre como aumentar a resiliência das finanças públicas frente a riscos e desastres. Em artigo publicado na edição de setembro de 2022 da Revista de Informação Legislativa (RIL) do Senado Federal, nos propusemos a enfrentar a matéria. Destacamos o papel dos fundos federais, uma das espécies de recursos aplicáveis ao contexto do financiamento de gestão de risco e desastre, e apresentamos um conjunto de proposições em prol da melhoria do processo de implementação da Política Nacional.

Entre as propostas pontuamos: i) a necessidade de regulamentação da Lei nº 12.340/10 no que tange ao Fundo Nacional para Calamidades Públicas, Proteção e Defesa Civil (Funcap) com o apontamento de oito novas fontes que, a partir do trâmite legislativo, poderiam passar a compor o Funcap. Além disso, discorremos sobre a ii) conexão fática e normativa entre Fundo Clima e redução de risco e desastres, a fim de articular essas políticas também em termos financeiros. Por fim, argumentamos iii) pela viabilidade de utilização dos recursos do Fundo Nacional de Segurança Pública, já que a Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil está entre os órgãos operacionais do mencionado sistema, que inclusive tem como princípio “a eficiência na prevenção e na redução de riscos em situações de emergência e desastres.” (artigos 9º, §2º, XIII e 4º, VI da Lei nº 13.756/2018).

As alternativas são viáveis, legalmente respaldadas e de fácil operacionalização. Algumas não requerem alteração legislativa, apenas articulação política e podem ser implementadas no curto prazo. Aliados ao replanejamento orçamentário, desenvolvimento de políticas de seguro e entre outras alternativas, os fundos federais representam uma estratégia auxiliar e útil a todas as fases do ciclo de gestão de riscos e desastres, com reflexos positivos em todo o sistema.

Sobre os autores:

Fernanda Damacena é doutora em Direito Público com ênfase em Direito dos Desastres, advogada, pesquisadora e consultora da área.

Luiz Felipe da Fonseca é professor e doutorando em Direito da Universidade Federal do Pará (UFPA).

Renato Eliseu Costa é doutorando em Políticas Públicas, mestre em Gestão Pública (UNIFESP) e em Ciências (USP) e bacharel em Gestão Pública. Especialista em Planejamento e Orçamento.

Victor Marchezini é sociólogo, doutor em Sociologia pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e pesquisador no Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).

(Fonte: Agência Bori)

Reserva Cultural recebe exposição “Costurar fendas de outros tempos”, de Laura Freitas

Niterói, por Kleber Patricio

Laura Freitas – Costurar fendas de outros tempos. Fotos: divulgação.

No dia 13 de outubro foi inaugurada a exposição “Costurar fendas de outros tempos”, da artista Laura Freitas, no Reserva Cultural Niterói, com curadoria de Fernanda Pequeno. A mostra será composta por uma grande instalação, com 107 esculturas, além de duas fotografias e um vídeo, todos inéditos, produzidos nos últimos dois anos, nos quais a artista costura pedaços da parede como se estivesse fazendo um curativo, em uma alusão à cura da casa e das mulheres. “Cuido das ‘feridas’ da casa, tentando reparar as dores e a violência causadas em nosso corpo, principalmente o das mulheres, dando um novo sentido para o lar e para a vida”, afirma a artista.

Os trabalhos surgiram durante o isolamento social provocado pela pandemia de Covid-19. Precisando fazer manutenções em casa e sem poder chamar um pedreiro, a artista resolveu fazer outros tipos de conserto. Com atadura, cimento e linha, Laura costurou as fendas abertas na parede como se fossem curativos. “Primeiro preencho com atadura, depois coloco o cimento por cima, o que cria uma plasticidade, e vou costurando com agulha e linha, como se fosse um machucado, como se eu estivesse suturando uma ferida”, conta a artista.

Todo o processo de costura das paredes de sua casa foi registrado em fotos e em um vídeo, que farão parte da exposição. Esculturas feitas em blocos de concreto com reproduções das rachaduras costuradas ganharam o nome de “Cotidianas” e farão parte da mostra como uma instalação de parede, de modo a criar relevos. “A montagem sugere nuvens densas, que flutuam pesadamente, ou mesmo lápides mortuárias. Ao mesmo tempo, repercute as janelas do entorno da casa da artista, bem como a relação estabelecida com as telas e os dispositivos”, ressalta a curadora Fernanda Pequeno no texto que acompanha a exposição.

As costuras produzem formas diversas, não intencionais, uma vez que a artista segue as falhas já existentes na parede da casa. “Texturas e manchas, rachaduras e costuras criam desenhos que, por vezes, sugerem antropomorfismos e paisagens e, em outras, enfatizam grafismos, formas lineares e abstratas. Linhas, estrias e colunas indicam relevos e caminhos, bem como feridas abertas e cicatrizadas pelo tempo. Antes reclusas, agora afirmam-se e expandem-se, tanto em escala quanto em alcance, reverberando em outros corpos e casas, conectando vivências e memórias”, afirma a curadora.

A costura sempre esteve presente na vida e na obra de Laura Freitas, que já trabalhou com moda, produzindo roupas e pintando tecidos. Em seu trabalho como artista, além da costura, a questão da casa sempre foi muito presente. Se hoje ela está costurando a parede de sua moradia, no passado, já cerziu cascas de ovos e porcelanas.

Nascida em uma família de mulheres muito religiosas, dedicadas ao lar e aos filhos, Laura Freitas busca, por meio de suas obras, a libertação e a autonomia dos corpos, sobretudo, o da mulher. “São corpos muitas vezes controlados, tensos e violentados. Eu trago essa sensação no meu corpo junto à vontade de libertar isso – não só de mim, mas de outras pessoas”, afirma a artista.

Atividades em torno da exposição

Como parte da exposição “Costurar fendas de outros tempos”, no mês de outubro serão realizadas oficinas gratuitas voltadas para crianças, idealizadas e ministradas pela própria artista. As oficinas partem da pesquisa de Laura Freitas sobre a nossa casa/corpo/paisagem. Serão utilizados materiais recicláveis e cotidianos do universo de trabalho da artista. Além disso, também serão realizadas visitas guiadas à mostra para escolas da rede municipal e da Universidade Federal Fluminense.

No dia 19 de novembro, às 16h, será lançado o catálogo virtual da exposição, com uma conversa com a participação da artista Laura Freitas e da curadora Fernanda Pequeno.

Sobre a artista

Laura Freitas.

Laura Freitas vive e trabalha em Niterói (RJ). Graduada em Educação Artística com formação em Arteterapia e piano, passou um longo período dedicado à área têxtil, com produção de roupas autorais e pintura em tecido. Hoje, Laura tece com desenho, performance, escultura e vídeo. Alinhava, entre a ação e a construção de objetos, temas que envolvem os lugares do feminino, da sexualidade e do espaço íntimo, formando, assim, a trama de sua produção artística. Frequentou diversos cursos na EAV do Parque Lage, ministrados por João Carlos Goldberg, Iole de Freitas, Franz Manata, Ana Miguel, Brígida Baltar, Clarissa Diniz e Mariana Manhães.

Entre suas últimas exposições individuais, estão “Falo por um FIO”, na Galeria Cândido Portinari da UERJ e “Quando nascer (ou morrer) não é uma escolha”, no Espaço Cultural Correios Niterói (2019), ambas com curadoria de Fernanda Pequeno. Suas mais recentes exposições coletivas são “Por enquanto: os primeiros quarenta anos” (2022), na Galeria de Arte UFF, “Minúsculas” (2020), no Centro de Artes Calouste Gulbenkian, Rio de Janeiro (RJ), “Mostra EAV” (2020), na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Rio de janeiro (RJ) e “Ainda fazemos as coisas em grupo” (2019), no Centro Municipal de Artes Hélio Oiticica, no Rio de Janeiro (RJ).

Serviço:

Exposição “Costurar fendas de outros tempos”, de Laura Freitas

Exposição: até 20 de novembro de 2022

Av. Visconde do Rio Branco, 880 – São Domingos, Niterói – RJ

Telefone: (21) 3604-1545

Todos os dias, das 12h às 22h

Gratuito.

(Fonte: Midiarte Comunicação)