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Série ‘Damas do Samba’ é um dos destaques na programação do SescTV em junho

São paulo, por Kleber Patricio

Cena da série “Damas do Samba”. Crédito: Divulgação.

O SescTV apresenta ‘Damas do Samba’ na programação do mês de junho. Com produção da Modo Operante Produções, a série conta, em quatro episódios, histórias centradas nas mulheres e nas grandes escolas de samba cariocas. Dirigida e roteirizada por Susanna Lira, a série está disponível sob demanda no site do canal.

Os capítulos narram, por meio de depoimentos, entrevistas e imagens, a história, o trabalho e a vida de compositoras, passistas, porta-bandeiras, pastoras da comunidade, musas, tias, intérpretes, carnavalescas, aderecistas, bordadeiras e muitas outras. De personalidades como Leci Brandão, Jovelina Pérola Negra, Clara Nunes às novas integrantes das escolas, fala-se sobre as raízes do samba, as vozes femininas, o trabalho nos bastidores e o futuro das escolas.

Essa retrospectiva histórica do samba, com enfoque na participação feminina em sua construção e seu desenvolvimento até os dias de hoje, faz parte da programação dos 13 aos 20 (Re)Existência do Povo Negro, apresentando conteúdos sobre personalidades negras. A ação do SESC São Paulo se refere aos marcos 13 de maio e o 20 de novembro, e tem como objetivo o fortalecimento e reconhecimento das lutas, conquistas e manifestações do povo negro, bem como o fomento à igualdade, contribuindo para uma sociedade livre do racismo e de outras formas de dominação.

O primeiro episódio, “As Raízes do Samba”, mostra a trajetória do samba começando com Tia Ciata, dona da casa onde foi criado “Pelo Telefone”, o primeiro samba gravado em disco. A narrativa trata das origens do samba através de relatos sobre as primeiras mulheres negras desembarcadas na Praça XI, no Rio de Janeiro, trazendo consigo a cultura da culinária, das ervas, do saber popular, do prazer sexual e a possibilidade da continuidade histórica por meio da música.

Cena da série “Damas do Samba”. Crédito: Divulgação.

“Vozes Femininas do Samba” analisa o surgimento, atuação e as dificuldades encontradas pelas mulheres compositoras no ato de criação e os problemas para divulgar suas canções e músicas, num ambiente até então exclusivamente masculino. Destaca ainda o papel de mulheres que se tornaram expoentes nesse campo, como Dona Ivone Lara e Leci Brandão.

No terceiro episódio, “Estandartes do Samba”, destacam-se as várias facetas das mulheres que trabalham nos bastidores dos desfiles de carnaval, passando dias nos barracões empenhadas para o sucesso do desfile, seja na concepção criativa da ideia, seja como operárias do samba. Grandes carnavalescas, como Márcia Lage e Rosa Magalhães, falam sobre o processo de criação. O capítulo explica também a origem do porta-bandeira, que remete à nobreza do século XVIII. Traz ainda as passistas, que são consideradas um ícone do carnaval.

Em “Musas e Herdeiras do Samba”, quarto e último episódio, são retratadas as herdeiras do samba. Meninas e mulheres que carregam – por opção e tradição – o amor ao samba. Revela bastidores da Filhos da Águia, o dia a dia de trabalho de Nilce Fran, que ocupa o cargo de presidente da escola mirim da Portela. Acompanha alguns instantes do desfile e apresenta meninas como Luany Carvalho e reproduz depoimentos de mulheres como Cecília Rabello, filha de Paulinho da Viola; Juliana Diniz, neta de Monarco e filha de Mauro Diniz; e Clarisse Nogueira, filha de João Nogueira.

Serviço:

Damas do Samba, no SescTV

Disponível sob demanda no site

Episódios:

As raízes do samba – (23 minutos)

Vozes Femininas do Samba – (23 minutos)

Estandartes do samba – (23 minutos)

Musas e herdeiras do samba – (23 minutos)

Direção: Susanna Lira | Brasil | 2021 | Documentário | 10 anos

Disponível a partir de domingo, dia 5 de junho. Grátis.

Ficha técnica:

Direção e roteiro: Susanna Lira

Produtora: Modo Operante Produções

Realização: SescTV

Para sintonizar o SescTV: ao vivo e também disponível sob demanda no site  

Redes do SescTV:

Twitter: @sesctv

Facebook: /sesctv

Instagram: @sesctv.

(Fonte: Agência Lema)

Festival Re-Volta! dos Toninhos retorna à Estação Cultura

Campinas, por Kleber Patricio

Fotos: divulgação.

O Festival Re-Volta! dos Toninhos retoma à Estação Cultura neste final de semana, de sexta-feira, 10 de junho, a domingo, dia 12, com shows musicais, exibição de filmes produzidos no local, performance teatral, projeções, dança de rua, cultura hip-hop, capoeira, atrações para crianças, artistas plásticos, poesia, sarau, sound system e atividades culturais diversas.

A entrada é gratuita e o local das atividades, como o próprio nome diz, será na Sala dos Toninhos, espaço situado na Estação Cultura, onde o evento é realizado desde 2013. O festival está sendo organizado pela Rede Usina Geradora de Cultura, coletivo formado por artistas, produtores e produtoras de variadas linguagens. A Secretaria Municipal de Cultura e Turismo apoia a iniciativa. A programação contará também com a participação de parceiras convidadas que dialogam com os conceitos do espaço, neste evento de Re-Volta!

Haverá exposição com artistas das mais variadas artes plásticas, fotografia e áudio visual. São obras em óleo sobre tela, ilustração, graffiti, arte psicodélica, arte abstrata, live paint (pintura ao vivo), fotografia, projeções, bomb (um tipo de graffiti mais voltado pra pintar nomes dos artistas ou dos grupos que fazem parte com formatos e contornos sobre um fundo delimitando essa pintura) e pixo (criação de tipografia em espaços urbanos e geralmente os estilos das letras têm características diferentes em cada região influenciado pela cultura local).

Os artistas convidados para a exposição no Festival Re-Volta! dos Toninhos são D!Nk, Maicongo, Nus, João Bosco, Sono, Sheip, Maria Helena, Eni, ruas, Benson, Emanuel Rubin, Chatt, Deztrui, Soma, Grrl, Epifania, Kadu, Carriero, Tiago César, Totenpix, Zerrê, Nan, Slim, Mirs, Seo Constanti, Marcia Camargo, Vice Magalhães, Caio Boteghim, Acácio Pereira, Kranium, Araniat, Pontes, Caio Manhani, Matheus Junco, Vj Suiço, Neo, Gambiarra Genérica, Miss, Gang e João Paulo.

Na programação do Festival Re-Volta! dos Toninhos também está prevista a apresentação de Ruffneck Sound System (Sound System, Reggae, dub). Na cultura popular jamaicana, um sistema de som (sound system) é um grupo de disc jockeys, engenheiros e MCs tocando ska, rocksteady ou reggae.

PROGRAMAÇÃO

Sexta-feira – 10/6

14h – Reunião Exposição Re-Volta!

15h – Som ambiente/DJ

17h30 – Mano Eltu Marreta (show de rabeca)

18h – DJ Peixoto

20h – Veri Weinlich (show música brasileira)

21h30 – DJ Flavio Rude

Projeções – VJ Suiço

Teatro – Marupá Encantado (teatro popular, intervenções, recreação)

Exposição – Artistas plásticos, Live paint, Graffitti, Arte Abstrata, Ilustração, Bomb e Pixo

Sábado 11/6

14h – Sarau Nois por Nois (NPN019) Coletivo SocioCultural

15h – Slam Poesia Estação Marginal

16h – Rapsicopatas e MCs convidados

17h – DJ Majestade Babilônia (LGBTQIA+)

18h – DJ Crespa (LGBTQIA+)

19h – DJ Rogin

20h – DJ Barata

21h – Marília Corrêa (show música brasileira)

Projeções: Cine preto Cena preta

Teatro: Marupá Encantado (teatro popular, intervenções, recreação)

Dança: Simple Unit Team

Exposição: Artistas plásticos, Live paint, Graffitti, Arte Abstrata, Ilustração, Bomb, Pixo

Domingo 12/6

15h – Sarau Feminino “Mamilos Poéticos”

16h às 22h – Ruffneck Sound System: (Sound System, Reggae, dub)

DJ Clandestina

DJ Flavio Rude

DJ Raquel Ruff

Sammy Bee (MC/SingJay)

Projeções: Cine preto Cena Preta

Teatro: Marupá Encantado (teatro popular, intervenções, recreação)

Exposição: Artistas plásticos, Live paint, Graffitti, Arte Abstrata, Ilustração, Bomb e Pixo.

(Fonte: Secretaria de Comunicação | Prefeitura de Campinas)

Como o desmatamento e as mudanças climáticas transformam a Floresta Amazônica em fonte de carbono para a atmosfera

Amazônia, por Kleber Patricio

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil.

Por Luciana V. Gatti, Luiz Aragão e Marcos H. Costa – A Amazônia, maior floresta tropical do mundo, estende-se por oito países e um território da América do Sul. Esta floresta não é apenas um conjunto de árvores, é sobretudo um enorme reservatório de carbono (150 a 200 bilhões de toneladas) e de biodiversidade. Cerca de 50% do peso de cada árvore desta imensa floresta, incluindo as raízes, troncos, galhos e folhas, é composto de carbono. Devido a sua enorme extensão, cobrindo cerca de 7 milhões de km² e metade da área de florestas tropicais no planeta, o funcionamento da Floresta Amazônica está intimamente interligado ao clima.

A perda de 18% da Floresta Amazônica, cerca do total desmatado até o presente, além de 17% de florestas degradadas, não significa apenas perder uma grande quantidade do total de carbono estocado na floresta, mas também significa perder em torno de 1/3 da sua contribuição na produção das chuvas, devido à evapotranspiração das árvores, além de também perder biodiversidade e serviços ambientais essenciais para a sociedade.

Enquanto as raízes retiram água do solo e as folhas lançam vapor d’água na atmosfera, a superfície terrestre é resfriada, pois a água necessita de energia para evaporar. Uma árvore de médio porte, com uma copa de 5 m de diâmetro, produz um resfriamento da ordem de 2200 W, o mesmo que um aparelho de ar-condicionado de 7500 Btu/h. Por isto, a floresta ao mesmo tempo produz chuva e reduz a temperatura regional. Nossa gigantesca Floresta Amazônica, ao produzir chuva, exerce um importante papel de regular o clima, tanto em nosso continente como no globo. Podemos, portanto, comparar a Amazônia a uma fábrica de chuva, que produz cerca de três milhões de litros de água por dia por km², e cerca de 21 trilhões de litros de água considerando toda sua extensão, funcionando como um climatizador natural, protegendo o planeta contra as mudanças climáticas, ajudando a produzir chuva, reduzindo a temperatura e ainda absorvendo carbono enquanto as árvores estão crescendo.

O desmatamento que atinge a Amazônia concentra-se em regiões com infraestrutura para escoar a produção agropecuária e mineral, como estradas, portos e energia elétrica. Nos últimos 40 anos, a região leste da Amazônia perdeu entre 30-40% de sua floresta e foi observada uma redução de chuvas (30-40%) e um aumento de temperatura de 2 a 2,5˚C durante a estação seca, nos meses de agosto, setembro e outubro. Estas mudanças afetam negativamente as árvores reduzindo a fotossíntese – processo pelo qual as plantas absorvem o CO2 (dióxido de carbono) da atmosfera – podendo até mesmo resultar na mortalidade dessas árvores. Um estudo utilizando 9 anos (2010-2018) de medidas de CO2 com aeronaves, concluiu que, na média, a Floresta Amazônica consegue absorver apenas 1/3 do total emitido pelas atividades humanas na região, em especial, devido ao desmatamento seguido de queimadas. No sudeste da Amazônia, região que apresenta a maior mudança no clima, com grande redução de chuva e aumento de temperatura, a própria floresta se transformou em uma fonte de carbono para a atmosfera. Nesta região, os processos florestais naturais representam 1/3 das emissões totais e as emissões humanas são responsáveis pelos 2/3 restantes. E assim, nesta região, a Floresta Amazônica, de protetora das mudanças climáticas, passa a ser um acelerador das mudanças climáticas emitindo 1,06 bilhões de toneladas de CO2 ao ano, contribuindo com o aquecimento do planeta, alterando os padrões das chuvas e ajudando a aumentar a temperatura.

Considerando que a agricultura no Brasil movimenta 500 bilhões de reais em exportações, manter as condições climáticas ideais é essencial para essa atividade. Para tal, precisamos valorizar nossas florestas e entender que já desmatamos a Amazônia mais do que deveríamos. Nos últimos três anos o desmatamento foi muito intenso e acelerado e os eventos extremos de chuvas e secas intensas também se aceleraram. Os lucros do desmatamento beneficiam poucas pessoas, com retorno questionável para a nação e trazendo prejuízos ecológicos, sociais e financeiros para a sociedade em geral, que estão cada vez mais bem caracterizados pela ciência. Manter a floresta protegida produz para a economia até US$ 737 (R$3 mil) por hectare por ano. A conversão de floresta para pecuária gera em média apenas US$40 (R$167) por hectare por ano.

Os países Amazônicos são privilegiados ambientalmente e devem utilizar esta vantagem para desenvolverem-se de forma sustentável e contribuírem com a transição global para uma sociedade em que os componentes ambientais, sociais e econômicos sejam equilibrados. A preservação dos estoques de carbono, ao zerar o desmatamento e a degradação florestal e a restauração florestal podem gerar recursos por meio de iniciativas globais de proteção do clima em associação com planos nacionais de pagamentos por serviços ambientais e implementação de uma nova bioeconomia baseada na floresta em pé. Por meio do uso dos recursos locais e incentivos econômicos adequados pode-se criar um mercado sustentável inovador para os países Amazônicos.

Precisamos valorizar a Floresta Amazônica, pois este tesouro da Terra é um grande trunfo para colocar o planeta rumo a um futuro sustentável.

Sobre os autores:

Luciana V. Gatti é química, pesquisadora titular e coordenadora do Laboratório de Gases de Efeito Estufa do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, em São José dos Campos. Investiga as emissões/absorções de CO2, CH4, N2O e CO da Amazônia e quais são os fatores que interferem nestes processos. Luciana é autora dos capítulos 5, 6, 6.1 e 7 do Relatório de Avaliação da Amazônia 2021 produzido pelo Painel Científico para a Amazônia.

Luiz Aragão é biólogo, chefe da Divisão de Observação da Terra e Geoinformática do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, em São José dos Campos. Sua pesquisa busca entender as causas e consequências das mudanças ambientais em ecossistemas tropicais, especificamente utilizando satélites e pesquisas de campo na Amazônia. Aragão é autor dos capítulos 6, 6.1 e 19 do Relatório de Avaliação da Amazônia 2021 produzido pelo Painel Científico para a Amazônia.

Marcos H. Costa é engenheiro e professor titular da Universidade Federal de Viçosa. Sua pesquisa foca no uso de vários tipos de modelos ambientais, sensoriamento remoto e dados de campo para estudar as relações entre mudanças climáticas, mudança de uso da terra e o clima, recursos hídricos, agricultura e ecossistemas naturais. Marcos é autor dos capítulos 5, 6, 7 e 23 do Relatório de Avaliação da Amazônia 2021 produzido pelo Painel Científico para a Amazônia.

(Fonte: texto originalmente publicado no Nexo Políticas Públicas e na Agência Bori)

Mulheres no “olho do furacão”: a costura de sistemas agroalimentares sustentáveis em tempos de pandemia

Brasil, por Kleber Patricio

Foto: Gabriel Jimenez/Unsplash.

Por Rodica Weitzman — A pandemia trouxe à tona vulnerabilidades socioeconômicas latentes, que se revelam dentro de um furacão que arrastou famílias de comunidades rurais e urbanas, com diferentes graus de intensidade, pela força de sua ventania devastadora. As repercussões nocivas desta crise certamente têm ganhado mais atenção nas narrativas dos veículos de comunicação. Elas, no entanto, nem sempre dão voz aos sujeitos diretamente envolvidos.

O outro lado, que precisa ser mais bem visibilizado, é composto por coletivos, redes e movimentos sociais – muitos protagonizados por mulheres – que constroem estratégias que podemos nomear de gestos de “cuidado coletivo”, envolvendo a produção, doação, troca e comercializacão de alimentos agroecológicos. São movimentos que lutam pela segurança e soberania alimentar e pela defesa dos territórios.  Ao jogar luz nestas práticas, podemos ressignifica-lás como formas de resistência e de re-existência que ganham expressividade em situações vivenciadas “no olho do furacão” – perante os altos índices de insegurança alimentar e pobreza que se agravaram ao longo da pandemia e que se conjugam, de maneira perversa, com a privação de direitos.

Pesquisas realizadas com mulheres de diversas comunidades rurais e urbanas em 2020 demonstram que as expressões espontâneas de cuidado passam a ser compreendidas como estratégias de sobrevivência e de ação política durante a pandemia. É importante pontuar que essas expressões do “cuidado”, historicamente invisibilizadas como formas e trabalho, se revelam no cerne destes coletivos, envolvem dimensões dos afetos e são atravessadas por relações de reciprocidade – doações e trocas.

Neste contexto, são as mulheres que se colocam na linha de frente. Pesquisa sobre impactos da Covid-19 realizada por integrantes da Rede Feminismo e Agroecologia do Nordeste, por exemplo, mostrou que 75,2% das mulheres rurais da região nordeste do Brasil participaram de atividades vinculadas a algum movimento social ou associação, sendo que 43% estavam envolvidas em grupos de mulheres ou comunitários que buscam gerir ações contra os efeitos da Covid-19, como estratégias de enfrentamento da emergência sanitária e de repartição de alimentos nos seus territórios. Esse tipo de participação feminina se replica em diversos territórios.  Por exemplo, 93 mulheres agricultoras da Associação dos “Moradores e Pequenos Produtores do Estado do Piauí” (AMPEPI), que lideram um empreendimento produtivo com famílias em três territórios rurais da região semiárida envolvendo o cultivo de uma diversidade de culturas nos quintais, relatam que, durante a pandemia, estiveram ativamente envolvidas em uma campanha contra a fome que envolveu a doação de alimentos para os grupos sociais que vivem nas periferias das cidades. Também conseguiram ativar o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) em dois municípios, uma solução que lhes ajudou a ampliar os seus espaços para comercialização, especialmente diante da suspensão das feiras, devido ao cumprimento das regras de isolamento social.

Outro caso ilustrativo é do Centro de Integração na Serra da Misericórdia na região metropolitana do Rio de Janeiro (CEM), que também conta com o protagonismo das mulheres nas suas iniciativas. Desde março de 2020, o CEM se envolveu ativamente em um processo de doação de alimentos agroecológicos via o projeto “Campo e Favela de mãos dadas contra o corona e a fome”, promovido pela Rede Ecológica. Ana Santos, representante do CEM, conta que, durante esse período, as entregas quinzenais de alimentos agroecológicos para 200 famílias — com foco maior nos grupos sociais mais vulneráveis: mães solteiras, idosos e crianças — promoveram uma interação entre diversos/as agricultores/as de outras regiões. Houve outros desdobramentos, como o fortalecimento dos processos produtivos dentro dos quintais da comunidade local, nos quais as mulheres exercem um papel central nos processos de cultivo de uma diversidade de plantas alimentícias e medicinais e nas práticas de doação e troca de sementes e mudas com parentes e vizinhos. De acordo com Ana Santos, “os quintais entraram em cena com muita força” durante o período da pandemia, de modo que fortaleceram as ações territoriais nas bases da agroecologia.

As estratégias organizativas no âmbito territorial que testemunhamos ao longo da pandemia nos diferentes territórios do Brasil nos revelaram que as manifestações de cuidado — esse trabalho valioso de “cuidar um/a do/a outro/a”, em todos os sentidos — é central para a sustentação da ação política, da preservação da sociobiodiversidade e da segurança alimentar e nutricional.  As mulheres atuam como verdadeiras “guardiãs” do tecido socioambiental dos territórios rurais e urbanos, que preservam e sustentam os bens comuns, revelando os diversos significados dos alimentos na costura de novas relações sociais.

Sobre a autora | Rodica Weitzman é doutora em Antropologia Social (PPGAS-MN/UFRJ) e é pós-doutoranda do Programa de Pós-Graduação de Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). É pesquisadora afiliada ao Núcleo de Antropologia da Política (UFRJ) e ao Núcleo “Gênero e Ruralidades” (UFRRJ), integrante do GT de Mulheres da ANA – Articulação Nacional de Agroecologia, Conselheira do CONSEA-Rio e integrante de AMA-AWA – Aliança de mulheres em Agroecologia no âmbito da América Latina.

(Fonte: Agência Bori)

Inhotim recebe doação da coleção de Bernardo Paz

Brumadinho, por Kleber Patricio

Fotos: divulgação/Inhotim.

A partir de junho, o Instituto Inhotim inaugura um novo momento de sua história. O empresário, colecionador, mecenas e fundador do Inhotim Bernardo Paz transfere de forma definitiva para a instituição uma inestimável coleção composta de aproximadamente 330 obras de sua coleção de arte contemporânea nacional e internacional, incluindo todas as 23 galerias e obras permanentes do museu e a área de 140 hectares, que compreende todo o jardim botânico com mais de 4,3 mil espécies de diversos continentes.

A doação de Bernardo Paz encabeça o projeto O Inhotim de Todos e Para Todos, que tem como objetivo fortalecer a vocação pública da instituição, seu caráter de museu vivo e seu colecionismo ativo. Seu escopo também compreende a constituição de uma nova e moderna governança, com ampla representatividade da sociedade civil, e liderada pela nova diretoria do Instituto Inhotim – Lucas Pessôa, Paula Azevedo e Julieta González – que assumiu em janeiro de 2022. A reformulação também tem como premissa institucionalizar, cada vez mais, as ações do museu, de forma a garantir sua perenidade, sustentabilidade financeira, democratização do acesso e ampliação da programação artística e socioeducativa.

“A doação e a abertura do Inhotim à sociedade é um processo que começou há muito mais tempo, quando o Bernardo decidiu generosamente abrir sua coleção privada à visitação pública, em 2006. De lá pra cá, foram quase 4 milhões de visitantes em seus 15 anos, além de mais de 800 mil crianças, adolescentes e adultos atendidos em programas socioeducativos. Portanto, apesar de ser uma instituição privada, sua atividade fim é pública”, afirma Lucas Pessôa, diretor-presidente do Inhotim. “A doação e a nova governança consolidam esse processo e reafirmam essa vocação pública do Inhotim, preparando a instituição para o futuro a partir de uma relação mais aberta e permeável com a sociedade e do fortalecimento das bases para sua sustentabilidade”, completa.

De Bernardo Paz para Todos – a doação

A coleção de arte contemporânea de Bernardo Paz é uma das maiores e mais importantes do Hemisfério Sul, com esculturas, instalações, fotografias, vídeos, pinturas e desenhos de expoentes da cena nacional e internacional, como Anri Sala, Arthur Jafa, Babette Mangolte, Chris Burden, Dan Graham, David Lamelas, Do-Ho Suh, Ernesto Neto, Mathew Barney, Nelson Leirner, Rosana Paulino, Olafur Eliasson e Yayoi Kusama. A lista reúne trabalhos inéditos da coleção de Paz, nunca expostos no Inhotim.

A doação, de caráter definitivo e irrevogável, contempla também as galerias emblemáticas de artistas como Adriana Varejão, Carlos Garaicoa, Cildo Meireles, Doug Aitken, Lygia Pape, Matthew Barney, Miguel Rio Branco, Valeska Soares, Rivane Neuenschwander e Tunga, entre outros. A transferência dessas obras e galerias, algumas com projetos arquitetônicos premiados, representam um marco para a cultura brasileira: Inhotim passa a ser a única instituição do Brasil onde a arte contemporânea internacional está em exibição permanente para o público.

“O Inhotim nasceu de um projeto de vida e foi se ampliando ao longo dos anos. A doação é um processo natural desse percurso. O Inhotim não é meu, Inhotim é de todo mundo”, afirma Bernardo Paz, fundador do Instituto.

Para Julieta González, diretora artística do museu, “a doação contribui para tornar o Inhotim um museu mais ativo, com uma programação pública mais intensa, mudanças mais dinâmicas nas galerias, colaborações com outras instituições, uma integração ainda maior entre arte e natureza e com as comunidades do entorno”, pontua.

Atrelada à configuração do Inhotim, que integra arte e natureza no mesmo diapasão, a coleção de Botânica de Bernardo Paz será integralmente doada e incorporada ao Instituto. Ela compreende mais de 4,3 mil espécies de diversos continentes espalhadas pelos 140 hectares do Inhotim – algumas raras e ameaçadas de extinção – e uma das maiores coleções de palmeiras do mundo, além de três viveiros, laboratório de botânica e oito jardins temáticos.

Nova e moderna governança – Um Museu Vivo e Perene para Todos

Com a chegada da nova diretoria em janeiro de 2022, o Inhotim deu início a um processo de ampliação da participação da sociedade civil. Para isso, uma das primeiras medidas foi a constituição de uma nova e moderna governança por meio da formação de um novo Conselho Deliberativo. Trata-se de um grupo amplo e representativo, que passa a integrar a instância máxima de gestão da instituição atuando como guardião da nova governança do museu e contribuindo para sua perenidade.

Segundo Paula Azevedo, diretora vice-presidente do Inhotim, “o novo processo de institucionalização e de doação do Bernardo resultou em uma grande aproximação da sociedade civil, com a formação de um novo Conselho Deliberativo, o fortalecimento dos programas de captação de pessoas físicas como o patronato, o programa de Amigos do Inhotim e de captação pessoa jurídica que, juntos, refletem a potência do Instituto na sociedade”.

A nova governança, que contou com a participação do escritório BMA Advogados para a sua estruturação jurídica, também vem se dedicando a buscar modelos que garantam a sustentabilidade financeira do Inhotim. Atualmente, dos recursos mantenedores da instituição, que promove um significativo e positivo impacto socioeconômico na população local, entre 60 e 70% são oriundos de doações diretas, sem incentivo fiscal, realizados por Bernardo Paz.

O novo Conselho terá Bernardo Paz como presidente e o empresário mineiro Eugênio Mattar como vice-presidente. Junto a eles estarão 18 pessoas, entre executivos de diversos setores e agentes culturais como Jandaraci Araújo, cofundadora do Conselheiras 101 – programa que visa a inclusão de mulheres negras em conselhos de administração – e CFO da 99jobs; Susana Steinbruch, colecionadora e conselheira fundadora da Fundacción Museo Reina Sofia e Guilherme Teixeira, diretor da Barbosa Mello Construtora.

O Conselho passa a ser a instância máxima da instituição, com mandatos alternados e estabelecidos, assegurando sua constante renovação. O grupo, neste momento constituído por 20 pessoas – que deverá ser ampliado até o fim do ano com mais 10 integrantes –, terá mandatos temporários, renovados de três a quatro anos. O novo Conselho será responsável pelas deliberações administrativas e financeiras do Instituto, mas não terá papel decisório na programação cultural, que se mantêm independente e organizada pela diretoria artística. Além do grupo Deliberativo, o Inhotim também terá um Conselho Fiscal, com a função de acompanhar e fiscalizar as prestações de contas e a organização financeira da instituição.

A contribuição financeira do Conselho – que tem caráter simbólico ao fortalecer o engajamento dos conselheiros e reforçar o sentimento de que eles estão a serviço da instituição – vai muito além dos recursos financeiros. Composto por pessoas da área ambiental, cultural e social, cerca de 30% desses conselheiros serão isentos de contribuição para que a instituição possa ter a presença de outros perfis que colaborem com seu notório saber, além de tornar essa instância da governança mais plural e representativa.

A chegada dos novos membros do Conselho tem como uma de suas principais missões o aumento da superfície de contato com a sociedade civil, por meio da participação ativa de seus representantes e de medidas que tragam a sociedade como um todo como parte do Inhotim.

O Instituto Inhotim conta com apoio do Instituto Cultural Vale, Itaú, Cemig e CBMM.

(Fonte: Instituto Inhotim)