“Não se combate a violência com um único modelo de enfrentamento. Cada geração exige uma abordagem diferente”, segundo advogado criminalista Davi Gebara


São Paulo
Foto: Roberto Parizotti.
Por Rosângela Hilário, Maria Ribeiro e Valdenia Menegon
A pobreza, no Brasil, tem um recorte de território e de raça, atingindo predominantemente mulheres negras e periféricas. Foram elas as que mais sofreram as consequências da pandemia de Covid-19, como a falta de emprego, de alimento e de condições mínimas para protegerem suas famílias do novo coronavírus. Foram elas também que conseguiram criar formas de sobrevivência à nova realidade, a partir de redes solidárias.
A pandemia da Covid-19 escancarou a desigualdade social existente no país e as distâncias existentes entre dois Brasis: o Brasil privilegiado e o Brasil invisível. De um lado, temos um Brasil alimentado, cuidado e protegido por leis e normas, que há décadas mantém privilégios como direitos para nacos da população. A elite brasileira que pertence a esse Brasil goza de vivências plenas, porque universais, e têm seus direitos garantidos, porque nasceram brancas.
Do outro lado, temos o Brasil invisível, da falta de acesso aos mínimos direitos possíveis – lugar das mulheres negras e periféricas. O número de pessoas infectadas pelo coronavírus em favelas e subúrbios não contemplados por políticas públicas — assim como territórios quilombolas, indígenas e aqueles onde se encontram pessoas em situação de rua —, só não foi maior em função do extraordinário protagonismo de mulheres negras e mulheres não brancas, pobres e periféricas. Municiadas de solidariedade e compromisso social, elas se reuniram a entidades como a Central Única das Favelas (CUFA) e a Coalização Negra por Direitos, entre outras, para impedir que o saldo letal fosse ainda maior entre vulneráveis.
As experiências de mulheres negro-brasileiras de territórios periféricos guardam importantes semelhanças com as experiências de mulheres africanas cujos relatos nos alcançam. As lições do matriarcado africano acenam para o fortalecimento de todas as pessoas vinculadas àquele determinado grupo, inclusive, reforçando a importância da escuta — ilustrada pela relação também iniciática entre pessoa jovem e pessoa anciã — como recurso para transmissão de saberes ancestrais.
É de se perguntar que espécies de saídas para conflitos instalados se podem encontrar nas narrativas das mulheres negro-brasileiras, há cinco séculos convocadas a cuidar dos seus mais novos, das suas mais velhas, da sua comunidade e de si mesmas. A partir de dimensões educativas e formativas, é possível começar a desenhar estratégias de enfrentamento às situações adversas que a nova realidade impõe.
As estratégias de enfrentamento incluem inserir temas tornados “de recorte étnico-racial” na agenda de debates públicos e, também, reconhecer práticas de sobrevivência implementadas por mulheres negras em seus territórios. São estratégias fundamentadas no cooperativismo, na solidariedade e na proteção da família comunidade.
As mulheres negro-brasileiras exercem protagonismo entre os seus e as suas não porque o perseguiram, mas por sobrevivência. Para elas – as que mais trabalham, menos dormem e mais cuidam das pessoas que esbarram – a resistência não é apenas uma escolha política; é uma estratégia de sobrevivência.
Sobre as autoras:
Rosângela Aparecida Hilário é pesquisadora da Universidade Federal de Rondônia, Líder do Grupo de Pesquisa Ativista Audre Lorde e faz parte da Rede Brasileira de Mulheres Cientistas.
Maria Ribeiro é pesquisadora da Universidade São Paulo/USP e faz parte da Rede Brasileira de Mulheres Cientistas.
Valdenia Menegon é pesquisadora do Instituto Valdenia Menegon e faz parte da Rede Brasileira de Mulheres Cientistas.
(Fonte: Agência Bori)
Fotos: divulgação/FAMA Museu.
A FAMA Museu, instituição sediada em Itu, no interior de São Paulo, inaugura o projeto Respirar, uma ação de mediação audiovisual do acervo da instituição em formato de websérie. Dividida em episódios, cada um comporta uma proposta aberta e experimental vinculada à escultura, dança, performance e fotografia. A primeira temporada do projeto tem como foco as esculturas dos artistas Amilcar de Castro, Rubens Gerchman e José Resende, presentes no acervo da FAMA Museu. Cada vídeo é dedicado a um artista, apresentando as especificidades e os processos híbridos entre as diferentes linguagens da arte.
O primeiro episódio Cortes apresenta a obra Sem Título, da década de 1980, de Amilcar de Castro, em que o corte presente nas esculturas do artista é relacionado com o processo de edição no audiovisual por meio de corte de imagens e de planos. O lançamento acontece no dia 21 de agosto, às 19h, no canal de YouTube da FAMA, e ficará disponível por 24 horas.
O projeto também conta com ações paralelas, como o lançamento de um material de pesquisa e criação detalhando o processo de pesquisa artística para a realização do projeto e webnários com diferentes personalidades, de modo a estabelecer um diálogo entre diversas linguagens artísticas de diferentes atuações profissionais.
A primeira conversa acontece dia 11 de setembro, às 10h, com a curadora do MuBE Galciane Neves e a montadora de cinema Luiza Fagá. O segundo encontro, no dia 2 de outubro, terá a participação do performer Helô Sanvoy e a cineasta e professora Lilian Solá Santiago. Juntos, eles discutem arte e resistência a partir do episódio Resistência. Todas as conversas acontecem pelo canal da instituição no YouTube.
Com origem no Observatório de Criação do museu, o projeto envolve profissionais de setores diversos como a Comunicação, a Museologia e a Produção Cultural. Respirar nasceu no contexto imposto pela pandemia – com uma demanda maior de conteúdo online, o museu suspendeu os agendamentos de grupos presenciais e buscou ferramentas para se reinventar virtualmente.
FAMA Museu | Situada em Itu, a 100 km da capital paulista, a Fábrica de Arte Marcos Amaro – FAMA Museu está localizada em uma área de 25 mil metros quadrados, onde, no século 20, funcionou a Fábrica São Pedro, importante polo da indústria têxtil, com relevância histórica e cultural para a região.
Still do episódio “Resistência”.
Inaugurado em 2018, o museu abriga ateliês, salas expositivas e áreas ao ar livre para a realização de performances, residências artísticas e exposições individuais e coletivas com o objetivo de incentivar a criação artística contemporânea, investigar os caminhos da arte e possibilitar ao público o acesso ao acervo do colecionador e artista Marcos Amaro.
A coleção reúne mais de duas mil obras, entre pinturas, desenhos, gravuras, esculturas e instalações de nomes como Tarsila do Amaral, Nelson Leirner, Hélio Oiticica, Leda Catunda, Cildo Meireles, Tunga e Aleijadinho.
Com a proposta de oferecer à cidade um projeto de impacto significativo na cultura local na sua dimensão simbólica, cidadã e econômica, além de fomentar o turismo de experiência na região, o museu inaugurou em julho de 2019 a primeira galeria de arte a céu aberto da cidade, o Parque Escultórico Linear. Obras de grandes nomes da arte contemporânea estão dispostas ao longo da Avenida Galileu Bicudo, importante via da cidade.
Em novembro de 2019, foi inaugurado em Mairinque, também no interior de São Paulo, a FAMA Campo, extensão da FAMA Museu. O espaço surgiu como um novo conceito entre a natureza, o tempo e as transformações inevitáveis dessa relação. Com exposições a céu aberto, a FAMA Campo é um lugar onde os artistas podem experimentar o conflito de suas técnicas e materiais utilizados dentro da imprevisibilidade da natureza.
Serviço:
Projeto Respirar
Estreia: 21 de agosto de 2021, às 19h
Coordenação: Stefanie Klein
Onde: Canal de YouTube da FAMA.
Foto: divulgação.
Pesquisa da FGV revela que o Brasil possui mais celulares que pessoas (234 e 211 milhões, respectivamente) – não há como, em 2021, escapar de uma foto, de uma filmagem ou de um flagra que, ao ser registrado, pode ganhar o mundo pela internet. Para entender o fluxo que uma foto íntima – o famoso ‘nude’ – percorre entre o clique e a exposição, a doutora em antropologia e pesquisadora Beatriz Accioly Lins lança pela Editora Telha o livro Caiu na Net: Nudes e exposição de mulheres na internet, cujo maior foco está na figura da mulher, que sofre infinitamente mais com essa divulgação se comparada ao homem. “Após acompanhar, para minha tese de doutorado, a rotina dentro de duas delegadas de defesa da mulher, percebi o aumento dos registros de ameaças e chantagens ligados às novas tecnologias, principalmente o uso dos smartphones”, afirma a autora.
Beatriz conduz o leitor pela trilha dessas imagens vítimas de julgamentos morais, acusações e até perseguições. Sua pesquisa acompanhou ativistas, gestores públicos, juristas, jornalistas e pesquisadores a fim de elucidar as consequências desses atos e, também, como o Direito pode zelar pelos direitos da vítima dessas divulgações criminosas. Nesses casos, o advento das redes sociais e da sociedade cada vez mais conectada se torna um inimigo implacável que atua em prol de quem visa constranger, intimidar e até aliciar alguma mulher.
Para a autora de Caiu na Net, tais materiais ilustram sem sombra de dúvida a desigualdade e circunstancial violência de gênero que elas sofrem dentro dessa temática. Se, para algumas mulheres, o ‘nude’ representa novas experiências de paquera e sedução, essa atitude pode vir a se reverter em chantagem quando aquela imagem deixa de ter um ou dois conhecedores e passa a ser acessada por milhares de pessoas, o que configura o chamado “vazamento”.
“A tipificação penal em 2013, quando houve o ‘boom’ dos celulares no país, dificultava o trabalho da polícia. À época, pegamos emprestado o termo ‘pornografia de vingança’ da língua inglesa, na falta de termos uma nomenclatura nossa”, comenta Beatriz.
O julgamento que antes só se via em tribunais ganhou uma nova esfera: a cibernética. A pessoa que é exposta em sua intimidade nas redes sociais é taxada como sem valor e sofre um linchamento social muitas vezes pior que o veredito de uma ação de danos morais que possa ser movido contra o divulgador das fotos.
Caiu na Net é potente e esclarecedor. Mostra como, na sociedade atual, nada é muito simples no trânsito entre os prazeres e os perigos ou, nos bons termos da autora, entre o desejado e o nocivo.
Sobre a Editora Telha | A Telha é uma editora independente voltada à publicação de obras críticas sobre temas contemporâneos.
A antropóloga Beatriz Accioly Lins. Foto: divulgação.
Sobre a autora | Beatriz Accioly Lins é antropóloga, doutora e mestra em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo, além de Pesquisadora do Núcleo de Estudos sobre Marcadores Sociais da Diferença (Numas-USP). Desenvolve pesquisas sobre acesso a direitos, noções e percepções de justiça em se tratando de violência contra mulheres e suas interseções com marcadores sociais da diferença. É, ainda, autora do livro A lei nas entrelinhas: a Lei Maria da Penha e o trabalho policial (Ed. Unifesp, 2018) e coautora do livro Diferentes, não desiguais: a questão de gênero na escola (Reviravolta, 2016).
Serviço:
Livro Caiu na Net
Autora: Beatriz Accioly Lins
Editora: Telha
Páginas: 268
Preço: R$59,00.
Foto: Eliria Buso.
Que tal programar uma viagem para um destino ao mesmo tempo rústico e charmoso nesse feriado de Independência do Brasil? Estamos falando de Monte Verde (MG). Esse distrito de Camanducaia tem um dos climas mais puros da região Sudeste. E, nessa época de transição entre o inverno e a primavera, as montanhas que cercam Monte Verde oferecem clima ameno ao anoitecer além de bons passeios junto à natureza. O friozinho das montanhas, o clima aconchegante, um bom vinho e uma gastronomia diversificada, tudo isso em meio a uma paisagem exuberante, são uma boa pedida. Então, prepare as malas.
Monte Verde fica a 166 km de São Paulo e a 480 km de Belo Horizonte. Para chegar lá, siga pela Rodovia Fernão Dias (BR-381) até a cidade de Camanducaia (saída 918) e, de lá, acompanhe as placas de sinalização. São mais 30 km de estrada asfaltada até atingir o portal da cidade e a principal avenida da vila.
A boa pedida, claro, é namorar em frente à lareira, saboreando a típica fondue da região. Mas o destino também possui várias opções de lazer, principalmente as ligadas ao turismo ecológico.
Entre as atrações imperdíveis para o feriado de 7 de setembro estão:
A pousada Jardim da Mantiqueira. Foto: divulgação.
Fazenda Radical | Um convite a sair da rotina em meio ao verde da Serra da Mantiqueira, a Fazenda Radical oferece atrações para a família inteira, desde atividades como arvorismo, cavalgada e arco e flecha até opções mais radicais, como tirolesa – a maior do distrito, com 1050 metros de extensão –, passeio de quadriciclo e parede de escalada.
Trilha da Pedra Redonda | Passeio mais visitado de Monte Verde, a Trilha da Pedra Redonda, que fica dentro do parque Verner Grinberg, conta com um mirante no meio e baixo grau de dificuldade em relação às demais da região.
Parque Oschin | Com natureza exuberante, o Parque Oschin é outra opção de turismo de natureza em Monte Verde. Construído em uma reserva florestal particular, o local oferece atrativos como o Caminho das Hortênsias, com gigantes araucárias e xaxins centenários, Cascata da Olívia, Gruta do Ian, Lago da Nalu e playgrounds com brinquedões que vão garantir a diversão da criançada.
Bar de Gelo | Se a ideia é curtir o frio em Monte Verde, nada melhor do que visitar o Ice Bar, que oferece a oportunidade de tomar um drink a -15ºC. O local, todo feito de gelo, já chama a atenção por si só, rendendo boas fotos em um clima congelante.
Avenida Monte Verde | Reunindo as principais opções gastronômicas e de compras de Monte Verde, a avenida principal, que leva o nome do distrito, é cenário do roteiro tanto durante o dia quanto à noite. Seja para registrar as baixas temperaturas no termômetro local, compras os produtos típicos nas lojinhas das galerias ou se deliciar com as iguarias da vila.
Pousada Pedras e Sonhos. Foto: divulgação.
Agora, além de encontrar diversas opções de bares e restaurantes que oferecem desde o típico cardápio mineiro até os famosos festivais de fondues, massas e delícias alemãs, o endereço conta com um novo atrativo que fica por conta da decoração: a pintura bauer. O projeto realizado pela MOVE começou pelos bancos da avenida principal, que ganharam contornos e cores típicos da técnica, que significa “Pintura de Camponês” e é original da Alemanha.
ONDE FICAR
Pousada Pedras e Sonhos | A Pousada Pedras e Sonhos é cercada por enorme área verde preservada e oferece uma das mais espetaculares vistas dos seus cinco chalés decorados no estilo minimalista, com hidromassagem, persianas automáticas, frigobar, lareira, TV a cabo, aquecimento central e isolamento térmico-acústico. Na propriedade, há jardim de inverno panorâmico, trilhas pela Mata Atlântica, a exclusivíssima Casa da Pedra, com trilha e bosque privativo, deck para pequenos eventos e o restaurante Café com Arte, que serve café da manhã em estilo colonial e cardápio internacional.
Mais informações e reservas: www.pousadapedrasesonhos.com.br.
Pousada Jardim da Mantiqueira | A Pousada Jardim da Mantiqueira tem como conceito principal conectar os clientes com a natureza: observar uma infinidade de pássaros, borboletas ou esquilos e, à noite, admirar as milhares de estrelas do intenso céu azul, nas enormes e panorâmicas varandas das suítes, que se projetam no espetacular bosque de araucárias e bromélias. Por pequenas alamedas arborizadas, chega-se aos privativos e bem decorados chalés, cercados de muito verde, com jardins coloridos.
Mais informações e reservas: www.pousadajardimdamantiqueira.com.br.
Johan Elbertus Scheffer, professor e secretário da ACBH. Foto: Marina Van der Vinne.
Desde que os imigrantes holandeses começaram a chegar ao Brasil, eles buscaram deixar marcas de sua cultura em cada cidade por onde passavam ou se instalavam. E, para que as suas riquezas culturais ficassem registradas, um Centro de Documentação foi organizado pela Associação Cultural Brasil-Holanda e completa 10 anos em 2021. Foi a criação do espaço, em Carambeí (PR), que permitiu que as histórias de diversas famílias passassem a ser documentadas em livros para o conhecimento das futuras gerações.
Um dos responsáveis por reunir o legado desse povo e se aprofundar na história da colonização holandesa é o professor e secretário da ACBH, Johan Elbertus Scheffer. “Esse material histórico tem grande valor para o povo holandês. E todos os documentos estão reunidos em um espaço próprio para que não se percam. Além disso, a ideia é que o Centro seja um local de referência para estudiosos do assunto”, afirma o professor. Ele conta também que o objetivo futuramente é a digitalização de todo o acervo. “Com a digitalização de todos os materiais, é possível que mais pessoas possam ter acesso ao conteúdo, ampliando ainda mais a divulgação da nossa história”, explica.
O Centro de Documentação também dá a possibilidade aos filhos de imigrantes conhecerem mais sobre a história dos familiares. São mais de 200 documentos, como relatórios, folhetos, artigos, trabalhos acadêmicos e livros em holandês e português. O acervo também conta com materiais iconográficos e audiovisuais sobre imigração, cooperativismo e história das colônias holandesas. “É muito significativo para nós termos livros e documentos registrados no nosso acervo e perceber como isso ajuda a preservar a cultura holandesa. O Centro de Documentação recorda o nosso país, a nossa história, a vinda dos primeiros holandeses para o Brasil e também auxilia a valorizar a nossa cultura que é tão rica”, destaca a conselheira da ACBH, Marina Van der Vinne.
Sobre a ACBH | A Associação Cultural Brasil-Holanda (ACBH) é uma organização formada por holandeses e descendentes de holandeses no Brasil, oriundos de diversas colônias. Visa preservar o patrimônio histórico artístico e cultural holandês e brasileiro para a posteridade. Também quer incentivar, desenvolver e divulgar as várias formas de expressão cultural. Mais informações: https://www.acbh.com.br/.