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Mostra crítica sobre a produção do pintor francês Paul Gauguin no MASP entra nas últimas semanas

São Paulo, por Kleber Patricio

Paul Gauguin, Pobre Pescador, 1896. Acervo MASP. Foto: João Musa.

O MASP — Museu de Arte de São Paulo “Assis Chateaubriand” apresenta, até 6 de agosto de 2023, a mostra “Paul Gauguin: o outro e eu”, que ocupa o espaço expositivo no 1º andar do museu. Com curadoria de Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP, Fernando Oliva, curador, MASP e Laura Cosendey, curadora assistente, MASP, a exposição reúne 40 obras, entre pinturas e gravuras, e discute de maneira crítica a relação do artista pós-impressionista com a ideia de alteridade e da exotização do “outro”. O projeto, que inclui ainda o lançamento de um catálogo com ensaios inéditos e 151 imagens, enfrenta questões que por muito tempo foram deixadas de lado nas exposições sobre Paul Gauguin (Paris, França, 1848–Ilhas Marquesas, Polinésia Francesa, 1903), especialmente o modo problemático como sua obra reforçou um imaginário sobre o “outro”, além das tensões entre sua biografia e a imagem que criou de si. A mostra tem patrocínio master do Bradesco e patrocínio da Vivo e Mattos Filho.

Gauguin realizou no Taiti suas pinturas mais conhecidas, representando tanto as paisagens do lugar, como seu povo e seus costumes. “Sua produção desse período suscita temas como as contestadas noções de primitivismo, um imaginário sobre o ‘exótico’ e os ‘trópicos’ e apropriação cultural; além de questões relacionadas à sexualidade, androginia e erotização do corpo feminino. Apesar de muitas vezes terem sido tomadas por reproduções fiéis da Polinésia Francesa, essas obras carregam em si as fantasias que um homem branco e europeu tinha de uma região considerada paradisíaca, intocada pela ‘civilização’ europeia”, analisam os curadores Fernando Oliva e Laura Cosendey.

“Paul Gauguin: o outro e eu” é a primeira exposição no Brasil a abordar de maneira crítica os conteúdos centrais da obra do artista, com foco em dois temas emblemáticos que emergem no conjunto apresentado no MASP: os autorretratos e os trabalhos produzidos durante sua permanência no Taiti (Polinésia Francesa), que se tornaram alguns dos mais conhecidos de sua trajetória. Dentre os 40 trabalhos da exposição, dois deles pertencem ao acervo do MASP: “Autorretrato” (perto do Gólgota) e “Pobre pescador”, ambos de 1896. Os demais são empréstimos de 19 instituições internacionais de renome, como Museu d’Orsay (Paris, França), Metropolitan Museum of Art (Nova York, EUA), Getty Museum (Los Angeles, EUA), Museum of Fine Arts (Budapeste, Hungria), National Gallery e Tate (ambas em Londres, Reino Unido).

Em “Autorretrato” (perto do Gólgota), adquirido pelo MASP em 1951, o artista sintetiza e faz transcender o próprio tema do “outro e eu” ao retratar-se com características semelhantes à figura de Jesus, com cabelos longos e túnica, e localizado próximo ao calvário, como enunciado no título da obra. Soma-se a esses elementos o seu “perfil inca”, sempre demarcado em seus autorretratos, acentuando os traços retos de seu nariz – identidade reivindicada por ele, que não se identificava como um típico artista parisiense.

O impacto causado por sua obra pictórica, que inaugurou um novo pensamento sobre pintura e apropriação de imagens, também repercute em suas escolhas de vida, que ainda hoje são motivo de debate, sendo determinantes para a visão criada sobre sua figura. A “genialidade incompreendida”, que o artista alegava, o não pertencimento a uma “civilidade” europeia, a entrega de sua pintura à visualidade de universos longínquos e pouco desbravados eram frequentemente performados pelo próprio artista.

“Como resultado de amplas pesquisas iconográficas, conhecemos inúmeras referências da cultura visual usadas por Gauguin – seu ‘museu imaginário’ – complementando aquelas que foram encontradas entre pertences do artista em seu ateliê após sua morte. A mesma reprodução de imagens também acontece no corpo de seu trabalho: pinturas com personagens individuais ou pequenos grupos são replicadas em outras obras, até chegarem a composições maiores como em ‘Faa Iheihe’ (1898). O artista recombina suas figuras com variações sutis. Passa a não apenas citar a obra de outros artistas, mas a sua própria, numa espécie de diálogo consigo mesmo”, pontuam os curadores.

Influências egípcias e japonesas também surgem na combinação de imagens de referências artísticas e fotográficas de Gauguin, o que é evidenciado em “Pobre pescador” (1896). A personagem central foi retirada de uma representação do faraó Seti I em um dos relevos do Templo de Abidos, sendo representada de perfil e com um gestual geometrizado. No que concerne à vista ao fundo, o artista foi influenciado pelas composições das gravuras ukiyo-e japonesas, “empilhando” as camadas da paisagem no sentido vertical da composição, além de trazer um tratamento característico da mesma visualidade para elementos naturais, como as montanhas e o quebrar da espuma das ondas do mar. Há outro elemento que adiciona mais uma camada às citações: “Pobre pescador” também era o título de uma pintura de 1881 feita por Puvis de Chavanne (1824–1898), uma referência na pintura europeia, da geração anterior à de Gauguin.

Nascido em Paris, Gauguin dedicou-se, sobretudo, à pintura, sendo considerado uma figura emblemática na história da arte por destacar-se das convenções pictóricas do século 19. Viveu parte de sua infância no Peru e foi somente aos 35 anos que passou a se dedicar exclusivamente ao trabalho artístico. Passou algumas temporadas em regiões da França, como Bretanha e Arles, onde conviveu com o artista holandês Vincent van Gogh durante os intensos meses em que dividiram um ateliê.

Frustrado com a cena artística da metrópole parisiense e passando por dificuldades financeiras, o artista nutria o desejo de partir em busca de outra experiência de mundo, na qual pudesse aliar sua pintura a um imaginário para além dos padrões da cultura europeia. Foi assim que Gauguin viajou ao Taiti, na Polinésia Francesa, em 1891 e, após um intervalo de dois anos em Paris, retornou ao Pacífico para lá permanecer até a sua morte, em 1903, nas Ilhas Marquesas.

“Paul Gauguin: o outro e eu” faz parte de uma série de mostras que, desde 2016, com “Histórias da Infância”, procura analisar, a partir de perspectivas críticas, artistas europeus canônicos pertencentes ao acervo do MASP, problematizando essas obras da tradição à luz de questões contemporâneas. Essas mostras individuais são colocadas em diálogo com o ciclo anual de exposições do museu, como já aconteceu com “Toulouse-Lautrec em vermelho” (ano de “Histórias da sexualidade”, 2017) e “Degas” (ano de “Histórias da dança”, 2020). “Paul Gauguin: o outro e eu” integra a programação anual do MASP dedicada às Histórias indígenas. Este ano, a programação também inclui mostras de Carmézia Emiliano, MAHKU, Sheroanawe Hakihiiwe e Melissa Cody, além do comodato MASP Landmann de cerâmicas e metais pré-colombianos e a grande coletiva “Histórias indígenas”.

“O próprio estatuto tanto do autorretrato como de Gauguin enquanto artista moderno, carregado de críticas e polêmicas, ultrapassa a condição de sua mera permanência na pinacoteca do segundo andar do museu, onde atravessou placidamente as sete últimas décadas, para reencontrar, neste início de século 21, um contexto artístico e museológico em plena desconstrução, onde há muitos “outros” a serem contemplados, e onde Gauguin e seus modos de enxergar a si e ao outro podem ser reinseridos de novas e inesperadas maneiras, com a diferença que, de agora em diante, ele não será mais o único protagonista”, concluem Oliva e Cosendey.

Catálogo | Na ocasião da mostra, foram publicados dois catálogos, em inglês e português, compostos por imagens e nove ensaios comissionados de autores fundamentais para o estudo e revisão crítica da obra de Gauguin na atualidade – fruto de um extenso seminário internacional inteiramente dedicado ao artista organizado pelos curadores da mostra e promovido pelo MASP em março de 2022. A publicação é organizada por Adriano Pedrosa, Fernando Oliva e Laura Cosendey, e inclui textos de Abigail Solomon-Godeau, Caroline Vercoe, Heather Waldroup, Irina Stotland, Linda Goddard, Ngahuia Te Awekotuku, Norma Broude, Stephen Eisenman e Tamar Garb, além de Oliva e Cosendey. Com design de Luciana Facchini, a publicação tem edição em capa dura e reúne 151 imagens.

Serviço:

Paul Gauguin: o outro e eu

Curadoria: Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP; Fernando Oliva, curador, MASP;

Laura Cosendey, curadora assistente, MASP

1º andar

28/4 — 6/8/2023

MASP — Museu de Arte de São Paulo “Assis Chateaubriand”

Avenida Paulista, 1578 – Bela Vista – São Paulo, SP

Telefone: (11) 3149-5959

Horários: terça grátis, das 10h às 20h (entrada até as 19h); quarta a domingo, das 10h às 18h (entrada até as 17h); fechado às segundas

Agendamento on-line obrigatório pelo link MASP ingressos

Ingressos: R$60 (entrada); R$30 (meia-entrada)

Site | Facebook | Instagram.

(Fonte: Museu de Arte de São Paulo “Assis Chateaubriand”)

“VERBO”, mostra de performance arte da Galeria Vermelho, terá programação gratuita em São Paulo em agosto

São Paulo, por Kleber Patricio

Performance do coletivo No Barraco da Constância Tem! será apresentada nas três capitais. Foto: Breno de Lacerda.

A 17ª edição da VERBO, mostra anual de performance organizada pela Galeria Vermelho, terá programação gratuita em São Paulo na segunda semana de agosto e, nesta edição, as apresentações chegarão a outras duas capitais brasileiras. Nesta quarta-feira, 19, o evento ganha espaço em São Luís (MA) e, a partir do dia 27, em Fortaleza (CE). Serão mais de 30 ações com a presença de artistas de cinco países. Comandado por Samantha Moreira, coordenadora do Chão SLZ, e Marcos Gallon, diretor artístico da Galeria Vermelho, responsáveis pela curadoria, o evento, totalmente gratuito, poderá ser acompanhado ao vivo e por vídeo.

O festival, sem fins lucrativos, criado, produzido e gerido pela Vermelho, é um dos mais importantes e tradicionais da cena artística internacional. Realizado anualmente desde 2005, é o primeiro evento dedicado totalmente à performance na América Latina e tem se consolidado como um dos principais palcos para artistas de todo o mundo, descentralizando a arte ao ocupar espaços públicos e privados, além de promover discussões e oficinas abertas aos interessados. Além de democratizar o acesso às apresentações, a VERBO ainda disponibiliza o registro em vídeo das ações, oferecendo um amplo acervo totalmente gratuito no site oficial do evento.

“Em 2023, buscamos escolher projetos inovadores e que dialoguem com os contextos locais de cada cidade. Como em edições anteriores, o recorte curatorial foi criado a partir das propostas recebidas por meio da chamada aberta e dos projetos apresentados pelos artistas convidados”, conta Gallon.

“Expandir formas de conexões e parcerias entre instituições de diferentes frentes e camadas da produção cultural, uma galeria, um espaço independente, um museu e um centro cultural, é um acontecimento que se faz necessário há muito tempo, sempre somando conhecimento, experiências, públicos, potências e abrindo possibilidades de políticas de fomentos das artes no Brasil”, diz Samantha Moreira.

A artista Aline Motta é uma das convidadas da Verbo 2023. Foto: Motaz Mawid.

“A Pinacoteca do Ceará, como um espaço contemporâneo, fortalece a cena e o campo artístico em todas as suas linguagens. A mostra VERBO faz da performance o ato presente e político do corpo-coreografia confrontando o nosso estar-no-mundo no tempo de agora. A Pinacoteca, assim, faz caminho para o intercâmbio entre a arte cearense e a produção nacional”, avalia o artista e diretor da Pinacoteca do Ceará, Rian Fontenele.

“É uma honra e uma alegria gigante poder participar da VERBO como representante da Pinacoteca do Ceará, na seleção dos projetos recebidos no edital e, ainda, poder indicar artistas cearenses convidados. Trazer uma mostra tão reconhecida para o primeiro ano de funcionamento da Instituição é também demonstrar o interesse no circuito por meio de uma linguagem tão aberta e dinâmica como a performance”, aponta Carolina Vieira, gerente artística da Pinacoteca do Ceará, que integrou o processo de seleção da VERBO 2023.

“A proposta da VERBO comunga com um dos principais objetivos do CCVM, que é expandir discussões e lançar novas perspectivas sobre temas urgentes da nossa sociedade por meio das diversas linguagens artísticas. A mostra, além de trazer para a cidade uma programação potente, provoca o público ludovicense a consumir a arte performática”, afirma o diretor do Centro Cultural Vale Maranhão, Gabriel Gutierrez.

Boris Nikitin durante a performance ‘Ensaio sobre o morrer’. Foto: Donata Ettlin.

Foram 300 propostas recebidas de várias regiões do Brasil e do mundo. A seleção de projetos recebidos por meio da chamada aberta ficou a cargo de Carolina Vieira, Marcos Gallon e Samantha Moreira. Entre alguns destaques, estão os artistas brasileiros André Vargas (Rio de Janeiro), Charlene Bicalho (Nova Era), Aline Motta (Niterói), Julha Franz e Tuna Dwek (São Paulo). O coletivo No Barraco da Constância Tem!, de Fortaleza, estará presente nas três capitais. No Maranhão e no Ceará, abre o evento, e, em São Paulo, participa do encerramento.

Entre os nomes internacionais, estão Boris Nikitin (Suíça), a filipina-dinamarquesa Lilibeth Cuenca Rasmussen (Copenhague) e a mexicana Tania Candiani, entre outros.

Capitais

A VERBO ganha novamente espaço em São Luís (MA) já nesta semana, começando na quarta-feira, 19 e seguindo até o dia 21 de julho. Em Fortaleza (CE), acontecerá de 27 a 30 deste mês. O encerramento acontecerá em São Paulo entre os dias 9 e 11 de agosto. Esta é a maior edição do evento. Em São Luís, a VERBO ocorre desde 2018 no Chão SLZ.

Cada capital receberá um programa distinto de performances que dialogam com as especificidades locais, com exceção do eixo de ações criadas para câmeras de vídeo cujo programa será apresentado integralmente nas três cidades.

A VERBO 2023 inclui ainda em sua programação a 5ª edição do ciclo de conversas VERBO Conjugado no Centro Cultural Vale Maranhão – CCVM em São Luís, duas residências na Casa do Sereio (Alcântara, MA), a oficina Performance-escrita, na Pinacoteca do Ceará em Fortaleza, além de uma seleção de registros em vídeo de ações apresentadas nas 16 edições da mostra que integram o acervo da VERBO, e que ocorrerá na empena e videowall do Museu da Imagem e do Som – MIS, também em Fortaleza.

“A performance desafia o colecionismo e o sistema da arte na busca pela catalogação do efêmero. Nós documentamos na íntegra tudo que acontece na Verbo, dedicamos programas específicos para o debate e para a produção de textos, além de produzirmos publicações desde a primeira edição da mostra. A Verbo deu palco para quem, até então, não tinha esse espaço”, avalia Gabriel Zimbardi, da Galeria Vermelho.

“Lá atrás, quando começamos, a nossa ideia era apresentar o trabalho de artistas jovens que na época não tinham espaço para esse tipo de arte. No entanto, com o tempo, isso foi tomando proporções maiores e hoje podemos dizer que a Verbo é o primeiro grande festival de performance da América Latina, o mais longevo e um dos mais conhecidos. O fato de contarmos, hoje, com cinco sedes de diferentes pilares institucionais aponta para esse reconhecimento”, explica Marcos.A 17ª edição da Verbo conta com o apoio da Galeria Vermelho, Pro Helvetia, Pinacoteca do Ceará, Agência Lema, Instituto Chão, Centro Cultural Vale Maranhão (CCVM) e Art Contábil.

Sobre a VERBO | A mostra anual de performance VERBO é um festival dedicado à apresentação de ações na área da performance de artistas brasileiros e estrangeiros. A mostra foi criada pela Galeria Vermelho em 2005 com o objetivo de criar uma rede de artistas e público ligados à arte da performance. Mais informações aqui.

Serviço:

Verbo – 17ª edição

Gratuito

De 19 a 21 de julho em São Luís no Chão SLZ e no Centro Cultural Vale Maranhão

De 27 a 30 de julho em Fortaleza na Pinacoteca do Ceará e no MIS

De 9 a 11 de agosto em São Paulo na Galeria Vermelho

Para mais informações e para acompanhar o acervo audiovisual das apresentações, acesse o site.

(Fonte: Agência Lema)

MAM se expande pelo Parque Ibirapuera com exposição inédita em realidade aumentada

São Paulo, por Kleber Patricio

Foto: Luis Felipe Abbud.

Explorar o diálogo entre o virtual e o físico, perceber a realidade ao redor de outra maneira e interagir com as dimensões de uma mesma experiência — esse é o convite que a nova exposição do Museu de Arte Moderna de São Paulo traz ao público. Em cartaz a partir de 22 de julho, “Realidades e Simulacros” apresenta obras inéditas em realidade aumentada no Jardim de Esculturas e em diferentes pontos do Parque Ibirapuera. A iniciativa é realizada pelo MAM e conta com patrocínio da 3M por meio da Lei de Incentivo à Cultura, parceria com a Urbia e apoio da Africa Creative.

Com curadoria de Marcus Bastos, artista e pesquisador na convergência entre audiovisual, arte e novas mídias, e de Cauê Alves, curador-chefe do MAM, a exposição reúne obras do Coletivo Coletores, Daniel Lima, Dudu Tsuda, Eder Santos, Fernando Velazquez, Giselle Beiguelman, Katia Maciel, Lucas Bambozzi, Paola Barreto e Regina Silveira. Cada artista recebeu convite da curadoria para criar experiências digitais, obras virtuais em realidade aumentada que integram o jogo de multiplicidades que é a exposição.

“As obras criadas especialmente para a exposição permitem o contato com diferentes realidades e/ou simulacros e propõem um jogo de tensões que sobrepõe camadas de informação e realidade. Um jogo entre o factual e o fabulatório, entre o visto e o imaginado, entre o concreto e o inventado”, refletem os curadores no texto que acompanha a mostra.

“O MAM é uma instituição conectada às possibilidades oferecidas pelas novas tecnologias e busca, por meio de diferentes ações, democratizar o acesso à arte. A realização da exposição ‘Realidades e Simulacros’ acontece nesse contexto. É mais uma iniciativa do museu para expandir sua atuação para além dos limites físicos e alcançar públicos diversos”, diz Elizabeth Machado, presidente do MAM.

“É uma satisfação realizar essa exposição com o Museu de Arte Moderna e dar ao público a oportunidade de explorar os principais pontos do Parque Ibirapuera, de forma diferenciada e totalmente conectada com a nova realidade tecnológica do mundo, sem perder os encantos da beleza natural e incomparável que o lugar proporciona a quem o frequenta. A Urbia mantém iniciativas de democratização do acesso à arte e essa mostra em parceria com o MAM vem ao encontro dos valores da empresa, que acredita que a cultura e o lazer são componentes essenciais para o desenvolvimento humano”, comenta Samuel Lloyd, diretor Comercial da Urbia.

Obra digital, experiência presencial

No entorno do MAM, no Jardim de Esculturas, um disco voador paira sobre os visitantes. Trata-se de “Rasante” (2023), obra de Regina Silveira. A artista dialoga com o imaginário da ficção científica, muito presente em filmes e histórias em quadrinhos, e cria um disco voador que se coloca em relação à arquitetura de Oscar Niemeyer no Parque Ibirapuera. “A sobreposição entre a realidade e a ficção ecoa a combinação entre o radio teatro e a notícia jornalística. Em 1938, uma transmissão de rádio do diretor de cinema norte-americano Orson Welles causou pânico ao dramatizar ‘A Guerra dos Mundos’, de Herbert George Wells. Entretanto, no século XXI, o trabalho de Regina Silveira tende a gerar mais fascínio do que medo”, comentam os curadores.

Sombras pouco nítidas sugerem um percurso por uma floresta de sons plantada no entorno da Praça da Paz. Em “RevoAR :: a Vida é uma Utopia” (2023), Dudu Tsuda convida o visitante a utilizar fones de ouvido para adentrar uma paisagem sonora que mistura sons da Mata Atlântica originalmente existente na região do Ibirapuera com sons de animais da região, de espíritos da floresta e de entidades fantásticas criadas a partir das cosmovisões dos povos originários brasileiros.

Alinhadas entre o MAM São Paulo, a Oca e o Pavilhão da Bienal de São Paulo, uma escultura digital do Coletivo Coletores reúne corpos que representam três povos: latinos, africanos e resistentes de outras partes do globo. “Monumento à Resistência dos Povos” (2023) apresenta figuras brancas como o mármore em posição de defesa e aborda a ideia de contra monumentos ao problematizar questões sobre a cidade, a memória e a violência cotidiana sofrida pela população.

Em “Rádio Detín” (2023), Paola Barreto leva ao entorno da Oca imagens de um manto branco que carrega sons gravados pela artista em uma viagem ao Benim. A obra é um convite para interagir com as árvores do Ibirapuera pelas lentes de uma experiência visual e sonora que oscila entre o documental e o poético. O percurso permite refletir sobre um espectro amplo de sentidos da ancestralidade. A natureza e as culturas que antecederam o colonialismo são entendidas pela artista como vetores que permitem pensar um tempo que está além da duração da vida humana.

Flutuando no Parque e refletindo seu entorno, entre o MAM e o pavilhão da Bienal de São Paulo, a enorme “Bolha” (2023), de Katia Maciel, apresenta um aspecto lúdico. Em geral, as bolhas duram pouco. Elas estouram quando a elasticidade que surge da junção das moléculas de detergente e água se rompe com a evaporação. Mas na obra “A Bolha”, esse momento é alargado, o instante em que a bolha estoura parece nunca chegar. Para os curadores, “no sentido metafórico, estourar a bolha é também alargar nossos horizontes, é nos relacionarmos com realidades diversas. A artista nos faz pensar que talvez a bolha em que vivemos seja mais resistente do que imaginamos, já que o dentro e o fora da bolha, o simulacro e a realidade, permanecem”.

Lucas Bambozzi explora processos de reconhecimento de padrões por meio de “Incerteza artificial” (2023), obra realizada a partir de inteligência artificial que escaneia a região entre a Ponte Metálica, a Praça da Paz e seu entorno no Ibirapuera, nomeando o que encontra. Mas, para os algoritmos, as coisas nem sempre parecem ser o que são. Neste processo, os equívocos geram instabilidades resultantes dos limites da capacidade que as máquinas têm de identificar seres ou coisas.

Em “Brejo das delícias” (2023), Giselle Beiguelman faz uma incursão na história do Parque Ibirapuera a partir de uma pesquisa das espécies nativas anteriores à sua urbanização. Com base em estudos botânicos da flora paulistana, foram identificadas cerca de 50 espécies que habitavam sua área originalmente alagadiça. Inspiradas em ilustrações botânicas, as criaturas aqui apresentadas foram feitas com inteligência artificial, fundindo as espécies originárias em novos seres vegetais que ganham vida por meio de recursos de realidade aumentada. Dessa forma, abordam também a diversidade das imagens técnicas que povoam nossas noções de natureza e paisagem.

Logo em frente ao Planetário do Ibirapuera, Eder Santos posiciona a pirâmide nomeada “Ouragualamalma” (2023). A pirâmide é uma ligação entre o céu e a terra, uma arquitetura que conecta ambos, é uma imagem ancestral que se refere tanto a uma realidade anterior à colonização, quanto a uma realidade decolonial.

Fernando Velázquez leva ao Lago do Ibirapuera uma criatura feita de elementos orgânicos, vegetais e minerais. Com “Górgona 01” (2023), o artista reflete sobre um modo de viver em um planeta reconfigurado por suas catástrofes. A aparição da criatura no Lago pode surpreender tanto pelo caráter quimérico quanto pelo aspecto de porvir, refletindo sobre os caminhos por onde o antropoceno pode levar à vida.

Em outro ponto do Lago, próximo ao Portão 09 do Ibirapuera, Daniel Lima apresenta uma réplica da embarcação usada por Pedro Álvares Cabral na invasão da América em 1500. Reconstruída pelo governo brasileiro para homenagear os 500 anos de descobrimento do Brasil, por erros no projeto e problemas técnicos, ela naufragou e não participou do evento oficial em Porto Seguro, no ano 2000. Com seu “Monumento à Colonização” (2023), o artista propõe, não sem ironia, um “monumento inverso” que aponta para o modo como esse tipo de celebração revela nossa mentalidade colonizada e incapaz de projetar um futuro emancipado para o país.

A jornada de visitação pode ser realizada de diferentes formas e trajetos. É possível fazer o percurso andando a pé, de bike ou com o Ibira Tour, um passeio feito em carrinhos elétricos com guias da Urbia. Mais informações no site da empresa.

Dentro do Parque haverá, também, sinalizações físicas instaladas em locais próximos às obras para otimizar o percurso do público. Ainda que as obras sejam digitais, a exposição foi desenvolvida para ser vista presencialmente no Parque, com o uso do celular, pelos mais de 55 mil visitantes que transitam diariamente ali.

Nem site, nem aplicativo

O conjunto de obras em realidade aumentada foi instalado em diferentes pontos do Ibirapuera por meio de georreferenciamento – um processo de sistema de referência – e pode ser acessado pelo celular por meio de uma plataforma criada para a exposição.

A plataforma realizada para a mostra não é um site e nem um aplicativo, é um meio que conecta o virtual ao físico. Não é necessário fazer download para acessar, pois ela está integrada ao site do museu e também pode ser acessada pelo celular direto no link MAM.

O projeto expográfico digital foi pensado a partir do conceito do cubo branco e concentra elementos que ajudam na jornada de visitação: a lente, uma espécie de câmera pela qual o visitante pode ver e fotografar as obras; o mapa, que apresenta a localização das obras no Parque e ajuda o visitante a chegar até os pontos; e a ficha catalográfica, que concentra sinopses das obras, informações sobre os artistas e referências utilizadas no processo de pesquisa e criação dos trabalhos.

O desenvolvimento de “Realidades e Simulacros” contou com uma equipe técnica formada por Luís Felipe Abbud, do Estúdio Hiper-Real, responsável pelos modelos 3D e animações das obras; Bruno Favaretto e Renato de Almeida Prado, do Museu.io, que realizaram a programação da exposição, e Celso Longo e Daniel Trench, do cldt design, que assinam a identidade visual.

Sobre a expografia digital, Bruno Favareto e Renato de Almeida Prado explicam: “buscamos assim uma estética minimalista que auxiliasse os visitantes em seu fluxo pelo Parque e no uso da tecnologia em si, mas que ao mesmo tempo permitisse a experiência com a obra de forma isolada ou com o mínimo de informação desejada”.

Para além das paredes do museu

“Realidades e Simulacros” é mais uma iniciativa do Museu de Arte Moderna de São Paulo para expandir suas fronteiras físicas e proporcionar experiências que utilizem linguagens contemporâneas para impactar públicos diversos, traduzindo poéticas artísticas e cultura por meio da tecnologia digital.

A exposição dialoga conceitualmente e dá continuidade aos pensamentos das ações realizadas em 2020 e 2021. No primeiro, o MAM levou obras emblemáticas de seu acervo para as ruas de São Paulo por meio de projeções em grande escala em empenas cegas de edifícios da cidade. A iniciativa surgia como resposta às dinâmicas sociais impostas pela pandemia de Covid-19 e buscava democratizar o acesso à arte. Já em 2021, em parceria com Microsoft e a Africa Creative, o museu lançou um projeto educativo inédito no jogo Minecraft: “MAM no Minecraft”, uma combinação de arte, educação e games com reproduções do espaço do museu e de obras do acervo, jogos pedagógicos, atividades lúdicas e propostas de aulas.

“Realidades e Simulacros” integra a programação comemorativa dos 75 anos do MAM e 30 anos do Jardim de Esculturas. No decorrer do período expositivo, serão anunciadas ativações na exposição realizadas pelo Educativo do museu, como visitas mediadas, oficinas a partir dos temas e obras e outros.

Sobre o MAM São Paulo

Fundado em 1948, o Museu de Arte Moderna de São Paulo é uma sociedade civil de interesse público, sem fins lucrativos. Sua coleção conta com mais de cinco mil obras produzidas pelos mais representativos nomes da arte moderna e contemporânea, principalmente brasileira. Tanto o acervo quanto as exposições privilegiam o experimentalismo, abrindo-se para a pluralidade da produção artística mundial e a diversidade de interesses das sociedades contemporâneas.

O Museu mantém uma ampla grade de atividades que inclui cursos, seminários, palestras, performances, espetáculos musicais, sessões de vídeo e práticas artísticas. O conteúdo das exposições e das atividades é acessível a todos os públicos por meio de visitas mediadas em libras, audiodescrição das obras e videoguias em Libras. O acervo de livros, periódicos, documentos e material audiovisual é formado por 65 mil títulos. O intercâmbio com bibliotecas de museus de vários países mantém o acervo vivo.

Localizado no Parque Ibirapuera, a mais importante área verde de São Paulo, o edifício do MAM foi adaptado por Lina Bo Bardi e conta, além das salas de exposição, com ateliê, biblioteca, auditório, restaurante e uma loja onde os visitantes encontram produtos de design, livros de arte e uma linha de objetos com a marca MAM. Os espaços do Museu se integram visualmente ao Jardim de Esculturas, projetado por Roberto Burle Marx e Haruyoshi Ono para abrigar obras da coleção. Todas as dependências são acessíveis a visitantes com necessidades especiais.

Serviço:

Realidades e Simulacros

Mostra coletiva com Coletivo Coletores, Daniel Lima, Dudu Tsuda, Eder Santos, Fernando Velazquez, Giselle Beiguelman, Katia Maciel, Lucas Bambozzi, Regina Silveira e Paola Barreto.

Curadoria: Cauê Alves e Marcus Bastos

Abertura: 22 de julho, sábado, às 11h

Período expositivo: 23 de julho a 17 de dezembro de 2023

Local: entorno do Jardim de Esculturas, Praça da Paz e região dos Lagos do Ibirapuera

Endereço: Avenida Pedro Álvares Cabral, s/nº – Entrada gratuita pelos portões 1, 3, 9 e 10

Mais informações: MAM

MAM São Paulo

www.instagram.com/mamsaopaulo www.youtube.com/@mamsaopaulo.

(Fonte: A4&Holofote Comunicação)

Instituto Anelo volta ao Arcevia Jazz Feast, na Itália

Arcevia, por Kleber Patricio

Alline Ribeiro e Paula Lins. Fotos: Levi Macedo.

O Instituto Anelo, associação sem fins lucrativos que oferece aulas de música no Distrito do Campo Grande, periferia de Campinas (SP), participa pela sexta vez do Arcevia Jazz Feast, na cidade italiana de Arcevia. O evento ocorre entre 30 de julho e 5 de agosto de 2023, já estando em sua 25ª edição. A dupla que vai embarcar para a Europa e representar o Anelo no festival é formada por Alline Ribeiro, professora de Violino, e Paula Lins, professora de violão. Os custos da viagem aérea estão sendo arcados com a realização da venda de souvenirs e arrecadação de doações. Para o custeio das passagens de avião, a entidade continua recebendo doações. As pessoas interessadas em contribuir podem realizar a doação por meio de transferência bancária ou PIX.

O retorno ao festival, tão esperado, é comemorado por todos os integrantes do Anelo, que já se planejam para fortalecer os laços e receber artistas em breve.  Em 2023, a organização do festival concedeu ao Instituto Anelo duas bolsas de estudo, que incluem o custeio da inscrição para os cursos do festival, hospedagem e alimentação.

Alline Ribeiro.

“Estamos muito felizes e com muita gratidão, por poder retomar este projeto com o Arcevia Jazz Feast, com quem temos parceria desde 2015 e para onde já pudemos mandar cerca de 40 pessoas, com bolsas de estudo oferecidas pelo festival, entre músicos e estudantes, ao longo dos anos. Esta é a primeira vez que estamos enviando um time só de mulheres para o festival e isto é muito representativo. Torço e sei que elas vão aproveitar o máximo possível e nos ajudar a fortalecer esta parceria que é tão importante”, considerou Luccas Soares, fundador e coordenador geral do instituto.

Soares aponta que a parceria, de mão dupla, vai render ainda a recepção de alunos do evento de Arcevia, no Festival Transforma, que será realizado pelo Instituto Anelo em outubro deste ano. “Por aqui vamos receber os estudantes de Arcevia que se destacarem no festival. Estes estudantes virão ao Brasil e terão uma vivência musical Anelo, em outubro. Será mais uma vez, uma experiência muito rica e gratificante”, afirmou.

Expectativas

Alline Ribeiro, professora de violino, aponta que a oportunidade de representar o Instituto Anelo no festival é um grande marco em sua carreira artística. “É a primeira vez que eu vou sair do país e essa oportunidade é algo muito significativo e veio como um combo: sair do país para tocar violino e ainda ter a honra de representar o Instituto Anelo. Eu estou muito feliz e cheia de expectativas. Esta oportunidade ainda me dá a chance de levar a música e cultura brasileira para outro país, fazer trocas culturais e fortalecer a parceria do Anelo com o festival”, apontou Alline.

Paula Lins.

Para Paula Lins, professora de violão, a viagem possibilitará um cenário de muito compartilhamento e conexões. “Esta parceria tem de ser sempre preservada e cultivada, é algo muito potente para todos os envolvidos. Estou com muita expectativa de compartilhar uma parte rica da cultura brasileira, que é o forró. É uma experiência única e me dá a chance também de aprimorar minha experiência em jazz e improvisação”, comemorou Paula.

Alline Ribeiro | Alline Ribeiro, natural de Campinas e integrante do corpo docente do Instituto Anelo, é violinista, tem formação em Música pela Faculdade Nazarena do Brasil e cursa pós-graduação em Gestão Cultural do Senac. Atuou como violinista na Orquestra Jovem de Paulínia, atua como violinista na Orquestra Filarmônica de Valinhos e, no Anelo, além de professora, é também coordenadora musical, assistente de patrimônio e produtora de eventos.

Paula Lins | Natural de São Paulo, SP- Brasil, é professora de violão no Instituto Anelo, estudou Licenciatura em Música na Unicamp e trabalhou como educadora no Projeto Primeira Nota, nas Escolas Maple Bear de Valinhos e Vinhedo. Coordenou o projeto de música e arte para crianças Patuscanto. Atua como cantora, percussionista e violonista em grupos de forró e MPB.

Arcevia Jazz Feast

O festival é um seminário de jazz e improvisação que oferece atividades de aprendizado intenso, integrando alunos e professores de música do mundo inteiro. O Arcevia Jazz Feast é realizado desde 1998, durante o verão europeu, na cidade italiana de Arcevia, a 240 quilômetros da capital, Roma.

A cidade está localizada na região montanhosa de Marche, Província de Ancona. Arcevia tem pouco mais de cinco mil habitantes e é muito conhecida por ainda manter diversos castelos medievais para visitação. Fundada entre o final do século VIII e início do século IX, a cidade preserva suas construções e é rodeada por sítios arqueológicos.

Para doar:

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Agência 3551-3

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Para outros tipos de doação, é possível entrar em contato com o Instituto Anelo:

– Por telefone (19) 3227-6778

– Por e-mail contato@anelo.org.br

– Ou pessoalmente na sede da entidade (Avenida Vicente de Marchi, 718, Jardim Florence, Campinas/SP).

(Fonte: Yeux Comunicação)

Jardinópolis: ‘Capital da Manga’ mantém tradição de se comer a fruta no pé

Jardinópolis, por Kleber Patricio

Foto: Fábio Gallacci.

A pessoa chega e, com orgulho, se define como “boca-amarela”. Tenha certeza de que ela só pode ter vindo de um lugar: a simpática Jardinópolis. O município de 45 mil habitantes na Região Noroeste do Estado – que está a 331 quilômetros da Capital – é conhecido como a “Capital da Manga”. A Lei Estadual 4.722/1985, aprovada pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, oficializou esse título, que segue sendo defendido com empenho por produtores, grupos de preservação da memória local e a população em geral.

A presença do fruto na rotina das pessoas de lá remonta ao início do século passado, época em que a manga respondia de forma importante na economia local. Novas culturas ganharam espaço e relevância – como o abacate, cana-de-açúcar, milho e soja – mas a deliciosa fruta amarelada segue presente no dia a dia e nas raízes de quem vive ali.

Conta a história oral que as primeiras mangas foram trazidas da Bahia pela família do primeiro prefeito de Jardinópolis, Dr. João Muniz Sapucaia, na década de 1890. Os caroços dessas mangas foram plantados em um sítio, um deles vingou e daí começou o cultivo da fruta na cidade. Nessa época, os caroços de manga tinham “preço de ouro” e eram comercializados para posterior plantio. Na cidade, as mangueiras tiveram solo fértil e clima ideal.

Estradas de ferro

Já na década de 1910, com a fama da qualidade se espalhando, as mangas jardinopolenses passaram a ser exportadas para São Paulo e, de lá, para outros centros do Brasil. Tudo pelas estradas de ferro, já que o município era cortado pelas linhas da antiga Companhia Mogiana.

Geralmente, os exportadores arrendavam o pomar de manga de um produtor, a colhiam, embalavam com muito cuidado – em alguns casos, até mesmo em papel seda – e as remetiam para a Capital paulista, o grande centro comercial do produto. A partir de 1940, um empresário local criou uma transportadora específica para levar as mangas de Jardinópolis/SP para São Paulo e Rio de Janeiro. Desta vez, de caminhão. Dali pra frente, o modal rodoviário passou a ser a principal forma para escoar a produção.

Segredo de qualidade

Uma das técnicas da época para garantir a qualidade elevada do produto vindo de Jardinópolis era a colheita e o embalo das frutas com boa parte de seu talo. Eles eram removidos apenas na chegada ao destino, garantindo que as mangas permanecessem frescas durante o trajeto. Com tamanho cuidado e vocação, Jardinópolis despontou, na primeira metade do século passado, como grande produtora e exportadora de mangas do Estado.

Avó de Portinari

Curiosamente, a pessoa considerada a primeira grande exportadora de mangas de Jardinópolis foi a avó materna do pintor Candido Portinari, dona Maria Sandri Torquato, a “nonna de Jardinópolis”. A atividade era tão importante na família que o renomado pintor retratou sua avó no ofício de encaixotar mangas. Uma reprodução do desenho “Nonna Encaixotando Mangas”, de 1956, se encontra no hall de entrada da Câmara Municipal de Jardinópolis atualmente.

Logo depois de Maria Sandri, surgiram outros produtores e exportadores de mangas na cidade. Outro que merece destaque é Crescêncio Avino, que herdou o ofício do pai, cuja safra de mangas de 1933 está retratada na mesma tela de Portinari.

Vale lembrar que a cidade tem em sua história uma bem-vinda diversidade de povos; talvez, o mesmo espírito que possibilitou que as primeiras mangas baianas encontrassem abrigo, espaço e dedicação para se multiplicarem em terras paulistas. Formada originalmente por imigrantes italianos, portugueses, sírio-libaneses, japoneses e espanhóis, chegados ao Brasil entre o final do século 19 e início do século 20, Jardinópolis também recebeu famílias advindas das regiões Norte, Nordeste e outras cidades do Sudeste brasileiro.

Boca amarela

A fama de produzir mangas inigualáveis fez com que os moradores da cidade ficassem conhecidos como “boca-amarela”. Mesmo com o passar do tempo, ainda se usa esse termo quando se deseja indicar algo que seja genuinamente jardinopolense.

E não para por aí. Realizada anualmente a partir de 1973 – até meados da década de 1990 – a Festa Municipal da Manga marcou época e era momento importante no calendário oficial do município.

Ainda no auge da produção, em 1986, foi implantada no plano viário da cidade a Avenida das Mangueiras, com árvores da fruta plantadas em toda a sua extensão. Hoje, a via e o seu prolongamento têm o nome Prefeito Newton Reis. O lugar é frequentado diariamente pela população para a prática de atividades esportivas, como caminhada e ciclismo. Mesmo com seu nome original modificado, alguns hábitos não mudam nunca: em época de produção de mangas, é muito comum ver pessoas colhendo as frutas neste lugar. Como era de se esperar, e celebrar, a avenida se transformou em um grande pomar público.

Hino, brasão e o Manguito

O cultivo da manga é tão marcante em Jardinópolis que a fruta aparece até mesmo no hino da cidade. Sua letra apresenta a cidade como “Capital da Manga, com louvor”. Uma manga também foi inserida no Brasão de Armas do Município, representando a “delícia da fruta tropical, nativa em nossa terra e responsável por grande parte da economia de nosso Município”.

Para as crianças de todas as idades, na década de 1990, foi criado o mascote do município, o “Manguito”, presente em eventos realizados pela Prefeitura. Esta foi mais uma forma de valorizar o fruto que alimentou a economia e as tradições da acolhedora população de Jardinópolis por tantas décadas. Saiba mais sobre Jardinópolis pelo https://www.youtube.com/@descobrindojardinopolis.

(Fonte: Alesp)