No último dia 23 de abril 23 de abril, educação amazonense viveu um momento histórico


Manaus
Indaiatuba registrou o mês de maio mais seco, com apenas 0,10 milímetros (mm) de chuva, desde que as medições pluviométricas começaram a ser realizadas pelo Serviço Autônomo de Água e Esgotos (SAAE), em 1988. Anteriormente, o menor índice, até então, havia sido registrado em maio de 2006, com 13,6 mm de chuva.
Estamos no início do período de estiagem e o SAAE faz um alerta sobre a importância do uso consciente da água e que se evitem desperdícios.
Apesar de 2023 estar com um cenário mais favorável do que 2021 e 2022, quando a cidade enfrentou uma forte estiagem, as chuvas de janeiro a maio estão abaixo da média, com 577 mm acumulado, sendo que a média histórica é de 700 mm. No mesmo período em 2022 choveu 444 mm, apresentando um dos acumulados mais baixos acumulados no mesmo período.
O superintendente do SAAE, engenheiro Pedro Claudio Salla, ressaltou sua preocupação quanto à importância da população não desperdiçar água e adotar medidas de economia e preservação de modo a manter um bom volume nos mananciais para abastecer a população durante o ano todo.
Mesmo nos períodos de forte estiagem, Indaiatuba conseguiu manter o abastecimento de água normalizado para a população. Isso se deve aos investimentos feitos pela administração pública nos últimos 20 anos, visando garantir a segurança hídrica da região.
Atualmente, há diversos projetos em andamento, mas o destaque vai para a concretização dos trâmites legais para a construção da barragem do Ribeirão Piraí, por meio do Consórcio Intermunicipal do Ribeirão Piraí (Conirpi), formado pelas cidades de Indaiatuba, Salto, Itu e Cabreúva.
As obras da barragem do Ribeirão Piraí terão início no segundo semestre deste ano, contando com um investimento total de 147 milhões de reais. A população desses quatro municípios, que soma mais de 600 mil habitantes, será beneficiada com a conclusão da obra, prevista para 2025.
(Fonte: SAAE Indaiatuba)
O Museu de Arte Moderna de São Paulo apresenta de 15 de junho a 13 de agosto, na Sala Milú Villela, a exposição “Elementar: Fazer Junto”, uma coletiva que propõe reflexões acerca do que é essencial para se estabelecer uma relação com o outro. A mostra tem curadoria de Valquíria Prates, curadora convidada, Mirela Estelles, coordenadora do educativo do museu, e Cauê Alves, curador-chefe do MAM, e traz ao público a intersecção entre os acervos artístico e educativo do museu. Com patrocínio da Unipar e da EMS, são apresentadas mais de 70 obras modernas e contemporâneas do acervo do MAM e experiências poéticas realizadas pelo educativo. A exposição convida o público a pensar nas barreiras a serem rompidas para se realizar coisas em comunhão, sejam elas sociais, culturais, políticas ou geográficas, dentre outras, em um exercício para se refletir questões como a alteridade e a liberdade.
“A exposição aborda questões essenciais para a arte e que estão ligadas à identidade do MAM, como a participação de diversos públicos e o convite para que tenham experiências significativas. Assim, o MAM São Paulo contribui para a aproximação entre curadoria e educação ao mesmo tempo em que promove a arte moderna e contemporânea brasileira. Certamente este é mais um passo na realização de algumas das diretrizes estratégicas do museu: a de ser uma instituição democrática, plural e afetuosa”, comenta Elizabeth Machado de Oliveira, presidente do MAM São Paulo, no texto de apresentação do catálogo da exposição.
Considerando a ideia daquilo que é “elementar”, a curadoria partiu dos quatro elementos básicos da natureza para selecionar as obras presentes na exposição. Desta forma, o mergulho na coleção do MAM traz peças que dialogam em diferentes suportes, da pintura à intervenção, com a água, o fogo, a terra e o ar, seja em sua materialidade ou de maneira simbólica.
“No museu, elementar é ‘fazer junto’. Também é a possibilidade de instaurar situações e modos de se relacionar com os acervos e os diferentes públicos em vivências e experiências. Envolve o artístico e os saberes que a arte movimenta e coloca em contato todos que disponibilizam sua atenção, presença e abertura à conexão geradora de sentidos. Tal como elaborou Richard Sennett, trabalhar em cooperação pressupõe disposição e receptividade. A expografia da mostra contempla experiências poéticas e um Espaço de Fazer Junto, além de proposições realizadas com artistas e educadores”, explicam os curadores no texto da exposição.
“Elementar: Fazer Junto” é composta por obras de Anna Bella Geiger, Artur Lescher, Caio Reisewitz, Claudia Andujar, Chelpa Ferro – coletivo fundado pelos artistas Luiz Zerbini, Barrão e Sergio Mekler –, coletivo OPAVIVARÁ, Dora Longo Bahia, Edouard Fraipont & Cildo Meireles, Fausto Chermont, Frans Krajcberg, Franz Weissmann, German Lorca, Jac Leirner, Jarbas Lopes, José Leonilson, Julia Amaral, Laura Vinci, Leda Catunda, Lia Menna Barreto, Luiz Braga, Mabe Bethônico, Marcia Xavier, Marcius Galan, Marcos Piffer, Marcelo Cidade, Marcelo Nitsche, Marcelo Moscheta, Marcelo Zocchio, Maureen Bisilliat, Motta & Lima, Nelson Leirner, Paulo Bruscky, Pedro Motta, Pedro David, Regina Silveira, Rodrigo Andrade, Rodrigo Bueno, Rodrigo Braga, Rodrigo Matheus, Sandra Cinto, Sara Ramo, Shirley Paes Leme, Tarsila do Amaral, Tatiana Blass, Tadeu Jungle, Thomas Farkas e Vulcânica Pokaropa.
A expografia criada pelo arquiteto Tiago Guimarães convida o visitante a participar e traz para o espaço da mostra um mobiliário adaptado para diversas experiências artísticas e educativas. Trata-se do “Fazer Junto”, um espaço que será construído no centro da mostra e ativado com diversas atividades, toda quarta-feira às 16h. A proposta consiste em um ateliê onde acontecem dinâmicas, falas de artistas, oficinas e outras proposições que o MAM Educativo intitula “experiências poéticas”.
Além da programação no espaço Fazer Junto, outras atividades na agenda educativa do museu ao estarão vinculadas à mostra. O público pode acompanhar a programação completa por meio do site do museu. Em algumas delas, o MAM Educativo contará com uma parceria com a Secretária Municipal de Educação, que trará professores para participarem das atividades, produzindo material audiovisual sobre suas experiências para ser difundido na rede pública posteriormente.
A linguagem gráfica criada pela artista e designer Vânia Medeiros se integra ao local expositivo a partir de uma identidade visual em que as palavras se organizam em curvas, insinuando movimentos fluidos e cores que trazem a memória de canetas marca-texto usadas para destacar palavras e frases, como informa a apresentação da mostra.
Vânia também produziu ilustrações para o catálogo da exposição a fim de representar as experiências poéticas comentadas na publicação, que estará disponível na abertura da exposição e está dividida em duas partes. A introdução do catálogo conta com textos de Elizabeth Machado, presidente do MAM, e dos curadores. Na primeira parte da publicação, são apresentados os núcleos, com imagens de obras representativas de cada um deles, acompanhadas de citações de autores que ajudam a pensar os temas evocados nesses segmentos, como Ailton Krenak, Marilena Chauí, bell hooks, Bruno Latour, Maria Lind, Roland Barthes, Leda Maria Martins, Humberto Maturana, Luiz Antônio Simas, Jacques Rancière e Paulo Freire, dentre outros. A segunda parte, intitulada “Para ler junto”, é composta de ensaios assinados por Cristine Takuá, Paul B. Preciado, Fátima Freire, Antônio Bispo dos Santos e Gandhy Piorski, sucedidos da lista de obras completa da exposição.
Núcleos e elementos
A exposição é estruturada em seis núcleos que são articulados de modo fluído; ou seja, sem formar eixos rígidos, já que várias peças poderiam fazer parte de mais de uma seleção. Para guiar o visitante, o MAM Educativo criou listas de palavras mediadoras para o acesso a cada espaço, anunciadas no catálogo como pistas em mapas para conhecer as obras. Cada núcleo contará com televisões que mostrarão registros de experiências poéticas, proposições realizadas pelo educativo do museu. No catálogo e na exposição, também ficam disponíveis QR codes para acessar esses registros, disponíveis em texto e gravadas em vídeo.
No primeiro núcleo, “Narrativas: fluxos, conexões, transformação”, as pinturas de Leda Catunda dialogam com obras de paisagens em outros formatos, como em “Delta Del Tigre – Naufrágio”, de Tatiana Blass. O espaço também traz trabalhos arrojados, como “Bolha Vermelha”, de Marcelo Nitsche, um experimento que parte de um eletroduto de polietileno movido por um motor exaustor industrial. A fotografia está presente em “Elementar: Fazer Junto” com obras como a série Caranguejeira, de Maureen Bisilliat, e os retratos do Parque Ibirapuera feitos por German Lorca, presentes nos núcleos dois e três, “Redes de comunicação: comunhão, resistência” e “Território: ambiente, contextos”, respectivamente.
A ação humana pode ser vista com ênfase nos trabalhos demarcados no núcleo quatro, “Rastros, Registros e Tempo”, das nuvens de fumaça da gravadora mineira Shirley Paes Leme ao flagrante urbano de um bueiro feito por Thomaz Farkas na década de 1940. A relação com o meio-ambiente está presente em muitos dos trabalhos, como em “Folhas Avulsas #3”, de Laura Vinci, feito em folha de ouro e latão, e o relevo de uma folha em papel na obra Sem título (1981), de Frans Krajcberg, que se encontram no quinto núcleo, ‘Transmutação: trocas e mudança’.
O sexto núcleo, “Jogos: regras, modos intencionais de tomar parte”, reúne trabalhos de artistas que convidam o público a se aproximar das peças. O visitante encontra obras interativas como “Totó Treme Terra”, do Chelpa Ferro, coletivo multimídia fundado em 1995, no Rio de Janeiro, que investiga os caminhos da arte sonora contemporânea. Neste núcleo, também estará a obra “Expediente: primeira proposta para o XXXI Salão Oficial de Arte do Museu do Estado de Pernambuco”, de Paulo Bruscky, que será ativada por colaboradores do MAM ao longo da exposição, que usarão a proposição do artista como local de trabalho. Neste núcleo, está inclusa a experiência poética MAM no Minecraft, na qual dois computadores serão dispostos na sala para que o público acesse e divirta-se com o jogo lançado em 2021, que projeta todo o universo da instituição no ambiente virtual.
Ao longo de seus 75 anos, o MAM São Paulo tem investido na formação de educadores, na cooperação com o setor pedagógico e no desenvolvimento e implementação de medidas de acessibilidade, sendo reconhecido nacionalmente por seus esforços neste núcleo.
Sobre o MAM São Paulo
Fundado em 1948, o Museu de Arte Moderna de São Paulo é uma sociedade civil de interesse público, sem fins lucrativos. Sua coleção conta com mais de 5 mil obras produzidas pelos mais representativos nomes da arte moderna e contemporânea, principalmente brasileira. Tanto o acervo quanto as exposições privilegiam o experimentalismo, abrindo-se para a pluralidade da produção artística mundial e a diversidade de interesses das sociedades contemporâneas.
O Museu mantém uma ampla grade de atividades que inclui cursos, seminários, palestras, performances, espetáculos musicais, sessões de vídeo e práticas artísticas. O conteúdo das exposições e das atividades é acessível a todos os públicos por meio de visitas mediadas em libras, audiodescrição das obras e videoguias em Libras. O acervo de livros, periódicos, documentos e material audiovisual é formado por 65 mil títulos. O intercâmbio com bibliotecas de museus de vários países mantém o acervo vivo.
Localizado no Parque Ibirapuera, a mais importante área verde de São Paulo, o edifício do MAM foi adaptado por Lina Bo Bardi e conta, além das salas de exposição, com ateliê, biblioteca, auditório, restaurante e uma loja onde os visitantes encontram produtos de design, livros de arte e uma linha de objetos com a marca MAM. Os espaços do Museu se integram visualmente ao Jardim de Esculturas, projetado por Roberto Burle Marx e Haruyoshi Ono para abrigar obras da coleção. Todas as dependências são acessíveis a visitantes com necessidades especiais.
Serviço:
“Elementar: fazer Junto” [coletiva com Anna Bella Geiger, Artur Lescher, Caio Reisewitz, Claudia Andujar, Chelpa Ferro – coletivo fundado pelos artistas Luiz Zerbini, Barrão e Sergio Mekler -, coletivo OPAVIVARÁ, Dora Longo Bahia, Edouard Fraipont & Cildo Meireles, Fausto Chermont, Frans Krajcberg, Franz Weissmann, German Lorca, Jac Leirner, Jarbas Lopes, José Leonilson, Julia Amaral, Laura Vinci, Leda Catunda, Lia Menna Barreto, Luiz Braga, Mabe Bethônico, Marcia Xavier, Marcius Galan, Marcos Piffer, Marcelo Cidade, Marcelo Nitsche, Marcelo Moscheta, Marcelo Zocchio, Maureen Bisilliat, Motta & Lima, Nelson Leirner, Paulo Bruscky, Pedro Motta, Pedro David, Regina Silveira, Rodrigo Andrade, Rodrigo Bueno, Rodrigo Braga, Rodrigo Matheus, Sandra Cinto, Sara Ramo, Shirley Paes Leme, Tarsila do Amaral, Tatiana Blass, Tadeu Jungle, Thomas Farkas e Vulcânica Pokaropa]
Abertura: 15 de junho, quinta-feira, 19h
Período expositivo: 15 de junho de 2023 a 13 de agosto de 2023
Curadoria: Cauê Alves, Mirela Estelles e Valquíria Prates
Local: Museu de Arte Moderna de São Paulo, Sala Milú Villela
Endereço: Parque Ibirapuera (Av. Pedro Álvares Cabral, s/nº – Portões 1 e 3)
Horários: terça a domingo, das 10h às 18h (com a última entrada às 17h30)
Ingressos: R$25,00 inteira e R$12,50 meia-entrada. Aos domingos, a entrada é gratuita e o visitante pode contribuir com o valor que quiser.
*Meia-entrada para estudantes, com identificação, jovens de baixa renda e idosos (+60). Gratuidade para crianças menores de 10 anos, pessoas com deficiência e acompanhante, professores e diretores da rede pública estadual e municipal de São Paulo com identificação, sócios e alunos do MAM, funcionários das empresas parceiras e museus, membros do ICOM, AICA e ABCA com identificação, funcionários da SPTuris e funcionários da Secretaria Municipal de Cultura.
Telefone: (11) 5085-1300
Acesso para pessoas com deficiência
Restaurante/café
Ar-condicionado
Mais informações:
www.instagram.com/mamsaopaulo/
https://www.facebook.com/mamsaopaulo/
https://twitter.com/mamsaopaulo.
(Fonte: A4&Holofote Comunicação)
Com seu despretensioso livro de estreia, que começou a ser feito numa aula de faculdade para explicar sua identidade de gênero e sua sexualidade para os amigos, Maia Kobabe desencadeou um debate que incendiou os Estados Unidos. “Gênero queer” chega ao Brasil no Mês da Visibilidade LGBTQIA+ para qualificar o debate em torno da teoria de gênero e estimular o acesso de jovens brasileiros a narrativas escritas por pessoas LGBTQIA+.
“Não quero ser menina. Também não quero ser menino. Tudo o que eu quero é ser eu.”
Quando Maia Kobabe nasceu, no fim dos anos 1980, nas imediações de San Francisco, foi identificade como menina. Desencanada e hippie, sua família não parecia se preocupar muito com os códigos de gênero na educação dos filhos. Assim que passou a conviver com outras crianças, Maia notou que nada daquilo que teimava em encaixar seu corpo e personalidade no gênero feminino — roupas, brinquedos, gestos, pronomes — correspondia à sua autoimagem. Por que uma menina não pode nadar sem camiseta?
Na adolescência, Maia percebeu que o seu desejo também não seguia o roteiro-padrão das descobertas sexuais: sentia uma inexplicável atração por colegas andrógines e não conseguia ficar com ninguém. Esse e outros dilemas da adolescência — Maia não sabia por que “precisava” raspar os cabelinhos da perna ou usar maiô, sentia pânico diante da menstruação e das primeiras consultas no ginecologista, descobriu tardiamente seu gosto pela leitura (e logo depois se apaixonou pela literatura queer) — são narrados no livro em tom afetivo e sincero, que nos transporta para perto de Maia.
Maia saiu do armário duas vezes: primeiro, como bissexual, durante o ensino médio. Mais tarde, na faculdade, como assexual (alguém que não sente ou sente pouca atração sexual por outra pessoa, independentemente de gênero), queer e não binárie (que não se identifica com o gênero masculino nem com o feminino). Nesta HQ autobiográfica, Maia narra esse processo de questionamento dos padrões de gênero, transição e afirmação, até adotar o gênero queer — palavra que perdeu seu primeiro sentido, de “não convencional, excêntrico”, para abarcar inúmeras possibilidades.
“Gênero queer” percorre cada etapa dessa jornada ao som de David Bowie e One Direction, com muito Tolkien, Harry Potter e fanfics. Em meio a uma profusão de saborosas referências pop e nerds, acompanhamos a educação sentimental de ume jovem na Califórnia da virada do século, em um ambiente de liberdade nos costumes, efervescência cultural, curiosidade intelectual e profundas dúvidas sobre gênero e sexualidade — muitas delas, exatamente as mesmas que todes temos na adolescência.
“Gênero queer” se filia à linhagem das grandes graphic novels de não ficção de nossa época, como “Maus”, de Art Spiegelman, “Persépolis”, de Marjane Satrapi, e “Fun Home”, de Alison Bechdel — notáveis por sua capacidade de levar o leitor a uma jornada de conhecimento de um novo universo cultural por meio de uma narrativa magnética e vibrante.
Prêmios e boicotes
Desde sua publicação original, em 2020, o gibi de Maia Kobabe abriu cabeças, se tornou best-seller — as diferentes edições já lançadas superam os 100 mil exemplares vendidos — e recebeu prêmios: ganhou o Alex Award, concedido pela ALA, a Associação Norte-Americana de Bibliotecas, e foi finalista do Stonewall Book Award, que premia narrativas LGBTQIA+. Mas “Gênero queer” também despertou a ira dos moralistas: em 2021 e 2022, foi o título mais ameaçado por movimentos de banimento de livros em bibliotecas nos Estados Unidos, segundo levantamento da ALA. O ano passado também registrou um aumento de 40% nos títulos sob ataque — 2.571 livros foram ameaçados, dos quais 40% tinham protagonistas negros e 20% debatiam questões raciais, segundo dados do PEN America, instituto que monitora ameaças à liberdade de expressão. O debate sobre gênero também está no foco dos movimentos de censura, e “Gênero queer” foi um dos alvos.
Em um artigo sobre seu livro, Maia conta que estava em casa em 23 de setembro de 2021 quando começou a receber notificações no celular. Havia sido marcade num vídeo do Instagram. “Parecia ser uma filmagem de uma reunião do conselho municipal e uma mulher discursava com raiva diante de um suporte para ler livros. Não liguei o som. ‘Esses são os doentes que escrevem esses livros horrorosos’, alguém comentou ao marcar o meu perfil”. Um protesto de pais exigia o banimento de livros da biblioteca escolar local.
“Na manhã seguinte, acordei e vi vários e-mails de jornalistas da Associated Press e de agências de notícias de Washington”. O movimento de perseguição a seu livro — que havia sido lançado com tiragem modesta e sem alarde no ano anterior — tinha se alastrado pelo país e ainda não dá sinais de recuar.
Ex-bibliotecárie e professore de quadrinhos para adolescentes, Maia se preocupa com a restrição de acesso de jovens como elu a livros fundamentais para compreenderem a si mesmes. “Não raro”, escreve Maia, “jovens queer não têm opção senão procurar fora de casa e do sistema educacional as informações sobre quem são. Banir ou restringir livros queer em bibliotecas e escolas é como privar jovens queer de coletes salva-vidas, jovens que talvez ainda nem saibam quais palavras devem digitar no Google para descobrir mais sobre o seu próprio corpo, sua identidade e sua saúde”.
Símbolo de resistência
Num movimento de reação a essa onda de censura, “Gênero queer” acabou se tornando um símbolo da resistência de bibliotecáries e ativistas pela liberdade de expressão, que vêm adotando estratégias de guerrilha para garantir a jovens do interior dos Estados Unidos o acesso a narrativas LGBTQIA+. Bibliotecas improvisadas e clubes de leitura relâmpago surgem de um dia para o outro para furar a censura em pequenas localidades que tiveram suas bibliotecas escolares esvaziadas. Nesses espaços de leitura subversivos, “Gênero queer” faz parte do kit de sobrevivência.
O governador da Carolina do Sul, o republicano Henry McMaster, chegou a tachar o livro de “obsceno e pornográfico” e “provavelmente ilegal” — embora as poucas cenas de sexo do livro sejam retratadas sempre em chave afetiva e não tenham nenhum tipo de violência. O presidente Joe Biden chamou os movimentos pró-banimento de livros de “extremistas do Make America Great Again”. A ALA indica o livro para pessoas a partir dos 12 anos.
Sobre os banimentos, Maia afirmou, em ensaio publicado no site da NPR, a National Public Radio, que procura “encarar tudo isso, se não como um elogio, ao menos como uma espécie de confirmação da potência de minha obra”. Elu só reforçou seu compromisso de continuar escrevendo histórias centradas em personagens trans, queer e não binárias. “Tudo bem se alguns locais do país estão obcecados por censurar meu trabalho, mas me recuso a fazer o mesmo”.
Linguagem não binária
A pedido de Maia Kobabe, a tradução brasileira, de Clara Rellstab, dedicou um cuidado especial ao uso da linguagem não binária, isto é, sem o uso automático da flexão masculina — como na palavra “todes”, por exemplo.
A linguagem, afinal, é um dos temas principais do livro. Da insatisfação com o tratamento sistemático no feminino, ainda em sua infância, à descoberta do sistema anglófono de pronomes Spivak, que acabou adotando, Maia explica por que palavras erradas ou descuidadas podem ofender. Ao mesmo tempo, elu reconhece como é difícil mudar, na família, entre amigos e na sociedade, práticas tão enraizadas. A solução que encontra dá o tom geral de “Gênero queer”: corrigir e explicar, com paciência e generosidade, cada escorregão pronominal, para que a linguagem não binária seja de fato compreendida e utilizada no cotidiano por nós todes.
Mas como isso se aplica na tradução de uma história em quadrinhos? Se no inglês o sexismo se manifesta basicamente nos pronomes, nas línguas neolatinas a flexão de gênero recai também sobre artigos, adjetivos e substantivos, o que acrescenta algumas camadas de complexidade. Na falta de um sistema equivalente ao escolhido por Maia, o Spivak (no qual os pronomes he, she, his, him e her são substituídos por e, eim, eir), a revisão técnica da tradução, assinada por be rgb, tradutorie e editorie de livros, adotou em “Gênero queer” o sistema brasileiro elu/delu, o mais corrente na atualidade.
Nesse sistema, palavras que ganhariam a flexão “natural” no masculino recebem uma terminação neutra: “escritor” ou “escritora” viram “escritorie” (plural “escritories”), por exemplo, e os artigos “a” e “o”, que geralmente marcam o gênero, são substituídos por “u” e “e”, dependendo da palavra; por exemplo, no plural “os vizinhos” se tornam “us vizinhes”. A revisão também buscou evitar palavras masculinizantes, como “pais” para traduzir parents (ficou “minha família”).
O uso da flexão de gênero não binária na tradução acompanha o processo de descoberta de Maia, que é tratade como menina até o momento em que, já adulte, ume artiste queer abre seus olhos para um novo universo, simbolizado por seus novos pronomes. Ou seja, ninguém nasce sabendo linguagem não binária, nem mesmo Maia, mas podemos aprender. E, de certa forma, acabamos evoluindo nesse aprendizado junto com elu ao longo da leitura.
O Brasil ainda está iniciando o debate sobre linguagem não binária nas escolas, na imprensa, na vida privada e no debate público. “Gênero queer” é uma leitura fundamental para quem se interessa pelo tema ou deseja entender melhor esse fenômeno linguístico. Vale observar que o portal jornalístico AzMina produziu um Manual para Uso de Linguagem Não Binária para uso de jornalistas: https://azmina.com.br/reportagens/manual-para-comunicacao-neutra/.
A HQ foi parcialmente financiada pelo programa de patronos da Tinta-da-China Brasil.
“Gênero Queer” n’A Feira do Livro 2023
Inspirado num trecho do HQ de Maia, a editora Tinta-da-China Brasil preparou uma ação em sua tenda durante A Feira do Livro 2023, que acontece na Praça Charles Miller, em São Paulo, entre os dias 7 e 11 de junho. No estande, adesivos com os pronomes Spivak serão distribuídos gratuitamente.
Maia Kobabe na POC CON
Maia Kobabe está entre us convidades da POC CON – Feira LGBTQ+ de Quadrinhos e Artes Gráficas, que aconteceu nos dias 9 e 10 de junho no Centro Cultural São Paulo. A participação de Maia foi virtual, em uma conversa gravada previamente com Lino Arruda, autor transmasculino premiado no Prêmio Mix Literário, que vai lançar a HQ “Cisforia” no evento. A conversa, com legenda em português, será transmitida no canal do YouTube da POC CON (youtube.com/c/PocCon) em data a ser confirmada.
Gênero Queer — Memórias
Maia Kobabe
Cores: Phoebe Kobabe
Tradução: Clara Rellstab
Revisão técnica em linguagem não binária: be rgb
Editora Tinta-da-China Brasil
240 páginas | 14 x 21 | R$99,00.
Sobre Maia Kobabe
Nascide em 1989, fez pós-graduação em quadrinhos pelo California College of The Arts. Trabalhou como bibliotecárie por muitos anos e hoje ministra aulas de quadrinhos em escolas e outros espaços educativos. Publicado nos Estados Unidos em 2019, “Gênero queer” tem edições em francês, espanhol, italiano, alemão, japonês, coreano, checo e holandês.
Sobre a Tinta-da-China Brasil
A Tinta-da-China Brasil é uma editora de livros independente, que publica o melhor da literatura clássica e contemporânea, além de livros de história, jornalismo, humor, literatura de viagem, ensaios, fotografia, poesia, a edição em língua portuguesa da mais importante revista literária da era moderna — a britânica Granta — e a mais bonita coleção de Fernando Pessoa em qualquer língua.
Fundada em 2005 em Portugal, a editora aportou no Brasil em 2012 e desde 2022 é controlada pela Associação Quatro Cinco Um, organização sem fins lucrativos dedicada à difusão da cultura do livro.
Tinta-da-China Brasil | Associação Quatro Cinco Um
Largo do Arouche, 161, sl. 2 – República – São Paulo (SP)
(Fonte: A4&Holofote Comunicação)
A OMA Galeria inaugurou no dia 2 de junho “Passado, passado, futuro”, exposição individual de Fernanda Figueiredo com curadoria de Paula Borghi. As oito pinturas inéditas apresentadas foram inspiradas pelos principais acontecimentos políticos do país nos últimos tempos, culminando nos ataques à Praça dos Três Poderes em 8 de janeiro deste ano.
As obras são parte da série “País do futuro”, iniciada pela artista em 2020, ainda durante o governo Bolsonaro. Partindo de notícias de jornal, televisão e lives no YouTube, Figueiredo coloca as obras de arte, elementos arquitetônicos, artefatos, tapeçarias e outros objetos localizados nos prédios governamentais de Brasília como testemunhas oculares da história que ali é construída.
Nas pinturas mais recentes, a artista se debruça sobre os acontecimentos de 8 de janeiro, quando os edifícios do Supremo Tribunal Federal, do Palácio do Planalto e do Congresso Nacional foram invadidos e depredados. Durante os ataques, diversas obras de arte foram danificadas – como resultado, além de espectadoras, a artista coloca algumas obras também como vítimas: caso de “Programa de proteçāo à testemunha”, que retrata “As Mulatas” de Di Cavalcanti, pintura que recebeu facadas dos invasores.
Fernanda pretende provocar o pensamento crítico sobre questões políticas e sociais do país. Entre as referências retiradas das obras danificadas pelos invasores estão muitos elementos ligados a religiões de matriz africana, personagens negras e do sexo feminino, promovendo reflexões sobre o racismo, o machismo e o preconceito religioso tão presentes no governo Bolsonaro.
Através da pintura, a artista cria uma memória coletiva da história política do país, mais perene que as notícias de jornal. Segundo Fernanda, “Com a série ‘País do Futuro’, ofereço ao público registros sensíveis dessa história para começar uma conversa, para pensar junto e para não perder a memória”.
Sobre a OMA Galeria | A OMA Galeria foi fundada em 2013 como o primeiro e único espaço privado de artes visuais do ABC, sob os cuidados do galerista Thomaz Pacheco. Em 2022, a galeria inaugurou sua segunda unidade, expandindo suas atividades para o bairro dos Jardins, em São Paulo. Em pouco tempo, a OMA tornou-se referência, destacando-se no circuito das artes visuais por seus projetos culturais promovidos pelo OMA Educação e OMA Cultural. Atualmente, a galeria representa os artistas Andrey Rossi, Fernanda Figueiredo, Fernando Velázquez, Júlio Vieira, Michel Cena7, Mônica Ventura, MOOLA, Nario Barbosa, Paulo Nenflidio e Renan Marcondes.
Serviço:
Passado, passado, futuro
Local: OMA Galeria
Endereço: Rua Pamplona, 1197, casa 4 – Jardins – São Paulo, SP
Visitação: até 24/6/2023
Horário: terça a sexta-feira das 14h às 19h e sábados das 10h às 15h
Entrada gratuita.
(Fonte: OMA Galeria)
Se tem uma coisa que o Coala Festival garante em todas as edições é a tríade “música, letra e dança”. Neste ano, a dose dessa equação vem em dobro: a carioca Marina Lima, que tem a carreira marcada com sucessos como “Fullgás”, é mais uma das atrações confirmadas para o evento e divide o palco com Fernanda Abreu que, por sua vez, celebra mais de 30 anos de baile e fervura de “Rio 40 graus”. Com o anúncio, a programação da nona edição do Coala Festival, marcada para os dias 15, 16 e 17 de setembro, no Memorial da América Latina, em São Paulo, se solidifica como um palco de encontros potentes. Tudo porque estão ainda no line-up BaianaSystem + Olodum (OlodumBaiana) – projeto que une o poder percussivo dos grupos, se apresentando pela primeira vez em São Paulo –, Martinho da Vila e João Donato; Angela Ro Ro e Letrux; Fafá de Belém convida Johnny Hooker, Suraras do Tapajós e Lucas Estrela. O festival ainda apresenta um espetáculo exclusivo de Baby do Brasil, Pepeu Gomes e Paulinho Boca de Cantor no marco de 50 anos dos Novos Baianos. Os ingressos estão disponíveis (acesse aqui) e mais atrações serão anunciadas.
É a primeira vez que Marina Lima e Fernanda Abreu sobem ao palco juntas, em um show criado exclusivamente para o Coala Festival com as artistas entregando um diálogo musical profundamente celebrativo. Duas potências femininas da música brasileira e sinônimos de inventividade, ambas são do Rio de Janeiro e traduzem bem suas raízes – enquanto Fernanda é um dos nomes do pop funk soul, Marina abriu caminhos para a conversa entre o rock e a MPB (ainda no começo dos anos 1980).
“Gosto da Fernanda desde o primeiro disco dela; ela tem muito suingue e temos um lado bem parecido, sabe? Vários músicos tocaram comigo e com ela”, conta Marina Lima. “Vai ser o máximo esse show no Coala; são duas virginianas a fim de fazer um negócio lindo para o festival. Estamos pensando em músicas das duas e também de algumas paixões que temos em comum, como Erasmo Carlos, Rita Lee. São coisas que têm frescor e que podem dar uma pegada especial para o show”, explica a cantora.
A parceria artística entre elas, portanto, passa não só pelo funk e pelo suingue em comum, mas pela liberdade discursiva que fizeram as duas alcançarem o posto de ícones da música brasileira. “Para o Coala, pretendo levar na minha participação a mistura do início da música dançante – já que, há 30 anos, a imprensa me batizou como a ‘mãe do pop dançante brasileiro’ – com o funk carioca. Essa é a estética que criei e que desenvolvi nesses anos de carreira. E, claro, estar com Marina vai ser maravilhoso; sou muito fã dela desde o primeiro disco que lançou, a gente é praticamente contemporânea e temos muitas coisas em comum; uma delas é usarmos linguagem eletrônica, de baterias, por exemplo, com música orgânica, com sonoridade brasileira. Por isso, esse encontro tem muito a ver”, completa Fernanda Abreu.
O Coala Festival 2023 tem patrocínio da Natura. A cerveja oficial do evento é Amstel e o apoio é de Jameson e Chilli Beans. Assim como nos outros anos, o evento mantém o compromisso de ter ingressos acessíveis de R$160,00 (meia-entrada | para um dia) a R$490,00 (passe para três dias). Há ainda a opção do mini passe coalático, uma entrada para dois dias de festival combinados, de R$330,00. Confira o line-up já confirmado a seguir:
15 de setembro (sexta-feira)
Fafá de Belém com part. Johnny Hooker
FBC
OlodumBaiana
Péricles
16 de setembro (sábado)
João Donato e Martinho da Vila
Novos Baianos 50 anos
Simone
Suraras do Tapajós com part. Lucas Estrela
17 de setembro (domingo)
Angela Ro Ro e Letrux
Marina Lima e Fernanda Abreu
Coala Festival 2023
Datas: 15, 16 e 17 de setembro de 2023
Local: Memorial da América Latina
Endereço: Av. Mário de Andrade, 664 – Barra Funda, São Paulo (SP)
Ingressos:
Passe Coalático (entrada para os três dias de festival) | R$490,00
Mini Passe Coalático (entrada para dois dias combinados) | R$330,00
Inteira (entrada para um dia) – Lote 1 | R$320,00
Solidária (entrada para um dia) – Lote 1 | R$240,00
Meia-entrada (entrada para um dia) – Lote 1 | R$160,00
Site de venda: Total Acesso.
(Fonte: Trovoa Comunicação)