“Não se combate a violência com um único modelo de enfrentamento. Cada geração exige uma abordagem diferente”, segundo advogado criminalista Davi Gebara


São Paulo
Capa do álbum. Foto: divulgação.
Se ao ouvir falar em jazz e piano você automaticamente pensa em músicos de figurinos clássicos e cores sóbrias, pode esquecer essa persona. E ninguém melhor para acabar com essa imagem pré-concebida do que o pianista brasileiro – e carioca – Jonathan Ferr. Ferr, aliás, é a personificação da quebra de paradigmas: estética, essencial e musicalmente falando. E é com essa proposta disruptiva que o precursor do gênero urban jazz no Brasil lançou, na sexta-feira (28), seu novo álbum Cura (ouça aqui), o primeiro a ser lançado pelo selo slap, da Som Livre.
O projeto chega ainda com uma websérie no YouTube envelopada em estética afro futurista – outra marcante assinatura do multifacetado artista, que também está sempre à frente da direção das suas produções audiovisuais e nas quais eventualmente atua. Composta por oito music visualizers – um para cada faixa inédita e com o número 8 representando o infinito, simbolizando a cura infinita de cada um –, a série chega ao canal do artista na próxima terça-feira (1/6) e retrata o encontro de um casal que se apaixona e vive um drama da vida cotidiana, em um processo contínuo de busca pela referida cura do título do disco.
Com nove faixas no total, o álbum alcança o feito de simultaneamente ser uma obra essencialmente pessoal do artista, enquanto transmite uma mensagem universal a quem escuta. A universalidade, aliás – para além da experiência sensorial intensificada pelo caráter instrumental do projeto – fica evidente também no título das canções, apresentando elementos comuns à trajetória humana: Nascimento, Choro, Sensível, Chuva, Amor, Felicidade, Caminho e Esperança – sendo essa última o único single já lançado com a participação de Serjão Loroza. A única faixa que foge a essa regra e não à toa é Sino da Igrejinha. Canção de domínio público e familiar aos cultos de matrizes africanas, ela foi a escolhida para ser a primeira da tracklist. “Dentro dos terreiros, essa é uma música cantada para a entidade responsável por abrir os caminhos para todas as coisas”, explica Ferr, evidenciando mais uma faceta de sua personalidade plural.
Jonathan Ferr. Foto: divulgação.
Além da brilhante musicalidade, Cura encanta também pela proposta democrática – sem perder o apuro técnico –, tendo como um de seus objetivos principais a desmistificação da música instrumental como um gênero erudito. O caráter contemporâneo do urban jazz – estilo assumido pelo músico para denominar a mistura de elementos do jazz, hip hop, R&B e outros estilos de música urbana, promovendo um verdadeiro mix pop – contribui para o alcance mais popular que Jonathan almeja. “Busquei um certo minimalismo para a produção de Cura, no sentido de apostar em poucos elementos e muita clareza nas informações musicais. É um disco fácil de ouvir e sentir”, diz Jonathan. O cuidado fica evidente na audição do álbum, que traz sempre o piano no centro de cada composição, acompanhado de um quinteto de cordas e alguns convidados especiais, como o violoncelista Jaques Morelenbaum, a filósofa Viviane Mosé e o cantor Serjão Loroza. “Penso nesse projeto como uma espécie de ‘Jonathan Ferr Unplugged’, porque eu me dispo muito de toda essa essa coisa de banda, cantores etc.”, completa.
Outro importante pilar de Cura é o conceito de música-medicina, com intenção clara desde o título do álbum, uma vez que Jonathan acredita na música como um elemento para acalentar a alma em busca do ‘curamento’. “O conceito (de música-medicina) normalmente está ligado à música espiritualista e eu acho muito bonito pensar nele dentro da proposta instrumental também, porque acredito que a música por si só é medicinal. O que seria de nós na pandemia se não fosse a música, por exemplo? Então eu intencionalmente quis trazer o disco pra esse lugar, onde você pode dar o play, meditar etc., usando esse disco para um movimento de auto cura mesmo”, declara o artista. “Na última faixa, Caminho, a Vivi Mosé declama um texto lindo e poderoso no qual ela diz ‘o que cura é a vida’, que resume muito bem a proposta do disco. Ela usa ainda um mantra indígena que eu gosto muito, que é ‘a cura está acontecendo agora, nesse momento’. E é isso o que quero dizer: a cura é a vida, a água pura, é estar com quem você ama, é o bom dia para o quem acorda do seu lado, é olhar para o seu filho e se reconhecer nele, é comer uma comida gostosa, é beber uma cerveja com os amigos”, exemplifica Jonathan.
Assim como o próprio artista, Cura é um disco repleto de nuances que conversam de maneira muito orgânica e de fácil absorção ao ouvinte. Ao mesmo tempo em que o álbum apresenta uma essência sentimental, a busca pela espiritualidade e um caráter curativo – evidentes em Sino da Igrejinha e Caminho, respectivamente –, ele não deixa de apresentar também seu viés político-social alinhado com a identidade do seu criador, como na track Esperança, que traz um poema de autoria de Ferr declamado por Serjão Loroza e um clipe repleto de simbolismos. Mas há também espaço para faixas como a love song Amor, um blues sensual para dançar a dois; Choro, que imprime uma conexão com nossos sentimentos mais profundos; Felicidade e sua vibe rock’n roll’ com um solo de guitarra; o resgate a um local seguro da infância em Chuva; uma reflexão sobre a deusa egípcia Maat e a energia do feminino em Sensível, com participação do violoncelista Jaques Morelenbaum e uma homenagem ao ícone da MPB Milton Nascimento em Nascimento.
Tornar sua obra e mensagem acessíveis é tão importante para Jonathan que, segundo o artista – e ao contrário da maioria dos álbuns musicais –, a ordem de consumo das faixas proposta na tracklist não é essencial para a compreensão do disco. “Com esse trabalho, estou buscando conexão com todo mundo – desde uma senhorinha humilde que mora no interior e nem sabe o que é jazz, até um colecionador que tenha milhares de vinis em casa. Quero que todos que deem play nesse álbum sintam e estabeleçam uma conexão, porque vão entender. Não quero mostrar que consigo fazer 30 notas por segundo, porque acho que isso não conecta ninguém. Então esse é um álbum que fiz para alcançar esse lugar e que vai trazer muitas possibilidades”, conclui Jonathan.
Por fim, é possível vivenciar a experiência de um projeto cheio de frescor, ineditismo, beleza e cura.
Álbum Cura – Jonathan Ferr
Lançamento slap/Som Livre
Tracklist:
1 – Sino da Igrejinha
2 – Nascimento
3 – Choro
4 – Esperança (feat. Serjão Loroza)
5 – Felicidade
6 – Chuva
7 – Amor
8 – Sensível (Maat) – feat. Jaques Morelenbaum
9 – Caminho (feat. Vivi Mosé)
Ficha técnica da série Cura:
Criação original de Jonathan Ferr
Direção: Bárbara Fuentes
Roteiro: Jonathan Ferr e Bárbara Fuentes
Direção de produção: Tânia Artur
Elenco: Jonathan Ferr e Juliane Cruz
Assistente de set/platô: Raquel Artur
Direção de Fotografia/ Câmera: Matheus Dafi
Foquista: Renan Herison
Logger: Carlos Alexandre
Gaffer: Toni Oliveira
Assistente gaffer: Jacinto Estevam
Contrarregra: Cabelinho
Preparadora de elenco: Iane de Jesus
Direção de Arte: Giulia Maria Reis
Figurino: Taíssa Rombaldi
Maquiagem: Jessyca Teixeira
Preparação de elenco: Iane de Jesus
Still/Making of: Nathália Pires
Edição de Making of: Carlos Alexandre
Edição/Montagem: Stephany Barros
Colorização: Eric Palma
Apoio de catering: Contemporâneo Lapa
Apoio de Figurino: Acervo Bruneba e Acervo Hugo Nogueira
Comunicação: Listo
Assessoria de imprensa: InPress
Produção Executiva: Sim Produções
Lançamento: slap/Som Livre
Todas as músicas foram compostas, produzidas, arranjadas e performadas por Jonathan Ferr, exceto Sino da Igrejinha (domínio público)
Créditos da capa do álbum e shooting: Jonathan Ferr
Fotografia: Renan Oliveira
Assistente de fotografia: Felippe Costa
Assistente de fotografia: Bia Novaes
Stylist: Lucas Magno
Assistente stylist: Fabiana Pernambuco
Beleza: Laura Peres
Estúdio: Crop
Produção: Tânia Artur/Sim Produções
Look: Leandro Castro
Acervo de roupas/acessórios: Leandro Castro, Durags Brasil, Converse, SãnSe, Gil Haguenauer.
Sobre o slap | O slap faz parte da vida de quem busca novas experiências musicais e orgulha-se de, desde 2007, fomentar a cena indie e abrir as portas do mercado para novos artistas. Sua missão é potencializar e empoderar a cena musical independente do país, incentivando o midstream e fazendo com que novos sons, originais e arrojados, cheguem a cada vez mais pessoas. O slap carrega em sua história grandes lançamentos de nomes como Maria Gadú e Scalene. Seus representantes têm todos a autenticidade como característica e, entre eles, estão Céu, Jonathan Ferr, Luthuly, Marcelo Jeneci, Maria Gadú, Gustavo Bertoni e Scalene. @slapmusica
Degustação às Cegas da Bulldog já está com a venda de kits disponível. Foto: divulgação.
Na última terça-feira (25) a Bulldog Tabacaria deu a largada para mais uma edição da degustação às cegas, evento no qual os participantes degustam charutos com bitolas e origens diferentes para, ao final, descobrir quais foram os puros provados. O evento é um sucesso entre os fãs de charutos que aguardam as edições para testar os seus conhecimentos sobre o assunto.
“Desta vez elaboramos um kit com quatro tipos de charutos para deixar o campeonato ainda mais divertido. O kit inclui uma carta com quatro questões sobre cada charuto e precisam ser respondidas até o dia 7 de junho”, explica Carolina Macedo, sócia da Bulldog Tabacaria ao lado de Walter Macedo.
No dia 7 de junho, às 20h, a Bulldog realiza live no Instagram da casa para apresentar cada um dos charutos e revelar o grande vencedor do campeonato. O kit da Degustação às Cegas custa R$290 (+ taxa de entrega). Os pedidos são enviados para todo o Brasil e podem ser feitos pelo perfil @bulldog_tabacaria ou pelo Whatsapp (41) 98736-3251.
Fotos: divulgação.
A cantora Negra Li, conhecida por sua carreira consolidada e com repertorio de sucesso, anuncia grandes novidades para esse ano. A primeira delas chegou no último dia 27 às plataformas digitais na faixa intitulada Comando. A música traz em seu conceito um manifesto sobre os obstáculos e preconceitos que a comunidade preta enfrenta diariamente e faz parte de seu novo álbum de estúdio.
Por reconhecimento de muito trabalho desde a adolescência, Negra, que quebrou barreiras em toda sua trajetória artística, usa seu espaço para falar de questões sociais importantes. Por meio de sua arte, ampliando seu discurso em prol de mudanças. Nesse álbum, isso não será diferente. “Sou uma cantora bem sucedida em minha carreira, depois de muita luta e trabalho. Quero usar este espaço como um manifesto sobre o preconceito que ainda existe na sociedade”, comenta Negra Li .
Com o verso Chego Chegando, incendiando no meu comando, sou eu que mando … Negra Li mostra que está em controle total de sua carreira, mostrando toda sua potencialidade musical e ressignificando seus 41 anos. Comando traz uma letra empoderada ao melhor estilo do rap com influências do afro-beat, enaltecendo as raízes e ancestralidade das mulheres pretas. Este será o primeiro lançamento de uma série de divulgações repletas de parceria inéditas.
Capa do single “Comando”.
O single ganhou sua versão em videoclipe, ambientado no meio de uma fazenda no interior de São Paulo construída por trabalho escravo na época dos barões de café. Nela, Negra Li trouxe em seu contexto a ressignificação, a ascendência das mulheres pretas em espaços que antes não ocupavam, mostrando o empoderamento feminino e preto e dando voz à diversidade.
O vídeo, que chegou no canal oficial da cantora dia 27 de maio, conta com a presença de Sofia, filha de Negra Li, representando a continuidade do seu legado em cenas de muita representatividade e evidenciando sua ancestralidade. Além disso, a equipe desta gravação foi formada maioritariamente de profissionais pretos. “Essa música é um salve ao passado e um brinde ao meu futuro. Fala de gratidão e orgulho daquilo que foi minha base, fé e esperança por dias melhores, pelo sucesso e vitória do povo preto. Porque a minha trajetória foi de força e resiliência. Comando fala de força, fala de empoderamento incentivando as pessoas a acreditarem nelas mesmas. Fala de legado e honrar suas origens e ter orgulho da sua história e suas marcas. O clipe também fala de empatia e diversidade, abordando o combate ao machismo e ao racismo e de continuar lutando”, finaliza a cantora.
Assista o clipe no Youtube.
Still – “Sob Águas Claras e Inocentes” (2016) – Still – Anelise Vargas – cred. Edu Rabin ©Ausgang.
Do distanciamento social à diversidade de gênero: a série O Cinema e As Cidades revisita quatro décadas de Porto Alegre, por meio de 20 produções locais, entre curta e longas-metragens e documentários. Dirigido por Eduardo Wannmacher e produzido por Frederico Mendina, o seriado vai ao ar por meio de quatro episódios semanais, exibidos nas sextas-feiras, às 21h30, a partir de 4 de junho, em rede nacional no canal de TV por assinatura Prime Box Brazil.
A geração oitentista inicia a produção de um novo cinema urbano em Porto Alegre com a descoberta do super-8 no formato de ficção. Esse movimento é revisitado no episódio introdutório da série, por meio do depoimento de Carlos Gerbase, diretor de Inverno (1983). O distanciamento social por muros e grades é retratado no segundo episódio, com uma análise do curta Ângelo Anda Sumido (1997), de Jorge Furtado.
O cinema fantástico, com criaturas e lendas mágicas, chega ao terceiro episódio, com a animação Reino Azul (1989), de Otto Guerra. Ao longo do tempo, temas ligados ao cinema de gênero, como ficção-científica e terror, sempre estiveram presentes nas produções gaúchas, revelando um lado mais sombrio da capital. Sob Águas Claras e Inocentes (2016), de Emiliano Cunha, também integra o roteiro do seriado.
O diretor Eduardo Wannmacher. Foto: Isidoro B. Guggiana.
O último episódio explora temas urgentes, como a diversidade de gênero, o racismo, a ocupação de lugares públicos e as manifestações sociais. Esses temas são revisitados pelo documentário O Caso do Homem Errado (2017), de Camila de Moraes, entre outros títulos. Produzida pela Pironauta e coproduzida pela Firma Filmes, a série é estruturada em imagens originais das obras analisadas e depoimentos dos respectivos realizadores.
O Cinema e As Cidades tem financiamento do Edital Pró-cultura RS FAC de Produção Audiovisual, realizado pelo Governo do Estado do Rio Grande do Sul/Sedac, em parceria com a Ancine, por meio do Fundo Setorial do Audiovisual.
Serviço:
Série O Cinema e As Cidades
TV por assinatura: Prime Box Brazil
Estreia: 4 de junho
Exibições: sextas-feiras, 21h30
Último episódio: 25 de junho
Temporada: 4 episódios de 30 minutos, cada
Reprises: sábados, 10h30; domingos, 02h30; segundas-feiras, 08h30; terças-feiras, 19h e quinta-feira, 9h
Classificação indicativa: 12 anos.
EQUIPE TÉCNICA
Direção e Roteiro: Eduardo Wannmacher | Produção e Produção Executiva: Frederico Mendina | Controller: Tanize Cardoso | Assistente de Produção Executiva: Fernanda Bischoff | Direção de Fotografia: Thiago Gruner | Assistente de Fotografia e Logger: Rodrigo Scheid | Direção de Produção: Martina Zanetello | Assistente de Produção: Estevão Comelli | Montagem: Thais Fernandes | Assistente de Montagem: Joana Bernardes | Sound Designer: Rafael Rodrigues | Som Direto: Fábio Baltar Duarte | Trilha sonora Original: Ricardo de Carli | Colorista: Daniel Dode | Design Gráfico: Leo Lage | Produção: Pironauta | Co-produção: Firma Filmes | Depoimentos: Bruno Carboni, Camila de Moraes, Carlos Gerbase, Emiliano Cunha, Filipe Matzembacher, Giba Assis Brasil, Gustavo Spolidoro, Jéssica Luz, Jorge Furtado, Julio Andrade, Kiko Ferraz, Lucas Cassales, Mariani Ferreira, Nelson Diniz, Otto Guerra, Valéria Verba e outros. | Filmes: Ainda Orangotangos (2007), Amores Passageiros (2012), Ângelo Anda Sumido (1997), Castanha (2014), Cidade Fantasma (1999), De Lá pra Cá (2011), Inverno (1983), O Cárcere e a Rua (2005), O Caso do Homem Errado (2017), O Corpo (2015), O Teto Sobre Nós (2015), Quem? (2000), Reino Azul (1989), Secundas (2017), Sob Águas Claras e Inocentes (2016), Sobre Sete Ondas Verdes Espumantes (2013), Tinta Bruta (2018), Três Minutos (1999), Um Corpo Feminino (2018), Um Estrangeiro em Porto Alegre (1999).
Sobre Pironauta | A Pironauta foi fundada para atuar na criação e produção de conteúdo audiovisual, com foco na abrangência e diversidade de conteúdo. Produziu o longa Xico Stockinger (2012), de Frederico Mendina – prêmio de melhor fotografia no 4º Curta Amazônia e seleções no Portobello Film Festival (Reino Unido), Bogocine (Colombia), Duhok Film Festival (Iraque) e Gramado. Atualmente, prepara-se para lançar o longa inédito Depois de Ser Cinza (2021), de Eduardo Wannmacher, e desenvolve o projeto intitulado Castas.
Sobre Eduardo Wannmacher | Diretor, produtor e roteirista, Eduardo Wannmacher trabalha com televisão e cinema desde os anos 1990. É realizador de diversos documentários para TV e curtas; entre eles, 24 Horas com Carolina (2012), selecionado para o Festival de Havana. Outros trabalhos incluem Pra que Servem os Homens? (2013), Eu, Ele e os Outros (2012), Melhor que Aqui (2011), Na Rota do Imperador (2009). O inédito Depois de Ser Cinza (2021) é sua estreia na direção de longas-metragens.
Fotos: divulgação.
Todos os mistérios ao redor de um dos discos mais intrigantes da música brasileira estão prestes a ser revelados. Persona – Som, a trilha sonora do Jogo das Mutações, será relançada simultaneamente no Brasil e na Europa pelos selos Discos Nada, dedicado à música experimental brasileira, e Black Sweat Records. Acompanhando a trilha completa em vinil e incluindo duas faixas bônus, também será lançada uma edição limitada de um box contendo um livreto de 24 páginas com fotos da época, poster, espelho Persona e suportes, velas e protetor. A pré-venda online já está ativa, mas a venda oficial é a partir de 8 de junho.
O Persona, como um todo, foi concebido pelo artista plástico Roberto Campadello, que nasceu na Itália, passou a infância na Venezuela e a juventude no Brasil. Um artista multimídia que foi apresentado ao I Ching em Londres. Encantado, começou a traduzi-lo para o português e, mergulhado nessa filosofia, iniciou a criação dos Steps, desenhos mágicos cujas imagens formam um baralho que servia como método alternativo de consulta ao I Ching.
Em 1973, ele montou uma instalação na XII Bienal de São Paulo onde as paredes eram espelhos dourados, semi-reflexivos, representando a divisão – ou o limite – entre o mundo material e o espiritual. A Casa Dourada, como foi batizada, apresentava o conceito: uma nave espacial “intronáutica”, tendo Campadello como capitão. O I Ching era o computador de bordo e Steps, o sistema de programação visual. No interior da instalação, Roberto ficava esperando as pessoas e, quando alguém perguntava a proposta, a resposta era: “Senta e sente”.
Foi dançando através do espelho que Roberto conheceu a cantora Carmen Flores. Eles se casaram durante a mesma Bienal, e comemoraram em cima da Oca.
Esta é a primeira reedição do disco Persona. O álbum, agora em 12 polegadas, foi remasterizado na Europa a partir das masters originais e contém duas faixas bônus. Esta reedição, lançada no Brasil como estreia da Discos Nada, vem ainda acompanhada de uma réplica do poster original e um livreto de 24 páginas repleto de imagens inéditas e recortes de artigos da época, além de textos da família de Roberto e do músico e jornalista Ayrton Mugnaini.
Como escreve Ayrton no encarte, Campadello percebia múltiplas dimensões em seus trabalhos. Ouvindo o disco, hoje, é possível visualizar e escutar muitas dessas dimensões a cada nova audição. Este é o cerne do projeto Persona, um mundo infinito e eterno de possibilidades e sensações.
A venda é pelo site da Nada Nada Discos, tendo apenas 500 cópias disponíveis. O box completo terá o valor de R$430,00 e apenas o vinil será R$140,00 (https://www.nadanadadiscos.com).
Do conceito ao lançamento | Foi dançando através do espelho que Roberto conheceu a cantora Carmen Flores. Eles se casaram durante a mesma Bienal e comemoraram em cima da Oca. Carmen relembra aquele momento mágico na vida do casal. Durante a montagem da Casa Dourada, enquanto os montadores carregavam os espelhos, Roberto percebeu que os rostos deles se misturavam e dai veio a ideia do Persona – O Jogo das Mutações.
No ano seguinte, Roberto, a convite do SESC Pompeia (ainda em seus primórdios), monta a Casa Dourada em um dos galpões da Rua Clélia. Foi lá que conheceu Luis Carlini, na época guitarrista do Tutti Frutti, banda de Rita Lee. O guitarrista, que vinha experimentando com o LSD desde os primórdios daquela década, estava retornando de sua fase mais lisérgica, psicodélica e progressiva: “Eu estava muito envolvido com a cultura hippie e a cena underground vivia um momento bem criativo. Nesse embalo, comecei a misturar sons: linhas melódicas, ruídos, câmara de eco, guitarra, despertador, violão, falas, percussão… Cheguei até a quebrar um vidro, para criar um clima”.
“A Casa Dourada” apresentava o conceito: uma nave espacial “intronáutica”, tendo Campadello como capitão. O I Ching era o computador de bordo e STEPS, o sistema de programação visual. No interior da instalação, Roberto ficava esperando as pessoas e quando alguém perguntava a proposta, a resposta era: “Senta e sente”.
Foi assim que Roberto e Carlini passaram para a criação de uma trilha sonora para o jogo Persona baseada nos oito elementos do I-Ching (Monte, Céu, Terra, Fogo, Água, Vento, Lago e Trovão).
Para a gravação, Carlini convocou seus parceiros do Tutti Frutti: o baixista Lee Marcucci e o baterista Franklin Paolillo. Roberto chamou uma trupe de intronautas para participar das gravações; entre eles, Carmen, que canta as duas músicas não instrumentais da trilha. Sem nenhum ensaio, entraram no Estúdio Mídia, destinado à locução para publicidade, e registraram um dos trabalhos mais experimentais e misteriosos já lançados no Brasil.
Persona | O Jogo das Mutações é composto pelo Espelho Persona, dois apoios, duas velas, instruções e uma trilha sonora exclusiva. Na primeira edição, a trilha vinha em uma fita cassete e apenas mil cópias foram lançadas. A segunda saiu com a capa da “mulher gato”, um poster com instruções e a trilha sonora prensada em um vinil de 10 polegadas. Com isso, algumas músicas ficaram de fora por falta de espaço e ambas as versões são bem raras.
O conceito Persona ainda rendeu outra Bienal, muitas exposições, eventos e um lendário bar/centro cultural no bairro boêmio do Bixiga, na região central de São Paulo. Roberto faleceu em 2014 e hoje o Persona compreende dois estúdios fotográficos; um em Visconde de Mauá (RJ) e outro itinerante, dentro de uma Kombi – projetos tocados por Carmen e os filhos.
Discos Nada | Sub-selo da Nada Nada Discos, projeto de Mateus Mondini, a Discos Nada é dedicada à música experimental brasileira e Persona é seu primeiro lançamento. O próximo álbum a entrar para o catálogo ainda este ano é o primeiro LP de Jocy de Oliveira, gravado em 1959. Como próximos projetos entram dois LPs do Alcides Neves, o Fragmentos da Casa de Marco Bosco, além de álbuns completos de bandas que na época foram lançados apenas em coletâneas como o Chance e o AKT (com Sandra Coutinho, das Mercenárias, e Biba Meira, do Defalla).
A Nada Nada Discos, existente desde 2009, permanece focada em lançar bandas contemporâneas como Rakta e Deafkids, assim como reeditar clássicos e discos perdidos de bandas do Punk e Pós-Punk nacional, como Mercenárias, Ratos de Porão, Fellini, Cólera, Inocentes e Replicantes.
(Com Bento Araújo)