Estudo da UFMG analisou dados de quase 4 mil municípios brasileiros entre 2011 e 2019; melhoria nas UBS inclui sala de vacina, geladeira exclusiva e caixa térmica


Belo Horizonte
Espetáculo ‘Baculejo’ reflete sobre ancestralidade e identidade por meio da dança. Fotos: Divulgação.
Com uma programação que ultrapassa 200 atividades em 13 unidades do Sesc RJ, o projeto ‘O Corpo Negro-Indígena’ chega à sua quinta edição. Pela primeira vez, o festival integra com centralidade a produção artística indígena contemporânea na linguagem da dança, ampliando o seu escopo original — antes focado exclusivamente no protagonismo negro — e afirmando-se como uma iniciativa única nas artes da cena no país. A edição de 2025 acontece de 20 de maio a 15 de junho em 11 municípios do estado do Rio de Janeiro.
Com a curadoria convidada de Ágatha Oliveira, Barbara Matias Kariri, Betânia Avelar, Jandé Potyguara e Tieta Macau, a programação apresenta obras que vão da dança à performance, passando por audiovisual, música e debates. O Corpo Negro-Indígena afirma as múltiplas existências e resistências de artistas que forjam um Brasil que dança para contar a própria história, inclusive aquela que foi silenciada, colocando em cena corpos negros e indígenas que criam a partir de seus territórios, memórias e desejos. Territórios representados neste ano com grande abrangência. Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Pará, Paraná, Piauí, Goiás, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rondônia e São Paulo formam um mosaico diversificado e plural de gêneros, temas, estéticas e modos de criar.
A programação apresenta 25 trabalhos de dança, sendo 11 estreias nacionais nos palcos do Sesc RJ, possibilitando um importante fomento para os criadores da dança e oferecendo obras inéditas para os moradores do estado. Entre os destaques da programação está o espetáculo Andará das Encantarias, de Karu Kariri, artista indígena criada na periferia da zona sul de São Paulo. Karu funde a cultura ballroom à ancestralidade de seu povo, criando uma obra que transborda encantaria, identidade e luta. Em cena, a celebração dos corpos LGBTQIAPN+ negros e indígenas reverbera como um ritual contemporâneo de resiliência. Como ela mesma define, “Pode-se até aterrar um rio tentando apagar a história que vive lá, porém debaixo da terra a água continuará a circular, até o dia em que, à superfície, ela retornará.”
A curadoria do projeto é atravessada por essa escuta da terra e do corpo como territórios de saber. Bárbara Matias Kariri, uma das curadoras, resume: “Corpos que dançam interligados com a terra. Fazer curadoria como quem olha para o chão onde pisa, como quem exercita a escuta para saber quais sementes plantar. Dançar Pindorama para dizer da resistência e fé presentes nesses corpos antigos e futuros.”
Essa perspectiva ecoa em toda a programação. Na performance Espiral da Morte, a artista Uýra Sodoma expõe a diáspora indígena como ferida aberta e campo de reinvenção. Vencedora do prêmio PIPA em 2022, Uýra é uma das jovens artistas indígenas e expoente da cena das artes na atualidade, e tem ocupado importantes espaços culturais no Brasil e em diversos países do mundo, em eventos de grande relevância. Uýra une-se a Lian Gaia e Rosângela Collares em um ciclo de performances e debates mediados por Samara Potyguara e Jorge Vasconcellos, que ocorre entre os dias 29, 30 e 31 de maio, no Sesc Copacabana.
Já em Ané das Pedras, Bárbara Kariri promove um ritual performático que convoca a escuta ancestral das pedras Kariri e a relação com o sonho. Obras como essas expandem o conceito de dança, ao reinscrevê-lo em práticas de cura, memória e território.
A abertura oficial aconteceu no dia 20 de maio, no Sesc Tijuca, em uma noite especial para convidados. A programação incluiu apresentações de trechos das obras de João Petronílio e do grupo Artefatos Sagrados — marcando simbolicamente o início desta nova fase do projeto.
Mulheres negras têm destaque em três criações originais. Inaê Moreira apresenta Ecos da Separação, que propõe uma imersão sensorial com sonoridades e gestos ancestrais ao lado da DJ Marta Supernova, compartilhando seus diálogos artísticos com o seu trânsito e formação em África. Herdei meu corpo, de Valéria Monã, atravessa teatro e dança em uma potente reflexão sobre identidade e resistência. Por fim, as três marias, da Cia Líquida, presta tributo a sambistas negras idosas com força e brilho, buscando afirmar as contribuições das baianas das escolas de samba e seus saberes.
O projeto também oferece uma programação para o público infantil e famílias, com Xirê de Erê: Crianças Flutuantes, da Ouvindo Passos Cia de Dança, celebra a infância negra com dança e ludicidade. O espetáculo Traços, do Coletivo Riddims, constrói um jogo de cena baseado nas brincadeiras infantis indígenas, pouco conhecidas das populações do Rio de Janeiro.
Complementando as atividades ligadas ao corpo, a programação musical promove show como Derê – Concerto Solo sobre o Pagode, de Muato, e Orutuna, da cantora indígena Eloá Puri, que funde cantos tradicionais e sonoridades contemporâneas em um show imersivo. A linguagem audiovisual também apresenta trabalhos de realizadores relevantes como Alberto Alvares, com exibições como o documentário Guardiões da Memória, filmado em aldeias Guarani no RJ, Clementino Jr, com Trem do Soul, ambos contando histórias do estado do Rio de Janeiro em seus aspectos culturais. Parte da historiografia pouco conhecida da dança brasileira também pode ser conhecida com Ijó Dudu – Memórias da Dança Negra na Bahia, de Zebrinha, que apresenta uma linha do tempo viva da dança negra no país.
Ao reunir expressões artísticas de pessoas negras e indígenas, o Sesc RJ acompanha e fortalece o movimento cultural que transforma o terreno da possibilidade em terreiro de criações, abrindo caminhos estético-políticos na cena brasileira. Como destaca a curadora Ágatha Oliveira, trata-se de garantir “a oportunidade, a possibilidade, a realização; o fazer a dança que se deseja — e como se deseja”. A cada edição, consolida-se um espaço de investigação, descobertas e permanência para corpos que insistem, criam e movem as estruturas.
Serviço:
O Corpo Negro-Indígena – 5ª edição
De 20 de maio a 15 de junho de 2025
Unidades Sesc: Arte Sesc, Copacabana, Tijuca, Niterói, São Gonçalo, Ramos, Duque de Caxias, Nova Iguaçu, São João de Meriti, Teresópolis, Quitandinha, Nova Friburgo e Barra Mansa
Programação completa em breve no site.
(Fonte: Sesc RJ)
“A cultura de um povo é uma força coletiva que sempre estará na linha de frente contra qualquer regime de exceção”, destacou o presidente. Foto: Filipe Araújo/MinC.
Na tarde de terça-feira (20), o Rio de Janeiro voltou a ser palco de um dos momentos mais simbólicos da retomada das políticas culturais no Brasil. No histórico Palácio Gustavo Capanema, com sua fachada azul e janelas abertas para o Centro da cidade, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ministra da Cultura, Margareth Menezes, entregaram a Ordem do Mérito Cultural (OMC), maior honraria pública do setor, a personalidades e instituições que ajudam a construir a diversidade e a riqueza da cultura brasileira.
A cerimônia celebrou não apenas o reconhecimento de nomes como Fernanda Torres, Alaíde Costa, Marcelo Rubens Paiva e Chico César, entre tantos outros, mas também a resistência de um setor que, como lembrou Lula, sofreu ataques sistemáticos nos últimos anos. “A cultura tem um papel extraordinário na defesa da democracia. Porque a cultura de um povo é uma força coletiva tão poderosa, que estará sempre na linha de frente contra qualquer regime de exceção”, destacou o presidente.
A OMC deste ano teve um diferencial: a consulta pública. Mais de 11 mil contribuições populares indicaram nomes de todas as regiões, gerações e expressões culturais do país. Ao todo, foram homenageadas 112 pessoas físicas e 14 instituições, com distinções nos graus de Grã-Cruz, Comendador e Cavaleiro. “A democracia também não será plena enquanto o povo brasileiro não tiver acesso e participação na cultura de seu país. A cultura é uma força coletiva, revolucionária, que mantém viva a esperança e a liberdade do nosso povo”, afirmou Lula.
A ministra da Cultura, Margareth Menezes, celebrou a diversidade dos homenageados. “Hoje, homenageamos artistas, mestras e mestres da cultura, trabalhadores e trabalhadoras da arte, representantes dos mais diversos territórios do país. Celebramos a cultura como direito, como cidadania, como identidade e como força viva de transformação social e econômica”, disse.
O momento de celebração contou com a apresentação cultural do Jongo da Serrinha.
Selos
Durante a cerimônia também foram lançados dois selos postais comemorativos: um em celebração aos 40 anos do Ministério da Cultura e outro em homenagem a Eunice Paiva, ativista dos direitos humanos. Para o escritor Marcelo Rubens Paiva, também agraciado com a Grã-Cruz, o momento foi um marco. “Está é uma oportunidade de resgatar a história de uma mulher. E por meio da história dela, falar sobre democracia, sobre direitos individuais, sobre liberdade e sobre o futuro. Está aqui um desafio para todos nós: precisamos contar a nossa história. Fazer filmes, escrever livros para jovens, para escolas, para todos. Nossa história é densa, conflituosa, rica, essencial. Precisamos resgatá-la para entender o presente e projetar o futuro”, afirmou Marcelo Rubens Paiva.
Agraciados
A diversidade dos homenageados nesta edição da Ordem do Mérito Cultural traduz a pluralidade que define a cultura brasileira. São vozes que representam ritmos, linguagens, territórios, gerações e tradições. Os premiados atuam em áreas como música, literatura, teatro, dança, cinema, circo, audiovisual, cultura digital, cultura popular, culturas indígenas, negras e urbanas, além da arquitetura e do patrimônio histórico.
No grau máximo da condecoração, a Grã-Cruz, foram reconhecidos artistas como Alaíde Costa, Alceu Valença, Beth Carvalho (in memoriam), Fernanda Torres, Marcelo Rubens Paiva, Martinho da Vila, Milton Nascimento, Paulo Gustavo (in memoriam) e Walter Salles. Também foram contempladas instituições e movimentos culturais emblemáticos, como o Balé Folclórico da Bahia, o Museu da Diversidade Sexual, a Feira do Livro de Porto Alegre, o Ocupa MinC, o Muquifu e o Festival de Parintins.
As escolhas foram feitas por uma comissão técnica e pelo Conselho da Ordem a partir de mais de 11 mil sugestões enviadas por consulta pública. Essa escuta da sociedade contribuiu para reconhecer 112 pessoas físicas e 14 entidades que mantêm viva a criação artística e o patrimônio cultural do Brasil. A lista completa das 112 pessoas e 14 instituições homenageadas na edição de 2025 da Ordem do Mérito Cultural foi publicada no Diário Oficial da União. Acesse aqui.
Palácio Gustavo Capanema
O evento desta terça-feira também marcou a reinauguração do Palácio Gustavo Capanema. Projetado por Lucio Costa e Oscar Niemeyer, com consultoria de Le Corbusier e jardins de Burle Marx, o edifício é considerado um dos marcos da arquitetura modernista mundial.
Fechado há dez anos, o Capanema passou por um minucioso processo de restauração conduzido pelo Iphan. Foram investidos R$ 84,3 milhões em obras que incluíram requalificação das instalações elétricas, hidráulicas, sistema de incêndio, mobiliário e climatização, além da recuperação de obras de arte de Portinari e esculturas de Bruno Giorgi. Antes da cerimônia oficial da Ordem do Mérito Cultural, o presidente Lula percorreu as dependências do Palácio Gustavo Capanema. Durante a visita, ele se encontrou com 12 trabalhadores e trabalhadoras que participaram da obra de restauração do edifício.
Para a ministra Margareth Menezes, o retorno do edifício à vida pública tem um significado histórico e simbólico profundo. “O Palácio que o governo anterior tentou vender, hoje está de volta ao povo brasileiro. E só estamos aqui porque resistimos. Porque houve quem lutasse para mantê-lo em pé, público, democrático”, disse.
O edifício passa agora a abrigar um gabinete do Ministério da Cultura, além de instituições como o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a Biblioteca Nacional e a Fundação Nacional de Artes (Funarte).
40 anos do Ministério da Cultura
A entrega da Ordem do Mérito Cultural integrou a programação comemorativa dos 40 anos do Ministério da Cultura, criado em 1985. O tema da cerimônia, ‘Cultura é Democracia’, foi lembrado por Lula. “Democracia é mais do que o direito de escolher quem governa. É acesso pleno à saúde, à educação, à cultura. É um país em que todos e todas podem viver com dignidade e expressar sua identidade”, disse o presidente.
O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, também celebrou a reativação do Capanema e destacou o papel simbólico da cidade. “O Rio de Janeiro tem a vocação de ser a parte que reúne o todo. Quando defendemos a cultura, defendemos a verdade do Brasil. O Capanema é símbolo da nossa modernidade, da nossa coragem e da capacidade de sonhar com o futuro”, afirmou Eduardo Paes.
Reerguido, restaurado e reocupado, o Palácio Gustavo Capanema volta a ser o centro simbólico da cultura brasileira. Um lugar de memória, futuro e resistência, como os muitos artistas e entidades homenageados nesta nova edição da Ordem do Mérito Cultural.
(Com Sheila de Oliveira/Assessoria de Imprensa MinC)
De 21 a 25 de maio, o Pavilhão da Bienal, no Parque Ibirapuera, recebe a 19ª edição do Salão do Artesanato. Após 15 edições em Brasília e 3 na capital paulista, o evento volta à cidade em 2025 reunindo artesãos de todos os estados e do Distrito Federal. Além de compras e negócios, o convite é para uma imersão no universo do artesanato brasileiro, com mais de 100 mil peças moldadas, trançadas, costuradas, entalhadas e esculpidas com talento genuíno. Com entrada franca, o Salão é um programa para toda a família e oferece exposição e venda de peças artesanais, apresentações musicais diárias, performances, desfiles como o da nova coleção do estilista Maurício Duarte, praça de alimentação e áreas de descanso. A expectativa é atrair mais de 60 mil visitantes e superar os R$22 milhões movimentados em 2024, entre vendas diretas e negócios futuros. O evento tem apoio do Programa do Artesanato Brasileiro – PAB/Ministério do Empreendedorismo, da Micro e Pequena Empresa/Governo Federal e do Sebrae, parceiros desde a primeira edição.
“Atuamos para consolidar o Salão do Artesanato no calendário de eventos de São Paulo, com o objetivo de torná-lo anual na maior cidade do país. A recepção foi maravilhosa nas edições anteriores e, em 2025, queremos fazer história com o melhor do artesanato produzido em todos os cantos do Brasil”, afirma Rômulo Mendonça, diretor-geral da Rome Eventos, à frente da realização. O tema de 2025 será “A arte que vem da fibra”, homenageando a diversidade e força do artesanato brasileiro. “É simbólico e abrangente, pois valoriza o uso de fibras naturais em todo o país — como capim dourado, bananeira, licuri, carnaúba, tururi e piaçava — e, também, a ‘fibra’ dos artesãos, que com criatividade, resistência e amor pela arte mantêm vivas tradições, superam desafios e garantem sustento a milhões”, explica Leda Simone, diretora-executiva da Rome Eventos.
A ampla representatividade do artesanato brasileiro no evento é possível graças à parceria com o Programa do Artesanato Brasileiro – PAB/MEMP e com o Sebrae. Para o ministro do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte do Brasil, Márcio França, “o Salão do Artesanato é mais do que uma feira; é uma celebração da criatividade e da diversidade cultural do nosso país. Cada peça exposta reflete a história de um povo e o talento de nossos artesãos. Eventos como este reforçam nosso compromisso em valorizar e promover o artesanato brasileiro, seguindo a orientação do presidente Lula de fortalecer a cultura popular e gerar oportunidades para quem vive do artesanato“.
Não se trata apenas da presença de artesãos de todo o país. A curadoria atuou no sentido de apresentar em São Paulo trabalhos e artesãos que revelem a produção mais característica de todas as localidades, refletindo a identidade e a história de suas comunidades. Para abrigar tanta riqueza, a ala do PAB ocupa todo 1º piso e parte do 2º andar da Bienal e destina estandes a todas as unidades da federação. O programa ainda disponibiliza estandes para a Confederação Brasileira de Artesãos (Conart) e a Confederação Nacional do Artesãos do Brasil (Cnarts), fundamentais para a organização do segmento e difusão do artesanato.
Em uma abordagem inovadora, o Sebrae Nacional selecionou para o evento artesãos premiados das cinco edições do Prêmio Sebrae TOP 100 de Artesanato. Os participantes — pequenas e microempresas, cooperativas, associações e microempreendedores individuais — foram considerados a partir de critérios como qualidade estética, inovação e experiência comercial.
O Sebrae Espírito Santo e a Secretaria da Retomada de Goiás também aproveitam a oportunidade de levar o artesanato de suas regiões para a maior vitrine do país. Mesmo com os estados presentes na ala do PAB, investiram em espaços próprios para levarem mais artesãos e peças para o Salão. Há, ainda, estandes reservados a expositores independentes de todo o Brasil.
A arte que pulsa no Salão
Marcos de Sertânia e suas versões da cadelinha Baleia, de ‘Vida Secas’, sempre presente. Foto: Gilberto Evangelista.
A programação cultural do Salão do Artesanato 2025 celebra a diversidade brasileira ao unir tradição e inovação, reverenciando a diversidade da produção artística brasileira. Na música, o grupo Canto da Mata traz a força do Boi-Bumbá de Parintins; o Forró Maria Lua reverbera os ritmos do Nordeste com identidade e alegria; Rodrigo Zanc e Murilo Romano revisitam o cancioneiro caipira em tom intimista; e a Banda Canaviera celebra clássicos, traz releituras da Tropicália e novos sons da música nacional. Já o espetáculo ‘Luz e Movimento’, do projeto Triskle, com Gustavo Ollitta e Bárbara Francesquine, mistura arte circense e tecnologia, hipnotizando o público com um balé de luzes e formas.
Na interseção entre moda, artesanato e memória, o evento reforça seu compromisso com a originalidade. Reconhecido no Brasil e no exterior pela maestria com que traz para contemporaneidade a ancestralidade indígena, Maurício Duarte, estilista amazonense, oriundo do povo Kaixana, apresenta sua coleção ‘Muiraquitã’, fruto de um trabalho coletivo, realizado por muitas mãos talentosas de Manaus, São Gabriel da Cachoeira, Tefé, São Paulo e Minas Gerais, refletindo a essência colaborativa e inclusiva que permeia a marca.
Já o desfile com coordenação e styling de Ander Oliveira propõe a criação de looks a partir de peças expostas para a venda no próprio evento para revelar como o feito à mão brilhar com estilo e inventividade. Para dar ainda mais personalidade à performance fashion, a trilha sonora será executada ao vivo por uma banda de pífanos formada apenas por mulheres LGPTQIA+, todas acima de 50 anos. Ou seja, um babado tecido com muita inclusão.
Essa bossa entre moda e tradição se desdobra nas mostras que compõem o Salão. No espaço ‘Ateliê dos Mestres Artesãos’ dez mestres selecionados pelo PAB demonstrarão suas habilidades, comercializarão suas peças e interagirão com o público contando um pouco de suas histórias. Reconhecidos pela expertise e legitimidade para transmitir saberes, esses profissionais representam o elo vivo entre o passado e o futuro do fazer artesanal. A ‘Exposição dos Estados Brasileiros’ apresentará 27 peças que sintetizam o espírito criativo de cada região do país, revelando a pluralidade do artesanato nacional. Já na vitrine conceitual ‘Moda Artesanal’, estarão expostas peças de vestuário e acessórios. Neste ano, o espaço ainda abriga a exposição ‘Mestres de Fibras’, em sintonia com a temática do evento, com exibição de peças forjadas através de técnicas que transformam o que brota da terra em cestos, trançados, esculturas e outras maravilhas.
Clássicos do Salão do Artesanato
Entre expositores do PAB e independentes, algumas participações têm feito história nas edições do Salão do Artesanato, tamanha a procura por suas criações. É o caso das carteiras em marchetaria, do Acre; da arte santeira, do Piauí; os cãezinhos talhados em madeira e inspirados na ‘Baleia’, do romance ‘Vidas Secas’, de Marco de Sertânia, do Pernambuco; os bordados de Minas Gerais; as roupas de cama mesa e banho do Nordeste; os enfeites e acessórios em capim dourado, do Tocantins; a arte de forte tradição indígena do Amazonas; a cestaria do mestre Juão de Fibra, de Goiás, e muito mais. Uma festa para quem busca uma peça especial, com o caráter da exclusividade que só o artesanato pode garantir.
A versatilidade é uma das marcas do trabalho do mestre artesão Juão de Fibra, de Goiás. Foto: Claraboia Filmes.
Sinônimo de arte e cultura, o Pavilhão da Bienal é o cenário ideal para abrigar um evento que celebra o artesanato brasileiro, uma expressão cultural preciosa que engloba tipologias como cerâmica, madeira, fios, capim, palha, metal, rendas, bordados e muito mais. Há qualidade e quantidade. São cerca de 500 artesãos presentes, mas que representam milhares de outros talentos, já que muitos trazem trabalhos de coletivos, associações e confederações. Entre as peças a serem comercializadas, há desde as menores, como acessórios e utensílios, até as maiores, como esculturas, objetos de decoração e móveis.
Oficinas
Sob a coordenação do programa Mãos e Mentes Paulistanas, o público poderá se beneficiar da programação de oficinas gratuitas, mediante inscrição feita no próprio local. De pessoas que já trabalham com artesanato, passando por quem pretende desenvolver alguma habilidade visando a empreender no ramo, até crianças que aprenderão mais sobre a importância do artesanato como expoente da cultura brasileira, todos são bem-vindos.
Economia
Realizar o salão do artesanato em São Paulo representa uma oportunidade estratégica para ampliar a visibilidade e o impacto do evento. Como maior centro econômico e cultural do país, a cidade atrai um público diversificado, incluindo consumidores, lojistas, designers e investidores, o que impulsiona as vendas e a valorização do artesanato brasileiro.
Os resultados das edições passadas apontam neste sentido, a começar pelo grande público que circulou pelo evento. Na 18ª edição, realizada em 2024, foram comercializadas, apenas nos estandes do PAB mais de 60 mil peças. Considerando os demais participantes, mais de 100 mil peças foram vendidas de forma direta, com um volume de negócios superior a R$ 7 milhões. Com o fomento dado pelo evento à realização da Rodada de Negócios, onde na última edição participaram 48 compradores, os negócios futuros foram estimados em R$ 13,8 milhões para os 12 meses seguintes. Números muito significativos para o setor.
Para 2025, espera-se ampliar ainda mais a participação de lojistas e artesãos e fortalecer a capacitação dos expositores para negociações mais eficazes. O crescimento da modalidade virtual também deve ser explorado para expandir o alcance da rodada para mercados internacionais. “Com base nos resultados da Rodada de Negócios de 2024, as expectativas são promissoras, a começar pelo número de compradores, que deve subir para cerca de 100. Além disso, a integração das rodadas presenciais e virtuais resultou em mais contatos efetivados, demonstrando essa forte demanda do mercado”, revela Lica Marques, responsável pela Rodada de Negócios no evento. Os lojistas terão no evento um espaço especialmente montado para eles, com acolhimento especial e área para reunião com artesãos.
O segmento de artesanato do país congrega mais de 230 mil inscritos na base nacional do PAB. Além da geração de emprego (cerca de 4 mil entre diretos e indiretos), para a realização do evento são contratadas mais de 30 empresas prestadoras de serviços para a produção, há mobilização da rede hoteleira e de bares e restaurantes da cidade com a presença de artesãos de todo o país, movimentando toda a cadeia produtiva do turismo.
Sustentabilidade e inclusão social
O Salão do Artesanato está comprometido com a agenda de sustentabilidade e inclusão social, alinhando-se às boas práticas da Governança Ambiental, Social e Corporativa (ESG). Com a elaboração da Declaração de Propósitos e Compromissos de Sustentabilidade, traçou estratégias para atendimento especial a pessoas com deficiências; adoção de modelo de gerenciamento seletivo de resíduos para proporcionar destino correto a rejeitos, recicláveis e orgânicos; campanha de educação para a sustentabilidade na rede social do evento; inclusão socioprodutiva nas contratações das equipes de produção e qualificação da cadeia produtiva envolvida com o evento. Pelo terceiro ano consecutivo, o evento recebe o Selo Carbon Free pelas ações de compensação de carbono através do plantio de árvores.
Espaço
Em mais de 14 mil m², ocupando o 1º e o 2º pisos do Pavilhão da Bienal, o Salão do Artesanato tem áreas destinadas a estandes comerciais, palco para apresentações culturais, espaços de exposições, salas de oficinas, sala de Rodada de Negócios, espaços operacionais, banheiros, praça de alimentação interna e externa (Praça das Bandeiras), sala de imprensa, espaços operacionais e áreas confortáveis de convivência e descanso com estrutura para carregamento de dispositivos eletrônicos.
PROGRAMAÇÃO
Apresentações culturais, desfiles e palestras
21 de maio (quarta-feira)
14h: Projeto Triskle – espetáculo Luz e Movimento, com Gustavo Ollita e Bárbara Francesquine
17h: Projeto Triskle – espetáculo Luz e Movimento, com Gustavo Ollita e Bárbara Francesquine
19h: Show Canto da Mata – O Ritmo Quente da Amazônia
22 de maio (quinta-feira)
10h às 11h: Roda de Conversa Arte Sol e Museu A Casa – Iniciativas que fortalecem o Artesanato Brasileiro
13h: Projeto Triskle – espetáculo Luz e Movimento
16h: Projeto Triskle – espetáculo Luz e Movimento
18h: Show Rodrigo Zanc – Viola… Raízes e Frutos
19h30: Desfile do estilista manauara indígena do povo Kaixana, Maurício Duarte
23 de maio (sexta-feira)
10h às 11h: Palestra APEX – Exportação do Artesanato Brasileiro (somente para expositores)
13h: Projeto Triskle – espetáculo Luz e Movimento
16h: Projeto Triskle – espetáculo Luz e Movimento
18h: Show de forró pé de serra com o Grupo Forró Maria Lua
19h30: Desfile performático com confecções dos artesãos expositores do evento, acompanhado pela banda de pífanos – coordenação de styling: Ander Oliveira
24 de maio (sábado)
13h: Projeto Triskle – espetáculo Luz e Movimento
16h: Projeto Triskle – espetáculo Luz e Movimento
19h30: Show Samba do Chicão com Marina Rosa
26 de maio (domingo)
11h30: Projeto Triskle – espetáculo Luz e Movimento
13h: Projeto Triskle – espetáculo Luz e Movimento
16h: Show da Banda Canavieira – Viva a Música Brasileira.
Serviço:
19º Salão do Artesanato
Pavilhão da Bienal – Parque do Ibirapuera – São Paulo
De 21 a 25 de maio: das 11h às 21h (para o público em geral)
De 21 a 23 de maio: das 10h às 11h (acesso exclusivo para lojistas)
Entrada franca
Instagram: @salaodoartesanatooficial
Facebook: Salão do Artesanato.
(Fonte: Donna Mídia Comunicação)
Com uso de drones, satélites e auditorias independentes, Serviço Florestal apresenta estrutura de controle das concessões e com apoio do Imaflora defende valorização do manejo sustentável. Fotos: Divulgação/Imaflora.
A precisão do monitoramento florestal no Brasil e seu papel estratégico na conservação das florestas públicas estiveram no centro do debate durante o segundo encontro da Jornada de Conhecimento sobre Concessões Florestais, realizado no último dia 9 de maio. Promovida pelo Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) e pelo Serviço Florestal Brasileiro (SFB), a atividade reuniu procuradores do Ministério Público Federal (MPF), pesquisadores e representantes da sociedade civil em um encontro virtual.
Com o tema ‘Monitoramento da Concessão’, a sessão teve como convidado o engenheiro florestal José Humberto Chaves, coordenador-geral de Monitoramento e Auditoria Florestal do SFB. Durante a apresentação, ele detalhou o sofisticado sistema de controle das concessões florestais federais, baseado na rastreabilidade da madeira, cruzamento de dados de satélite e uso de tecnologia LIDAR (Light Detection and Ranging) – técnica de sensoriamento remoto que utiliza feixes de luz laser para medir distâncias e criar modelos tridimensionais precisos de um ambiente. “A concessão florestal é um verdadeiro laboratório a céu aberto”, destacou José Humberto. “Combinamos imagens de satélite, sensores a laser e auditorias independentes para garantir que o manejo seja feito de forma legal, sustentável e transparente”, afirmou.
Sistema robusto para controlar a floresta
Entre as ferramentas utilizadas, destacam-se o Sistema de Cadeia de Custódia (SCC) — que registra o ciclo completo de cada árvore extraída — e a tecnologia de drones para medir o volume de madeira em pátios. Outro destaque é o uso de sensores LIDAR, que geram imagens em 3D da floresta antes e depois do manejo, permitindo avaliar os impactos da atividade sobre a vegetação.
Além do controle contratual feito pelo SFB, o IBAMA realiza fiscalizações com foco ambiental, assegurando que a exploração obedeça aos limites autorizados. As áreas concessionadas, segundo os dados apresentados, têm mostrado recuperação rápida da vegetação e servem como barreiras efetivas contra o avanço do desmatamento ilegal.
Durante o debate, Lucas Mazzei, pesquisador que atua com manejo florestal e parcelas permanentes na Amazônia, apontou o desafio central para a sustentabilidade econômica do setor. “Se a gente controla o fim da cadeia e retira o ilegal do mercado, o preço da madeira sobe. E isso permite reduzir a intensidade do manejo, conservar mais floresta e aumentar a sustentabilidade”, afirmou. “Hoje, infelizmente, muitas operações de fiscalização focam somente em áreas legais, onde já há mais controle”.
Certificação e o papel do mercado
Elson Lima, representante do FSC Brasil, reforçou a convergência entre concessões e certificações florestais. Segundo ele, mais de 90% das concessões federais já possuem o selo FSC, o que reforça seu compromisso com padrões sociais e ambientais. “A certificação traz uma redução significativa de riscos, sobretudo em regiões onde o controle estatal ainda é desafiador”, disse Elson. “Concessões certificadas devem ser vistas como aliadas no enfrentamento ao desmatamento ilegal”, concluiu.
Ao final do encontro, os participantes reforçaram a importância das concessões florestais como instrumentos legítimos de uso sustentável das florestas públicas, que permitem manter a floresta em pé, gerar empregos e renda local, além de garantir segurança jurídica e previsibilidade. “As concessões florestais são uma estratégia eficaz de combate ao desmatamento. Os dados comprovam isso. Temos que ampliar essas áreas e atuar para garantir o manejo florestal sustentável nos territórios”, destacou Leonardo Sobral, diretor de Florestas e Restauração do Imaflora, ecoando o consenso de que a proteção das florestas passa por uma ação coordenada entre controle, ciência e justiça.
O próximo encontro da Jornada será no dia 23 de maio, com o tema ‘Transparência e Participação Social: o papel do Ministério Público, órgãos de controle e da sociedade’, e discutirá os mecanismos legais e institucionais de participação da sociedade civil no processo de concessão florestal, como os Conselhos Consultivos, audiências públicas e consultas às comunidades do entorno.
(Com Elias Serejo/Imaflora)
Pesquisadores pediram que entrevistados avaliassem sua preferência por quatro perfis fictícios de candidatos – do tradicional ao outsider completo. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil.
Os eleitores paulistas desejam mudanças, com novos candidatos, projetos e soluções na Presidência do país. Porém, não acreditam no potencial de eleição de um novato e desconfiam que, caso eleito, torne-se um refém do sistema pela falta de experiência política. Há um ceticismo generalizado sobre a possibilidade de mudanças concretas e de melhoria de vida, com desconfiança tanto dos candidatos veteranos quanto dos inexperientes. Por isso, o apelo antissistema pode não ser suficiente para impulsionar outsiders na disputa presidencial de 2026.
As conclusões são de estudo do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Representação e Legitimidade Democrática (INCT ReDem), sediado na Universidade Federal do Paraná (UFPR), publicado na quinta (22). Realizada por meio de grupos focais em fevereiro de 2025, a investigação reuniu 60 eleitores das classes C, D e E, moradores de São Paulo e Bauru. Os participantes foram organizados em seis grupos, conforme faixa etária, voto na eleição de 2022 (Lula ou Bolsonaro) e posicionamento ideológico.
Após discussões sobre a percepção geral de política e políticos, avaliaram quatro perfis fictícios de candidatos — criados com base na tipologia de outsiders do cientista político Miguel Carreras — e indicaram em quem votariam e por quê.
Perfil 1: insider, político tradicional, tem anos de experiência na política, integra um partido consolidado e valoriza a experiência e as alianças políticas para fazer um bom governo;
Perfil 2: completamente outsider, sem carreira política prévia, concorrendo por um partido pequeno, com discurso anti-establishment, apresentando-se como aliado do povo e um contraponto ao sistema político.
Perfil 3: outsider amador, candidato sem experiência na política, que está concorrendo por um partido grande, mas não tem laços com os políticos tradicionais; em seu discurso, ressalta a sua proximidade com ‘pessoas comuns’, a capacidade para governar e a disposição para alianças;
Perfil 4: outsider rebelde, político que já foi filiado a partidos grandes, mas que agora está em um partido pequeno para concorrer a Presidente, e adota um discurso de revolta contra o sistema político ‘corrupto’ para justificar sua candidatura.
As impressões foram analisadas qualitativamente com o auxílio de inteligência artificial. O candidato tradicional (perfil 1) foi o mais rejeitado, mas nenhum teve adesão unânime — e os novatos antissistema (perfis 2 e 4) foram vistos com desconfiança. “O discurso antissistema chamou a atenção, mas a maioria não acredita que um candidato com esse discurso vá mudar algo e, ao mesmo tempo, têm medo do tipo de mudança que ele faria”, aponta Roberta Picussa, coordenadora do estudo.
A autora complementa que os partidos e alianças políticas foram vistos de forma pragmática, como uma espécie de mal necessário para a governabilidade do Presidente: “Essa percepção faz com que os candidatos com um discurso antissistema, tanto novatos como antigos, que concorrem por partidos pequenos, sejam vistos como fracos e não atraiam tantos votos.”
Também foram constatadas diferenças entre os eleitores de Lula e Bolsonaro. Quem votou em Lula mostra frustração diante de promessas não cumpridas e inexistência de mudanças; já eleitores de Bolsonaro enfatizam mais a descrença com o sistema político, associando-o à corrupção.
Picussa observa que, neste experimento, a polarização maior no discurso não é entre esquerda e direita; e sim, entre os cidadãos e a classe política, com um sentimento dominante de desilusão. Segundo a pesquisa, o discurso antissistema não será o suficiente para impulsionar candidatos novatos na próxima eleição. “Um candidato novato terá mais chances se mostrar que terá apoios para governar, usar uma retórica mais moderada e se apresentar como originário ou próximo das classes C, D e E”, conclui a pesquisadora.
(Fonte: Agência Bori)