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Projeto ‘Repórteres da Floresta’ forma 130 jovens ribeirinhos e indígenas

Amazônia, por Kleber Patricio

Fotos: Bruna Martins.

Com o objetivo de empoderar a juventude da floresta por meio da educomunicação, o projeto Repórteres da Floresta, da Fundação Amazônia Sustentável (FAS), em parceria com o Movimento Bem Maior e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (Bndes), concluiu a formação de 130 jovens ribeirinhos de 10 comunidades localizadas em Reservas de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Amazonas.

Ao todo, o projeto realizou 13 oficinas sobre diferentes técnicas de comunicação, desde entrevista até edição de vídeos, ferramentas que vão ajudar os jovens ribeirinhos a compartilharem sua realidade com o mundo, além de denunciar degradação ao meio ambiente.

As formações e atividades ocorreram nos Núcleos de Inovação e Educação para Sustentabilidade (Nieds) da FAS, localizados em comunidades das RDS do Rio Negro, Uatumã, Uacari, Juma, Mamirauá e APA do Rio Negro.

Em 2023, os Repórteres da Floresta tiveram como foco a comunicação digital, sendo dividido em um momento teórico, onde os participantes aprenderam técnicas de fotografia, vídeo, áudio, iluminação e edição, e o prático, onde eles exploraram e captaram aspectos de seu cotidiano. Como resultado, foi produzido o ‘Podcast da Floresta’, com 15 episódios com entrevistas com lideranças e personalidades das comunidades ribeirinhas. O podcast está disponível no canal da FAS no Youtube.

“O repórter da floresta é aquele jovem que mora numa comunidade ribeirinha e que recebe a missão de contar para o mundo como é sua vivência na Amazônia. Durante o projeto, os jovens participam de várias capacitações voltadas para a educomunicação: como tirar fotografia, editar um vídeo e fazer uma entrevista para que produzam materiais retratando seu dia a dia na comunidade. Para eles, é uma ação muito importante. Porque, muito melhor do que ouvir alguém falar sobre a vida deles na comunidade, é eles contarem para o mundo quem eles são”, explica Fabiana Cunha, gerente do Programa de Educação para Sustentabilidade da FAS.

Uma dessas jovens repórteres é Geovana Pule, de 16 anos, moradora da comunidade Três Unidos. Ela conta que o projeto a ensinou como se expressar com confiança e deu a oportunidade de compartilhar assuntos importantes sobre sua comunidade. “Quando comecei [no projeto] eu tinha 9 anos e foi fundamental na minha vida, saber como falar com as pessoas sem ter vergonha, me expressar, como reagir diante de uma câmera, além de ajudar muito na nossa leitura e escrita. Principalmente, foi fazer talks shows e reels da nossa realidade que vivenciamos diariamente, que boa parte das vezes não possui cobertura da mídia. É maravilhoso participar desse projeto”, relata a jovem.

Outro ‘repórter da floresta’ é Jeferson Rodrigues, 23, morador da comunidade Tumbira, no município de Iranduba. Ele conta que, graças ao que aprendeu no projeto da FAS, hoje trabalha como social media e sonha em se profissionalizar enquanto comunicador. “Sempre fui apaixonado por fotografia. Em 2022, participei de uma oficina do ‘Repórteres’, onde aprendi coisas novas como gravar e editar vídeos. O projeto veio como um empoderamento e encorajamento e, graças a ele e outros projetos da FAS, hoje trabalho como social media e futuramente pretendo trabalhar como fotógrafo e videomaker profissional. Junto com tudo que aprendi, quero levar as notícias da nossa comunidade, mostrar nossa cultura, nosso dia a dia e, principalmente, nossas dores. A comunicação nos dá voz e através dela podemos falar pela nossa gente”, afirma Jeferson.

Sobre a FAS | A Fundação Amazônia Sustentável (FAS) é uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos que atua pelo desenvolvimento sustentável da Amazônia. Sua missão é contribuir para a conservação do bioma, para a melhoria da qualidade de vida das populações da Amazônia e valorização da floresta em pé e de sua biodiversidade. Em 2023, a instituição completa 15 anos de atuação com números de destaque, como o aumento de 202% na renda média de milhares famílias beneficiadas e a queda de 40% no desmatamento em áreas atendidas entre 2008 e 2021.

(Fonte: Up Comunicação Inteligente)

Municípios com poucos leitos de UTI tiveram mais mortes por câncer infantil em vinte anos, aponta estudo

São Paulo, por Kleber Patricio

Taxa de mortalidade por câncer infantil e adolescente foi mais baixa em regiões com IDH mais alto e com mais leitos de UTI. Foto: Martha Rodriguez de Gouveia/Unsplash.

Pesquisa da Universidade de São Paulo (USP) revela uma relação entre investimentos em saúde e os índices de mortalidade por câncer de adolescentes e crianças brasileiras. As regiões com menos quantidade de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Sistema Único de Saúde (SUS) tiveram um índice mais alto de mortes por câncer infantil e adolescente em vinte anos. Os dados estão descritos em artigo publicado nesta sexta (26) na “Revista Brasileira de Epidemiologia”.

O estudo analisou as mudanças ocorridas nas taxas de mortalidade por câncer na infância e adolescência no país de 1996 a 2017 e sua relação com gasto público em saúde a partir de dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) e do Sistema de Informações sobre Orçamentos Públicos em Saúde (Siops).

No CNES, os pesquisadores obtiveram dados do número de estabelecimentos em saúde de cada estado brasileiro, o tipo de atendimento prestado, o número de profissionais cadastrados e de leitos hospitalares e, no Siops, dados sobre a despesa total com saúde de cada estado, gasto público em saúde per capita, participação da despesa com pessoal e da despesa total com saúde. Para a análise, os pesquisadores usaram a categoria de regiões intermediárias do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que respondem a serviços mais complexos nos territórios.

No período estudado, a mortalidade por câncer foi maior entre meninos na faixa etária de zero a quatro anos em todas as regiões brasileiras. A taxa de mortalidade por câncer em crianças e adolescentes no Brasil foi de 7,4 óbitos a cada 100 mil habitantes, 8 para o sexo masculino e 6,5 óbitos para o sexo feminino. Essa taxa foi mais baixa em regiões com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) mais alto, mais investimento público em saúde e mais leitos hospitalares de UTI.

Houve declínio na mortalidade por câncer em crianças e adolescentes entre 1996 e 2017 em 66% das regiões intermediárias brasileiras. Em 30% das regiões, as mortes se mantiveram estacionárias, ou seja, não houve mudança na tendência de mortalidade por câncer na infância e adolescência e, em 3% delas, houve crescimento desta taxa. As regiões dos municípios de Lábrea, no Amazonas, Oiapoque, no Amapá, Corrente, no Piauí, e Barra do Garças, no Mato Grosso tiveram aumento nas taxas de mortalidade no período analisado.

Kamila Tessarolo Velame, pesquisadora da USP e coautora do estudo, explica que quanto mais alto o IDH de uma região, mais altos também tendem a ser os investimentos em saúde, propiciando melhor acesso da população ao diagnóstico e tratamento precoces do câncer. “Isso faz com que as chances de cura sejam maiores, aumentando a sobrevida dos pacientes”.

Segundo os dados analisados, existe uma disparidade na distribuição de recursos destinados à saúde no Brasil, além de uma precariedade nos sistemas de informação responsáveis por registrar as mortes por câncer. “Ainda assim, ao longo dos anos, já notamos uma melhoria na qualidade dos dados e mais investimentos em saúde”, conclui Velame. Esse é o caso das regiões Norte e Nordestes que, apesar de concentrarem a maior quantidade de mortes por câncer, tiveram uma redução nas taxas de mortalidade de câncer infantil e adolescente ao longo do período analisado.

A falta de diagnóstico e de tratamento precoces, segundo Velame, é um dos graves problemas do câncer infantil e adolescente no país. Neste sentido, o trabalho mostra que investimentos na Estratégia de Saúde da Família (ESF) das Unidades de Saúde, porta de entrada do usuário ao sistema de saúde, são fundamentais para melhorar o tratamento desta doença nas faixas etárias infantis e juvenis.

(Fonte: Agência Bori)

Instituto Anelo propõe trabalho de mobilização para fomento da cultura no Campo Grande

Campinas, por Kleber Patricio

Luccas Soares. Fotos: Jackie Goulart.

O Instituto Anelo inicia o ano de 2024 propondo um trabalho de mobilização comunitária e em rede para buscar recursos e parcerias a fim de viabilizar iniciativas e projetos de fomento à Cultura na região do Campo Grande. A proposta é justificada pelo alto volume de procura identificado pela entidade, que ofereceu 215 novas vagas para o ano de 2024, mas recebeu 1685 inscrições em 4 dias.

Em 2023, o Anelo atendeu mil alunos. Depois do processo de rematrícula, realizado ao fim do ano passado, o levantamento interno apontou a possibilidade de abertura de 215 novas vagas para 2024.

A alta no volume de procura é recorrente. Em 2023, a procura foi de 1510 inscritos para 380 novas vagas, somando o primeiro e o segundo semestre. Em 2022, foram 502 novas vagas para 1391 inscrições; já em 2021, 242 vagas, para 293 inscrições, registrando um aumento de 475% de 2021 a 2024.

De acordo com o fundador e coordenador geral do Instituto Anelo, Luccas Soares, a saída ideal para a questão do déficit de espaços para o exercício de atividades culturais na região do Campo Grande poderia ser iniciada com a instalação de novos projetos de fomento de música no distrito. “Para nós, seria uma honra receber aqui na região projetos como o Primeira Nota e o Projeto Guri. São duas grandes referências para nós em termos de ensino de música e fomento de cultura para populações vulneráveis”, aponta Soares. “Esse resultado (das inscrições) nos propõe desafios e amplia nossa responsabilidade, mas também sugere que existe uma grande demanda por acesso ao ensino de música em nossa cidade, em especial nos bairros da periferia”, pondera.

O coordenador acrescenta que novos locais de atividade seriam muito positivos para a comunidade do distrito, no qual a entidade identifica um déficit crescente de espaços para vivência cidadã por meio da cultura. “O que as pessoas querem quando se inscrevem no Anelo é uma coisa muito simples:  pertencer, sociabilizar, aprimorar e descobrir habilidades e talentos. Isto não deveria ser negado a ninguém; no entanto, entendemos que não damos conta de atender a todos e dizer não para as pessoas, principalmente as crianças que ficam de fora, é muito triste”, analisa.

Luccas afirma ainda que tem recebido convites e propostas para abrir novas unidades do Anelo em outros bairros e regiões da cidade de Campinas. O coordenador entende, no entanto, que grande parte do êxito da entidade em seu propósito é porque trata-se de um projeto que cresceu organicamente com o trabalho, empenho, cultura e perspectiva da comunidade local.

“Queremos inspirar outras pessoas em suas comunidades a colocarem seus sonhos no plano das realizações. Que estas comunidades encontrem seu jeito de fazer a diferença que transforma, seja na música, no teatro, no cinema, no esporte, no cuidado com o meio ambiente. A nossa intenção é ver florescer novos projetos, a partir de novos olhares; não queremos monopolizar a cultura ou as ações de cidadania no Campo Grande, queremos que estas iniciativas sejam diversas e de diferentes perspectivas”, reflete.

Histórias

Para Emilayne Mayara dos Santos, mãe de dois filhos com quatorze e nove anos, o ensino de música é essencial e necessário para o desenvolvimento das crianças. “Tentamos algumas vezes inscrição, mas sem sucesso. Depois de tentar algumas vezes, só meu filho de nove anos conseguiu. Minha filha de quatorze anos não conseguiu a vaga. Ela gostaria muito, pois vê na arte infinitas possibilidades; infelizmente a demanda é muito grande, então compreendemos”, aponta a mãe.

Para o aluno de violino Carlos Antônio da Silva, a espera para conseguir uma vaga no Anelo foi de quatro anos. “Esperei por quatro anos e hoje estou no Anelo já há dois anos. Esperar é muito decepcionante. Eu, que já tinha o meu violino em casa, ficava frustrado por não conseguir. Então eu acho que se tivesse mais lugares onde a gente pudesse estudar, principalmente aqui na região que a gente, além do Anelo, quase não tem nada de atividades culturais para fazer, seria melhor para todo mundo”, reflete o aluno.

Proposta | A coordenação e diretoria do Anelo está aberta para discussões, havendo interesse e disposição de outras organizações, empresas e esferas do poder público, a fim de reunir-se em prol de uma construção coletiva que atenda estas demandas.

Música que Transforma | O Instituto Anelo é uma associação civil sem fins lucrativos que desde 2000 oferece aulas gratuitas de música no Jardim Florence, bairro do distrito do Campo Grande, localizado na região noroeste da cidade de Campinas, interior de São Paulo. Ao longo dessas mais de duas décadas, o Instituto Anelo já beneficiou mais de 10 mil pessoas, entre crianças, jovens e adultos.

(Fonte: Instituto Anelo)

Exposição “Do Acadêmico ao Contemporâneo” estará aberta para visitação no feriado do aniversário de SP

São Paulo, por Kleber Patricio

Alfredo Volpi – “Mastros e bandeiras”.

Uma seleção de obras de artistas que passam por diversos movimentos da arte brasileira marca a mostra “Do Acadêmico ao Contemporâneo”, em exibição na galeria de arte da Blombô. Partindo do movimento acadêmico – com artistas como Eliseu Visconti –, passando pelo moderno – com Antônio Gomide, Alfredo Volpi, Iberê Camargo e Di Cavalcanti –, pelo abstracionismo geométrico – Judith Lauand e Luiz Sacilotto –, abstracionismo informal – Manabu Mabe, Danilo di Prete – até a produção contemporânea – com nomes como Vik Muniz, Nelson Leirner, Solange Pessoa e Anna Maria Maiolino. Após a mostra, as obras serão leiloadas em pregão online no dia 30 de janeiro no site da Blombô. Até o leilão, as obras seguem em exibição gratuita na galeria, localizada no Jardim Europa, em São Paulo.

A estrela da mostra é uma tela de Alfredo Volpi que terá lance inicial no leilão de R$900 mil. Com 67 x 135,5 centímetros e datada de 1970, “Mastros e bandeiras” é uma das obras que figuram entre os trabalhos mais emblemáticos do artista, já que suas formas geométricas bem definidas trouxeram reconhecimento ao ítalo-brasileiro como um dos mais importantes no cenário das artes no Brasil. Outro grande artista, Amilcar de Castro (1920–2002), tem três trabalhos em exibição, sendo uma pintura e duas esculturas. Conhecido pela geometria empregada em obras esculturais feitas em sua maioria com aço, o artista, natural de Paraisópolis, Minas Gerais, é parte fundamental da arte contemporânea brasileira.

Eliseu Visconti – 1898.

Raridade no mercado, a tela de Eliseu Visconti (1866–1944) é uma obra-prima do artista – considerado um mestre da arte impressionista no Brasil – que data de 1898. Trata-se de um óleo sobre tela poucas vezes visto pelo grande público, sendo exibido em 1994, durante a exposição em memória ao cinquentenário de falecimento do artista no Museu Nacional de Belas Artes. Também foi exposta em outras ocasiões: em 2011/2012, na mostra “Eliseu Visconti – A Modernidade Antecipada”, na Pinacoteca do Estado de São Paulo e Museu Nacional de Belas Artes. Para o leilão, o lance inicial desta obra parte de R$40 mil.

Há, ainda, uma grande seleção de arte popular brasileira que apresenta trinta obras da ceramista Noemisa Batista, cinco esculturas de Artur Pereira, quadros de José Antonio da Silva, obras de Mirian, de Agostinho Batista de Freitas e tantos outros. No segmento contemporâneo, se destacam duas obras em tela de Solange Pessoa, artista que vem ganhando cada vez mais projeção internacional. Soma-se à seleção contemporânea uma pintura de Anna Maria Maiolino, artista ítalo-brasileira laureada com o Leão de Ouro pelo conjunto de sua obra na próxima Bienal de Veneza, que terá cerimônia de premiação no dia 20 de abril, durante a inauguração da mostra. O núcleo contemporâneo conta ainda com obras de Vik Muniz e Nelson Leirner.

Serviço:

Exposição ‘Do Acadêmico ao Contemporâneo’

Galeria Blombô – Av. Cidade Jardim, 86 – Jd. Europa – São Paulo – SP

Período expositivo: de 22 a 30 de janeiro

Horário: de segunda a sexta-feira das 10h às 18h | sábado das 10h às 16h | fecha no domingo

Leilão

Dia 30 de janeiro – terça-feira

Horário: a partir das 20h – online

Para participar do leilão, basta fazer o cadastro no site.

(Fonte: Ju Vilela Press)

Galatea inaugura unidade em Salvador com exposição coletiva “Cais”

Salvador, por Kleber Patricio

Jayme Fygura, sem título (2023).

Antônia Bergamin, Conrado Mesquita e Tomás Toledo inauguram, em 31 de janeiro, uma nova unidade da Galatea na cidade de Salvador, em busca de ampliar o seu público e conexões para além do eixo Rio-São Paulo. O segundo empreendimento dos sócios fundadores abre as portas menos de dois anos depois da fundação da galeria na Rua Oscar Freire, na capital paulista, em junho de 2022.

O endereço escolhido na capital baiana é o Centro Histórico de Salvador – mais precisamente, no Edifício Bráulio Xavier, na Rua Chile, primeiro logradouro do Brasil, entre a Praça Castro Alves e o Elevador Lacerda. Marco da cidade, o edifício modernista abriga em sua lateral o mural intitulado “A colonização do Brasil”, feito pelo artista Carybé em 1962 e hoje tombado pelo Iphan.

Elisa Martins da Silveira, 1912-2001, “Festa Junina”, 1967.

A Galatea Salvador iniciará as atividades com a exposição coletiva “Cais”, elaborada a partir de uma cuidadosa curadoria do sócio Tomás Toledo e Alana Silveira. Com vasta e notável trajetória na cena cultural, depois de já ter atuado em funções como diretora artística, produtora executiva, coordenadora de produção, gestora de acervos e curadora, Alana assume a direção da unidade na capital baiana.

“Cais” será uma experiência única que conectará gerações da arte brasileira ao reunir cerca de 60 nascidos e radicados de diversas áreas do Nordeste misturando e friccionando nomes históricos e contemporâneos de formação tradicional e autodidata. A primeira exposição do espaço soteropolitano está lastreada na produção de quatro artistas nordestinos representados pela galeria: Aislan Pankararu, Chico da Silva, José Adário e Miguel dos Santos. A partir de elementos e temas-chave da obra destes nomes, serão derivados os conteúdos de quatro núcleos que constituem a mostra: Fantasias de fauna e flora, Geometrias afro-indígenas e brasileiras, Máscaras expandidas e Representações da religiosidade e cultura afro-indígena e brasileira, divididos entre pinturas, esculturas e fotografias. Estão presentes na exposição nomes consagrados como Abraham Palatnik, Ayrson Heráclito, Cícero Dias, Emanoel Araújo, Francisco Brennand, Mestre Dicinho, Mestre Didi, Rubem Valentim e Tunga.

A expografia da mostra e o projeto de arquitetura do espaço de 400 metros quadrados são assinados pelo Estúdio Anagrama, que pensa arquiteturas, mobiliários e objetos de design a partir do reuso. Entre as iniciativas de destaque do estúdio, está o projeto do Casarão 28, reforma de um edifício do século XVIII localizado no Centro Histórico de Salvador, Bahia. A obra reaproveitou restos de mais de 15 reformas e demolições realizadas na região metropolitana da cidade.

Efervescência soteropolitana

Antônio Maia, 1928- 2008, “Mãe – Filho”, 1977.

A chegada da Galatea se alinha a um momento em que o centro histórico de Salvador recebe diversas iniciativas de restauração dos seus edifícios emblemáticos e de recuperação da sua vida turística e cultural. A própria Rua Chile e seus entornos acolhem importantes projetos de restauração e renovação, como o antigo Hotel Palace, hoje Fera Palace; o antigo prédio do jornal A Tarde, hoje Hotel Fasano; o Palacete Tira-Chapéu, em processo de restauração para se tornar um centro gastronômico; a transformação, em curso, do Palácio Rio Branco no Hotel Rosewood, e o projeto do Casarão 28, reforma de um edifício do século XVIII na região.

Novas iniciativas e projetos culturais compõem o cenário efervescente atual da capital baiana. Recentemente, em novembro, ocorreu a reabertura do Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (Muncab); em setembro, a criação do Museu de Arte Contemporânea (MAC) e, em julho, a associação cultural paulista Pivô se instalou no Boulevard Suíço. As novidades vão continuar em 2024, quando a galeria carioca Nonada também promete chegar a Salvador. A cidade se consolida ainda na rota de importantes exposições em itinerância pelo Brasil, a exemplo de “Um defeito de cor”, realizada no Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (Muncab), e “Brasil Futuro: as formas da democracia”, no Solar do Ferrão.

Artistas participantes da coletiva “Cais”: Abraham Palatnik (1928, Natal, RN – 2020, Rio de Janeiro, RJ), Adenor Gondim (1950, Rui Barbosa, BA), Adriano Machado (1986, Feira de Santana, BA), Agnaldo Manuel dos Santos (1926, Ilha de Itaparica, BA – 1962, Salvador, BA), Aislan Pankararu (1990, Petrolândia, PE), Ana Fraga (1974, São Félix, BA), Antônio Bandeira (1922, Fortaleza, CE, BR – 1967, Paris, FR), Antônio Maia (1928, Carmópolis, SE – 2008, Rio de Janeiro, RJ), Ariano Suassuna (1927, João Pessoa, PB – 2014, Recife, PE), Armando Sá (1918, Salvador, BA – 2005, Salvador, BA), Aurelino dos Santos (1942, Salvador, BA), Ayrson Heráclito (1968, Macaúbas, BA), Bauer Sá (1950, Salvador, BA), Bruno Novelli (1980, Fortaleza, CE), Chico da Silva (Francisco Domingos da Silva) (1910, Alto Tejo, AC – 1985, Fortaleza, CE), Cícero Dias (1907, Escada, PE, BA – 2003, Paris, FR), Davi Rodrigues (1968, Cachoeira, BA), Dinho Araujo (1985, Pinheiro, MA), Edsoleda Santos (1965, Salvador, BA), Elias Santos (1964, Aracaju, SE), Elisa Martins da Silveira (1912, Teresina, PI – 2001, Rio de Janeiro, RJ), Emanoel Araújo (1940, Santo Amaro, BA – 2022, São Paulo, SP), Francisco Brennand (1927, Recife, PE – 2019, Recife, PE), Galeno (1957, Parnaíba, PI), Genaro de Carvalho (1926, Salvador, BA – 1971, Salvador, BA), Gerson Souza (1926, Recife, PE – 2008, Rio de Janeiro, RJ), Gilberto Filho (1953, Cachoeira, BA), Grauben do Monte Lima (1889, Iguatu, CE – 1972, Rio de Janeiro, RJ), Heloísa Juaçaba (1926, Guaramiranga, CE), Isabela Seifarth (1989, Salvador, BA), Jayme Fygura (1951, Cruz das Almas, BA – 2023, Salvador, BA), João Alves (1906, Ipirá, BA – c. 1970, Salvador, BA), José Adário (1947, Salvador, BA), José Bezerra (1952, Buique, PE), J. Cunha (1948, Salvador, BA), José de Freitas (1935, Vitória de Santo Antão, PE – 1989, Rio de Janeiro, RJ), José Ignácio (1911, Arauá, SE – 2007, Aracaju, SE), José Tarcísio Ramos (1941, Fortaleza, CE), Lázaro Roberto (1958, Salvador, BA) Lucas Cordeiro (1994, Itapetinga, BA) Luciano Figueiredo (1948, Fortaleza, CE), Manuel Messias dos Santos (1945, Aracajú, Sergipe – 2001, Rio de Janeiro, RJ), Marepe (1970, Santo Antônio de Jesus, BA), Mario Cravo Neto (1947, Salvador, BA – 2009, Salvador, BA), Marlene de Almeida (1942, Bananeiras, PB), Martinho Patrício (1964, João Pessoa, PB), Mestre Dicinho (Adilson Carvalho – 1945, Jequié, BA), Mestre Didi (1917, Salvador, BA – 2013, Salvador, BA), Mestre Zimar (1959, Matinha, MA), Miguel dos Santos (1944, Caruaru, PE), Montez Magno (1934, Timbaúba, PE – 2023, Recife, PE), Nilda Neves (1961, Botuporã, BA), Rebeca Carapiá (1988, Salvador, BA), Rubem Ludolf (1932, Maceió, AL – 2010, Rio de Janeiro, RJ), Rubem Valentim (1922, Salvador, BA – 1991, São Paulo, SP), Thiago Costa (1992, Bananeiras, PB), Tiago Sant’Ana (1990, Santo Antônio de Jesus, BA) e Tunga (1952, Palmares, PE – 2016, Rio de Janeiro, RJ).

Sobre a Galatea

Luciano Figueiredo, 1948, “Teia branca”, 2018.

A Galatea é uma galeria que surge a partir das diferentes e complementares trajetórias e vivências de seus sócios-fundadores: Antonia Bergamin esteve à frente por quase uma década como sócia-diretora de uma galeria de grande porte em São Paulo; Conrado Mesquita é marchand e colecionador, especializado em descobrir grandes obras em lugares improváveis, e Tomás Toledo é curador e contribuiu ativamente para a histórica renovação institucional do MASP, de onde saiu em 2022 como curador-chefe.

Tendo a arte brasileira moderna e contemporânea como foco principal, a Galatea trabalha e comercializa tanto nomes já consagrados do cenário artístico nacional quanto novos talentos da arte contemporânea, além de promover o resgate de artistas históricos. Tal amplitude temporal reflete e articula os pilares conceituais do programa da galeria: ser um ponto de fomento e convergência entre culturas, temporalidades, estilos e gêneros distintos, gerando uma rica fricção entre o antigo e o novo, o canônico e o não-canônico, o erudito e o informal.

Além dessas conexões propostas, a galeria também aposta na relação entre artistas, colecionadores, instituições e galeristas. De um lado, o cuidado no processo de pesquisa, o respeito ao tempo criativo e o incentivo do desenvolvimento profissional do artista com acompanhamento curatorial; do outro, a escuta e a transparência constante nas relações comerciais. Ao estreitar laços, com um olhar sensível ao que é importante para cada um, a Galatea enaltece as relações que se criam em torno da arte — porque acredita que fazer isso também é enaltecer a arte em si.

Antônio Bandeira, 1922-1967, “Campos Queimados”, 1964.

Nesse sentido, partindo da ideia de relação é que surge o nome da galeria, tomado emprestado do mito grego de Pigmaleão e Galatea. Este mito narra a história do artista Pigmaleão, que ao esculpir em marfim Galatea, uma figura feminina, apaixona-se por sua própria obra e passa a adorá-la. A deusa Afrodite, comovida por tal devoção, transforma a estátua em uma mulher de carne e osso para que criador e criatura possam, enfim, viver uma relação verdadeira.

Serviço:

Exposição coletiva “Cais”

Local: Galatea Salvador

Endereço: Rua Chile, 22 – Edifício Bráulio Xavier

Abertura: 31 de janeiro de 2024, das 16h às 21h

Período expositivo: 31 de janeiro a 16 de março

Entrada gratuita

https://galatea.art/.

(Fonte: A4&Holofote Comunicação)