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O inverno chegou e, com ele, as deliciosas fondues

Região Metropolitana de Campinas, por Kleber Patricio

Foto: divulgação.

O inverno finalmente chegou, trazendo com ele a queda da temperatura nesta semana. Com o frio, uma das iguarias mais procuradas nesta época pelos brasileiros volta à tona: a fondue, um tradicional prato de originário da Suíça. Para quem deseja saborear a dois ou com amigos em um restaurante dentro das normas de segurança e horários restritos, veja dicas de casas na região de Campinas onde saborear as versões de carne, queijo e chocolate.

Restaurante Vila Paraíso | O Restaurante Vila Paraíso, em Campinas, está de volta com o seu tradicional Festival de Fondue, servido de quinta a sábado, até às 21h. A casa oferece “combos”, como de carne em cubos de filé mingon frescos (feito no óleo); ao Vinho – carne consomé preparada com vinho e caldo de carne, o que torna a fondue mais saudável e suave, além de conferir à carne um sabor especial; e somente de chocolate. Nestes dois combos acompanham queijo e chocolate à vontade, com reposição ilimitada. Também são servidos acompanhamentos salgados (pães artesanais, italiano e mandioca) produzidos na casa, legumes gratinados, batata noisette e molhos (mostarda, madeira, funghi e vinho) – e doce (churros, palitinhos de bolo de cenoura, banana, uva, morango e abacaxi). As duas versões também estão disponíveis para crianças com idade entre 2 e 7 anos, com valores diferenciados. Os valores são por pessoa e servidos à vontade.

O Festival de Fondue do Restaurante Vila Paraíso só é servido a partir de duas pessoas. Além disso, a casa permanece com seu cardápio normal.

A fondue Savoyarde do Le Triskell. Foto: divulgação.

Le Triskell Bistrô | Em Indaiatuba, o Le Triskell Bistrô oferece as fondues Savoyarde (R$188) – de queijo suíço tradicional – e a Fondue aux cèpes et huille de truffes (R$218) – fondue de queijo suíço com funghi porcini e azeite trufado (ambas para duas pessoas), além da opção de Bouquet de crevettes grilées (R$58 – 12 unidades de camarões rosa médios) e Cubes de boeuf grilées (R$42 – 200 g de cubos de filé mignon grelhados) para por na fondue.

Restaurante Vick – Vitória Hotel | Neste ano, o restaurante Vick, localizado no Hotel Vitória Convention Indaiatuba, oferece até o final de julho o Festival de Fondue, com opções de escolha separadas ou em forma de combo. São três opções: a Fondue de Carne para duas pessoas, servida com 500 gramas de filet mignon, acompanhada de uma cesta de pães e cinco opções de molhos: Rosé, mostarda Dijon, gorgonzola, alho assado e chimichurri, com valor de R$125,00. A Fondue de Queijo (R$90,00 para duas pessoas) é servida com um blend de queijos e creme de leite fresco, três acompanhamentos (batata crocante, brócolis e cogumelo de Paris), além de uma cesta de pães. Já a Fondue de Chocolate (R$85,00 para duas pessoas), uma dos mais pedidas, é composta de chocolate meio amargo e cinco acompanhamentos, como morango, banana, uvas, marshmallow e canudos de wafer.

Além de servir os pratos separados, o Restaurante Vick oferece a opção consumo do combo, formado pelos três fondues, com valor de R$260,00.

O Festival do Vick é servido todas as sextas e sábados, das 18h30 às 21h.

Serviço:

Restaurante Vila Paraíso

Rua Heitor Penteado, 1716, Distrito de Joaquim Egídio, em Campinas

Reservas pelo telefone (19) 3298-6913

Estacionamento próprio, com manobristas

Site www.restaurantevilaparaiso.com.br.

Le Triskell Bistrô

Av. Eng. Fábio Roberto Barnabé, 723 Parque Ecológico, Indaiatuba

Reservas pelos telefones (19) 3934-6408 e 3816-8353

www.letriskell.com.br.

Restaurante Vick (Rede Vitória Hotéis Indaiatuba)

Localização: Entrada de Indaiatuba – Av. Presidente Vargas 3041 – Vila Vitória

Informações: (19) 3801-8000 e reservasindaiatuba@vitoriahoteis.com.br.

Multiartista Novíssimo Edgar dirige curta-metragem “Erva de Gato”

São Paulo, por Kleber Patricio

Fotos: divulgação.

O cantor e multiartista Novíssimo Edgar assina a direção e roteiro do curta-metragem Erva de Gato, projeto produzido pela artista Giulia Del Bel (Meu nome é Bagdá), que também faz parte do elenco, junto com Grace Passô (Praça Paris) e Ítalo Martins (Cidade Invisível). A codireção é de Sabrina Duarte e a trilha-sonora do produtor e baterista Pupillo (ex-Nação Zumbi).

O filme é uma obra de ficção que se passa num Brasil separado em três fronteiras após uma guerra civil: “Confederalismo Democrático do Nordeste”, “Sul é meu País” e “Amazônia (The Resort)”. Um grupo de amigos (Grace Passô, Ítalo Martins e Edgar) se encontra em uma casa no “Estado Autônomo”, onde fica localizada a última base do SUS (o último sistema público de saúde do mundo), onde resiste a personagem Clarice Sabino de Jesus (Giulia Del Bel), uma das últimas trabalhadora da instituição, que carrega o sobrenome das cientistas brasileiras que decodificaram o genoma do coronavírus. Em uma brincadeira do copo, desperta um espírito adormecido no corpo de Gato, que recebe uma missão: retornar 500 anos no tempo e esconder o continente Americano dos colonizadores. O filme, que ainda está em fase de filmagens, tem previsão de lançamento no segundo semestre de 2021.

“A ideia por trás do filme é trazer uma sensação de falta e angústia, em uma visita a um Brasil desamparado e que existem tentativas isoladas e pessoais de um melhor contexto político. O Sistema Único de Saúde é um oráculo e um dos maiores bens da humanidade; serve de exemplo para outros projetos de saúde e cidadania, ainda que os brasileiros saibam de todas as dificuldades e filas para conseguir o atendimento. É melhor ter uma UBS no bairro do que cinco escritórios de atendimento particular popular”, observa Edgar.

O filme contou com o apoio da Converse, criadora do famoso modelo Chuck Taylor All Star. A marca, já parceira do Novíssimo Edgar, forneceu produtos para a produção e também contou com dois membros da sua comunidade criativa, os Converse All Stars, Giulia Del Bel e Luciana Barreto. Veja o teaser aqui.

Erva de Gato

Curta-metragem em fase de filmagem

Direção: Novíssimo Edgar e Sabrina Duarte

Elenco: Grace Passô, Ítalo Martins, Giulia Del Bel, Taciana Bastos e Luciana Barreto

Produção e Produção Executiva: Giulia Del Bel

Trilha Sonora: Pupillo (Ex- Nação Zumbi)

Making Of e Still: Luciana Barreto

Diretora de Produção: Camila Abade

Diretora de Arte: Camila Rhodes

Assistente de Direção: Priscila Lima

Site oficial: Erva do Gato

Apoio: Converse.

Edgar – depoimento | “A ideia por trás do filme é trazer uma sensação de falta e angústia, em uma visita a um Brasil desamparado, e que existem tentativas isoladas e pessoais de um melhor contexto político. O Sistema Único de Saúde é um oráculo e um dos maiores bens da humanidade, serve de exemplo para outros projetos de saúde e cidadania, ainda que os brasileiros saibam de todas as dificuldades e filas para conseguir o atendimento, é melhor ter uma UBS no bairro do que cinco escritórios de atendimento particular popular.

Com essa proposta de que o Brasil se dividiu em três e o SUS é mantido supostamente pela ONU, quero trazer essa questão da nossa cultura precisar ser importada para ser valorizada novamente aqui. Que esse medo de perder o SUS ao assistir o filme sirva como motivação para defender os agentes de saúde, que vêm dando suas vidas na luta contra o coronavírus, dengue e vítimas de abuso policial e do estado capitalista.

A inspiração é novamente a realidade, o momento pandêmico que estamos vivendo. Durante a quarentena, a palavra “se reinventar” foi tão usada que acabou saturada e ninguém conseguiu definir nada dessas reinvenções. A minha proposta foi revitalizar algumas ideias antigas, paradas ou incompletas que o tempo acelerado que vivíamos nunca me deixou finalizar. Essa história já existe desde 2016; durante a quarentena, me debrucei novamente sobre ela e comecei a lapidar e atualizar algumas propostas do argumento. Graças à Giulia Del Bel, a história está saindo do papel e ganhando força.

O processo é sempre mais gostoso do que o resultado, acabamos pesquisando e aprendendo bastante sobre as histórias que queremos contar. A personagem Clarice Sabino de Jesus, que trabalha no SUS, carrega o sobrenome das cientistas brasileiras que decodificaram o genoma do coronavírus.

Os obstáculos ainda continuam os mesmos, ainda mais com esse desmonte da cultura e da educação. Eu sou um artista com muitas ideias e pouco dinheiro, atualmente estamos fazendo uma captação de recursos para conseguir rodar o filme completo, estamos tentando apoios e patrocinadores. A questão é que a história que estamos contando não se enquadra em nenhum feriado criado pelo capitalismo, onde estrategicamente conseguiríamos ser manobra de massa para uma espécie marketing publicitário de pink money ou black money, porém, como o mês da consciência negra para alguns é só em novembro, vamos da nossa maneira tentando contar nossas histórias, seja ficção ou documentário, dessa vez  quem vai contar, seremos nós”.

Cia. Carne Agonizante apresenta “Balada da Virgem – Em Nome de Deus”

São Paulo, por Kleber Patricio

Renata Aspesi. Fotos de Alex Merino e Rafael Carrion.

Criado em 2018 por Sandro Borelli para que ele próprio interpretasse, além de se dirigir, o espetáculo Balada da Virgem – Em Nome de Deus ganha uma nova montagem online que estreia no dia 9 de julho, às 20 horas pelo YouTube da Cia. Carne Agonizante. Em cada um dos finais de semana, um intérprete diferente em cena. Dias 9 e 10 de julho, Renata Aspesi dá vida à Joana D’arc novamente, uma vez que ela já interpretou a personagem em Balada da Virgem – Em Nome de Deus; dias 16 e 17, é a vez de Yorrana Soares; no final de semana de 23 e 24 de julho, a apresentação será de Alex Merino. A temporada se encerra nos dias 30 e 31 de julho, com Rafael Carrion. As apresentações são gratuitas e transmitidas ao vivo direto do Espaço Kasulo. O projeto foi contemplado na 1ª Edição do Prêmio Aldir Blanc de Apoio à Cultura da cidade de São Paulo, módulo Maria Alice Vergueiro.

Balada da Virgem – Em Nome de Deus traz uma solitária Joana D’arc em seus momentos finais. Quando foi criado, em 2018, o cenário político recente ecoava na temática de seu injusto julgamento. O impeachment da presidente Dilma Roussef e a prisão do ex-presidente Lula traziam à tona o mesmo clima de caça às bruxas e farsa política que trazem consequências nefastas para o país até hoje.

A Joana que a obra evoca está mais na reflexão sobre as contradições de sua fé do que na tentativa de uma personificação biográfica. A obra duvida do discurso devoto e subserviente a Deus da Joana histórica e impõe a ela a necessidade de revolta contra essa figura masculina e patriarcal de Deus, uma figura que violenta seu corpo em um martírio físico e psíquico.

A ação coreográfica se dá nessa batalha de cosmovisões, um duelo simbólico entre os anjos e demônios que movem a mente e o corpo de Joana em seus momentos finais e a arrastam inconclusivamente para a morte na fogueira. “Trazemos uma Joana crítica, que duvida do seu Deus/ mentor e coloca em dúvida tudo o que fez por e para ele. Quisemos sair da Joana D’arc católica e trazê-la de uma maneira mais revolucionária e questionadora”, explica o diretor Sandro Borelli.

Dança e gênero | Em Balada da Virgem – Em Nome de Deus e em outros trabalhos do grupo, o tema gênero é sempre abordado a partir de uma perspectiva de deslocamento e habitação. O/a intérprete se desloca rumo às contradições, dúvidas, fragilidades e potências da personagem e, nesse território, ele/ela habita o conteúdo dessas vivências a partir de uma poética coreográfica e de uma disponibilidade física para a construção de corporalidades que tornem presente uma figura que se cria nessa relação entre o que já está ali e o imaginário que provoca a criação.

“Quando montei esse espetáculo, estava há um tempo sem ir para a cena. E resolvi encarnar uma figura lendária. Depois de um tempo em cena, fiquei incomodado de estar ali emprestando meu corpo para uma figura feminina por algum motivo. Depois de um ano, resolvemos montar o trabalho e resolvi recriá-lo com outra pessoa. Chamei a Renata, que também está nessa temporada. Esse olhar de fora me fez ver que o trabalho cresceu muito. Agora, trouxemos a Joana para quatro corpos bem diferentes, que irão trazer novas perspectivas para o espetáculo, mesmo com o meu roteiro de direção em comum. A ideia é enriquecer a cena e trazer não só uma Joana diferente do que é comumente retratada, como ela retratada por diferentes corpos, experimentando diferentes maneiras dessa pesquisa se reverberar”, comenta Sandro.

Cada intérprete contamina e desloca a obra, suscitando questões sobre a representatividade do corpo que está na cena em paralelo ao corpo histórico/literário/mitológico que a obra investiga. “Também é importante ressaltar que esses mesmos corpos históricos/literários/mitológicos aparecem em cena enquanto conteúdo simbólico muito mais do que em seu conteúdo biográfico, talvez se possa dizer que o corpo aparece enquanto ideia. Uma ideia que em sua potência desloca a poética de uma infinidade de outros corpos não se cabendo ou não se contendo num conceito de identidade individual”, diz o diretor.

Sandro diz que não fez adaptações para a montagem para levá-la para o online. Ele diz que em vez de o público trabalhar o seu olhar, ele assistirá um espetáculo muito baseado no que o grupo vê do espetáculo, uma vez que os artistas irão selecionar como a câmera irá se movimentar e no que irá focar.

Sobre a Cia | Criada em 1997, a Cia desenvolve pesquisas e criações em dança, tendo em seu repertório 27 peças coreográficas. O percurso do grupo é pautado por uma dança teatralizada e seus trabalhos criativos têm a intenção de gerar uma potência que possa provocar reflexão na plateia e não a deixar apenas na superfície do entretenimento.

Os espetáculos do seu acervo discutem a urgente resistência à massificação dos indivíduos, se contrapondo à transformação da vida em mercado e do homem em mercadoria. Por conta disso, trafega na contramão do Shopping Center cultural, muito preocupado com cifras, público e pouco inquieto com as relações sócio-políticas.

Para a Cia. Carne Agonizante, a cena deve ser preponderantemente o lugar de uma poderosa manifestação poética de guerra com corpos bélicos sob seu comando. Sendo assim, de nada adiantará buscar novos sentidos e olhares para uma construção cênica coreográfica, sem que com eles não sejam produzidas metamorfoses capazes de ao menos impactar o público presente, convidando-o à emoção e à reflexão. Sob as energias apolíneas e dionisíacas, uma constante pulsão de vida e morte.

Serviço:

Data: De 9 a 31 de julho, sextas e sábados, às 20 horas

Youtube – https://www.youtube.com/user/ciaborellidedanca

Dias 9 e 10 – Com Renata Aspesi

Dias 16 e 17 – Com Yorrana Soares

Dias 23 e 24 – Com Alex Merino

Dias 30 e 31 – Com Rafael Carrion

Duração: 45 minutos

Recomendação etária: Maiores de 16 anos

Concepção, Coreografia, Direção, Luz: Sandro Borelli

Intérpretes: Renata Aspesi, Yorrana Soares, Alex Merino e Rafael Carrion

Assistência Coreográfica: Rafael Carrion

Trilha Sonora: Gustavo Domingues com trechos das obras de Olafur Arnalds e Levon Minassian & Armand Amar.

Luz: Sandro Borelli

Figurino: Grupo

Arte Gráfica: Gustavo Domingues

Fotografia: Alex Merino e Rafael Carrion

Direção de Produção: Júnior Cecon.

Projeto Mulheres de Mar realiza pesquisa e criação em dança

Belo Horizonte, por Kleber Patricio

Fotos: Renato Santos @calvo_viril.

Mulheres de Mar é uma pesquisa sobre os aspectos do universo feminino e da cultura afro-brasileira do Vale do Jequitinhonha em Minas e Recôncavo Baiano. O estudo será base para o processo de criação do espetáculo de dança inédito Mulheres de Mar, inspirado nas personagens da obra Mar Morto, de Jorge Amado. Os registros serão compartilhados em formato de uma exposição fotográfica e documentário, que serão exibidos gratuitamente na plataforma do Youtube Regina Perocini e no Canal Universitário de BH.

Sobre o projeto | A pesquisa, realizada com apoio da Lei Aldir Blanc, tem como foco a compreensão desse universo feminino nas regiões ribeirinhas de Minas e litoral baiano, suas influências, raízes iniciais e o intercâmbio cultural. O registro originou uma mostra de diversas manifestações de afro-brasilidades somadas às experimentações artísticas vivenciadas durante o processo criativo inspirado nesse estudo. Os vídeos e fotografias serão exibidos gratuitamente, em formato de exposição fotográfica virtual e documentário, com o intuito de divulgar parte do rico patrimônio cultural brasileiro conjugado com conceitos e questionamentos acerca dos valores sociais creditados à mulher e à cultura negra.

“O aspecto que mais despertou pela escolha da obra de Jorge Amado para inspiração de Mulheres de Mar foi a força das figuras femininas do romance, mulheres que vão da mítica Iemanjá à Lívia, Rosa, Dulce, Rita e Esmeralda, donas de seu destino, que reagem diante da dura realidade que lhes era imposta”, conta Regina Perocini.

A água é representada pelo mar, que recebe os rios de Minas e que por sua vez é governado pela divindade Iemanjá, orixá símbolo de poder feminino. Na cultura Iorubá, as mulheres são ligadas a orixás femininos associados à água (omi), que representa indispensabilidade e fonte da vida.

Para compreensão desse universo feminino, o projeto contou com a participação de Maria José Lima, bacharel em Filosofia pela UFMG, especializada em História da África e pesquisadora da cultura Iorubá, como orientadora do estudo. Como arcabouço teórico, o estudo já conta uma pesquisa prévia de autoras (es) como Conceição Evaristo, Maria das Dores Pimentel, Ruth Landes, Pierre Verger e Luís Cláudio Nascimento, além de documentários e registros audiovisuais. Como conteúdo histórico de oralidade, tendo em vista culturas populares mineiras que dialogam com a cultura do Recôncavo Baiano, fez-se necessário o contato com grupos e representantes dessas culturas.

As regiões elencadas para estudo estão no Vale do Jequitinhonha: Diamantina, Chapada do Norte, Almenara e Jequitinhonha. No Recôncavo Baiano, Salvador, Santo Amaro, São Francisco do Conde, Bom Jesus dos Pobres, Acupe, São Braz, Cachoeira e Maragogipe. Grupos de dança, música, centros de cultura e artistas regionais foram acionados para vivências corporais, entrevistas e consultoria. Entre eles, em Minas Gerais estão As Lavadeiras de Almenara, Elza Có e o Boi Janeiro de Jequitinhonha, a rainha do congado Geni Carvalho e Rosa do Vale de Diamantina. No Recôncavo Baiano e Salvador, Samba de Nicinha, Casa do Samba Dona Cadú, Casa do Samba Dona Dalva Damiana, Rita da Barquinha, Dulce do Prato, Zélia do Prato, Santinha, Ebomi Cici e Vera Passos. Além disso, o contato com o matriarcado nos terreiros de candomblé, considerados patrimônio cultural, possibilitaram ainda um maior entendimento desse universo. No processo de investigação e gravação foram respeitadas as normas sanitárias de prevenção ao Covid-19.

A coleta de dados da pesquisa, transformada em exposição virtual e vídeos, aborda a força e o saber dessas mulheres, como também as diversas linguagens e manifestações culturais, bem como as conexões entre ritmo, movimento, simbolismo e inspiração na dança. O congado, o samba de roda e o matriarcado no candomblé representam parte dessas manifestações.

Escrito por Jorge Amado em 1936, Mar Morto já apresentava personagens femininos de caráter transgressor antes mesmo que viesse à tona o movimento feminista no Brasil. A obra, em seu tempo, atribui voz à figura da mulher antes mesmo da mulher ganhar voz na própria realidade. E esta é uma das mensagens que o projeto Mulheres de Mar quer repercutir ao seu público quando apresenta mulheres mestras que são sinônimos de saber e representatividade em suas comunidades.

Regina Perocini | Neta e filha de moradores do Vale do Jequitinhonha, Regina Perocini vem desenvolvendo há mais de 20 anos um trabalho de pesquisa acerca das várias formas de linguagens culturais. Graduada em terapia ocupacional pela Universidade Federal de Minas Gerais, busca em seus trabalhos artísticos favorecer à construção da cidadania, às questões relacionadas ao coletivo, o respeito às diversidades, através da vivência por meio da dança e outras linguagens culturais.

Ficha técnica

Regina Perocini (artista/pesquisadora), Emanuel Kaaura (documentarista e videomaker) e Renato Santos (fotógrafo).

Apoio: Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais, Governo do Estado de Minas Gerais, Governo Federal do Brasil.

Parceiros: Trevo Digital, Sion Produções, Naza Music, Bernardo Espinhaço, Emanuel Kaauara Filmes, Renato Santos, Aventu Filmes, Grupo Samba Chula Poder do Samba, Grupo No Caminho da Chula, Mestre Jaime do Eco e Zé Maria Produtor Cultural.

Datas:

27 de junho, domingo, estreia o Minidoc e Exposição Virtual – 18h

29 de junho, terça, estreia o documentário – 20h

03 de julho, sábado, 20h no Canal Universitário – 12 da NET.

Acompanhe a programação: www.youtube.com/channel/UC6A2aR_guiRDuJBlg54_Nzw

Canal Universitário de BH, no 12 da Net: www.youtube.com/channel/UC3HNOZ9zOHgTvpy30p6kH4w.

O impacto da reforma administrativa nas mulheres

Brasil, por Kleber Patricio

Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Unsplash.

A nova proposta de reforma administrativa (PEC 32/2020) tem sido amplamente debatida na sociedade brasileira. Além de ter o potencial de afetar negativamente a qualidade do serviço público prestado ao cidadão, ela pode aumentar as desigualdades dentro do funcionalismo público, principalmente relativas a gênero.

O setor público reproduz tradicionalmente as dificuldades enfrentadas pelas mulheres no mercado de trabalho e na sociedade. Por exemplo, quanto mais próximo dos cargos de poder, menor a representatividade feminina. Essas assimetrias também se refletem nas diferenças salariais. Segundo o Atlas do Estado Brasileiro de 2017, as mulheres recebem salários menores que os homens em todos os poderes: no Executivo, recebem 24,7% menos que homens, no Legislativo, 12% e, no Judiciário, 6,2% . E mesmo com salários proporcionalmente inferiores nos três Poderes, as mulheres eram maioria nos quadros de servidores públicos no Poder Legislativo (61,1%) e Judiciário (53,15%) em 2019.

A presença feminina também é maioria nos quadros de servidores estaduais (55,95%) e municipais (65,60%). Ao mesmo tempo, elas ocupam poucas posições de poder no serviço público. Nos últimos 35 anos a diferença de salários entre mulheres e homens ficou 50% maior no Executivo. Já no Judiciário ela ficou cerca de 50% menor, apesar de ainda os homens ganharem maiores salários. No Judiciário, somente duas ministras entre os 11 membros ocupam cargos no mais importante Tribunal do país, padrão que se repete nos cargos eletivos. As mulheres ocupam apenas 15% das cadeiras na Câmara dos Deputados e no Senado, para ficar apenas no nível federal. Ao considerar que as mulheres são a maior parte na população (51,8%), percebe-se que há uma sub-representação de gênero nos cargos de poder e uma discrepância salarial no funcionalismo público.

Essas desigualdades, no entanto, não só não estão na pauta da PEC 32, como algumas de suas medidas podem, inclusive, aumentá-las. A proposta atual da PEC afeta diretamente a maior parte dos servidores públicos que ocupam os cargos operacionais e de atendimento ao público, enquanto deixa de fora aqueles que recebem salários mais altos e regalias – como os membros dos poderes Legislativo e Judiciário. A questão é que estes cargos de menor nível hierárquico mais afetados pela reforma são majoritariamente femininos – como profissionais da educação, saúde e assistência –, enquanto os quadros que ficam fora da reforma são majoritariamente masculinos – como a magistratura.

Além disso, outras medidas da PEC 32 também tendem a aumentar desigualdades, como o fato de colocar em xeque a estabilidade das carreiras. Em uma futura disputa sobre quais delas se manterão estáveis, está claro que aquelas de maior poder terão maior chance de barganha, enquanto as carreiras menos valorizadas terão menor espaço. Incluem-se aí carreiras nas áreas de saúde, assistência e educação, ocupadas por mulheres, que saem em desvantagem em relação a carreiras como as do judiciário, de auditoria, de controle e fazendárias, majoritariamente ocupadas por homens).

Por fim, a proposta de criação dos “cargos de liderança”, que politizam a máquina ao acabarem com as funções gratificadas exclusivas a concursados, também dificultarão ainda mais o acesso de mulheres a cargos de poder.

A esta altura do debate, está claro que as medidas propostas pela PEC 32 não terão impacto imediato nos gastos e podem comprometer a eficiência e o funcionamento do Estado. Ainda assim, é essencial evidenciar seus efeitos também nas desigualdades de gênero.

Enquanto a sociedade reconhece a necessidade de diminuir o fosso entre homens e mulheres nas mais diferentes esferas, o poder público brasileiro atua no caminho inverso. Nesse sentido, é inadmissível que tenhamos uma reforma administrativa capaz de aprofundar as desigualdades de gênero no serviço público.

Sobre as autoras | Gabriela Lotta, Erika Caracho Ribeiro, Isabela Pedroso Troyo, Muriel Akkerman Aronis, Luciana Jordão da Motta Armiliato de Carvalho, Michelle Fernandez e Renata de Paiva Puzzilli Comin são pesquisadoras de diversas instituições e fazem parte da Rede Brasileira de Mulheres Cientistas.

(Fonte: Agência Bori)