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Campinas e Indaiatuba são habilitadas a participarem da estratégia “Destinos Turísticos Inteligentes” do Ministério do Turismo

Campinas e Indaiatuba, por Kleber Patricio

O Parque Ecológico de Indaiatuba, principal cartão postal da cidade. Foto: Eliandro Figueira.

Campinas e Indaiatuba, da Região Metropolitana de Campinas (RMC), foram dois dos 42 municípios brasileiros habilitados pelo Ministério do Turismo (MTur) a fazerem parte da estratégia de Destinos Turísticos Inteligentes (DTI). O objetivo da iniciativa é oferecer aos selecionados consultoria para realizar diagnóstico e auxiliar na construção de um plano de transformação, bem como apoiar no planejamento de um sistema de gestão de Destinos Turísticos Inteligentes.

Ao todo, 42 municípios foram habilitados nesta primeira etapa classificatória e, a partir daí, serão escolhidos 10 para participarem da estratégia. A divulgação final da primeira etapa ocorrerá no dia 17 de maio, momento em que será iniciada a fase de análise dos documentos classificatórios. “O DTI é uma ação que transformará realidades, conferindo mais competitividade aos nossos destinos por meio do fortalecimento de eixos estruturantes que se relacionam com o turismo, como acessibilidade, sustentabilidade e inovação. É mais investimento no turismo do nosso Brasil”, destaca a ministra do Turismo, Daniela Carneiro.

As cidades que integrarão o projeto que visa transformá-las em DTIs vão passar por um diagnóstico que apontará uma estratégia para o desenvolvimento do turismo local, além da capacitação de gestores locais do setor. Os municípios definirão os seus cronogramas de implantação com base nos resultados da avaliação realizada e de acordo com as principais necessidades e possibilidades de cada um. O trabalho desenvolvido segue nove pilares: Governança, Inovação, Tecnologia, Sustentabilidade, Acessibilidade, Promoção e Marketing, Segurança, Mobilidade e Transporte, e Criatividade.

Foto: divulgação/Tegra Incorporadora.

Para participar da estratégia, os municípios deveriam estar nas categorias A e B do Mapa do Turismo Brasileiro de 2022 do Programa de Regionalização do Turismo. Além disso, deveriam ser entregues cinco documentos obrigatórios para a sua habilitação, sendo eles: formulário de inscrição no projeto “Estratégia Nacional DTI Brasil”, planejamento Estratégico de Turismo do Órgão Gestor, carta de compromisso assinada pelo prefeito do município inscrito como proponente com estabelecimento do órgão gestor, relação das organizações que prestam serviços turísticos existentes no município cadastradas no Cadastur, bem como quaisquer instituições relevantes para o sistema de gestão do DTI (Matriz de Partes Interessadas) e documento que determine geograficamente o território de atuação do DTI (ex.: bairro(s), centro histórico, distrito, município completo).

Os destinos selecionados receberão o certificado de “DTI em Transformação”, o que não significa que sejam destinos turísticos inteligentes, mas que estão no caminho para essa transformação. Portanto, o município precisa estar ciente de que somente se comprometendo a executar as ações estipuladas é que poderá ser reconhecido como um Destino Turístico Inteligente.

ETAPAS

Após a habilitação, a estratégia se dividirá em dois ciclos: o primeiro realizará um diagnóstico e um planejamento, onde é conhecida a situação em que a cidade se encontra, sendo o ponto de partida para o desenho de um Plano de Transformação que vai apoiar o município a transformar-se, de fato, em um destino turístico inteligente.

A segunda etapa será a execução das ações contidas no Plano para que o município consiga o Selo DTI Brasil, que pode ser obtido após o destino passar por uma auditoria realizada por técnicos do Ministério do Turismo junto a um ou mais representantes do Instituto Ciudades del Futuro – parceiro do MTur nesta iniciativa. A partir daí, a cidade entra em um processo de melhoria contínua, ampliando sua capacidade de enfrentar novos desafios sociais, políticos, tecnológicos e econômicos.

Um Destino Turístico Inteligente é aquele que gerencia seus processos e seu território de forma inovadora e sustentável, comprometido com pilares que impactam positivamente a qualidade de vida dos moradores e a experiência dos turistas. Além disso, para fazer parte dos Destinos Inteligentes, o município precisa se esforçar em resolver problemas de áreas como segurança, acessibilidade, infraestrutura, comunicação e marketing, entre outras, de forma inovadora e com o uso de tecnologias.

Vanderlei Costa, presidente do CRC&VB: “Notícia positiva para o setor do turismo regional”. Foto: divulgação.

O presidente do Campinas e Região Convention & Visistours Bureau (CRC&VB), Vanderlei Costa, classificou a seleção de Campinas e Indaiatuba, duas cidades da área de atuação da entidade, como positiva e promissora para todo o turism regional. “Primeiro porque mostra o interesse do poder público em qualificar e promover o turismo das cidades, o que vai fazer com que outros municípios se movimentem no mesmo sentido. E segundo, a seleção final tratará impactos positivos para o setor como um todo, refletindo em toda a nossa região e aumentando as possibilidades de um fluxo maior de turistas e de resultados para a economia”, completa.

(Fonte: Comunicação Estratégica Campinas)

Relatório aponta que é preciso ouvir mulheres pobres e negras para superar insegurança alimentar no Brasil

Rio Grande do Sul, por Kleber Patricio

Foto: FreePik.

Em novo relatório publicado no último dia 15 de maio, pesquisador reforça a importância de considerar a experiência de mulheres negras na formulação de políticas públicas alimentares, já que elas são as que mais enfrentam obstáculos no acesso a alimentos de qualidade.

Assinado por Arthur Saldanha, pesquisador de pós-doutorado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a publicação, que faz parte de uma série de estudos do grupo de pesquisa em Sociologia das Práticas Alimentares (SOPAS) da mesma instituição, demonstra que isso acontece porque raça, gênero e cor são os fatores que mais influenciam na insegurança alimentar e nutricional no Brasil: baixa renda, menor grau de escolaridade e diferença salarial entre homens e mulheres levam ao aumento do trabalho informal e à redução do poder de compra. Com isso, fica dificultado ou impossibilitado o acesso a alimentos de qualidade, bem como diminui o número de refeições diárias.

“Muito tem se falado sobre a fome e o alto consumo de alimentos pouco nutritivos no Brasil, mas estes são problemas que persistem de maneira desigual”, afirma Saldanha. Segundo ele, “a insegurança alimentar e nutricional está relacionada a outros problemas sociais crônicos no Brasil, como a qualidade e quantidade dos alimentos acessados, igualdade social na produção, comercialização e acesso a esses alimentos, ao racismo e o sexismo sofridos diariamente por essas mulheres”.

Ainda de acordo com o relatório, o índice crescente de pobreza e extrema pobreza na América Latina com as consequências da pandemia de Covid-19 e da elevação de preços por causa da inflação fazem com que o quadro de insegurança alimentar no país piore e persista. Em uma conjuntura em que a maioria das pessoas sofre com a redução do poder de compra, suas escolhas são direcionadas para produtos menos saudáveis, que são mais acessíveis. Por conseguirem comprar menos coisas, elas também deixam de consumir produtos mais variados. É o caso do aumento no consumo de alimentos ultra processados, por exemplo, geralmente ricos em gorduras e açúcares.

O autor destaca que o ativismo de mulheres negras pode ajudar a construir políticas públicas alimentares para enfrentar essas questões, levando em consideração essas desigualdades. “A aproximação do poder público às iniciativas alimentares locais, como movimentos sociais, organizações e articulações de mulheres negras, permitirá um mapeamento mais preciso sobre as demandas dessas mulheres e, consequentemente, uma formulação de política pública alimentar mais assertiva para esse grupo”, afirma o pesquisador da UFRGS.

Outro aspecto que chama a atenção do autor é o fato das mobilizações de mulheres negras frequentemente lançarem atenção para demandas de outros grupos sociais, como indígenas, populações tradicionais e comunidade LGBTQIA+. Saldanha segue com investigações nessas temáticas no Rio Grande do Sul como parte do seu trabalho de pesquisa na UFRGS, se interessando pela relação entre práticas alimentares e gênero, classe e raça.

(Fonte: Agência Bori)

Indaiatuba recebe programação da 21ª Semana Nacional de Museus no Casarão, Estação e Museu da Água

Indaiatuba, por Kleber Patricio

Exposição itinerante ’30 Anos do Parque Ecológico de Indaiatuba’ é atração no Museu ‘Antônio Reginaldo Geiss’. Foto: Fábio Alexandre.

O Museu ‘Antônio Reginaldo Geiss’, no Casarão Pau Preto, vinculado ao Departamento de Preservação e Memória da Secretaria Municipal de Cultura, em parceria com o Museu Ferroviário de Indaiatuba e o Museu da Água, participa da 21ª edição da Semana Nacional de Museus com o tema “Museus, Sustentabilidade e Bem-Estar”. As atividades acontecem entre os dias 18 a 21 de maio e integram ainda a programação do 31º Maio Musical.

A escolha do tema, proposto anualmente pelo Conselho Internacional de Museus – ICOM para o Dia Internacional dos Museus, celebrado em 18 de maio, tem como objetivo destacar a importância dos museus como espaços que promovem o bem-estar e a sustentabilidade e apoiar três dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU): Saúde e Bem-Estar Global, Ação Climática e Vida na Terra.

O tema ‘Museus, Sustentabilidade e Bem-Estar’ lembra-nos de que os museus podem contribuir para o bem-estar das pessoas de muitas maneiras, incluindo a promoção da saúde mental, a educação e a sensibilização ambiental. Os museus ajudam a promover a inclusão social, a diversidade, a conexão com a natureza, a compreender a questão climática e amplificar a voz dos povos originários tornando-se, assim, importantes aliados na luta pela sustentabilidade a partir da sua própria concepção de “bem-viver”.

Em sua 21ª edição, a Semana Nacional de Museus, que acontece de 15 a 21 de maio, visa ressaltar o papel fundamental destes espaços na contribuição para o bem-estar, o bem-viver e o desenvolvimento sustentável das comunidades, onde possuem papel fundamental como espaços que promovem a consciência, fortalecem as identidades e a participação cidadã.

PROGRAMAÇÃO

18 de maio, às 9h – Casarão Pau Preto

Abertura da exposição itinerante 30 Anos do Parque Ecológico de Indaiatuba no espaço do Museu Antônio Reginaldo Geiss.

18 de maio, às 19h30 – Casarão Pau Preto

Apresentação do Grupo Plano de Voo com o show Paragens Brasileiras, dentro da programação do 31º Maio Musical.

19 de maio, das 9h às 12h – Museu da Água

Ação Educativa aberta ao público.

20 de maio, das 9h30 às 11h30 – Museu Ferroviário de Indaiatuba

Oficina Reciclagem de Potes de Sorvete, atividade desenvolvida para que as crianças aprendam de maneira lúdica sobre a reciclagem de materiais.

Público-alvo: 6 a 12 anos

Vagas: 15

Inscrições: (19) 3834-6319

21 de maio, às 10h – Casarão Pau Preto

Apresentação da Camerata SESI Indaiatuba, dentro da programação do 31º Maio Musical.

Endereços:

Museu ‘Antônio Reginaldo Geiss’ – Casarão Pau Preto: Rua Pedro Gonçalves, 477, Centro

Museu da Água: Rua do Museu, 205, Tombadouro

Museu Ferroviário: Praça Netwon Prado, s/nº, Jardim Pompeia.

(Fonte: Prefeitura de Indaiatuba)

Musical “Benjamin, O Palhaço Negro”, retorna aos palcos cariocas

Rio de Janeiro, por Kleber Patricio

Fotos do elenco original por Paulo Aragon.

O musical “Benjamin, O Palhaço Negro” retorna ao Rio de Janeiro em curta temporada no Espaço Tápias, nos dias 20, 21, 27 e 28 de maio, às 20h. O espetáculo recebeu o “Prêmio Musical Rio Destaques 2022” na categoria selo musical.rio e celebra a vida e obra de Benjamin de Oliveira, o primeiro palhaço negro do Brasil. Nascido no fim do século XIX, mesmo com desafios em sua trajetória, revelou-se um artista múltiplo dos palcos, picadeiros e cinema. Interpretado por seis jovens pretos (Elis Loureiro, Isaac Belfort, Igor Barros Peterson Ferreira e Sara Chaves, stands in: Caio Nery e Vitória Rodrigues), os artistas dão vida a inúmeros personagens que permearam a história de Benjamin. O relato por meio da vivência dos atores e atrizes em cena reflete sobre racismo e apagamento de narrativas pretas na arte.

Dirigido por Tauã Delmiro, o musical foi construído de forma colaborativa a partir do roteiro base criado por Rebeca Bittencourt. A dramaturgia do espetáculo é permeada por canções originais criadas especificamente para ‘Benjamin’, contando com trilhas exclusivas feitas pelo artista James Lau. Já a direção musical é composta pela olhar inovador de Peterson Ferreira ao lado de Nakiska Muniz e coreografias de Marcelo Vittória.

‘Benjamin, O Palhaço Negro’ é um projeto idealizado e produzido por Isaac Belfort CEO da Belfort Produções em parceria com a Produtora Alada. O musical fez estreia nacional em Outubro de 2022 no Rio de Janeiro e já realizou uma curta turnê passando por São Paulo, Niterói, e a Quadra da G.R.E.S Portela.

FICHA TÉCNICA

Elenco: Elis Loureiro, Isaac Belfort, Igor Barros Peterson Ferreira e Sara Chaves.

Stands in: Caio Nery e Vitória Rodrigues

Idealização e Direção de produção: Isaac Belfort

Direção geral: Tauã Delmiro

Direção musical: Peterson Ferreira e Nakiska Muniz

Direção de Movimento de coreografias: Marcelo Vittória

Dance capitan: Elis Loureiro

Design de Som: Breno Lobo

Roteiro Base: Rebeca Bittencourt

Produção musical e Trilha sonora: James Lau

Músicas: Nakiska Muniz, Rebeca Bittencourt, Tauã Delmiro e Peterson Ferreira.

Assistente de direção e residente: Manu Hashimoto

Design de Luz: JP Meirelles

Figurinista e Costureiro: Isaac Neves

Concepção cenário: Alex Carvalho

Visagismo: Caio Godard

Fotos: Paulo Aragon

Cenotécnico: Adriano Farias

Audiovisual: Leo Rocha

Identidade visual e ass. de produção : Gabriel Barbosa

Mídia e produção: Samara Fellipe

Produção Executiva e marketing: Samara Fellipe

Produtora associada: Produtora Alada

Produção Geral: Belfort Produções.

Serviço:

Benjamin, O Palhaço Negro

Datas: 20, 21, 27 e 28 de maio (sábados e domingos)

Local: Espaço Tápias – Sala de Espetáculos Maria Thereza Tápias

Horário: 20h

Duração: 1h20

Classificação: 16 anos

80 lugares

Ingressos: Sympla | R$30 (meia) e R$60 (inteira)

Endereço: Av. Armando Lombardi, 175 – 2º andar – Barra da Tijuca.

(Fonte: Claudia Tisato)

Inhotim expõe obras de Mestre Didi e Mônica Ventura

Brumadinho, por Kleber Patricio

Mestre Didi, “EYE NLA AGBA – Grande Pássaro Ancestral”, década de 1980. Crédito: Divulgação/Instituto Inhotim. Nervura de palmeira, couro pintado, búzios e contas, 42 x 72 x 107 cm.

O Instituto Inhotim inaugura mais duas exibições temporárias, a partir do dia 27 de maio, sábado, na Galeria Praça. “Mestre Didi – os iniciados no mistério não morrem”, com curadoria de Igor Simões, curador convidado, e da equipe curatorial do Inhotim, e “A noite suspensa ou o que posso aprender com o silêncio”, de Mônica Ventura, dialogam com questões da ancestralidade e da religiosidade de povos afro-indígenas. As exposições contam com o Patrocínio Master da Shell por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura.

“A noite suspensa ou o que posso aprender com o silêncio” foi comissionada pelo Inhotim para ocupar o vão central da Galeria Praça, umas das mais visitadas no museu e jardim botânico. A obra se destaca, à primeira vista, por sua escala: são aproximadamente 4 metros de altura e 9 metros de largura. Mônica Ventura (São Paulo, 1985) traz uma proposta de olhar o entorno e a potência local, fazendo uso da terra da região na construção da obra – a parede, o leito e a escultura são feitas desse elemento. “‘A noite suspensa ou o que posso aprender com o silêncio’ apresenta uma escala que não é humana e, ao mesmo tempo, que não é arquitetura, mas nos confronta. A proposta é contemplar essa instalação que nos olha. Quem observa quem?”, questiona a artista.

Mestre Didi, “EYE INLA LYA – Grande pássaro ancestral”, s.d. Crédito: Divulgação Instituto Inhotim.

Neste trabalho, Mônica Ventura faz alusão a diferentes práticas religiosas de matrizes ancestrais e o público é convidado a desvendar as camadas da instalação, cuja forma se associa aos zangbetos, espíritos ancestrais cultuados em algumas religiões no Golfo do Benim, responsáveis pela proteção e afastamento de males, e também aos praiás, elementos fundamentais da cosmologia Pankararu, povo originário brasileiro cujo território tradicional se encontra próximo ao rio São Francisco. Para os Pankararu, os praiás marcam a presença dos Encantados, entidades vivas ligadas diretamente ao plano espiritual. Ambos são manifestados por meio da dança e do uso de um tipo de máscara de corpo inteiro feita em palha. Nos dois casos, quem ocupa aquele corpo persiste como incógnita; ele observa, mas não pode ser observado.

Como um invólucro feito de palha, a instalação possui uma abóbada de cor azul e a sua base de terra afixada no chão se assemelha a uma Yoni, forma que remete ao feminino e cujo significado do termo, em sânscrito, refere-se às noções de “passagem divina” ou “fonte de vida”. Já a escultura em si remete a Lingam, símbolo fálico que remete ao masculino. A combinação entre as duas formas, se vista de cima, faz referência a Shiva Lingam, a síntese das energias do universo. “A parte central da Galeria Praça é um espaço extremamente desafiador para se trabalhar. Ele não é um cubo branco, mas também não é uma área ao ar livre. E Mônica buscou uma composição que articula e mobiliza tanto o espaço arquitetônico, quanto o jardim ao redor”, explica Lucas Menezes.

Adentrando o universo múltiplo de Deoscóredes Maximiliano dos Santos (1917–2013), Mestre Didi, a exposição “Mestre Didi – os iniciados no mistério não morrem” exibe cerca de 30 obras do artista feitas em consonância com a sua atividade de liderança religiosa no Candomblé e pertencentes à Coleção do Instituto Inhotim. Seu título, de acordo com o curador convidado Igor Simões, é um trecho de uma cantiga entoada durante as cerimônias fúnebres de um Ojé, sacerdote da tradição Egungun. As obras expostas são feitas, em geral, de fibras do dendezeiro, búzios, contas, sementes e tiras de couro, com a presença de símbolos que remetem às tradições iorubá.

Mestre Didi, “IBIRI – Emblema de Nanã”, década de 1980. Crédito: Divulgação Instituto Inhotim.

“Como parte de sua programação, o Instituto Inhotim tem exibido suas recentes aquisições, com foco na produção de autoria negra. As obras do Mestre Didi presentes na mostra ratificam a missão da instituição de compartilhar essa produção com o grande público, sempre em diálogo com as discussões presentes no campo da arte”, diz o curador assistente do Inhotim, Deri Andrade.

A exposição convida o público a conhecer outras dimensões de Mestre Didi, sobretudo para a cultura brasileira. Além de sua atuação no campo cultural, Mestre Didi foi sacerdote supremo – também conhecido como Alápini – do culto aos ancestrais Egungun, tendo fundado em Salvador, em 1980, a Sociedade Religiosa e Cultural Ilê Asipá. Na mostra, todas essas vivências da trajetória de Mestre Didi – a intelectualidade, a espiritualidade e o sagrado – estão registradas, ademais as esculturas, a partir do acervo da Sociedade de Estudos da Cultura Negra no Brasil (Secneb), com uma série de documentos e imagens cedidos gentilmente pela cantora e bailarina Inaicyra Falcão, uma das filhas de Mestre Didi. Outro aspecto abordado na mostra é a presença feminina na trajetória do artista.

“Os mistérios do Mestre Didi partem das peças e se estendem para suas várias existências como Alápini, escritor, tradutor, educador, intelectual e sua presença indissociável na manutenção dos saberes que uniram as águas do Atlântico na experiência afro-diaspórica, que extrapola os limites do país e se expande para um domínio que vai além do territorial”, complementa o curador Igor Simões. “Mestre Didi – os iniciados no mistério não morrem” apresenta também alguns trabalhos que se relacionam com a obra do artista como Rubem Valentim e Ayrson Heráclito, com a videoarte Ijó Mimó (2019), além de comissionamentos do Ilê Asipá, que esteve em diálogo com a curadoria desde o início da pesquisa ocorrida em viagens a Salvador.

“Mestre Didi – os iniciados no mistério não morrem” e “A noite suspensa ou o que posso aprender com o silêncio” fazem parte do Programa Abdias Nascimento e o Museu de Arte Negra. A convite da curadoria do Instituto Inhotim, Igor Simões assinará, além desta exposição de Mestre Didi, um conjunto de curadorias na instituição ainda em 2023, integradas ao Programa Abdias Nascimento e o Museu de Arte Negra.

Monica Ventura. Foto: Renato Mangolin.

Sobre Mônica Ventura | Mônica Ventura nasceu em 1985 em São Paulo, onde vive e trabalha. Artista visual e designer com bacharelado em Desenho Industrial pela Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP) – São Paulo. Mestranda em Poéticas Visuais (PPGAV) pela ECA-USP – São Paulo. Atualmente, pesquisa filosofias e processos construtivos de arquitetura e artesanato pré-coloniais (Continente Africano – Povos Ameríndios – Filosofia Védica). Utiliza essa investigação para a elaboração de práticas artísticas geradas a partir de experiências pessoais. Suas obras falam sobre o feminino e racialidade em narrativas que buscam compreender a complexidade psicossocial da mulher afrodescendente inserida em diferentes contextos. Mulher negra, entoa sua memória corporal friccionando-a em sua ancestralidade a partir de histórias de sua vida e pesquisas. Com sua produção artística leva também o seu corpo a ocupar espaços socialmente interditados. Em suas obras há um interesse especial pela cosmologia e cosmogonia afro-ameríndia para além do uso dos seus objetos, símbolos e rituais.

Sobre Mestre Didi | Deoscóredes Maximiliano dos Santos (Salvador, Bahia, 1917–2013), mais conhecido como Mestre Didi, foi um sacerdote-artista, filho de Arsênio dos Santos, um grande alfaiate baiano, e de Maria Bibiana do Espírito Santo, conhecida como Mãe Senhora por seu papel de Ialorixá no terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, em Salvador. Didi começou ainda na infância a executar objetos rituais associados ao Candomblé, mantendo essa prática ao longo de toda sua vida. Ao mesmo tempo, iniciou-se na religião aos oito anos de idade, aprofundando-se no culto aos Egunguns (ou Ancestrais), parte essencial da cultura nagô de origem iorubana. Em suas peças, fibras do dendezeiro, contas, búzios, tiras de couro, emblemas dos orixás Nanã, Obaluayê, e Oxumarê, reapresentados no campo semântico da arte e, como tal, esgarçando práticas que nem sempre cabem na palavra. Entre a década de 40 e 90, Mestre Didi se posiciona como um intelectual afro-atlântico e em sua produção estarão presentes traduções do Iorubá para o português, autos coreográficos, contos e escritos que o posicionam como figura incontornável na guarda e na difusão dos saberes da diáspora africana, não apenas no Brasil, como entre as Américas e Europa. Em 1966, viajou para a África Ocidental para realizar pesquisas comparativas entre Brasil e África, contratado pela Unesco. Em 1980, fundou e presidiu a Sociedade Cultural e Religiosa Ilê Asipá do culto aos ancestrais Egun, em Salvador. Foi coordenador do Conselho Religioso do Instituto Nacional da Tradição e Cultura Afro-Brasileira, representando no país a Conferência Internacional da Tradição dos Orixás e Cultura. Mestre Didi realizou importantes mostras individuais e coletivas em instituições como Pinacoteca do Estado de São Paulo, Museu Afro Brasil, Museu de Arte Moderna de São Paulo, Museu Oscar Niemeyer, Museu de Arte Moderna da Bahia, Museu Histórico Nacional e Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, além de participar na Bienal da Bahia e na 23ª Bienal de São Paulo. No exterior, expôs em Valência, Milão, Frankfurt, Londres, Paris, Acra, Dacar, Miami, Nova York e Washington. Seus trabalhos figuram em coleções de destaque, incluindo Museu de Arte Moderna da Bahia, Museu de Arte Moderna de São Paulo, e Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand.

Sobre o Programa Abdias Nascimento e o Museu de Arte Negra | Poeta, escritor, dramaturgo, artista visual, curador, professor universitário, pan-africanista, político, a trajetória de Abdias Nascimento (1914–2011) foi trilhada no ativismo e na luta contra o racismo. Entre muitas realizações, Nascimento esteve à frente de duas importantes iniciativas: o Teatro Experimental do Negro (1944–1968) e o Museu de Arte Negra (1950). A primeira foi uma entidade centrada na prática da dramaturgia negra. Fez da atividade cênica um meio capaz de influenciar uma nova geração de cidadãos negros pela conscientização racial, pela crítica ao etnocentrismo europeu e pela valorização da herança cultural africana. Já o Museu de Arte Negra, iniciativa pioneira à época, reuniu obras de artistas nacionais e internacionais com a missão de divulgar a influência africana na arte moderna ocidental e representar a pluralidade da produção artística da diáspora negra. Em 2021, ano que marcou os dez anos da perda desse importante intelectual brasileiro, o Inhotim convidou o Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (Ipeafro) para uma ação conjunta: ocupar a Galeria Mata, até 2024, com a coleção Museu de Arte Negra. Abdias Nascimento e Elisa Larkin Nascimento criaram o Ipeafro em 1981, com a missão de guardar o acervo artístico e documental de Abdias e das organizações que ele fundou. No intuito de abordar os legados múltiplos de Abdias Nascimento e as questões fundamentais que sua obra e seu pensamento levantam, o Inhotim sedia outro museu dentro de si mesmo, colocando em perspectiva as noções de museu, acervos e as redes de convivência nas quais estão embrenhados. O ciclo de exposições Abdias Nascimento e o Museu de Arte Negra ressalta a perenidade desse legado. O projeto se desdobra em quatro atos, valendo-se da coleção Museu de Arte Negra e do acervo documental do Ipeafro. “Sortilégio”, terceiro ato do projeto, tem foco na produção de Abdias como pintor e na centralidade que as religiões afro-diaspóricas ganham em sua produção. Com as atividades do TEN em decadência, como consequência da conjuntura política do país com a instauração da Ditadura Civil-Militar em 1964, o intelectual enfrentou dificuldades para fazer ressoar suas ideias. Ainda em 1968, por indicação de Judith Gleason, pesquisadora especialista em cultura africana, Nascimento ganhou uma bolsa de dois meses, concedida pela Fairfield Foundation, para encontrar com artistas, intelectuais e ativistas negros dos EUA. No Brasil, a promulgação do Ato Institucional nº 5 forçou o exílio de Abdias, que passa 13 anos entre os EUA e a Nigéria. É nesse período que o terceiro ato se concentra, os anos de exílio de Abdias, onde a maior parte de suas pinturas foram produzidas, e a coleção do MAN ganhou força e cresceu, com obras de artistas a partir das redes de contato que fez ao longo de suas viagens por diferentes países para promover a união dos povos africanos através do mundo.

Sobre Igor Simões | Doutor em Artes Visuais-História, Teoria e crítica da Arte-PPGAV-UFRGS. Professor Adjunto de História, Teoria e Crítica da arte e Metodologia e Prática do ensino da arte (UERGS). Foi curador adjunto da Bienal 12 (Bienal do Mercosul – Curador educativo). Membro do comitê de curadoria da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas-ANPAP, Membro do Núcleo Educativo UERGS-MARGS. Membro do comitê de acervo do Museu de Arte do RS-MARGS. Trabalha com as articulações entre exposição, montagem fílmica, histórias da arte e racialização na arte brasileira e visibilidade de sujeitos negros nas artes visuais. Autor da tese “Montagem Fílmica e exposição: Vozes Negras no Cubo Branco da Arte Brasileira”. Membro do Flume – Grupo de Pesquisa em Educação e Artes Visuais. Tem mantido atividades na área de formação e debate sobre arte brasileira e racialização em instituições como Museu de Arte de São Paulo (MASP), Instituto Itaú Cultural, Instituto Moreira Salles, MAC/ USP – Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo e universidades do Brasil e exterior. Membro do comitê curatorial do Museu de Arte Contemporânea da USP. Foi curador adjunto da 12º edição da Bienal do Mercosul e curador da exposição Presença Negra no Museu de Arte do Rio Grande do Sul. Integrou o conselho curatorial das exposições “Social Fabric” (Houston, Dallas) e “Enpowerment” (Volfsburg- Alemanha). Membro do conselho do AWARE – Archives of Women Artists, Research and Exhibitions (France- EUA), Tempos Fraturados (MAC-USP). Atualmente é curador geral de “Dos Brasis: Arte e pensamento negro”, no SESC Belenzinho e curador convidado de Inhotim para a temporada 2023 no Programa Abdias Nascimento e o Museu de Arte Negra. É atualmente pós-doutorando em História da Arte, pelo MAC-USP, fellowship no Clark Institut.

Serviço:

Mestre Didi – os iniciados no mistério não morrem

A noite suspensa ou o que posso aprender com o silêncio

Data da inauguração: 27 de maio de 2023, sábado

Local: Galeria Praça (G3), Instituto Inhotim.

Informações gerais:

Horários de visitação: de quarta a sexta-feira, das 9h30 às 16h30, e aos sábados, domingos e feriados, das 9h30 às 17h30.

Entrada: R$50,00 inteira (meia-entrada válida para estudantes identificados, maiores de 60 anos e parceiros). Crianças de até cinco anos não pagam entrada.

Localização: O Inhotim está localizado no município de Brumadinho, a 60 km de Belo Horizonte (aproximadamente 1h15 de viagem). Acesso pelo km 500 da BR381 – sentido BH/SP. Também é possível chegar ao Inhotim pela BR-040 (aproximadamente 1h30 de viagem). Acesso pela BR-040 – sentido BH/Rio, na altura da entrada para o Retiro do Chalé.

Opções de transporte regular:

Transfer | a Belvitur, agência oficial de turismo e eventos do Inhotim, oferece transporte aos sábados, domingos e feriados, partindo do hotel Holiday Inn Belo Horizonte Savassi (Rua Professor Moraes, 600, Funcionários, Belo Horizonte). É preciso comparecer 15 minutos antes para o procedimento de embarque e conferência do voucher. Veja mais informações sobre o transfer clicando aqui. Ônibus Saritur – saída da Rodoviária de Belo Horizonte de terça a domingo, às 8h15 e retorno às 16h30 durante a semana e às 17h30 aos fins de semana e feriados. R$51,75 (ida), R$46,05 (volta), R$97,80 (ida e volta).

Inhotim Loja Design | A loja do Inhotim, localizada na entrada do Instituto, oferece itens de decoração, utilitários, livros, brinquedos, peças de cerâmica, vasos, plantas e produtos da culinária típica regional, além da linha institucional do Parque. É possível adquirir os produtos também por meio da loja online.

(Fonte: Instituto Inhotim)