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Covid-19: Como a falta de protagonismo do Ministério da Saúde impacta na vida das mulheres

Brasil, por Kleber Patricio

Foto: Enrique Guzman Egas/Unsplash.

Ao longo dos últimos 30 anos, observamos, em matéria de políticas de saúde no Brasil, um modelo baseado na partilha de funções entre os entes federativos e uma coordenação concentrada no Ministério da Saúde (MS). Esse modelo, base do funcionamento do SUS, vinha sendo constante nas diferentes políticas formuladas e implementadas nas últimas décadas. Porém, na pandemia da Covid-19, os governos dos estados e municípios passaram a ocupar um lugar central na crise sanitária diante da ausência de protagonismo do Governo Federal para coordenar políticas de enfrentamento à pandemia. O cenário de crise é marcado pela incapacidade do MS de gerar espaços de diálogo, de orientar e fornecer apoio estrutural aos governos subnacionais. Diante desse contexto, a Rede Brasileira de Mulheres Cientistas (RBMC) se debruçou sobre algumas questões que impactam diretamente na sociedade brasileira nestes últimos 14 meses. São apresentados aqui três temas trabalhados em notas técnicas da RBMC: i) a mortalidade de gestantes e puérperas por Covid-19; ii) a vulnerabilidade dos profissionais de saúde, principalmente as mulheres, que atuam na linha de frente, e iii) o processo de vacinação contra a Covid-19.

Desde abril de 2020, a RBMC vem constatando o aumento progressivo – e muito acima da média mundial – de mortes de gestantes e puérperas acometidas por Covid-19 no Brasil, deixando um rastro de desespero e luto. Embora o MS tenha publicado, em setembro de 2020, seu Manual de Recomendações para a Assistência à Gestante e à Puérpera, não houve modificações importantes da estrutura dos exames e do fluxo de atendimento dessas mulheres no SUS durante a pandemia. Assim, de acordo com a Nota Técnica nº 1 da RBMC, lançada em 3 de maio, a atuação negligente do Governo Federal impossibilitou que gestantes e puérperas acometidas pela Covid-19 tivessem acesso aos cuidados adequados.

Além disso, a Nota Técnica nº 2 da RBMC, publicada no mesmo dia, destaca que as trabalhadoras da saúde, que compõem cerca de 70% dos profissionais do setor no Brasil, estão mais sujeitas à sobrecarga de trabalho provocada pela pandemia não só no ambiente profissional, mas também em suas atividades domésticas.

A falta de compra e transferência de EPIs para municípios, a falta de estratégia de testagem e de compra de quantidade adequada de testes e a falta de diretrizes e recomendações são apenas algumas das ações e omissões deliberadas do MS que afetaram diretamente os trabalhadores do SUS. Somam-se a isso os constantes ataques proferidos pelo presidente da República e por diversos atores públicos ao trabalho do SUS, que se materializaram em hostilização dos trabalhadores. A recomendação de remédio com ineficácia comprovada também teve efeitos diretos nesses trabalhadores, que são pressionados por usuários do serviço para acessarem o medicamento indicado pelo presidente.

Por fim, a RBMC indica o peso da ausência de coordenação do MS no processo de vacinação contra a Covid-19. Desde sua criação em 1973, o Programa Nacional de Imunizações (PNI) foi determinante para uma diminuição significativa de casos e óbitos por uma série de doenças. Infelizmente, dentro do atual governo, o PNI perdeu seu protagonismo e o que tinha tudo para ser um sucesso na vacinação para a Covid-19 tem se tornado um dos maiores fracassos na história da imunização do Brasil – com ausência de negociações para compra de vacina ainda em 2020 e falta de um plano de implementação da vacinação.

Como afirma a Nota Técnica nº 4 da RBMC, lançada em 10 de maio, se o MS tivesse atuado como ator central na estratégia de enfrentamento à pandemia, poderíamos contar com milhões de doses de vacina a mais daqueles que temos hoje — e alguns milhares de vidas poupadas.

A falta de atuação do governo central colocou o país num vazio decisório, de ações descoordenadas de estados e municípios. Esse cenário trouxe impactos reais para a vida das mulheres brasileiras, dentre elas, gestantes e puérperas e trabalhadoras da linha de frente da saúde.

Sobre a autora | Michelle Fernandez é pesquisadora da Universidade de Brasília (IPOL/UnB) e membro da Rede Brasileira de Mulheres Cientistas (RBMC). A análise faz parte de uma série de artigos de cientistas da RBMC sobre os impactos da Covid-19 antecipados à Bori.

(Fonte: Agência Bori)

Ana Botafogo estreia em novo papel com a SPCD

São Paulo, por Kleber Patricio

Foto: Claudio Lacerda/http://www.cultura.ba.gov.br/2015/11/86/Jornada-de-Danca-traz-Ana-Botafogo-para-apresentacao-no-TCA-e-encontro-com-educadores.html.

A São Paulo Companhia de Dança (SPCD) se prepara para estrear uma obra com assinatura de Ana Botafogo, renomada primeira-bailarina do Ballet do Theatro Municipal do Rio de Janeiro.

Pela primeira vez na carreira, Ana prepara a remontagem de uma obra de balé clássico. Será uma versão de Les Sylphides (Chopiniana), criada originalmente em 1909 por Michel Fokine (1880-1942) para os Ballets Russes de Serguei Diaghilev (1872-1929) a partir de composição de Frédéric Chopin (1810-1849). “Este é um balé que dancei algumas vezes, inclusive no Royal Ballet de Londres. Recebi este convite da Inês Bogéa, diretora da Companhia, e gostei do desafio. Acho que estou em um momento da carreira em que tenho tempo para estudar e me dedicar ao que gosto de fazer, que é justamente a preparação de bailarinos”, afirma ela, que iniciou os ensaios de forma remota, com os artistas da SPCD ainda em casa, durante a fase emergencial do Plano São Paulo. Com o início da fase de transição, Ana esteve presencialmente na sede da Companhia para acertar detalhes da obra. A estreia está prevista para meados de junho.

São Paulo Companhia de Dança – Direção Artística e Executiva: Inês Bogéa | Criada em janeiro de 2008, a São Paulo Companhia de Dança (SPCD) é um corpo artístico da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo gerido pela Associação Pró-Dança e dirigido por Inês Bogéa, doutora em Artes, bailarina, documentarista e escritora. A SPCD é uma Companhia de repertório, ou seja, realiza montagens de excelência artística, que incluem trabalhos dos séculos XIX, XX e XXI de grandes peças clássicas e modernas a obras contemporâneas especialmente criadas por coreógrafos nacionais e internacionais. A difusão da dança, produção e circulação de espetáculos é o núcleo principal de seu trabalho. A Companhia apresenta espetáculos de dança no Estado de São Paulo no Brasil e no exterior e é hoje considerada uma das mais importantes companhias de dança da América Latina pela crítica especializada. Desde sua criação, já foi assistida por um público superior a 762 mil pessoas em 17 diferentes países, passando por cerca de 150 cidades em mais de 1.000 apresentações. Desde sua criação, a Companhia já conquistou quase 40 prêmios e indicações nacionais e internacionais. Além da Difusão e Circulação de Espetáculos, a SPCD tem mais duas vertentes de ação: os Programas Educativos e de Sensibilização de Plateia e Registro e Memória da Dança.

Inês Bogéa – Direção Artística e Executiva | Inês Bogéa é doutora em Artes (Unicamp, 2007), bailarina, documentarista, escritora, professora no curso de especialização Arte na Educação: Teoria e Prática da Universidade de São Paulo (USP) e autora dos textos do Por Dentro da Dança com a São Paulo Companhia de Dança na Rádio CBN. De 1989 a 2001, foi bailarina do Grupo Corpo (Belo Horizonte). Foi crítica de dança da Folha de S. Paulo de 2001 a 2007. É autora de diversos livros infantis e organizadora de vários livros. Na área de arte-educação, foi consultora da Escola de Teatro e Dança Fafi (2003-2004) e consultora do Programa Fábricas de Cultura da Secretaria de Cultura do Estado (2007-2008). É autora de mais de setenta documentários sobre dança.

Jundiaí e região ganham polo cervejeiro

Jundiaí, por Kleber Patricio

Foto: Meritt Thomas/Unsplash.

Disseminar a cultura cervejeira, propor diálogos, unificar vozes, organizar projetos e informações com o intuito de consolidar e desenvolver ainda mais o setor cervejeiro na região, facilitar iniciativas, valorizar o “beba local” e apoiar o turismo cervejeiro nas cidades participantes, além de gerar emprego e renda – todos esses simbolizam alguns dos propósitos do recém-fundado Polo Cervejeiro de Jundiaí e Região, formado por cervejarias, brewpubs, taphouses e bares.  O projeto foi inspirado nos Polos Cervejeiros de Ribeirão Preto e de Campinas.

O vice-presidente do projeto, Victor Marinho, sócio e mestre-cervejeiro da Cervejaria Dádiva, conta que o objetivo é fortalecer todo o comércio local especializado em cervejas artesanais e valorizar os pequenos produtores e comerciantes locais, destacando as produções regionais e trazendo público para as cidades com empresas participantes.

Segundo Victor, essa organização permitirá saber quantas cervejarias, ciganas ou com plantas próprias, e quantos estabelecimentos que comercializam cervejas artesanais existem na região, bem como medir sua capacidade para receber novos projetos, mapear os pontos mais fortes e as fragilidades dos produtores, preencher lacunas conforme as necessidades, unificar objetivos em prol de melhores caminhos para todos os envolvidos e criar campanhas que fortaleçam as marcas locais. “Queremos ainda unificar as nossas vozes para cobrarmos das autoridades competentes as melhorias que precisam ser implementadas nos municípios, ajudando em regulamentações, desburocratizações e na promoção de eventos em prol da cultura cervejeira”, afirma Victor.

O Polo Cervejeiro de Jundiaí e Região já tem 31 participantes, entre eles a Cervejaria Dádiva, o bar Yellow Malte, a Estação Brew Shop e o produtor de lúpulos Jarinu. Para ser um integrante do projeto, os pequenos produtores e donos de pequenos comércios locais que comercializam cervejas artesanais precisam entrar em contato via e-mail polocervejeirojr@gmail.com. Para mais informações, acompanhe o Polo Cervejeiro nas redes sociais: @polocervejeirojr.

Açaí: como a genética pode ajudar na qualidade dos seus produtos

Belém, por Kleber Patricio

Foto: Fábio Martins/Embrapa Amapá.

A comercialização dos frutos do açaí faz parte do cotidiano de comunidades tradicionais no estado do Pará. Em 2020, cerca de 92% da produção teve como origem as florestas ribeirinhas no entorno de Belém e outros municípios do estuário amazônico. Esta palmeira, por meio dos seus frutos e do palmito, representa o sustento alimentar e a renda de diversas pessoas na região norte do Brasil, com alcance, inclusive, no mercado internacional.

Um problema que ainda persiste é a mistura dos frutos do açaí, da espécie tipo, com os frutos de outras etnovariedades; ou seja, denominações locais de açaí por apresentarem algumas características morfológicas do fruto – cor, tamanho, consistência, rendimento e sabor da polpa – semelhantes à espécie tipo, enquanto outras são completamente diferentes em sua morfologia floral, como coloração, tamanho e quantidade de flores. De fato, existem 118 espécies do gênero Euterpe no mundo todo e, no Brasil, ocorrem inúmeras espécies distribuídas de norte a sul. A E.oleracea, conhecida como açaizeiro, uaçaí, açaí do Pará e açaí da mata, ocorre espontaneamente nos estados do Pará, Amapá, Tocantins e Maranhão principalmente em florestas alagadas.

Então, como reconhecer a identidade dos frutos de açaí comercializados? Para responder essa pergunta, o Museu Goeldi trabalha em parceria com a Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) desde 2016. A pesquisa Identificação genética de amostras de açaí comercializadas no mercado brasileiro utilizando a técnica de DNA barcoding mostrou quem é quem dos açaís comercializados, inclusive entre as outras espécies, como E. precatoria e E.edulis, parentes geneticamente próximos de E.oleracea.

Foram analisadas 50 amostras comerciais com o código de barras do DNA, método eficiente para detectar adulterantes à base de plantas. Os resultados da pesquisa mostraram que 88,6% dos produtos derivados do suco de açaí foram originários de E.oleracea, enquanto 11,4% produtos continham misturas de espécies e foram considerados adulterados, trazendo preocupações quanto à correta identificação de espécies em alimentos e em relação à ocorrência de propaganda enganosa em produtos rotulados de açaí.

Com esse trabalho, foi possível caracterizar com rapidez, eficiência e biossegurança a procedência do material genético da espécie Euterpe oleracea Mart – o que abre portas para que outras matérias-primas possam ser autenticadas. Isso é importante para o contexto da Amazônia, já que produtos como os frutos do açaí, do cacau, da castanha do Pará, látex e resina, entre outros, sustentam a cadeia produtiva florestal. A partir do cuidado com a valoração e qualidade desses subprodutos, novos paradigmas podem ser estabelecidos nos mercados nacional e internacional. Assim, com bioempreendedorismo, as populações tradicionais envolvidas com essas culturas podem continuar a preservar e conservar a floresta amazônica.

Sobre o autor | Mário Augusto Gonçalves Jardim é engenheiro florestal, doutor em ciências biológicas e pesquisador titular do Museu Paraense Emilio Goeldi.

(Fonte: Agência Bori)

Estudo inédito cria índice para avaliar se cidades estão adaptadas às mudanças climáticas

São Paulo, por Kleber Patricio

Foto: Jonas Pacheco/Unsplash.

As cidades brasileiras estão prontas para se adaptar às mudanças climáticas? Motivados por essa pergunta, cientistas da Universidade de São Paulo (USP) criaram um índice que mede o potencial de adaptação dos nossos centros urbanos aos impactos das mudanças do clima. O índice, chamado de Índice de Adaptação Urbana (UAI, na sigla em inglês) está descrito em artigo publicado na edição de maio da revista científica Climatic Change.

Desenvolvido pelos pesquisadores do projeto CiAdapta, que estuda as interações entre transições climáticas, cidades e processos decisórios, o UAI busca avaliar a presença ou ausência de estruturas legais e regulatórias de apoio a intervenções urbanas ligadas à adaptação climática. Ao todo, são 26 indicadores associados a cinco conjuntos de políticas públicas municipais de apoio a intervenções urbanas: habitação, mobilidade urbana, agricultura sustentável, gestão ambiental e gestão de riscos climáticos. Na elaboração do índice foram levados em conta dois aspectos: as projeções climáticas para o Brasil, que incluem aumento de temperatura, ondas de calor e frequência de secas e enchentes, e o sistema de governança do país, que entrega aos municípios a responsabilidade do planejamento de sustentabilidade urbana.

A partir de dados públicos do censo brasileiro, a pesquisa aplicou o índice e avaliou a atual capacidade adaptativa dos 645 municípios do Estado de São Paulo – uma amostra que representa 21% da população do país e que concentra 32,4% do PIB do Brasil. Mais da metade dos municípios paulistas apresenta baixa capacidade de adaptação às mudanças climáticas, tendo baixas avaliações no Índice de Adaptação Urbana. No entanto, os municípios próximos ou em regiões metropolitanas, onde a maioria da população vive, têm as maiores pontuações, indicando um maior potencial de adaptação climática.

Para Gabriela Marques Di Giulio, da USP, coautora do estudo, o Índice de Adaptação Urbana inova ao utilizar dados públicos censitários para produzir informação sobre o nível de adaptação das cidades. “O uso de dados públicos facilita a atualização do UAI de forma dinâmica, e faz com que ele seja útil para acompanhar as mudanças e processos de transição das cidades”, comenta. Os indicadores propostos no UAI podem ser usados em cidades de todo o país.

Outro ponto importante ressaltado pela pesquisadora é o fato do índice gerar debate público sobre a questão das mudanças climáticas. “Ao avaliar as diferenças e semelhanças entre a capacidade atual das cidades (ou a falta dela) para lidar com os impactos e os riscos das mudanças climáticas, este índice pode estimular o debate entre as cidades para que criem políticas públicas que alinhem adaptação à sustentabilidade urbana”. Di Giulio reconhece que, embora melhorias nos níveis de renda, educação e saúde sejam importantes para reduzir vulnerabilidades às mudanças climáticas, é preciso também considerar as capacidades específicas de cada cidade para enfrentar esse contexto, como planos de contingência, política de uso de solo urbano e mapeamento de áreas de risco.

O próximo desafio do grupo do Projeto CiAdapta, segundo Di Giulio, é aplicar o UAI e, também, produzir outros índices sobre mudanças climáticas com métricas robustas para serem utilizados pelas cidades brasileiras. “A ideia é que esses índices estejam conectados às especificidades da realidade brasileira, sejam facilmente usados, que reflitam a capacidade adaptativa das nossas cidades”, finaliza.

(Fonte: Agência Bori)