Pesquisadores da USP e do Hospital Sírio-Libanês alertam para impactos da pandemia e recessão no cenário atual


São Paulo
Obra processual site specific da artista Charlene Bicalho lança luz as atividades dos agentes de limpeza que atuam no Centro Cultural Sesc Quintandinha, em Petrópolis (RJ), durante a exposição Brasis – Arte e Pensamento Negro. Fotos: Divulgação.
Uma equipe é a responsável pela limpeza de um icônico ponto turístico da cidade serrana de Petrópolis (RJ). Com fachada em estilo normando-francês, e o interior decorado com base em cenários da Hollywood antiga, o recém-inaugurado Centro Cultural Sesc Quitandinha ocupa as instalações de um edifício construído na década de 1940 para ser um hotel-cassino.
Cada detalhe do ‘palácio’ projetado por Luis Fossati e Alfredo Baeta Neves, foi pensado para impressionar os visitantes – entre eles Walt Disney e Carmen Miranda – e expressar luxo e suntuosidade. Somente a cúpula do Salão Azul, que possui 30 m de altura e 50 m de diâmetro, é a segunda maior do mundo, atrás apenas da cúpula da Basílica de São Pedro, no Vaticano. Muitos lustres e um piso extremamente brilhante, em formato de losangos nas cores preto e branco, foram escolhidos pela famosa cenógrafa Dorothy Draper, que elegeu elementos exuberantes na decoração, como espelhos e muitas referências ao mar, animais e florestas brasileiras. “Cada detalhe deste, hoje, espaço cultural é cuidado e higienizado por funcionários terceirizados que atuam diariamente para garantir o bem-estar de quem trabalha e/ou visita o ponto turístico”, explica a artista mineira Charlene Bicalho, participante da exposição Dos Brasis – Arte e Pensamento Negro, que ocupa, até o dia 27 de outubro, o Sesc Quitandinha. A exposição é a mais abrangente mostra dedicada exclusivamente à produção de artistas negros já realizada no país e dá visibilidade (por intermédio da obra processual de Bicalho) à equipe, que ao realizar a limpeza do local, torna possível o funcionamento pleno da instituição.
“Em uma cidade que costuma ser lembrada por seu passado imperial e imigração europeia, poder ‘reposicionar’, mesmo que temporariamente, o papel de atuação destas pessoas dentro de um espaço turístico e cultural é de grande importância”, comenta a artista, que entrevistou todos os funcionários da limpeza para entender o tipo de relacionamento que estes mantêm com a programação cultural que eles apoiam e com a instituição em que atuam. “Os agentes de limpeza em instituições culturais estão por toda parte, principalmente os terceirizados. São eles os primeiros a chegar e os últimos a irem embora. São eles que possuem as chaves e têm todos os acessos de um equipamento como este, mas raras vezes são convidados para uma abertura de exposição, por exemplo, ou para um jantar que celebre o trabalho que realizam. Quando estão em uma situação de abertura ou comemoração, estão sempre trabalhando”, explica.
“É um sonho que a gente tem aqui dentro, todas as pessoas têm, de querer aparecer, de querer ter um lugarzinho a mais, uma visibilidade a mais”, comenta Guilherme Motta, de 18 anos, entrevistado por Charlene. “Minha prática site specific oscila entre a busca do material e o imaterial; o primeiro, geralmente encontro na estrutura de poder alicerçada na arquitetura e, o segundo, na água do hálito das ditas minorias brasileiras, nos saberes e movimentos subalternizados”, comenta Charlene, uniformizada com a mesma cor das vestimentas dos funcionários responsáveis pela limpeza no Centro Cultural Sesc Quitandinha enquanto realiza os diálogos.
“Eu penso hoje que esse trabalho tensiona um ponto fundamental numa cena institucional brasileira, nas discussões raciais. Sabemos que nós, pessoas negras, sempre ocupamos lugares, digamos, subalternizados numa instituição e exercendo profissões dignas, que por anos a fio nós exercemos, nossas famílias exerceram, nossos ancestrais também exerceram. O Brasil, ele é, obviamente, desigual em relação a esse assunto, que é o trabalho”, explica um dos curadores da mostra, Marcelo Campos.
“É importante ressaltar que estas pessoas estão aqui, ocupam este espaço e sem o trabalho que realizam, seria impossível manter este piso tão reluzente e o brilho da estrela do salão principal deste palácio não existiria”, completa Charlene, ressaltando que os funcionários terceirizados que cuidam de manutenção, como os da limpeza, não são um grupo minoritário no Brasil; ao contrário, são a maioria da população. “Aqui em Petrópolis temos homens e mulheres afrodescendentes. Profissionais, alguns jovens e outros mais velhos, que fazem parte deste cenário do mundo das artes em nosso país”, finaliza a artista, que também pode ser vista no Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires (Malba) até junho realizando uma vídeo-performance na exposição Amefricana, da premiada Rosana Paulino.
Durante a exposição Dos Brasis – Arte e Pensamento Negro, o trabalho comissionado de Charlene Bicalho ocupa todo o Sesc Quitandinha, como uma grande constelação. São intervenções artísticas que vão desde 80 cavaletes de sinalização de ‘limpeza em andamento’ (com frases de autoria dos trabalhadores que os manejam impressas em sua estrutura), um tríptico de fotografias, vídeos que serão exibidos nos televisores responsáveis pela divulgação da programação e em instalações espalhadas por toda parte.
Segundo dados do Relatório Anual de Informações Sociais (RAIS) a terceirização é motivo para aumento da precarização das condições de trabalho, ocasionando acidentes, desenvolvimento de doenças laborais, redução de salários e enfraquecimento sindical. Ainda segundo o relatório, em pesquisa do ano de 2013, setores tipicamente terceirizados remuneram com salários em média 24,7% menores que setores tipicamente contratantes e ainda apresentam uma carga horária média de trabalho 7,5% maior, com taxa de rotatividade igual ao dobro. O setor de limpeza e conservação é um dos mais vulneráveis à terceirização.
Serviço:
Dos Brasis – Arte e Pensamento Negro
Centro Cultural Sesc Quitandinha
Até 27 de outubro
Endereço: Av. Joaquim Rolla, nº 2, Petrópolis – RJ
Horário de funcionamento: terça a domingo e feriados, das 10h às 17h
Para saber mais sobre Charlene Bicalho: https://www.premiopipa.com/charlene-bicalho/
Sobre a exposição | A centralidade do pensamento negro no campo das artes visuais brasileiras, em diferentes tempos e lugares. Essa é uma das principais premissas que norteiam o processo curatorial da mostra Dos Brasis – Arte e Pensamento Negro, a mais abrangente exposição dedicada exclusivamente à produção de artistas negros já realizada no país. A exposição apresentará ao público trabalhos em diversas linguagens artísticas como pintura, fotografia, escultura, instalações e videoinstalações produzidos entre o fim do século XVIII até o século XXI por 240 artistas pretos de todo o Brasil, trazendo ao público uma produção artística diversa e potente, porém, historicamente invisibilizada.
Sobre os curadores:
Igor Simões
É doutor em Artes Visuais-História, Teoria e Crítica da Arte-PPGAV-UFRGS e Professor Adjunto de História, Teoria e Crítica da arte e Metodologia e Prática do ensino da arte (UERGS). Foi Curador adjunto da Bienal 12 (Bienal do Mercosul – Curadoria do educativo). É membro do comitê de curadoria da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas (Anpap), do Núcleo Educativo UERGS-MARGS e do comitê de acervo do Museu de Arte do RS-MARGS. Trabalha com as articulações entre exposição, montagem fílmica, histórias da arte e racialização na arte brasileira e visibilidade de sujeitos negros nas artes visuais. É autor da Tese Montagem Fílmica e exposição: Vozes Negras no Cubo Branco da Arte Brasileira e Membro do Flume – Grupo de Pesquisa em Educação e Artes Visuais. Tem mantido atividades na área de formação e debate sobre arte brasileira e racialização em instituições como MASP, Instituto Itaú Cultural, Instituto Moreira Salles e MAC/USP. Atualmente é curador do projeto Dos Brasis- Arte e Pensamento Negro do Sesc.
Lorraine Mendes
Lorraine Mendes é graduada em Artes e Design pela UFJF, mestra em História pela mesma instituição e atualmente é doutoranda em História e Crítica da Arte no PPGAV-UFRJ, onde desenvolve sua pesquisa sobre as representações do negro e da negritude na história da arte branco-brasileira e os projetos de Nação, realizando uma revisão do arquivo de imagens que formam a ideia de Brasil a partir da agência poética negra contemporânea. Inicia-se na docência no ano de 2017, tendo sido professora substituta do Departamento de Teoria e História da Arte da EBA-UFRJ entre 2019 e 2021. Tem realizado curadorias em feiras, galerias e instituições de arte nacionais e internacionais como desdobramentos de sua pesquisa.
Marcelo Campos
Marcelo Campos nasceu, vive e trabalha no Rio de Janeiro. Professor Associado do Departamento de Teoria e História da Arte do Instituto de Artes da UERJ. Curador Chefe do Museu de Arte do Rio. Foi diretor da Casa França-Brasil, entre 2016 e 2017. Foi professor da Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Membro dos conselhos dos Museus Paço Imperial (RJ) e Museu Bispo do Rosário de Arte Contemporânea (RJ). Doutor em Artes Visuais pelo PPGAV da Escola de Belas Artes/ UFRJ. Possui textos publicados sobre arte brasileira em periódicos, livros e catálogos nacionais e internacionais. Em 2016, lança Escultura Contemporânea no Brasil: reflexões em dez percursos. Salvador: Editora Caramurê, incluindo parte significativa da produção moderna e contemporânea brasileira, em um levantamento de mais de 90 artistas. Realiza curadoria de exposições, desde 2004, em diversas instituições no Brasil, com mais de cem curadorias até o momento, dentre as quais, destacam-se Sertão Contemporâneo, na Caixa Cultural, em 2008, Rio de Janeiro e Salvador; Efrain Almeida: Uma pausa em pleno vôo, no MAM/BA, em 2016 e Bispo do Rosário, um canto, dois sertões, no Museu Bispo do Rosário de Arte Contemporânea, em 2015. Além da produção citada, as matrizes africanas e afro-brasileiras são pesquisadas em exposições, como, Orixás, Casa França Brasil, 2016; O Rio do Samba: resistência e reinvenção, Museu de Arte do Rio (MAR), 2018, Casa Carioca, MAR, 2020, Crônicas Cariocas, Museu de Arte do Rio (MAR), 2021 e Um defeito de Cor, MAR, 2022. Além das citadas, curou as exposições individuais de Aline Motta, Mulambö, Bqueer, Ayrson Heráclito no Museu de Arte do Rio (MAR). Em 2018, uma grande exposição atualizou o mapeamento da região Nordeste, incluindo pesquisa e trabalho de campo em todos os estados da região, junto com os curadores Clarissa Diniz e Bitú Cassundé, resultando numa mostra de grande porte no Sesc 24 de Maio, em São Paulo. Atualmente, coordena pesquisas sobre artistas afrodescendentes no Projeto de extensão, Arte e Afrobrasilidade da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
(Fonte: Com Larissa Gallep)
Taxa de germinação do baru com a cápsula se aproximou de 100%, enquanto na semeadura direta foi de apenas 15%. Foto: Mauricio Mercadante/Flickr.
O uso de cápsulas biodegradáveis feitas a partir de papelão aumenta as chances de germinação das sementes de três espécies de árvores típicas do Cerrado: baru, angico-branco e tamboril. Esse resultado, publicado em artigo da revista Ciência Rural nesta sexta (18) por pesquisadores das universidades federais de Jataí (UFJ), em Goiás, e de Rondonópolis (UFR), no Mato Grosso, pode trazer avanços para programas de restauração de áreas degradadas.
As espécies têm importância cultural, alimentar e ecológica no Cerrado. O baru produz a oleaginosa conhecida como castanha de baru, rica em nutrientes, e o angico-branco e o tamboril têm partes utilizadas em preparos terapêuticos, como infusões.
Os experimentos foram conduzidos ao longo de quatro meses em uma estufa do Centro Universitário de Mineiros, em Goiânia, com o objetivo de verificar as diferenças entre o uso de cápsulas e a semeadura direta. Em cada amostra, a equipe depositou duas sementes de cada espécie. No caso do baru, por exemplo, a taxa de germinação com a cápsula se aproximou de 100%, enquanto na semeadura direta foi de apenas 15%. O mesmo ocorreu com o angico-branco, cuja taxa com a proteção foi de 42% em comparação aos 21% da semeadura direta, e com o tamboril, que registrou taxa de 12% versus 8%.
O artigo explica que a cápsula, desenvolvida a partir de papelão utilizado como embalagem de ovos, garante proteção das sementes no solo contra animais herbívoros. A cápsula também aumenta a retenção de umidade, garantindo conforto térmico às sementes. A semeadura direta só pode ser bem-sucedida quando diferentes fatores, como o uso de tecnologias e práticas agrícolas adequadas, melhoram a germinação das sementes, explica Karine Lopes, doutora em Geografia pela UFJ e uma das autoras do artigo. Segundo a autora, a tecnologia descrita pelo artigo é de baixo custo e sustentável, com potencial impactar significativamente os esforços para a restauração de áreas degradadas. “Essa inovação pode influenciar políticas públicas de conservação e contribuir para a produção de conhecimento científico”, conta Lopes.
A pesquisa também traz novidade ao integrar o uso de cápsulas biodegradáveis com a tecnologia de drones para monitoramento da recuperação ambiental, de acordo com Lopes. “Atualmente, não existe nenhum material equivalente disponível, o que coloca essa pesquisa na vanguarda das soluções sustentáveis para restauração ecológica”, aponta a pesquisadora.
Como próximos passos, os pesquisadores pretendem avaliar o crescimento e a sobrevivência das plantas recém-germinadas em campo, além de realizar uma análise detalhada dos custos financeiros envolvidos. Eles também pretendem implementar a metodologia em áreas de difícil acesso para monitorar o crescimento das plantas e avaliar a eficácia do processo em outras condições ambientais. De acordo com Lopes, isso será essencial para ajustar e aprimorar a aplicação da tecnologia em diferentes cenários.
(Fonte: Agência Bori)
Médico e pesquisador Julio Teixeira ao lado de equipamento usado no teste: processo automatizado elimina etapas e variáveis. Fotos: Unicamp/Divulgação.
Um estudo pioneiro no Brasil está revolucionando a detecção precoce do câncer de colo do útero no sistema público de saúde de Indaiatuba, interior do Estado de São Paulo. Liderada por médicos do Hospital da Mulher Prof. Dr. José Aristodemo Pinotti (Caism) da Unicamp, a pesquisa usa um teste de DNA para a detecção do HPV aliado ao monitoramento ativo do público-alvo a fim de antecipar o diagnóstico da doença em dez anos. Os resultados dessa pesquisa foram publicados na revista científica Scientific Reports, do grupo Nature, e estão sendo utilizados como base para uma mudança nas políticas públicas do Ministério da Saúde voltadas à prevenção de câncer de colo do útero.
O projeto demonstrou que a substituição do tradicional exame de Papanicolaou pelo teste de DNA para detectar a presença do HPV não apenas é mais eficiente na identificação de lesões pré-cancerosas como também pode ser mais econômica para o sistema de saúde se implementada junto com um plano de monitoramento eficaz. No caso do teste de DNA, as mulheres fazem acompanhamento em ciclos de cinco anos e não mais de três. Outro ponto vantajoso do teste se deve, em grande parte, à sua precisão e reprodutibilidade. Enquanto o exame de Papanicolaou depende da interpretação humana em diferentes etapas, o teste de DNA do HPV é um processo automatizado, eliminando muitas das variáveis que podem levar a falsos negativos ou positivos.
Segundo um dos responsáveis pelo estudo, o pesquisador e médico do Caism Júlio Teixeira, com a mudança houve um aumento expressivo na detecção de lesões pré-cancerosas e um incremento de 60% na identificação de casos de câncer em estágios iniciais, quando comparado ao método de detecção tradicional. “Nós aumentamos em quatro vezes a detecção de lesões pré-câncer em relação aos cinco anos anteriores”, explica Teixeira. “Quando analisamos os casos de câncer detectados, dois terços eram microscópicos, em vez de avançados, como ocorria anteriormente.”
O pesquisador estima que, se o projeto desenvolvido em Indaiatuba for implementado em escala nacional, o novo método poderia evitar cerca de 350 mortes por mês no Brasil, das mais de 468 que ocorrem mensalmente devido ao câncer de colo do útero. O impacto potencial é significativo, de acordo com o médico. Além de evitar mortes, a detecção em estágio inicial das lesões precursoras e do câncer abre caminho para um tratamento mais simples, dispensando equipamentos ou infraestrutura sofisticados. Quando um câncer passa do estágio 1, deixa de ser operável e, na maioria das vezes, será tratado com radioterapia ou quimioterapia, procedimentos que exigem estrutura e equipamentos nem sempre disponíveis em todos os lugares do país. Ainda que os testes de DNA sejam mais custosos em comparação com o Papanicolau, a médio e longo prazo os governos gastariam menos. “Custa menos por ano de vida ganho”, afirma o pesquisador.
Política pública
O êxito do projeto em Indaiatuba não passou despercebido pelo Ministério da Saúde, que, desde 2022, vinha acompanhando os resultados preliminares do estudo. Em março de 2024, a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec) aprovou o uso do teste de HPV no SUS. A previsão é que, dentro de poucos meses, o teste estará disponibilizado no sistema de atendimento médico.
Teixeira argumenta, no entanto, que não há necessidade de esperar por mais estudos ou implementações-piloto. “Por que você vai esperar mais alguns anos?”, questiona. “Pesa na consciência continuar fazendo o que estamos fazendo, em frente a todas essas evidências”. O pesquisador defende uma implementação gradual do novo método, começando pelos Estados e municípios já preparados para isso. São Paulo seria um exemplo de Estado com condições adequadas para essa transição. “Quando você coloca esses números para um governador, um prefeito, um secretário, ele vai ver isso, ele sabe como é o problema na cidade dele ou na região dele. Ele vai querer fazer isso”, argumenta o médico.
Um aspecto crucial para o êxito do projeto de Indaiatuba foi a implementação de um sistema informatizado a fim de gerenciar o programa de rastreamento. Esse sistema permite um controle eficiente da população-alvo, convocando e desconvocando pacientes conforme necessário. Teixeira ressalta que o aplicativo do SUS, criado durante a pandemia de Covid-19, poderia ser aproveitado em nível nacional. Há cerca de um ano, o Ministério da Saúde implementou um projeto em Recife (Pernambuco) com base no estudo realizado em Indaiatuba, buscando replicar e expandir o modelo para uma cidade mais populosa e com alto índice de mulheres com esse tipo de câncer.
Estudo-sentinela
O estudo em Indaiatuba não terminou com a publicação dos resultados de cinco anos. Na verdade, a pesquisa, que já completou sete anos e meio, continua. Teixeira explica que os resultados positivos transformaram o projeto em um ‘estudo-sentinela’, fornecendo informações valiosas sobre o que acontece nas rodadas subsequentes de testes. “Nesta segunda rodada, vamos repetir os testes nas mesmas mulheres que já os realizaram há cinco anos e, dessas que fizeram, retiramos aquelas que tinham a doença e que geraram exames e tratamentos”, explica o pesquisador.
As informações coletadas daqui por diante revelam-se importantes para o planejamento de longo prazo do programa, pois permitirá que os gestores de saúde responsáveis por implementar o método possam antecipar as mudanças nas demandas por diferentes tipos de serviços ao longo do tempo, otimizando a alocação de recursos. Embora não se consiga prever exatamente quando o câncer de colo do útero será erradicado do Brasil, Teixeira explica que podemos olhar para exemplos internacionais. A Austrália, que começou seu programa de vacinação contra o HPV em 2006 e que já utiliza o teste de DNA para o rastreamento do HPV, projeta que o câncer de colo do útero se transformará em uma doença rara antes de 2038.
Com a aprovação do uso do teste de DNA do HPV no SUS, o próximo passo é a publicação das novas diretrizes nacionais para o programa de rastreamento. Teixeira e outros pesquisadores da Unicamp continuam trabalhando e atuam como consultores nesse processo, garantindo que as lições aprendidas em Indaiatuba façam parte do programa nacional.
(Fonte: Unicamp/Secretaria Executiva de Comunicação)
Belize, na América Central, tem entre seus atrativos turísticos milhares de cavernas, que variam de caminhadas fáceis a desafiadoras – mas, em ambos os casos, será uma aventura e tanto que não pode ficar de fora do roteiro. Para além do astral misterioso e às vezes até um pouco assustador que as cavernas transmitem, ao aproveitar a experiência é importante lembrar que elas são solo sagrado.
Entrar nessas passagens do submundo maia é intrigante, emocionante e uma misteriosa volta no tempo à medida em que você absorve centenas de anos de história. Também é uma ótima experiência para contar sobre suas férias em Belize. Desde tubing, caminhadas, canoagem ou até mesmo natação no reino subterrâneo, há uma experiência de espeleologia adequada para cada tipo de viajante.
Na maioria das cavernas, você encontrará extensas formações de estalactites e estalagmites, bem como fragmentos de cerâmica. Outros têm cerâmica antiga intacta (Che Chem Ha) e restos humanos (às vezes esqueletos incólumes, como em Actun Tunichil Muknal) e outras formações naturais, como cachoeiras subterrâneas (Blue Creek, Caves Branch). A única coisa que não encontrará por lá é tédio.
Herança maia e conexão com o submundo
Uma caverna é mais do que uma mera aventura – é uma conexão com o passado, em um local onde os maias se purificavam e entravam em contato com o plano espiritual. Eles bebiam substâncias alucinógenas para induzir-se a um estado alterado de consciência ao realizar rituais ou cerimônias sagradas. As bebidas eram preparadas com cacau fermentado, plantas, cogumelos e até pele de sapo. O ato era uma forma de preparação antes de se envolverem com seus deuses e ancestrais dentro do submundo.
Uma vez dentro da caverna, carregando apenas uma tocha, as estalagmites e estalactites brilhantes lançam sombras representando imagens de deuses. Quer se tratasse de um ritual para ritos de fertilidade, chuva, água ou outra questão, os maias pediam ajuda as divindades com base em uma necessidade ou propósito. E, embora algumas cavernas sejam bem amplas, elas nunca foram espaços habitáveis para os maias. Em vez disso, eram usadas como cemitério, local sagrado ou para proteção. Os enterros encontrados em cavernas nem sempre envolvem sacrifícios. As cavernas também serviam para deixar oferendas como símbolo de agradecimento. Por isso há ainda artefatos, fragmentos e cerâmicas intactas ao visitar cavernas como Che Chem Ha ou Actun Chapat.
Explorando uma caverna
Sempre que você entrar em qualquer espaço sagrado, peça permissão ou faça uma oração de agradecimento aos deuses ou aos ancestrais pela proteção e orientação enquanto você viaja pela caverna. Não toque e nem remova nada. A retirada de itens ou artefatos impede que um arqueólogo possa conduzir pesquisas e estudar adequadamente o local. A remoção desses itens impacta a história do local e cria uma lacuna entre as pessoas e sua herança.
Entre os grandes destaques em matéria de caverna, quando em Belize, está a Actun Tunichil Muknal (ATM), no oeste do país. Que inclusive ganhou notoriedade nos anos 1990 graças à National Geographic. Contendo 14 esqueletos maias, ATM é apenas uma das muitas possibilidades. Confira dicas para ajudar no planejamento do roteiro:
Actun Tunichil Muknal – A ATM fica em Cayo, na Reserva Natural Tapir Mountain. A visita guiada ao local e depois através de um riacho até a gruta é bastante intensa, mas é recompensada com a visão de um grande número de artefatos, incluindo potes completos e esqueletos – evidência da sua antiga utilização ritualística.
Barton Creek – Um riacho atravessa esta caverna em Mountain Pine Ridge, também em Cayo, e deve ser visitado de canoa. Embora muitos dos restos humanos e artefatos tenham sido removidos, ainda há muitos visíveis enquanto você flutua silenciosamente entre as estalactites.
Nohoch Che’en Caves Branch – Acessado a partir de Jaguar Paw, o transporte através de parte deste sistema é feito por um tubo interno que às vezes tem que ser transportado à medida que o rio entra e sai das cavernas. Evidências da ocupação maia, como cacos de cerâmica e pegadas humanas incrustadas, podem ser contempladas ao longo do caminho.
Rio Frio Cave – Outra caverna localizada na reserva florestal Mountain Pine Ridge. De frente para o arco de cerca de 20 metros de altura em sua entrada, os visitantes podem ver toda a extensão de 800 metros da caverna e o riacho que passa por ela.
St. Herman’s Cave – Situada dentro do Parque Nacional Blue Hole, a St. Herman foi usada pelos antigos maias por volta de 300-800 d.C. Esta é talvez a caverna mais fácil de chegar, com aproximadamente 10 minutos de caminhada.
Che Chem Há – Descoberta por um fazendeiro local, é notável por sua coleção única de obras de arte e artefatos maias. Os visitantes apreciarão a decorada entrada e a extensa variedade de grandes potes de armazenamento que revestem as paredes das câmaras. A caverna está localizada a 11 km da cidade de Benque Viejo.
Actun Chapat & Actun Halal – Estas duas cavernas perto de Benque Viejo abrigam características humanas, como plataformas elevadas e em socalcos. Podem ser vistos restos humanos, artefatos de cerâmica e madeira.
Hokeb Ha – Artefatos encontrados nessa caverna perto da vila de Blue Creek, em Toledo, mostram evidências de como ela era usada pelos maias até cerca de 800 d.C.
Tiger Cave – É uma caminhada de 1h30 desde a vila de San Miguel, também em Toledo, para chegar a esta caverna. A trilha passa por áreas de floresta tropical e por fazendas e maias e milpas.
Deixe o seu lado Indiana Jones ou Lara Croft aflorar. Visitar uma caverna certamente irá despertar o arqueólogo dentro de você. Faça com que sua experiência valha a pena sabendo o que esses locais significaram para aqueles que vieram antes de nós. Mergulhe em sua rica cultura e paisagens ao visitar qualquer uma dessas cavernas. À medida em que se deixar levar pela atmosfera mística, será o local perfeito para refletir e sair com uma sensação de iluminação.
Sobre o Conselho de Turismo de Belize
Órgão estatutário do Ministério do Turismo e Relações da Diáspora de Belize, o Belize Tourism Board trabalha em conjunto com membros do setor privado – incluindo a Associação de Hotéis de Belize, a Associação da Indústria de Turismo de Belize e a Associação Nacional de Operadores Turísticos de Belize. Dedica-se a construir o turismo da forma mais económica e ambientalmente sustentável. Como parte das suas responsabilidades, o BTB promove Belize como um destino turístico de primeira linha para consumidores nacionais e internacionais. Entre o seu alcance ao mercado de viagens internacional comercializa as atrações únicas do país para viajantes, membros da indústria de viagens e meios de comunicação nos principais mercados. Também se dedica a desenvolver e implementar programas de turismo que ajudarão a fortalecer e fazer crescer a indústria turística de Belize, promover uma boa administração do destino e incutir padrões de alta qualidade para acomodações e experiências de viagem. Para obter mais informações sobre o BTB e seus serviços, visite o site.
Sobre a TM Americas | Empresa líder em marketing de turismo internacional especializada em destinos e atrações de classe mundial. Conta com uma equipe de profissionais trilíngues especializados em diferentes áreas: marketing, vendas, comunicação, marketing digital e posicionamento de marca. Sediada na Flórida, está presente no Brasil, Colômbia, México, Argentina e Canadá, abrangendo 18 países.
(Fonte: Visit Belize)
A prática das touradas no Brasil, especialmente no Rio de Janeiro, é um capítulo pouco explorado da história do país. Sol e sombra: as touradas no Rio de Janeiro, obra que acaba de ser lançada pela Editora Unesp, revela essa tradição inusitada e seus desdobramentos no contexto social e cultural da cidade que foi a capital do Brasil por quase dois séculos.
Os pesquisadores Victor Andrade de Melo e Paulo Donadio conduzem uma análise minuciosa das touradas cariocas, preenchendo uma lacuna historiográfica e desmistificando a ideia de que a prática não despertou interesse na sociedade fluminense. O livro aponta ainda os gostos, sensibilidades e inclinações culturais da população da época, destacando um aspecto pouco conhecido de sua vida cotidiana. “A notícia de que no passado se promoveram touradas em terras brasileiras ainda provoca espanto. Mesmo que não tenhamos recorrido aos institutos de pesquisa de opinião, não receamos afirmar, com base na reação de pessoas próximas, que boa parte de nossos contemporâneos ignora a ocorrência de corridas de touros em várias cidades do país. Muitos de nossos colegas historiadores, inclusive, demonstraram surpresa ao tomar conhecimento deste projeto”, anotam os autores.
O livro se concentra na prática das touradas no Rio de Janeiro, destacando como esse espetáculo, que atingiu seu auge no final do século XIX e início do XX, foi objeto de diversas disputas e tensões. Desde o século XVIII, a cidade assistiu à realização de mais de 450 espetáculos tauromáquicos e a popularidade da prática alcançou seu auge na República, antes de ser proibida em 1908. “As corridas de touros, como outros divertimentos, longe de representarem um aspecto marginal na história das sociedades, se transformaram em objeto de disputa, de tensão social e de afirmação de diferenças em torno das noções de civilização, progresso e identidade nacional, entre governantes e governados, entre brasileiros e portugueses, entre tauromáquicos e defensores dos animais, entre sol e sombra”, destacam os autores. Esse trecho mostra como as touradas se converteram em tema central de debates sociais e políticos no Rio de Janeiro.
Entre os principais debates apresentados no livro, está a polêmica sobre a natureza da prática: entretenimento ou barbárie? As discussões sobre o futuro das touradas no Rio de Janeiro também são destacadas, especialmente no contexto da extinção da prática, que enfrentou forte resistência, mas acabou sendo efetivada no início do século XX. Dessa forma, além de fornecer uma visão sobre as inclinações culturais do Rio de Janeiro, a obra traz uma análise rica das interações entre brasileiros e portugueses, destacando como a prática tauromáquica foi utilizada como símbolo de identidades em disputa.
Sobre os autores:
Victor Andrade de Melo é doutor em Educação Física e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, atuando na Faculdade de Educação e no Programa de Pós-Graduação em História Comparada. É também docente do Programa de Pós-Graduação em Estudos do Lazer da Universidade Federal de Minas Gerais.
Paulo Donadio é doutor em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Atualmente, se dedica a pesquisas em história social, tendo como focos principais a cidade do Rio de Janeiro e seus costumes.
Título: Sol e sombra: as touradas no Rio de Janeiro
Autores: Victor Andrade de Melo, Paulo Donadio
Número de páginas: 288
Formato: 13,7 x 21 cm
Preço: R$62
ISBN: 978-65-5711-246-5
Mais informações sobre a Editora Unesp estão disponíveis no site oficial.
(Fonte: Com Diego Moura/Pluricom Comunicação Integrada®)