Iniciativa acontece durante a 23ª Semana Nacional de Museus e convida o público a refletir sobre inclusão e criatividade


São Paulo
O Coro da Osesp apresenta um concerto na terça-feira (25 de fevereiro) às 20h na novíssima Estação CCR das Artes, apoiada pelo Instituto CCR, tendo à frente o maestro Thomas Blunt – a apresentação marca a estreia do britânico como novo regente titular do grupo. Nome respeitado do cenário coral no mundo, Blunt possui uma longa e frutífera relação com o Coro da Osesp desde 2011, incluindo interpretações memoráveis de obras como a Missa nº 2 em mi menor, de Bruckner, o Réquiem alemão, de Brahms, e a Petite Messe Solennelle, de Rossini – esta durante sua atuação mais recente na Sala São Paulo, em 2023.
Reconhecido por sua visão artística inovadora, o maestro inglês traz um compromisso renovado com a excelência musical e a modernização do Coro. Ele estará presencialmente com o conjunto por dez semanas ao longo do ano e será consultor artístico em tempo integral no desenvolvimento de projetos e na gestão cotidiana. Vai liderar, ainda, o processo de contratação de um novo maestro preparador e trabalhará em estreita colaboração com o diretor musical e regente titular da Osesp, Thierry Fischer, e com a administração da Fundação Osesp visando alinhar as trajetórias artísticas do Coro e da Orquestra.
Com um repertório que inclui nomes como Gustav Holst (Nunc Dimittis), William Byrd (Sing joyfully e Laudibus In Sanctis), Orlando Gibbons (O clap your hands), Michael Tippett (A child of our time: Five Spirituals) e Aylton Escobar (Ave Maria e Agnus Dei) – compositor que também fundou o Coro da Osesp, em 1994 –, esta será a primeira atividade a ocupar o palco da Estação CCR das Artes desde a sua inauguração, realizada no aniversário de São Paulo (25/jan). Os ingressos têm preço único de R$42,00 (valor inteiro) e podem ser adquiridos neste link.
“Este concerto, meu primeiro como regente titular, na Estação CCR das Artes, reflete minha visão para esse novo momento”, afirma Blunt. “Escolhi um programa que estabelece um diálogo entre o antigo e o novo, entre a tradição musical inglesa e a riqueza da polifonia ibérica e brasileira. Algumas dessas obras me acompanham desde a infância e são profundamente pessoais para mim, enquanto outras, como a música de Escobar e a polifonia do português, são descobertas recentes que me fascinam. Além disso, levei em consideração a acústica da Estação CCR das Artes ao elaborar o repertório, buscando um equilíbrio entre ressonância e clareza”, completa.
Um presente para São Paulo, o novo espaço cultural fica no mesmo edifício da Sala São Paulo, no Complexo Cultural Júlio Prestes, e receberá ao longo de 2025 diferentes expressões artísticas, entre músicas clássica e popular, dança, teatro, literatura e cinema, além de atividades educacionais. A reforma e a transformação deste patrimônio histórico em sala de espetáculos foram viabilizadas graças à parceria da Fundação Osesp com o Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas, e com o Governo Federal e o Ministério da Cultura, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura. Também via Lei Rouanet, o Grupo CCR, através do Instituto CCR, firmou contrato de patrocínio institucional com a Fundação Osesp para a manutenção das atividades do espaço durante o período inicial de três anos. Além de participar do projeto da nova sala de espetáculos, o Grupo CCR também é responsável pela inédita restauração da histórica Estação Júlio Prestes.
Sobre a Estação CCR das Artes
A Estação CCR das Artes ocupa o antigo concourse da Estação Júlio Prestes, que ainda preserva sua arquitetura original, com vitrais coloridos da tradicional Casa Conrado e três imponentes lustres. O local torna-se, assim, parte do Complexo Cultural Júlio Prestes, que abriga também a Sala São Paulo — sede da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo – Osesp, do Coro da Osesp e da Academia de Música —, a São Paulo Escola de Dança, a Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas, a Estação Pinacoteca e a Emesp Tom Jobim.
A ideia de transformar este salão da Estação Júlio Prestes em um espaço voltado às artes é mais antiga do que a própria Sala São Paulo. Ainda em 1995, a Osesp apresentou-se nessa área — que depois viria a ser chamada de Estação das Artes —, onde originalmente eram vendidos os bilhetes ferroviários.
Com regência do maestro Eleazar de Carvalho, a apresentação contou com a presença do engenheiro Mário Garcia, que naquele período participava do esforço para encontrar uma sede para a Osesp que fosse ideal no quesito acústica. Em 1997, um ano após a morte de Eleazar, foi decidido que o jardim de inverno da Estação Júlio Prestes, com área ainda maior que a do concourse, seria o local perfeito para uma grande sala de concertos. Finalmente, 25 anos após a inauguração da vizinha Sala São Paulo, a Fundação Osesp liderou os esforços que culminaram na criação do novo espaço.
Coro da Osesp
O Coro da Osesp, além de sua versátil atuação sinfônica, enfatiza o registro e a difusão da música dos séculos XX e XXI e de compositores brasileiros. Destacam-se em sua ampla discografia Canções do Brasil (Biscoito Fino, 2010), Aylton Escobar: Obras para coro (Selo Digital Osesp, 2013) e Heitor Villa-Lobos: Choral transcriptions (Naxos, 2019). Apresentou-se em 2006 para o rei da Espanha, Filipe VI, em Oviedo, no 25º Prêmio da Fundação Príncipe de Astúrias. Em 2020, cantou, sob a batuta de Marin Alsop, no Concerto de Abertura do Fórum Econômico Mundial, em Davos, Suíça, feito repetido em 2021, em filme virtual que trazia também Yo-Yo Ma e artistas de sete países. Junto à Osesp, estreou no Carnegie Hall, em Nova York, em 2022, se apresentando na série oficial de assinatura da casa no elogiado Floresta Villa-Lobos. Fundado em 1994 por Aylton Escobar, integra a Osesp desde 2000, tendo completado 30 anos de atividade em 2024. Teve como regentes Naomi Munakata [1995-2015] e Valentina Peleggi [2017-2019]. A partir de fevereiro de 2025, Thomas Blunt assume a posição de regente titular.
Thomas Blunt regente
Thomas Blunt construiu uma carreira versátil e abrangente, com sólida formação em canto e ópera, regendo em teatros e salas de concerto ao redor do mundo. Com um repertório que vai da música renascentista à contemporânea, sua regência se estabelece a partir da ideia de criação de uma dramaturgia por meio da música. Foi o primeiro participante britânico da prestigiosa Allianz International Conductors’ Academy. Mantém estreita relação com o Festival de Glyndebourne (Reino Unido), no qual iniciou sua carreira de regente na música coral. Atuou como regente assistente junto a Vladimir Jorowski, diretor musical da Filarmônica de Londres, resultando em apresentações no Royal Festival Hall, no Queen Elizabeth Hall e na própria Sala São Paulo em diversas ocasiões. Junto a seus compromissos com o Coro da Osesp, do qua passa a ser regente titular a partir de 2025, seus destaques desta temporada incluem apresentações com a Orquestra Nacional da BBC de Wales, o Fifth Door Ensemble, a Sinfônica da Nova Zelândia, além da atuação como assistente de Maurizio Benini na Royal Opera House.
PROGRAMA
CORO DA OSESP
THOMAS BLUNT regente
Giles SWAYNE | Magnificat
Gustav HOLST | Nunc Dimittis
Aylton ESCOBAR
Ave Maria
Agnus Dei
William BYRD | Sing joyfully
Duarte LOBO | Audivi Vocem
William BYRD | Laudibus In Sanctis
Manuel CARDOSO | Lamentatio
Pedro DE CRISTO | Sanctissimi Quinque Martires
Orlando GIBBONS | O clap your hands [Batei palmas]
Michael TIPPETT | A child of our time: Five Spirituals [Uma criança do nosso tempo: Cinco Spirituals.]
Serviço:
25 de fevereiro, terça-feira, às 20h00
Endereço: Sala São Paulo – Estação CCR das Artes | Praça Júlio Prestes, 16, Luz
Taxa de ocupação limite: 543 lugares
Recomendação etária: 07 anos
Ingressos: R$42,00 (valor inteiro)
Bilheteria (INTI): neste link | (11) 3777-9721, de segunda a sexta, das 12h às 18h.
Estacionamento: R$39,00 (noturno e sábado à tarde) | 600 vagas; 20 para pessoas com deficiência; 33 para idosos.
A Estação CCR das Artes — parte do Complexo Cultural Júlio Prestes — é gerida pela Fundação Osesp, organização social de cultura que mantém contrato de gestão com o Governo do Estado de São Paulo, por intermédio da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo.
A transformação deste patrimônio histórico em sala de espetáculos foi feita graças à parceria da Fundação Osesp com o Governo do Estado de São Paulo e com o Ministério da Cultura, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura. A manutenção pelos próximos três anos acontece graças ao patrocínio institucional do Grupo CCR, também pela Lei Federal de Incentivo à Cultura.
Acompanhe a Osesp: Site | Instagram | YouTube | Facebook | TikTok | LinkedIn.
(Com Fabio Rigobelo/Fundação Osesp)
“A árvore, quando está sendo cortada, observa com tristeza que o cabo do machado é de madeira” – Provérbio popular
A peça ‘Tybyra – Uma Tragédia Indígena Brasileira’, do artista potiguara Juão Nyn, narra o primeiro caso real de LGBTfobia no Brasil, ocorrido entre 1613 e 1614, quando um indígena tupinambá foi morto por soldados franceses, preso à boca de um canhão, após ser acusado de sodomia. O texto, lançado em 2020 pela editora Selo do Burro, ganha o palco do Sesc Avenida Paulista (Av. Paulista, 119 – Bela Vista, São Paulo – SP) entre os dias 7 de março e 6 de abril, após ter feito, no ano passado, seis apresentações em aldeias indígenas em São Paulo por meio do edital Funarte Retomada 2023. O espetáculo tem idealização, dramaturgia e atuação do próprio Nyn, direção artística de Renato Carrera e trilha sonora original de Clara Potiguara.
A história do indígena foi registrada no livro ‘Viagem ao Norte do Brasil – Feita nos anos de 1613 a 1614’, de Frei Yves D’Évreux. Transmitida oralmente em diversos territórios indígenas, foi o antropólogo e ativista LGBT Luiz Mott quem o nomeou Tybyra, termo derivado de ‘tebiró’, que significa ‘homossexual passivo’.
O dramaturgo Juão Nyn relata que, ao descobrir essa história, sentiu a necessidade urgente de criar uma obra a partir dela. Sua pesquisa revelou detalhes ainda mais chocantes, como o fato de a identidade do indígena assassinado ser desconhecida, enquanto o nome do responsável por acender o canhão, Caruatapirã, foi registrado.
Diante disso, Nyn decidiu adicionar uma camada narrativa à peça, transformando o algoz em irmão de Tybyra, numa referência à história bíblica de Caim e Abel. O autor explica que gosta de se apropriar de mitologias cristãs para subverter o imaginário, especialmente pelo fato de o cristianismo ter se apropriado de diversas histórias pagãs.
Sobre a encenação
Para dar o tom da peça, a trilha sonora, criada pela artista paraibana Clara Potiguara, está presente em toda a encenação. As músicas são executadas ao vivo por ela – e algumas delas têm letras em Tupi-Potiguara. “Trouxemos ela de João Pessoa justamente para fazer esse trabalho único para a peça. O resultado ficou lindo e foi a estreia dela no teatro”, afirma o diretor.
O cenário confeccionado por Zé Valdir Albuquerque tem fundo e chão vermelhos. O destaque fica para uma IGAÇABA (jarro) de dois metros de altura que se descobre ser uma urna funerária e também a boca do canhão. Tanto os grafismos quanto os figurinos são feitos por Mara Carvalho. Haverá também projeções mapeadas desenvolvidas por Flávio Alziro MSilva.
“Meu teatro se define como contra-colonial; ou seja, tenho o objetivo de utilizar essa linguagem para devolver a dignidade para os corpos, línguas e culturas indígenas. Por isso, este espetáculo não quer servir ao colonizador e é totalmente falado em Tupi-Potiguara – apenas algumas partes têm legenda em português”, comenta Nyn.
Para Renato Carrera, é simbólico que Tybyra ressurja das cinzas na Avenida Paulista, local que também é palco de violências contra a população LGBTQIAP+. Em 2010, alguns jovens agrediram um homem gay com uma lâmpada. “Queremos dar destaque para essas histórias para que elas não se repitam”, defende.
Manto
Os mantos Tupi faziam parte de rituais coletivos dos povos de mesmo tronco linguístico. Na dramaturgia original Tybyra – Uma Tragédia Indígena Brasileira, o autor Juão Nyn propõe que o artista em cena retorne para agradecer ao público vestindo um manto Tupi, em referência à personagem Tupinambá.
Atualmente, a tradição de confeccionar mantos tem sido retomada por artistas indígenas, como Amotara e Célia, ambas Tupinambá. Além disso, um dos doze mantos roubados pelos europeus retornou ao Brasil em 2024, ano em que se iniciou a montagem de TYBYRA. Inspirado por esse movimento, o artista potiguara concebeu a ideia de um manto construído coletivamente. Assim, o público é convidado a levar uma pena, que será incorporada ao manto ao final de cada apresentação. Dessa forma, a peça transforma-se em um espaço de colaboração e resgate cultural, reafirmando a importância desse símbolo ancestral.
Sobre Juão Nyn
Juão Nyn é um multiartista, e a grafia com ‘y’ em ‘potyguar’ destaca sua origem no Rio Grande do Norte. Por outro lado, Clara, responsável pela trilha sonora original do espetáculo, nasceu na Paraíba e assina ‘potiguara’ com ‘i’. Essa diferença na escrita também reflete a identidade étnica. Juão é militante do Movimento Indígena, como comunicador da APIRN (Articulação dos Povos Indígenas do Rio Grande do Norte), integrante do Coletivo Estopô Balaio de Criação, Memória e Narrativa e vocalista/compositor da banda Androyde Sem Par. Formado em Licenciatura em Teatro pela UFRN, transita há dez anos entre Rio Grande do Norte e São Paulo. Foi Mestre na Escola Livre de Teatro de Santo André no Terreiro Teatro Contracolonyal entre 2022 e 2024.
Escrito por Juão Nyn, o texto Tybyra – Uma Tragédia Indígena Brasileira, lançado em 2020 pela editora Selo do Burro, foi um dos contemplados do edital ProAC Dramaturgias de 2019, sendo distribuído para oito aldeias de São Paulo. Na época, também foram vendidos mais de 2 mil exemplares do livro. Durante a temporada no Sesc Avenida Paulista será feito o relançamento, desta vez em português e Tupi-Potiguara e com dois capítulos extras.
Sinopse | Em 1614, em São Luís do Maranhão, Brasil, preso à boca de um canhão, prestes a ser executado por sodomia por soldados franceses, Tybyra, indígena Tupinambá, propaga as últimas palavras, como se depois de relâmpagos, o som dos trovões saíssem de sua boca. Dramaturgia de estreia do artista potyguara Juão Nyn, uma ficção sobre o primeiro caso de LGBTfobia, com um corpo nativo, documentado no país.
Ficha Técnica
Idealização, dramaturgia e atuação: Juão Nyn
Direção: Renato Carrera
Trilha sonora original: Clara Potiguara
Direção de movimento e preparação corporal: Castilho
Assistência de direção: Jessica Marcele
Concepção de cenário: Juão Nyn e Zé Valdir Albuquerque
Confecção de cenário: Zé Valdir Albuquerque
Figurino, adereços e grafismo: Mara Carvalho
Desenho de luz: Matheus Brant
Desenho de som: Jhow Flor
Produtor musical: Nelson D
Videomaker e projeção mapeada: Flávio Alziro Msilva
Captação de vídeos: Flávio Alziro Msilva e GO Sound Productions
Consultoria de vídeo-projeção: Flávio Barollo
Comunicação Visual e Designer gráfico: Leo Akio
Visagismo: Edgard Pimenta
Assistente de Maquiagem: Júpiter
Trama Manto Tupi: use.agemó
Criação do calçado: Lucas Regal
Costureiras: Lucidalva Silva Souza e Oscarina
Contrarregragem: Zé Valdir Albuquerque
Técnica e operadora de som: Naomi Nega Preta
Assistência e Operação de luz: Juliana Jesus
Consultoria e tradução para Tupi-Potiguara: Romildo Araújo
Voz em off: Flavio Francciulli
Fotos divulgação: Matheus José Maria
Assessoria de imprensa: Canal Aberto – Márcia Marques, Daniele Valério e Flávia Fontes
Produção geral: Tati Caltabiano
Realização: Sesc.
Serviço:
Espetáculo Tybyra – Uma Tragédia Indígena Brasileira
De 7 de março a 6 de abril de 2025 – quinta a sábado, às 20h; domingo, às 18h –
Sessão extra no dia 2 de abril, quarta, às 20h – Sessões com acessibilidade: audiodescrição, 20/3, quinta, às 20h; libras, de 21 a 23/3, sexta a domingo, às 20h.
Local: Arte II (13º andar)
Duração: 60 minutos
Capacidade: 80 pessoas
Classificação indicativa: 16 anos
Ingressos: R$50 (inteira), R$25 (Meia) e R$12 (Credencial plena:). Venda de ingressos online a partir de 18/2, às 17h, e nas bilheterias das unidades a partir de 19/2, às 17h.
Sesc Avenida Paulista
Avenida Paulista, 119, Bela Vista, São Paulo, SP
Fone: (11) 3170-0800
Transporte público: Estação Brigadeiro do Metrô – 350m
Horário de funcionamento da unidade: terça a sexta, das 10h às 21h30; sábados, das 10h às 19h30; domingos e feriados, das 10h às 18h30.
(Com Daniele Valério/Canal Aberto Comunicação)
A Galeria Paulo Kuczynski, referência no mercado de arte brasileira desde sua fundação em 1973, anuncia uma nova fase com a abertura de sua sede ampliada e modernizada. Projetada pelo escritório Reinach Mendonça Arquitetos – RMAA, a nova galeria foi erguida no mesmo local onde o marchand Paulo Kuczynski atuou por cinco décadas com seu Paulo Kuczynski Escritório de Arte. Para marcar essa transição histórica, a galeria apresenta uma exposição inédita dedicada à obra da pintora de origem alemã Eleonore Koch (1926–2018), artista que figurou em algumas edições da Bienal de São Paulo e única discípula do mestre Alfredo Volpi. Intitulada ‘Não são coisas do cotidiano, só parecem’, a exposição promete ser um marco na trajetória da galeria e um tributo à obra desta artista singular, cuja genialidade continua a encantar colecionadores e admiradores em todo o mundo.
Segundo o historiador de arte Giancarlo Hannud, a mostra reúne um conjunto representativo de obras que traçam um panorama da trajetória de Eleonore, desde seus primeiros trabalhos até suas últimas criações. A exposição é um convite para refletir sobre a sensibilidade técnica e emocional da artista, que soube capturar, em cada tela, o ordenamento das coisas do mundo como resposta à desordem ao seu redor.
“Mais de cinquenta anos separam o óleo Natureza-morta (1949) dos primeiros trabalhos sobreviventes de Eleonore Koch, da têmpera Despedida com tulipas (2001), possivelmente sua última obra”, destaca Giancarlo Hannud. “Se em 1949 vemos os passos iniciais da jovem estudante de escultura, já em 2001 testemunhamos o refinamento máximo de sua sensibilidade técnica e emocional, lentamente depurada ao longo de ausências e solidões. Ambas as pinturas destacam sua incessante busca pelo ordenar das coisas do mundo, possivelmente como resposta à desordem ao seu redor. Enigmáticas e distantes, elas nos provocam curiosidade e reflexão sem nunca se entregarem completamente na manipulação de suas cenografias do humano.”
A relação entre Paulo Kuczynski e Eleonore Koch remonta ao final dos anos 1970, quando o galerista adquiriu sua primeira obra da artista: uma tela marcante com uma cadeira vazia e solitária, num cômodo igualmente vazio. “Tive a sorte de comprar minha primeira obra de Eleonore Koch no final dos anos 1970”, relembra Kuczynski. “A cadeira, a única protagonista da cena. Desde então, sempre que olho para a obra, me pergunto a quem essa cadeira aguardava. Quem nela sentaria?”
Ao longo dos anos, a amizade entre eles cresceu, assim como o interesse de Kuczynski pela obra de Eleonore. Entre 2013 e 2015, já debilitada, a artista fez um pedido surpreendente ao galerista: que ele ‘herdasse’ suas pinturas e arquivos pessoais, incluindo cerca de doze telas e centenas de estudos preparatórios. Esse legado agora ganha vida na exposição que inaugura a nova galeria, celebrando a memória e o impacto duradouro de uma das figuras mais enigmáticas da arte brasileira.
Um capítulo especial desta homenagem é a parceria com a colecionadora Clara Sancovsky, cujo olhar precursor foi fundamental para difundir e valorizar a obra de Eleonore Koch. “Se há alguém que difundiu, valorizou e abriu os olhos dos colecionadores para a pintura de Lore, essa pessoa é Clara Sancovsky. Seu olhar precursor flagrou e compreendeu a delicadeza da obra da artista”, escreve Paulo Kuczynski no catálogo da exposição. “É um prazer imenso contar com obras de sua coleção, possivelmente as melhores, somadas às da galeria para esta mostra-homenagem a Eleonore Koch.”
A mostra também resgata parte significativa da história de Eleonore, incluindo sua amizade com Volpi, seus anos em Londres como tradutora na Scotland Yard e sua relação com o aristocrata Alistair McAlpine, mecenas que colecionou várias de suas obras. Infelizmente, grande parte dessa produção foi perdida em um incêndio na casa de campo de McAlpine, em 1990.
A nova sede da Galeria Paulo Kuczynski não apenas celebra meio século de dedicação à arte, mas também projeta o futuro, oferecendo um espaço moderno e acolhedor para artistas e colecionadores. O projeto arquitetônico de Reinach Mendonça une funcionalidade e elegância, criando um ambiente ideal para experiências imersivas com a arte.
Serviço:
Exposição Eleonore Koch – Não são coisas do cotidiano, só parecem
Local: Galeria Paulo Kuczynski
Endereço: Alameda Lorena, 1661
Abertura: 15 de março – 11h às 16h
Período expositivo: 15/3 a 17/5
Horários de visitação: Segunda a sexta-feira, das 10h às 18h30; sábados, das 11 às 15h
Entrada gratuita.
(Com Carolina Amoedo/A4&Holofote Comunicação)
Empreendimentos de turismo e de pesca esportiva apoiados pela Fundação Amazônia Sustentável (FAS), na região do Baixo Rio Negro e na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Uatumã, geraram um faturamento de R$6,3 milhões no período de janeiro a novembro de 2024. O resultado veio em um ano de desafios impostos por mais uma estiagem severa na Amazônia e mostrou a importância do Turismo de Base Comunitária (TBC) para as famílias ribeirinhas que dependem dessa atividade econômica, além de contribuir para a manutenção da floresta em pé.
Por meio do programa ‘Conservação da Amazônia: uma Aliança entre Natureza e Criatividade’, em parceria com o grupo LVMH, a FAS apoiou 25 empreendimentos de turismo com capacitações, beneficiando 17 comunidades situadas em quatro Unidades de Conservação (UCs) do estado do Amazonas.
Na região do Baixo Rio Negro, foram 17 empreendimentos de turismo apoiados, que geraram um faturamento bruto de R$4,56 milhões. A região recebeu um fluxo de 5.910 turistas, beneficiando nove comunidades locais.
Já durante a temporada de pesca esportiva na RDS do Uatumã, foram 12 os empreendimentos do ramo apoiados pela FAS, resultando em um faturamento bruto de R$1,74 milhão e um fluxo de 350 turistas. Ao todo, oito comunidades foram beneficiadas com a atividade.
Capacitações e intercâmbio
Uma das ações de destaque do programa foi a capacitação em gastronomia realizada para um grupo de 22 mulheres que trabalham com o TBC no baixo Rio Negro, na comunidade Tumbira, distante 69 quilômetros de Manaus. Durante quatro dias, as participantes receberam aulas teóricas sobre segurança dos alimentos e reconhecimento de Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs), aulas práticas sobre técnicas de preparo com ingredientes regionais, utilização de PANCs e preparação de cardápios diversificados que atendam clientes com restrições alimentares (como intolerância à lactose) e opções vegetarianas e veganas.
A comunidade do Tumbira também foi espaço para um intercâmbio de conhecimentos sobre TBC entre alunos do curso de Gestão em Turismo da Universidade Nilton Lins, da modalidade presencial, em Manaus, e os alunos da modalidade Ensino a Distância (EaD), que vivem em comunidades ribeirinhas de Unidades de Conservação, no interior do Estado do Amazonas. Ao todo, 38 pessoas participaram do intercâmbio, entre alunos e comunitários, que destacou os potenciais empreendimentos, atrativos culturais e naturais da região.
Foi ofertado o curso de arrais amador para 26 comunitários que atuam com pesca esportiva na RDS do Uatumã. Arrais Amador é uma habilitação náutica que permite a condução de embarcações recreativas, como lanchas, barcos de pesca e veleiros, em águas abrigadas (rios, lagos e baías).
Resiliência
Para o empreendedor Roberto Brito, o ano foi de muito trabalho e superação de desafios. Proprietário da Pousada do Garrido, na comunidade Tumbira, um dos empreendimentos apoiados pela FAS, ele relata que a temporada de 2024 iniciou bem, com destaque para os meses de junho a agosto. A partir de setembro, com a seca dos rios, as atividades turísticas paralisaram. Roberto enfatiza a importância do TBC, não só para a geração de renda, mas também para a conservação da floresta, que contribui para o combate aos efeitos das mudanças climáticas.
“O turismo de base comunitária agrega os três pilares da sustentabilidade, o econômico, o social e o ambiental. Ninguém quer vir de fora ver a natureza destruída, o rio poluído, a floresta queimada. Quanto mais conservado, mais clientes e mais renda. É uma parte que gera muito resultado positivo. Nosso empreendimento faz esses avanços para a melhoria da qualidade de vida das pessoas que trabalham com isso”, explica o empreendedor.
Ele também cita as ações que valorizam a cultura regional, como o curso de gastronomia para mulheres. “A capacitação fortaleceu e trouxe opções que têm na própria comunidade e que as pessoas não usam na culinária. Isso foi ótimo, pois trouxe para os empreendimentos, principalmente os que trabalham com turismo, a melhoria da parte da gastronomia com os ingredientes que já estão aqui na comunidade”, afirmou.
Segundo Wildney Mourão, gerente do Programa de Empreendedorismo da FAS, a força do turismo de base comunitária está não só na capacidade de gerar renda, mas também de ser uma ferramenta de conservação e conservação ambiental.
“Estamos enfrentando eventos climáticos extremos que mostram cada vez mais a importância de manter a floresta em pé para combatermos os efeitos das mudanças climáticas. O TBC é uma das alternativas econômicas neste cenário, pois é uma atividade sustentável, que gera emprego e renda, fomenta os empreendimentos locais e promove a valorização da biodiversidade, envolvendo as comunidades e os turistas que vêm conhecer a nossa região. Os resultados dos empreendimentos de turismo apoiados pela FAS, mesmo num cenário desafiador de seca, demonstram a importância dessa atividade e que é sim possível gerar renda de forma sustentável sem prejudicar a floresta”, declarou.
Sobre a FAZ | A Fundação Amazônia Sustentável (FAS) é uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos que atua pelo desenvolvimento sustentável da Amazônia. Sua missão é contribuir para a conservação do bioma, para a melhoria da qualidade de vida das populações da Amazônia e valorização da floresta em pé e de sua biodiversidade. Com 16 anos de atuação, a instituição tem números de destaque, como o aumento de 202% na renda média de milhares famílias beneficiadas e a queda de 39 % no desmatamento em áreas atendidas.
(Com Emanuelle Araújo Melo de Campos/UP Comunicação)
Por Du Prazeres — A expressão ‘fogo nos racistas’, popularizada em grafites e em músicas de Djonga e da banda Black Pantera (excelentes, por sinal), é uma figura de linguagem, como brilhantemente explicou o escritor Jeferson Tenório tempos atrás. É um grito de resistência contra a discriminação do povo preto, não a busca por violência.
Esta é minha questão: as pessoas não foram ensinadas a perceber a diferença. Não têm, quase sempre, familiaridade com a leitura e nem sabem como interpretá-la. Daí, o sucesso das fake news, ‘informações’ diretas e certeiras: “o político tal fez um projeto liberando o casamento entre pai e filha”. Não há necessidade de ponderação, reflexão. Coisas que deveriam ser reforçadas pela escola. Muitos, quando ouvem ‘fogo nos racistas’, mentalmente legitimam o próprio racismo: “os negros são irracionais, bárbaros violentos”. E só não vocalizam isto, inclusive, porque é crime.
Costumo dizer que a educação é o melhor caminho para evoluirmos como sociedade nesse sentido, afinal, não existem crianças racistas. Elas absorvem falas e gestos dos adultos que as circundam, reafirmando o racismo estrutural. E a escola pode ajudar ao adotar/reforçar práticas antirracistas.
A primeira é o letramento racial de todos os funcionários (para que naturalizem ações afirmativas valorizando a cultura negra), mesmo os racistas. A seguir, criar espaços e momentos que celebrem positivamente a negritude e trazer toda a comunidade escolar para delimitar qual o papel de cada um nesta luta, baseada em empatia e humanidade, com muito papo. Repensar o currículo, realçando a importância dos negros para a formação e a manutenção do país, e criar uma comissão permanente de diversidade, que trate não só de racismo.
Só através da melhoria das condições educacionais é que pode haver uma mudança significativa para libertar os negros dos grilhões de uma sociedade que se mantém, de certa forma, também, pela supressão de seus direitos. Quando todos aprenderem a ler e a interpretar a expressão ‘fogo nos racistas’, ela não mais precisará existir.
*Du Prazeres é professor universitário e autor do livro ‘Antirracismo em contos leves’.
(Com Maria Clara Menezes/LC Agência de Comunicação)