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FIL – Festival Internacional Intercâmbio de Linguagens é reconhecido como patrimônio histórico, cultural e imaterial do Estado do Rio de Janeiro

Rio de Janeiro, por Kleber Patricio

Muances – espetáculo francês da Cia Ever – Camille Rocailleux, previsto para o FIL 2025. Foto: Divulgação Cia Ever/Camille Rocailleux.

O FIL – Festival Internacional Intercâmbio de Linguagens, idealizado pela multiartista Karen Acioly, é reconhecido como Patrimônio Histórico, Cultural e Imaterial do Estado do Rio de Janeiro por meio do Projeto de Lei 3826, de autoria do deputado estadual Carlos Minc, aprovado por unanimidade no dia 3 de abril de 2025.

Criado em 2003 por iniciativa da então coordenadora de teatro infantil do município, Karen Acioly, o FIL é um festival que promove uma cultura feita de criança para adulto, de criança para criança e de adulto para criança, reunindo diversas linguagens artísticas, das artes cênicas às artes digitais.

Karen Acioly – idealizadora do FIL comemora esse momento histórico. Foto: Aralume Fotografia.

O reconhecimento do FIL como Patrimônio Cultural e Imaterial do Estado do Rio de Janeiro se deve à sua relevância na promoção da cultura da infância, à criação de políticas públicas voltadas para esse segmento e aos seus programas nacionais e internacionais, que estabelecem laços criativos e intercâmbios culturais duradouros.

“Gostaríamos de agradecer, do fundo do coração, em nome do FIL Festival e de todas as equipes e artistas que fizeram parte desses 22 anos de história, ao deputado Carlos Minc – esse homem brilhante que enxergou a importância de sensibilizar e formar crianças, adolescentes, jovens e adultos para o estímulo aos imaginários e para as artes multidisciplinares. Essa polifonia de vozes, percebida pelo deputado Carlos Minc, ecoou com aprovação unânime no Plenário da Alerj. Hoje, despertamos com o reconhecimento do FIL como Patrimônio Histórico, Cultural e Imaterial do Estado do Rio de Janeiro. Esperamos que esse reconhecimento proporcione ao FIL vida longa, saudável e feliz, oferecendo às crianças urbanas, ribeirinhas, quilombolas, fronteiriças e a toda a diversidade cultural do nosso país mais oportunidades de acesso à arte – a arte em todas as suas dimensões, o imaginário em toda sua potência. Muito obrigada, Carlos Minc”, celebra Karen Acioly, dramaturga, roteirista, pesquisadora, curadora e idealizadora do FIL.

Nosferatu – Cia Bob Théâtre/ França. Foto: acervo FIL.

“O FIL celebra as linguagens e promove o intercâmbio entre povos, reforçando a solidariedade e a humanidade que tanto precisamos. Seguimos por um mundo mais inclusivo e menos violento”, destaca Carlos Minc.

Em homenagem ao deputado Minc, o FIL, que será realizado de 4 a 19 de outubro, nos teatros da Rede Municipal do Rio de Janeiro, vai distribuir o Prêmio FIL Carlos Minc, que premiará a atração mais bem votada pelas crianças.

(Fonte: Claudia Tisato Assessoria de imprensa)

Santuário do Caraça registra filhote de lobo-guará após incêndios

Minas Gerais, por Kleber Patricio

Registro feito recentemente. Foto: Divulgação.

O Santuário do Caraça é conhecido por sua história e belezas naturais, mas se destaca, também, por momentos únicos e marcantes, como a Hora do Lobo, protagonizada pelo lobo-guará, que vai até a escadaria do destino turístico desde maio de 1982, encantando turistas e visitantes. Por esse motivo, acabou se tornando mais do que uma visita ilustre, mas um ícone local. Por todo esse cuidado e carinho com o canídeo, o Santuário, em parceria com o Instituto Pró-Carnívoros, escreveu o projeto ‘Turismo de Observação do lobo-guará como ferramenta de conservação’, que foi contemplado pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) por meio da Plataforma Semente, para ajudar na preservação e cuidados com o animal.

A primeira boa notícia já chegou. Em um cenário de recuperação após os devastadores incêndios em setembro e outubro do ano passado, foi registrado o nascimento de dois filhotes de lobo-guará, filhos da loba Sampaia, monitorada por rádio colar. A confirmação, capturada pelas câmeras de monitoramento, reacende a esperança e sublinha o papel fundamental do Santuário na preservação da espécie.

Douglas Henrique, biólogo e coordenador ambiental do Santuário do Caraça, expressou o alívio e a emoção da equipe. “Depois dos incêndios do ano passado, estávamos acompanhando os lobos e tínhamos a esperança de que havia ocorrido reprodução. Ficamos apreensivos, pois diante do cenário de destruição, não sabíamos se os filhotes dos lobos tinham sobrevivido ou não, mas a imagem dos lobinhos nas câmeras do projeto trouxe a confirmação de que Sampaia conseguiu salvar seus filhotes”, relata.

Foto: Miguel Andrade.

O biólogo enfatiza a importância da notícia para o Santuário do Caraça. “Essa relação com os filhotes é importante porque os pais ensinam tudo para eles. E essa tradição dos lobos no Caraça só se permanece porque os filhotes aprendem com os pais a subir no adro. O registro dos filhotes, inclusive no adro da igreja, demonstra que o Santuário continua a ser um refúgio vital para a espécie. É um marco importante pois mostra que nós contribuímos para a conservação do lobo. Desde 2015 são registrados eventos de nascimento de lobos no Caraça, ao longo desses anos, mais de 20 lobos nasceram e cresceram por aqui. Uma pergunta importante que o projeto quer responder é: para onde vão esses filhotes depois que crescem e atingem a idade adulta?”, acrescenta Douglas Henrique.

Monitoramento de lobos

O Santuário do Caraça foi contemplado com um projeto de monitoramento da espécie, com o apoio do Ministério Público de Minas Gerais, execução pelo Instituto Pró-Carnívoros e supervisão do ICMBIO. O projeto utilizará rádio colares e câmeras trap para entender as ameaças e fortalecer a conservação.

Foto: PBCM.

De acordo com coordenador ambiental do Caraça, o trabalho tem como foco entender as ameaças regionais que os lobos vêm sofrendo. “O objetivo é monitorar o lobo-guará e conhecer de perto quais são os conflitos vividos pela espécie. Pretendemos diagnosticar a população, identificar as ameaças regionais, entender as áreas de uso dessa espécie e avaliar o comportamento em função dessa ambientação. Esse projeto tem algumas ramificações e a principal delas é a avaliação da saúde desses animais, que são informações que carecem de pesquisas de médio a longo prazo. Alguns estudos apontam que vários lobos têm sofrido com zoonose, principalmente a sarna e a cinomose. Esta doença ocorre por meio do contato direto ou indireto dos animais silvestres com animais domésticos doentes”.

O monitoramento dos lobos é realizado através de duas metodologias: o uso de rádio colar, que é um equipamento que vai nos mostrar quais os caminhos o animal percorre. “Além disso, também são utilizadas armadilhas fotográficas, conhecidas como Trap, espalhadas na natureza, que possuem um sensor de calor e movimento, sendo disparadas automaticamente quando um animal passa na sua frente”, explica.

Segundo Douglas Henrique, todo o trabalho com o lobo-guará é executado pelo Instituto Pró-Carnívoros. “Essa entidade é referência nos estudos de carnívoros do Brasil e especialmente o Lobo-Guará. Assim, o Santuário do Caraça contribuirá com informações cientificas sobre a espécie, já que aqui ela está dentro de uma unidade de preservação. No entanto, o seu entorno sofre constantes ameaças, seja do crescimento urbano e da monocultura de eucalipto, da mineração, das estradas e por isso, queremos entender qual a importância dos lobos do Caraça para a continuidade da espécie dentro do Quadrilátero Ferrífero e em Minas Gerais. Sabemos que a espécie está sempre se reproduzindo, mas queremos verificar se esses indivíduos estão sobrevivendo, para onde vão e o que acontece com eles”, completa.

Desmistificar lendas

Além disso, o coordenador ambiental do Caraça, diz que o trabalho chega parar destituir qualquer tipo de narrativa a respeito da casta. “Outro aspecto muito interessante desse trabalho é de desmistificar as histórias e lendas ao redor do lobo-guará. Desta forma, as comunidades do entorno serão sensibilizadas da importância dessa espécie nativa dentro do Santuário do Caraça, mas também, nas proximidades. Isso, porque ele é importante, já que é um dispersor de sementes e um animal que controla alguns roedores, serpentes. Ou seja, queremos mostrar a importância desse convívio equilibrado e ecológico. Assim, reforçamos que esse será um trabalho muito importante e que com certeza, terá bons frutos para toda a região. Manter a espécie é preservar a nossa natureza”, conclui.

Sobre o Santuário do Caraça

RPPN do Santuário do Caraça. Foto: Miguel Andrade.

O complexo é tombado como Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e Estadual. Foi escolhido como uma das Sete Maravilhas da Estrada Real. Conta com um amplo Conjunto Arquitetônico onde estão a primeira igreja de estilo neogótico do Brasil, o prédio do antigo Colégio (hoje Museu e Biblioteca), o hotel com 57 apartamentos e quartos, com capacidade para até 230 pessoas, e a Fazenda do Engenho, com 26 apartamentos. O local possui enorme diversidade de fauna e flora, com raridades de animais e plantas no meio ambiente. Na ampla diversidade de sua fauna, há 386 espécies de aves, 64 espécies de anfíbios, 54 espécies de répteis, 12 espécies de peixes e 76 espécies de mamíferos.

A Reserva Particular do Patrimônio Natural do Santuário do Caraça faz parte de duas importantes reservas ecológicas, as Reservas da Biosfera da Serra do Espinhaço Sul e a da Mata Atlântica, onde há diversas espécies de flora e fauna, algumas encontradas somente no Complexo do Santuário do Caraça, que fica na transição entre Mata Atlântica e Cerrado, onde também há campos rupestres. Em suas serras há nascentes, ribeirões e lagos que possuem águas de coloração escura, que carreiam material orgânico em suspensão. O clima tem baixas temperaturas e elevada umidade do ar, comuns em ambientes de mata. O território do Complexo do Caraça integra a Área de Proteção Ambiental ao Sul da Região Metropolitana de BH, onde começam duas grandes bacias hidrográficas, a do rio São Francisco e a do rio Doce, que abastecem aproximadamente 70% da população de Belo Horizonte e 50% da população de sua região metropolitana.

Santuário do Caraça

Estrada do Caraça, Km 9 – entre os municípios de Catas Altas e Santa Bárbara

Fácil acesso pelas rodovias BR 381 e MG 436, além do da possibilidade de ir por trem (Estação Dois Irmãos – Barão de Cocais)

Taxa de entrada:

R$ 35 (em dias de semana)

Finais de semana, feriados e datas comemorativas:

R$45 (por pessoa)

Idosos: 50% de desconto

Moradores de Barão de Cocais, Catas Altas e Santa Bárbara possuem 50% de desconto

Entrada gratuita na 1ª quarta-feira de cada mês para os moradores de Barão de Cocais, Catas Altas e Santa Bárbara

Site com opções de hospedagens: www.santuariodocaraca.com.br

Reservas: centraldereservas@santuariodocaraca.com.br

Instagram: @santuariodocaraca @rppn_caraca

Facebook: www.facebook.com/santuariocaraca/.

(Com Heberton Lopes/Grupo Balo)

Inhotim oferece prêmio inédito para que escolas desenvolvam projetos de arte e natureza

Brumadinho, por Kleber Patricio

Yayoi Kusama, Narcissus Garden, 1966/2009. Foto: Guiga Guimarães.

O Instituto Inhotim, museu de arte contemporânea e jardim botânico localizado em Brumadinho, Minas Gerais, anuncia um prêmio inédito que incentiva escolas públicas, privadas e institutos federais de Minas Gerais a desenvolverem projetos que investiguem as múltiplas relações entre arte e natureza, com temas que abordem ecologia, saberes tradicionais e território.

O Prêmio Arte e Natureza nas Escolas irá selecionar quatro projetos em 2025 para receber um incentivo de R$ 8.000,00 para o desenvolvimento das propostas, além de terem mentorias de educadores do Instituto Inhotim, que irão até as escolas para acompanhar os projetos de perto. Com foco em turmas de ensino infantil, fundamental, médio e EJA (Educação de Jovens e Adultos), podem ser contempladas três escolas das redes públicas e uma escola particular de municípios que estejam até 120 km de distância do Inhotim. A convocatória para o prêmio acontece de 1º a 30 de abril de forma virtual no site do Inhotim e o resultado dos projetos selecionados será divulgado no mês de junho.

A premiação tem como objetivo inspirar professores e professoras a investigar as temáticas de arte e natureza em suas práticas pedagógicas, utilizando o território escolar como espaço de aprendizagem e valorizando os saberes tradicionais de mestras e mestres. A área de Educação do Inhotim busca fomentar projetos inovadores que abordem questões socioambientais relevantes, como a importância da luta pelo território de povos originários e quilombolas, a valorização dos saberes ancestrais, sempre em diálogo com a arte contemporânea.

O Prêmio Arte e Natureza nas Escolas tem a Vale como Mantenedora Master e conta com o Patrocínio Prata do C6 Bank por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura.

Serviço:

Prêmio Arte e Natureza nas Escolas

Convocatória: de 1º a 30 de abril

Período de seleção: 5 a 30 de maio

Divulgação dos projetos selecionados: 13 de junho

Encontro de abertura: 2 de agosto

Encontros de acompanhamento dos projetos: entre agosto e novembro (datas a definir a partir dos calendários das escolas selecionadas)

Encontro de conclusão do projeto: 6 de dezembro.

Instituto Inhotim

Informações gerais

Horários de visitação: De quarta a sexta-feira, das 9h30 às 16h30, e aos sábados, domingos e feriados, das 9h30 às 17h30. Nos meses de janeiro e julho, o Inhotim funciona também às terças.

Entrada: Inteira: R$ 60,00 | Meia-entrada*: R$ 30,00.

*Veja as regras de meia-entrada no site: www.inhotim.org.br/visite/ingressos

Entrada gratuita:

Inhotim Gratuito: acesse o guia especial sobre a gratuidade no Inhotim.

Moradores e moradoras de Brumadinho cadastrados no programa Nosso Inhotim; Amigos do Inhotim, crianças de 0 a 5 anos, patronos, patrocinadores e instituições parceiras do Inhotim não pagam entrada.

Quarta Gratuita Inhotim: todas as quartas-feiras são gratuitas.

Domingo Gratuito: último domingo do mês é gratuito.

Localização

O Inhotim está localizado no município de Brumadinho, a 60 km de Belo Horizonte (aproximadamente 1h15 de viagem). Acesso pelo km 500 da BR-381 – sentido BH/SP. Também é possível chegar ao Inhotim pela BR-040 (aproximadamente 1h30 de viagem). Acesso pela BR-040 – sentido BH/Rio, na entrada para o Retiro do Chalé.

(Com Amanda Viana/Instituto Inhotim)

Le Cordon Bleu São Paulo apresenta Ovo Pé de Moleque para a Páscoa 2025

São Paulo, por Kleber Patricio

Fotos: Gustavo Ferreira.

A Páscoa de 2025 ganha um toque de sofisticação com o novo Ovo de Páscoa Pé de Moleque, criado pela equipe de Pâtisserie do Le Cordon Bleu São Paulo sob o comando do chef executivo de Pâtisserie e Boulangerie, Salvador Lettieri. Inspirado na tradição brasileira e com a excelência da pâtisserie francesa, o ovo une sabores intensos, texturas contrastantes e uma releitura criativa de um clássico nacional.
O ovo é elaborado com um blend de chocolates selecionados, incluindo o intenso Chocolate AmargoBrasil e o aveludado Chocolate Power 40% ao leite, oferecendo uma harmonia entre dulçor e intensidade. A casca é recheada com um cremoso de praliné de pé de moleque, feito com amendoim caramelizado em textura aveludada e sabor marcante.

Para finalizar, o ovo é decorado com drágeas crocantes de praliné de amendoim cobertas com chocolate, proporcionando um contraste de texturas em cada mordida – o equilíbrio entre o cremoso e o crocante que transforma a degustação em um verdadeiro momento de celebração.

Disponível em edição limitada, o Ovo de Páscoa Pé de Moleque está à venda diretamente no Le Cordon Bleu Café e Kofi & Co, na Vila Madalena, em São Paulo. Uma opção refinada para quem busca presentear com exclusividade ou celebrar a data com um toque autoral e memorável.

Sobre Le Cordon Bleu

Le Cordon Bleu é a principal rede global de institutos de artes culinárias e gestão de hospitalidade, com uma herança de 130 anos. A rede mantém presença global com 35 escolas em mais de 20 países, formando cerca de 20 mil alunos de mais de 100 nacionalidades diferentes todos os anos. As técnicas culinárias tradicionais francesas permanecem no coração do Le Cordon Bleu, mas seus programas acadêmicos são constantemente adaptados para incluir novas tecnologias e as inovações necessárias para atender às necessidades crescentes da indústria. Presente no Brasil desde 2018, possui unidades no Rio de Janeiro e em São Paulo, onde oferece programas de alta qualidade, como o Grand Diplôme, o Diploma de Cozinha Brasileira, o Diplôme de Wine & Spirits, Diplôme de Plant Based, entre outros.

Serviço:

Ovo de Páscoa Pé de Moleque – Le Cordon Bleu São Paulo

Onde comprar: Le Cordon Bleu Café e Kofi & Co

Preço: R$185,00

Tamanho: 550 g

Le Cordon Bleu São Paulo

Rua Natingui, 862 – 1º andar – Vila Madalena, São Paulo, SP

(Com Guilherme Messina/Le Cordon Bleu)

[Livro] Roberto Marinho: A ascensão da Globo – entre festivais, censura e mudanças políticas

São Paulo, por Kleber Patricio

Capa.

A editora Nova Fronteira lança o livro ‘Roberto Marinho: A Globo na Ditadura – Dos Festivais às Bombas no Riocentro’, segundo volume da biografia escrita pelo jornalista Leonencio Nossa. A obra cobre o período de 1967 a 1981, traçando a história da TV Globo desde o início da emissora, durante o regime militar, até o atentado no Riocentro, episódio que expôs as tensões internas do governo.

A partir de uma pesquisa minuciosa que envolveu a análise de documentos históricos e entrevistas com figuras-chave do período, o autor revela detalhes inéditos sobre a relação da emissora com os militares, os desafios de Roberto Marinho para consolidar seu império de comunicação e os bastidores de decisões que moldaram a história da televisão brasileira. “Este volume busca entender como a Globo cresceu em meio à censura e à repressão e como Roberto Marinho soube navegar por esse cenário político tão complexo, equilibrando interesses comerciais e a necessidade de manter a emissora no ar”, explica Nossa.

Trata-se de uma investigação histórica de fôlego. “Há 12 anos comecei a pesquisar a história de Roberto Marinho. É um trabalho que exige um envolvimento muito intenso de pesquisa, mas principalmente um esforço para localizar pessoas e arquivos”, relata Leonencio. “Foram mais de 200 entrevistas. Até um certo tempo, eu contava o número de documentos analisados. Ao longo do trabalho, mergulhei num volume expressivo de cartas, áudios e relatórios, muitos deles sigilosos, em acervos públicos e privados”, conta. “Os papéis ajudam a compor a estrutura da narrativa. Por sua vez, os testemunhos orais tornam a história muito viva”, acrescenta Nossa.

A vida de Roberto Marinho se confunde com a da TV Globo. “Uma biografia clássica isola o personagem do seu mundo. Desde o primeiro momento que comecei a escrever o perfil dele percebi que não era possível contar sua trajetória sem entrar na história da emissora, sua maior obra”, ressalta Leonencio. “Entender o movimento de criação e consolidação da Globo talvez nos aproxime mais de quem o jornalista foi. Também não seria possível falar dele sem tentar compreender o tempo vivido e o próprio país.”

O corte temporal do livro abrange uma fase emblemática e decisiva da história de Roberto Marinho. “Ele nasceu em 1904, no Rio, e morreu 98 anos depois, na mesma cidade. Começou cedo na redação de O Globo, jornal herdado do pai. Mas, foi no período de 1969 a 1981, basicamente os anos 1970, corte temporal desse novo livro, que ele viveu o período mais intenso de sua vida pessoal e profissional e a TV se tornou um fenômeno da indústria cultural”, observa o autor. “Foi um momento decisivo do Brasil, um país que enfrentava o horror da ditadura e caminhava para a abertura.”

Marco histórico e construção de poder

O livro começa na metade final da década de 60, pouco tempo depois em que a TV Globo foi ao ar pela primeira vez, no Rio de Janeiro, e adquiriu a TV Paulista. Com o apoio técnico e financeiro do grupo norte-americano Time-Life — parceria rompida após pressões políticas e denúncias de interferência externa —, a emissora deu seus primeiros passos rumo à liderança, desafiando concorrentes tradicionais.

O crescimento da rede foi impulsionado pela implantação de antenas de micro-ondas, que permitiram transmissões nacionais, e pela criação do Jornal Nacional em 1969, o primeiro telejornal em rede do país. A biografia descreve os bastidores da estreia do jornal e como ele foi moldado para atender tanto ao público quanto às expectativas do governo.

A biografia também aborda o equilíbrio delicado entre a emissora e o governo militar. Em 1971, sob pressão da censura, a Globo comunicou que 90% de sua programação era gravada com um mês de antecedência, o que permitia cortes e ajustes conforme as determinações do regime. Apesar das restrições, a TV seguiu crescendo, lançando programas icônicos como o Fantástico e novelas de grande audiência, como Selva de Pedra e O Bem-Amado, que se tornaram fenômenos culturais.

Leonencio Nossa revela episódios em que Roberto Marinho precisou intervir pessoalmente para negociar com responsáveis pela censura e evitar o corte de programas inteiros, além de momentos em que a emissora teve que adaptar roteiros para contornar a repressão sem perder a conexão com o público.

O atentado no Riocentro e a mudança de rumos

O volume encerra com o atentado no Riocentro, em 1981, quando uma bomba explodiu no colo de um militar que pretendia incriminar movimentos de oposição. O episódio, amplamente noticiado, simboliza o início do declínio da ditadura e marca um ponto de inflexão na relação entre a TV Globo e os militares. A biografia detalha como a cobertura do atentado gerou tensões internas na emissora e obrigou a direção a repensar sua postura editorial diante do desgaste do regime. “O caso Riocentro foi um divisor de águas. A partir dali a emissora começou a se reposicionar, acompanhando a transição política do país e preparando o terreno para a redemocratização”, comenta Leonencio Nossa. “Foi um momento em que a Globo precisou decidir se continuaria sendo vista como aliada do governo ou se assumiria um papel mais crítico, refletindo os anseios da sociedade.”

Sobre o autor

Nascido em Vitória, no Espírito Santo, Leonencio Nossa Junior é ex-editor do jornal O Estado de S.Paulo, historiador, biógrafo e jornalista. O autor se formou em Comunicação Social pela Universidade Federal do Espírito Santo. Doutorando e mestre em História e Política pelo CPDOC-FGV, vive em Brasília. Por suas reportagens especiais sobre Amazônia, direitos humanos e política, foi reconhecido, em 2024 e 2025, como o jornalista mais premiado da história da imprensa de Brasília e do Centro-Oeste e um dos mais destacados do país, pelo site Jornalistas & Companhia. Venceu duas vezes o Prêmio Esso e cinco vezes o Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos.

Em 2014 publicou no jornal O Estado de S.Paulo uma reportagem de 17 meses de apuração sobre assassinatos políticos desde a Lei da Anistia. O trabalho investigativo foi pioneiro no levantamento de crimes de poder, conquistando a última edição realizada do Prêmio Esso de Jornalismo e o Vladimir Herzog. Tem trabalhos reconhecidos nas Conferências Latino-Americanas de Jornalismo Investigativo, do Instituto Prensa y Sociedad e da Transparência Internacional, em Buenos Aires (2010), Guaiaquil (2011), Cidade do México (2014), Cidade do Panamá (2016), Canelones (2021) e Rio de Janeiro (2022).

(Com Marco Marin/MNiemeyer Assessoria de Comunicação)