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Votorantim
Foto: Velizar Inov/Unsplash.
Como podemos refletir sobre o lugar que a mídia ocupa nas configurações das representações de saúdes e doenças? Diante dos muitos desafios e debates levantados pela pandemia do novo coronavírus, a proliferação da cobertura midiática de saúde passou a assumir um papel de grande importância no cotidiano global. É nesse contexto que os pesquisadores Igor Sacramento e Wilson Couto Borges lançam o livro Representações Midiáticas da Saúde. Integrante da coleção Temas em Saúde da Editora Fiocruz, o livro está disponível para aquisição desde quarta (16), nos formatos impresso – via Livraria Virtual da Editora – e digital, por meio da plataforma SciELO Books.
Nos estudos analíticos presentes na obra, os autores contemplam questões do corpo que dialogam com a reconfiguração – causada pela pandemia – da ideia de fatores de risco. “A Covid-19 traz uma reinserção da noção de grupo de risco, classificando indivíduos, sujeitos e grupos sociais como aqueles que correm maior risco, como no caso dos idosos, pessoas com doenças cardiovasculares preexistentes e também pessoas obesas, que é um dos pontos da nossa análise nesse livro”, analisa Igor Sacramento.
Além da obesidade, o título propõe contribuições para demais dimensões das representações midiáticas da saúde, como as noções de corpo em forma, cirurgia bariátrica, a cultura do fitness e a dismorfia corporal (marcada pela insatisfação obsessiva de uma pessoa com seu próprio corpo). Pesquisadores e professores do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Icict/Fiocruz), Sacramento e Borges apresentam, na obra, conceitos de representação e alguns de seus problemas.
Em orientações de pesquisas e participações em bancas de pós-graduação, os autores percebiam que os estudos das representações em geral (e particularmente das representações midiáticas) estavam constantemente associados ou a uma ideia de espelho – ou seja, de uma reflexão sobre a realidade – ou a uma ideia de distorção. “Mas é importante destacar que a representação é, sobretudo, um campo de disputas por poder, inclusive o poder de representar”, pondera Igor.
Dessa forma, os autores alertam que as simplificações causadas por dicotomias como verdadeiro x falso, original x cópia, correto x errado inviabilizam uma agenda de pesquisas que possa analisar o jogo de representações a partir de suas disputas e interesses. Para eles, não existe ser humano sem representação, já que a existência de cada um de nós é marcada por símbolos e pela linguagem.
Nesse contexto, Wilson Borges ressalta que, diante da centralidade que a comunicação ocupa nesse processo, é fundamental entendermos o que significa esse estudo das representações. Segundo o autor, são várias as pesquisas que mostram o quanto a comunicação é olhada pela lógica da saúde, mas que é possível ir além nas análises. “O que fazemos nesse trabalho é colocar a comunicação em diálogo com a saúde. Mostramos que a representação midiática sobre a saúde é o nosso foco, mas que a questão da representação transcende o campo da saúde. Ele vai atuar e vai interferir em todas as áreas da vida social”, defende.
As representações do corpo no jornal, na TV e no YouTube
Em cinco capítulos, o volume atravessa, de forma acessível e objetiva, diferentes momentos nas análises de representação. No início, eles propõem um “passeio teórico” sobre a noção de representação. Em seguida, investigam as construções discursivas de identidades e diferenças nas representações midiáticas sobre saúde e doença: o eu e o outro, o nós e o eles. Nos capítulos três, quatro e cinco são apresentadas análises mais específicas em torno das relações entre os discursos de promoção da saúde e as práticas de controle sobre as formas corporais.
Entram nessas abordagens diversas mídias: o veículo impresso, os programas de entrevistas e entretenimento de televisão, o YouTube. Entre os espaços analisados estão o jornal O Globo, Encontro com Fátima Bernardes, Programa da Eliana e entrevistas comandadas por Jô Soares, além de EuVejo, canal do YouTube que fala de problemas da relação com o corpo. “O que a gente busca destacar é qual o lugar da mídia na construção de efeitos não só simbólicos da representação, mas também na hierarquia e na definição de fatores e grupos associados a risco. E sobre essa demarcação de fronteiras entre aceitável e inaceitável, o normal e o patológico, o bom e o mau. Refletimos sobre o papel das várias mídias não só como ferramenta, mas especialmente como palco dos acontecimentos da vida contemporânea”, reflete Igor Sacramento.
A origem do livro dialoga com o nascimento do grupo de pesquisa coordenado pelos autores no Icict/Fiocruz: o Núcleo de Estudos em Comunicação, História e Saúde (Nechs). Segundo eles, Representações Midiáticas da Saúde é um dos resultados do projeto de pesquisa O Imperativo da Saúde: corpo, estilo de vida e performances de gênero na cultura da mídia (décadas de 1980/2010), que tem como objetivos analisar os processos de representação dos corpos em relação a ideais de saúde, boa forma e bem-estar. Em 2018, a pesquisa foi contemplada pelo edital universal do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que auxiliou o desenvolvimento dos estudos.
(Fonte: Agência Bori)
Crédito das fotos: Rafael Scucuglia.
Desde a sua fundação, o trabalho da Embaixadores da Prevenção foi alicerçado nas atividades artístico-culturais que possam atuar como ferramenta de aprendizagem de seus atendidos. Nos últimos dois anos, iniciando o atendimento às escolas estaduais da RMC, mais de 7,5 mil crianças de 12 escolas acompanharam as peças, o que aconteceria também em 2020, não fosse a pandemia. Diante da adversidade imposta pelo cenário atual e com as atividades presenciais paralisadas desde março, a ONG campineira encontrou na web uma nova maneira de disseminar virtudes. Desde então, os atores do projeto recriaram as peças teatrais para um formato novo, inspirado em um quadro de contação de história do extinto programa Rá-Tim-Bum, que também utiliza o teatro como linguagem de empoderamento e transformação.
O processo de aprendizagem é complexo, amplo e exige inúmeros fatores de contingência para favorecê-lo e apoiá-lo. No caso do público infanto-juvenil, a contação de histórias pode beneficiar e acrescentar valor a este processo, muito em função dos estímulos despertados pela arte de contar. “O encantamento e a proximidade com o roteiro, com o personagem, com a técnica e a qualidade do contador gera no espectador um maravilhamento que é muito salutar, pois reflete na capacidade de percepção e criatividade, além de propiciar a criação de vocabulário e informações importantes que enriquecem o acervo intelectual, emocional e psicológico da criança. Então, como toda a certeza, uma contação de história é algo benéfico e muito interessante no processo de aprendizagem”, comenta o pedagogo Hélio Braga, que é Mestre em Educação pela PUC/SP e atuou como coordenador pedagógico da Embaixadores em anos anteriores.
Segundo Braga, a atividade lúdica oferece o mesmo padrão, pois são estímulos capazes de incentivar a criança a se despertar, se interessar, se envolver e participar da ação. “Quando você desencadeia todo esse fluxo de possibilidades, a criança fica acesa, viva e energizada, cheia de referenciais, percepções e informações que atiçam a sua curiosidade, criatividade e imaginação. Por isso a atividade lúdica também contribui no processo de aprendizagem, uma vez que você precisa estar vivo, acordado para aprender e, quanto mais estimulado, mais capaz e mais cheio de vontade você fica”, finaliza o profissional.
Escolas atendidas
Em 2020, todas as cinco escolas que receberiam o projeto presencial – EE Conjunto Vida Nova III, EE Prof.ª Consuelo Freire Brandão, EE Prof. Joaquim Ferreira Lima, EE Prof. Washington José de Lacerda Ortiz e EMEF/EJA Raul Pila – incluíram os vídeos das contações nas plataformas de ensino à distância. Assim, as histórias e virtudes puderam ser trabalhadas em aula também, fixando melhor o conteúdo. “Assim que eu assistia aos vídeos, encaminhava para os alunos solicitando que eles também assistissem e fizessem as atividades solicitadas ao final deles. Sinto que as crianças se animaram bastante com os vídeos e com as atividades que eles se empenharam em realizar, inclusive chamando os pais para participar”, comenta a professora do 3º ano da Washington José, Rafaela Bernardino Raymundo.
Para a professora Aline Araújo Soares, o projeto é importante por cultivar valores no dia a dia dos estudantes, conscientizando-os sobre a necessidade de preservar o respeito ao próximo, o amor, a amizade e cooperação, por exemplo: “Além disso, trabalha também com as emoções dos alunos”. Para Rosana Couto da Silva, que também é professora no Vida Nova, “o projeto é interessante, construtivo, enriquecedor e agrega no conteúdo escolar”. Ela conclui dizendo que trabalhou os temas dos vídeos “de forma bastante profunda em suas aulas, na intenção de levar aos alunos a importância de serem honestos e bondosos”.
A princípio, as escolas foram escolhidas para receber as ações culturais da Embaixadores da Prevenção. Mas com a dinamicidade da internet, centenas de pessoas não relacionadas às instituições chegaram aos vídeos de alguma forma.
Como a premissa do projeto está na ludicidade, os materiais utilizados aguçam a criatividade e abrem alas para que alunos, pais, professores e educadores enxerguem como tudo pode se transformar em ferramenta de arte. E apesar do receio inicial sobre o impacto do projeto via audiovisual, a aceitação do público foi surpreendente e motivadora. De maio a dezembro, as nove histórias alcançaram quase 4 mil visualizações no YouTube. Somadas às visualizações do Facebook e Instagram, os vídeos superam a casa dos 6 mil. “Acreditamos que as visualizações ainda vão aumentar, uma vez que temos mais uma história a ser publicada, além dos nove vídeos com a inserção da janela de libras que estarão disponíveis ao longo deste mês. Mas, mais do que ampliar os horizontes da ONG e fazê-la conhecida por outros públicos, levar essa mensagem positiva, cheia de reflexões acerca das virtudes e tão significantes para o momento por meio do teatro e da contação de histórias foi uma experiência desafiadora, porém, motivadora para nós”, comenta a fundadora Sandra Sahd.
Vale ressaltar que ainda este mês todos os vídeos ganham versões em libras publicadas na mesma ordem (A Bailarina – virtude da determinação, O Homem – humanidade, A Rainha Sábia – sabedoria, Eureka – responsabilidade, A Caçada ao Medo – coragem, O Encanto da Minhoca – transcendência, A Menina Centopeia – justiça, Quem Sequestrou a Joaninha – temperança e Nariz de Batata – amor-próprio) e disponíveis em todas as redes da Embaixadores.
Viabilizado pela Lei de Incentivo à Cultura do Governo Federal, o projeto Plano Anual – Por um Mundo de Virtudes 2020 é apresentado pelo Ministério do Turismo por meio da Secretaria Especial de Cultura, com patrocínio do Bradesco e produção da Cacho de Ideias.
6º Fórum das Virtudes
A 6ª edição do Fórum das Virtudes também aconteceu em formato online e os mais de 300 inscritos acompanharam o bate-papo especial com Mauricio de Sousa, além das palestras de Priscila Gonçalves, Aline Freitas e Iuri Capelatto. Todo o evento foi construído para discutir a importância das virtudes em meio às adversidades, fazendo um contraponto com a pandemia e o novo normal que está por vir. A íntegra do Fórum já soma mais de 500 visualizações e pode ser conferida com acessibilidade em libras aqui.
Sobre a Embaixadores da Prevenção
Idealizada por Sandra Sahd, a organização social foi fundada em Campinas em 2011 e, no ano seguinte, iniciou suas atividades com o objetivo de contribuir para a formação de uma nova geração de pessoas que, entendendo suas virtudes, transforme o mundo a partir da aprendizagem refletida pelas atividades artístico-culturais (especialmente teatro e literatura) promovidas pela ONG. Até 2017, todas as ações eram realizadas em creches e instituições sem fins lucrativos da RMC (Região Metropolitana de Campinas); em 2018, a entidade passou a atender também escolas estaduais da cidade. Desde sua fundação, mais de 15 mil pessoas – entre crianças e adultos – já foram atendidas em suas atividades. Para conhecer mais sobre a organização social, acesse www.embaixadoresdaprevencao.com.br.
Carnaval em Salvador, circuito Barra-Ondina. Foto: Valter Pontes/Fotos Públicas.
Além de ter efeito sob os foliões, a música emitida por trios elétricos do carnaval de Salvador pode afetar negativamente o comportamento de animais marinhos ao se propagar para o oceano. É o que demonstra um estudo inédito feito pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e Universidade Federal da Bahia (UFBA) publicado na revista Biological Conservation nesta quinta (17), sobre o impacto as emissões acústicas no ambiente aquático.
Os pesquisadores mediram a intensidade acústica durante o carnaval de Salvador (circuito Barra-Ondina) de 2018 na praia e embaixo da água, no recife mais próximo à festa carnavalesca. O comportamento do peixe donzela, espécie abundante na região, foi analisado frente à situação do estresse acústico e a um predador falso. Eles quantificaram a abundância do peixe na região e sua taxa de alimentação em um recife perto do circuito de carnaval e em um recife mais afastado, onde não havia barulho. Esses experimentos foram realizados antes, durante e depois do carnaval.
O aumento da intensidade acústica embaixo da água, segundo observaram os cientistas, levou o peixe donzela a se alimentar menos e a estar menos atento à predação. “A música extremamente alta dos trios elétricos é, na verdade, uma forma de poluição sonora no ambiente marinho”, conclui o pesquisador Antoine Leduc, um dos autores do estudo.
Para Antoine, o estudo mostra a importância de se considerar fontes terrestres de emissões acústicas para se planejar o manejo e conservação dos ambientes marinhos costeiros. Além disso, ele questiona “se a intensidade acústica emitida no carnaval é saudável para as pessoas, já que até os peixes sofrem impactos negativos dessas emissões acústicas”.
O pesquisador pondera, no entanto, que ainda não se sabe com precisão quais são as consequências dessa poluição sonora em longo prazo para as espécies. “Será preciso fazer outros estudos para avaliar como essa fonte de poluição afeta outras espécies e até qual distância da costa os efeitos acústicos do carnaval impactam o ambiente marinho”.
(Fonte: Agência Bori)
Foto: André Tomino.
Um lugar que une cultura, conhecimento e história sobre uma das bebidas mais populares do planeta já tem endereço certo na capital paulista: a Academia da Cerveja, espaço colaborativo da Ambev, será o novo ponto de encontro de paulistanos e turistas amantes do ‘líquido dos deuses’. A menos de dez minutos da estação de metrô Fradique Coutinho, no bairro de Pinheiros, está o local onde consumidores poderão conhecer de perto uma nanocervejaria e laboratórios de testes, além de contarem com uma área para encontros e cursos cervejeiros.
É na altura do número 560, da Rua Mourato Coelho, que a Ambev dará início às obras do projeto, que busca democratizar o acesso e o conhecimento sobre o universo cervejeiro. Cerca de 650 m² de área construída, distribuídos em um andar amplo, abrigarão, além da nanocervejaria e laboratórios, salas de aula interativas para cursos exclusivos, que vão do nível básico, para entusiastas, até o avançado, para profissionais. As obras no local começam nas próximas semanas e a inauguração está prevista para 2021.
O projeto foi pensado para criar uma atmosfera colaborativa, onde visitantes, alunos e especialistas consigam interagir e viver a experiência de conhecer os processos por trás dos rótulos. “Estamos colocando de pé um projeto que tem como foco principal a geração de conhecimento sobre a cerveja, em suas mais diversas faces, e nada melhor do que fazê-lo na cidade mais populosa do país, incentivando e estimulando o turismo local em tempos em que fica cada vez mais difícil planejar passeios longe de casa”, comenta Alexandre Esber, gerente de Conhecimento Cervejeiro da Ambev.
Conhecimento cervejeiro além das cervejarias
A Ambev já conta com outras duas sedes de grande relevância no meio cervejeiro, tanto pela capacidade produtiva quanto pelos investimentos em tecnologia. Uma delas é o Centro de Inovação e Tecnologia Cervejeira (CIT), que está localizado no Rio de Janeiro. O local é destinado para o teste e desenvolvimento de novas receitas. Já em Guarulhos está sediada a Cervejaria do Futuro, que abriga maquinários de ponta e o que há de mais novo em tecnologia aplicada às cervejarias.
Para Laura Aguiar, head de Conhecimento e Cultura Cervejeira da Ambev, “a Academia da Cerveja nasce com a missão de ser um ponto conector entre o mercado cervejeiro, os especialistas internos e externos e o consumidor. Junto com escolas cervejeiras parceiras, queremos traduzir a ciência e os processos de qualidade que envolvem a criação da cerveja em uma experiência imersiva para os apreciadores dessa bebida milenar”.
Enquanto a sede da Academia da Cerveja está em construção, a plataforma digital já está disponível para cursos online, entre pagos e gratuitos, e conteúdos exclusivos já podem ser acessados no https://academiadacerveja.com/landing.
Foto: Piron Guillaume/Unsplash.
A pandemia tem afetado de diferentes maneiras profissionais de saúde de todo o país que estão na linha de frente do combate à Covid-19 — e, nesse grupo, as mulheres negras têm sido as mais afetadas. Pesquisa realizada pelo Núcleo de Estudos da Burocracia (NEB) da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV Eaesp) mostra que são elas que mais sofrem assédio moral, sentem-se menos preparadas para exercer suas funções e têm a saúde mental mais afetada pela crise sanitária. O relatório do estudo, feito em parceria com a Fiocruz e com a Rede Covid-19 Humanidades, será publicado na quarta (16).
Os dados fazem parte de um survey online sobre impactos da pandemia realizado entre os dias 15 de setembro e 15 de outubro com profissionais de saúde de todo o país — como médicos, profissionais de enfermagem e agentes comunitários. Foram analisadas as respostas de 1.264 respondentes, que traziam informações sobre gênero e raça (de um total de 1.520 profissionais de saúde entrevistados).
Os dados evidenciam maior vulnerabilidade das mulheres negras. No outro extremo, os homens brancos têm os menores índices de impacto da pandemia. Elas são as que mais demonstram medo de contaminação pelo novo coronavírus (84,2% contra 69,7% para os homens brancos), sensação de despreparo para lidar com a crise (58,7% em comparação a 33,5%, dos homens brancos) e declaram ter sofrido mais assédio moral durante a pandemia (38%, em comparação a 25% dos homens brancos). Também são menos testadas (26%) e têm menos suporte de supervisores (54% contra 69%).
Em alguns aspectos, homens e mulheres declarados amarelos, indígenas, transexuais e não binários é ainda mais crítica do que a das mulheres negras. Nesse grupo, apenas 40,3% recebeu treinamento — contra 44% no caso de mulheres negras e 58,7% dos homens brancos. “Os dados evidenciam como, embora todos os profissionais estejam sujeitos a condições ruins, alguns estão em situação pior. E isso reforça desigualdades estruturais vinculadas à raça, ao gênero e à renda, já que as mulheres negras em geral estão em profissões menos valorizadas, como de agentes comunitárias de saúde”, aponta Gabriela Lotta, da FGV Eaesp, uma das coordenadoras da pesquisa.
No que diz respeito à saúde mental durante a crise sanitária, as mulheres (brancas e negras), em geral, declaram-se mais suscetíveis às emoções negativas do que os homens: 83% delas disseram que sua saúde mental foi impactada durante a pandemia frente a 69% deles. Entre amarelos, indígenas, mulheres ou homens transexuais e não binários, essa porcentagem foi a 89% — evidenciando piora desproporcional não só nas condições de trabalho, como visto acima, mas também nas condições emocionais desses profissionais. “Sabemos o impacto da pandemia nas práticas e vivências de profissionais de saúde. No entanto, há poucos estudos que olham para as questões de gênero e raça dessas dinâmicas”, comenta Denise Pimenta, pesquisadora da Fiocruz e parceira da pesquisa.
A especialista lembra que, no Brasil, as mulheres representam quase 70% do total de profissionais no setor — portanto, falar “dos” profissionais de saúde é tratar essencialmente das mulheres profissionais. “Precisamos produzir dados e análises para melhor compreender a situação das mulheres negras, suas condições físicas e emocionais nesse quase um ano de pandemia.”
Os resultados são frutos de uma amostra coletada a partir de respostas voluntárias ao questionário – o que não permite fazer generalizações para todo o universo de profissionais de saúde do país. O trabalho integra a terceira rodada de entrevistas sobre impactos da pandemia nos profissionais da saúde pública do Brasil, que teve resultados gerais apresentados em novembro. As edições anteriores foram publicadas em maio e em julho.
(Fonte: Agência Bori)