‘Eu parei de andar e aprendi a voar’ chega ao público com uma mensagem poderosa sobre autonomia e transformação


São Paulo
Em novembro, o Theatro Municipal do Rio de Janeiro vai apresentar “O Barbeiro de Sevilha”, de Gioachino Rossini, a ópera cômica que mais vezes subiu ao palco do Theatro: foram quase 40 temporadas.
Com o patrocínio Ouro Petrobras e realização AATM, a ópera, com melodias ágeis, ritmo frenético e situações hilariantes, tem agradado plateias do mundo todo por mais de dois séculos. As récitas acontecem nos dias 16 (ensaio aberto), 18, 20, 22 (fechado para escolas), 23 e 26 de novembro e todas terão uma palestra gratuita uma hora antes das apresentações. Com concepção e direção cênica de Julianna Santos, “O Barbeiro de Sevilha” contará com os solistas Vinicius Atique (Figaro), Lara Cavalcanti (Rosina), Cintia Graton (Rosina – dia 22/11), Anibal Mancini (Almaviva), Saulo Javan (Don Bartolo), Murilo Neves (Don Basilio), Rose Provenzano-Páscoa (Berta), Leonardo Thieze (Fiorello) e Flávio Mello (Oficial) com Coro e Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal sob a direção musical e regência de Felipe Prazeres. A Direção Artística do TMRJ é de Eric Herrero.
“Il barbiere di Siviglia” (“O Barbeiro de Sevilha”) é uma ópera em dois atos de Gioachino Rossini com libreto de Cesare Sterbini baseado na peça homônima de Beaumarchais. O título original da obra era “Almaviva, o sia l’inutile precauzione” (“Almaviva, ou seja, a precaução inútil”).
Antes de Rossini, Giovanni Paisiello compôs o seu “Barbeiro de Sevilha” em 1782 (dez anos antes do nascimento de Rossini). Com esse mesmo trabalho, Paisiello recebeu um dos maiores sucessos de sua carreira. Tendo sido Paisiello um dos maiores representantes da ópera napolitana, o sucesso anterior de seu Barbeiro de Sevilha fez parecer inadmissível que um compositor de 23 anos, mesmo que tão talentoso, ousasse desafiá-lo. Só que Rossini não queria desafiar ninguém, pois que, na verdade, nem teve nenhuma responsabilidade pelo assunto.
O que aconteceu foi que a obra tinha sido escolhida pelo empresário do Teatro Argentino em Roma, o Duque Francesco Sforza Cesarini, que encomendou a Rossini um trabalho para o próximo carnaval. E, naquela época, qualquer representação tinha que submeter-se à censura papal. Com isso, por precaução e estratégia o empresário propôs “O Barbeiro de Sevilha” como tema, que foi imediatamente aprovado pelos censores papais.
A primeira apresentação ocorreu em 20 de fevereiro de 1816 no Teatro Argentina, em Roma, e terminou em meio a assobios. O clima geral foi de boicote total, devido aos adeptos da versão da ópera de Paisiello, favorecida também pela morte súbita do empresário do Teatro Argentina. Contudo, já a partir da segunda apresentação, o público aclamou a obra de Rossini, levando-a a obscurecer a versão anterior de Paisiello e tornando-se uma das óperas mais representadas no mundo.
Enredo da obra:
Em Sevilha o Conde d’Almaviva apaixona-se pela bela Rosina, que no entanto vive praticamente prisioneira por causa do seu tutor, Dom Bartolo, que, por querer desposá-la, tem muitos ciúmes dela… porém, com um interesse econômico muito maior do que por verdadeira afeição. O Conde, apesar da estreita vigilância de Don Bartolo, ainda consegue comunicar seu amor a Rosina, mas não revela imediatamente sua identidade, por desejar que ela o ame por quem ele é e não por seu título. Assim, ele se apresenta a ela como Lindoro, um simples estudante. Rosina corresponde ao seu assédio, mas não sabe como fugir da vigilância de Dom Bartolo.
É neste momento que Figaro, um barbeiro inteligente e simpático, entra em cena para ajudar os dois amantes atuando como ‘mensageiro’: a seu conselho, o Conde, inicialmente consegue entrar na casa de Dom Bartolo sob a identidade falsa de um soldado em busca de hospitalidade, depois de um instrutor de música. Mas Don Bartolo, que é muito desconfiado, tem um assistente, Don Basilio, que lhe sugere inventar uma calúnia para desacreditar o Conde aos olhos de Rosina. No entanto, o Conde e Rosina espertamente, conseguem organizar-se para a fuga, graças à cumplicidade de Fígaro, que os ajuda distraindo Dom Bartolo com a desculpa de barbeá-lo.
Dom Bartolo e Dom Basilio seguem tentando desacreditar o Conde aos olhos de Rosina, dizendo-lhe que ele mentiu para ela e que ele não é nenhum estudante. Aí, Rosina, arrependida de ter confiado nele, está prestes a desistir de sua fuga e casar-se com Dom Bartolo por puro despeito. Só que, no final, o Conde esclarece tudo, revela sua verdadeira identidade e o motivo pelo qual se apresentou a ela como Lindoro. Rosina, então, entende tudo o que se passou e concorda em casar-se com ele, jogando por terra os planos de Don Bartolo.
Solistas:
Figaro – Vinicius Atique (barítono)
Rosina – Lara Cavalcanti (mezzo-soprano) | Cintia Graton (mezzo-soprano) – (22/11)
Almaviva – Anibal Mancini (tenor)
Don Bartolo – Saulo Javan (baixo)
Don Basilio – Murilo Neves (baixo)
Berta – Rose Provenzano-Páscoa (soprano)
Fiorello – Leonardo Thieze (baixo)
Oficial – Flávio Mello (barítono)
Ficha Técnica:
Música de Gioachino Rossini
Libreto de Cesare Sterbini
Direção musical e regência – Felipe Prazeres
Coro e Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal (OSTM)
Regência do Coro: Priscila Bomfim
Concepção e direção cênica – Julianna Santos
Cenografia – Giorgia Massetani
Figurinos – Olintho Malaquias
Iluminação: Fabio Retti e Paulo Ornellas
Direção Artística do TMRJ: Eric Herrero.
Récitas:
16/ 11 – 19h (ensaio aberto)
18/11 – 19h (estreia)
20/11 – 17h
22/11 – 14h (récita para escolas)
23/11 – 19h
26/11 – 19h.
Serviço:
O Barbeiro de Sevilha
Récitas: 16/ 11 (ensaio aberto), 18/11, 23/11 e 26/11- às 19h, 20/11 às 17h, 22/11 às 14h (fechado para escolas)
Local: Theatro Municipal do Rio de Janeiro
Endereço: Praça Floriano, s/nº – Centro
Classificação: livre
Apoio: Livraria da Travessa, Rádio MEC, Rádio SulAmérica Paradiso, Rádio Roquette Pinto – 94.1 FM
Patrocínio Ouro Petrobras
Lei de Incentivo à Cultura
Realização Institucional: Fundação Teatro Municipal, Associação dos Amigos do Teatro Municipal
Realização: Secretaria Especial da Cultura, Ministério do Turismo e Governo Federal
Os ingressos da ópera O Barbeiro de Sevilha estarão à venda no site do Theatro Municipal (http://theatromunicipal.rj.gov.br/) e na bilheteria do Theatro.
Antes de cada espetáculo, haverá uma palestra sobre a ópera e suas curiosidades.
Preços dos ingressos:
Frisas e Camarotes – R$80,00 (ingresso individual) ou R$480,00 (6 lugares)
Plateia e Balcão Nobre – R$60,00
Balcão Superior – R$40,00
Balcão Superior Lateral – R$40,00
Galeria Central – R$20,00
Galeria Lateral – R$20,00.
(Fonte: Claudia Tisato Assessoria de Imprensa)
O Museu da Casa Brasileira expõe na mostra ‘Independências: Casas e Costumes no Brasil’ – aberta ao público em setembro – figurinos que fizeram parte da série “IndependênciaS”, da TV Cultura, com pesquisa e ideia original do historiador José Antônio Severo, roteiro de Luis Alberto de Abreu, Paulo Garfunkel, Alex Moletta e Melina Dalboni e direção de Luiz Fernando Carvalho.
A mostra propõe uma relação entre móveis, objetos e artefatos, com roupas e indumentárias selecionadas a partir dos figurinos produzidos para as gravações dos episódios. As roupas ligadas à aristocracia colonial brasileira foram criadas pelo estilista Alexandre Herchcovitch e as que representam a diversidade étnica dos povos trazidos de diferentes países africanos foram elaboradas pela pesquisadora e figurinista Jennifer Ramos dos Santos.
Das peças de Alexandre Herchcovitch, o público pode conferir as vestimentas usadas por Antônio Fagundes no papel de D. João VI, Daniel de Oliveira como D. Pedro I e Walderez de Barros como D. Maria I, dentre outros personagens importantes para o Brasil, como José Bonifácio e Frei Caneca.
Já o figurino do núcleo africano, elaborado por Jennifer Ramos dos Santos, apresenta as roupas usadas por Alana Ayoká como a Peregrina Menina, Isabél Zuaca como a Peregrina e ainda as peças utilizadas por Verônica Mucúma no papel de Maria Felipa de Oliveira, baiana que resistiu à ofensiva de portuguesas em Itaparica.
O conteúdo da exposição ‘Independências: Casas e Costumes no Brasil’ foi organizado por Giancarlo Latorraca, diretor técnico do MCB, em diálogo com as equipes técnicas do Museu, contando com a participação curatorial da historiadora especialista na História da escravidão e das Relações Raciais nas Américas Ynaê Lopes para o módulo da afrobrasilidade, e do escritor, ambientalista e tradutor Kaká Werá Jecupé para o módulo dos povos originários – ambos também trabalharam como revisores críticos do roteiro da série da TV Cultura.
Serviço:
Exposição ‘Independências: Casas e Costumes no Brasil’
Visitação: até 27 de novembro de 2022
Apoio Cultural: Quanta
Realização: Fundação Padre Anchieta e Museu da Casa Brasileira.
Visitação
Museu da Casa Brasileira
De terça a domingo, das 10h às 18h, com exceção da sexta-feira, que tem horário estendido até 22h
Av. Brig. Faria Lima, 2.705 – Jardim Paulistano, São Paulo (SP)
Próximo à estação Faria Lima da Linha Amarela do Metrô.
Ingressos: R$20,00 e R$10,00 (meia-entrada)
Sexta-feira, entrada gratuita
Acessibilidade no local | Bicicletário com 40 vagas
Visitação
Museu da Casa Brasileira
De terça a domingo, das 10h às 18h, com exceção da sexta-feira, que tem horário estendido até 22h
Av. Brig. Faria Lima, 2.705 – Jardim Paulistano, São Paulo (SP)
Próximo à estação Faria Lima da Linha Amarela do Metrô.
Ingressos: R$20,00 e R$10,00 (meia-entrada)
Sexta-feira, entrada gratuita
Acessibilidade no local | Bicicletário com 40 vagas.
(Fonte: Museu da Casa Brasileira)
Por Maria Elisa Rodrigues Moreira — Em 16 de novembro de 1922 nascia, na vila de Azinhaga, em Portugal, José Saramago, um dos mais importantes escritores do século XX. Ainda que tenha em seu currículo produções nos mais diversos gêneros — como poesia, contos, crônicas, memórias e teatro —, foi o romance que lhe garantiu notoriedade, com títulos como “Memorial do convento”, de 1982, “História do cerco de Lisboa”, de 1989, e “O homem duplicado”, de 2002.
Com um estilo de escrita peculiar, seus textos apresentam fortes marcas de oralidade, assinaladas em orações longas e não convencionalmente pontuadas: muitas vezes, uma mesma oração ocupa mais de uma página, exigindo do leitor um fluxo de leitura diferenciado. Essas características estéticas são um dos motivos que levaram a crítica a apontá-lo como um mestre no uso da língua portuguesa na contemporaneidade, além de lhe terem garantido os dois principais prêmios literários que recebeu: o Prêmio Camões, em 1995, e o Prêmio Nobel de Literatura, em 1998.
Cabe destacar ainda, para além das características estéticas da obra de Saramago, a importância que nela adquirem os posicionamentos políticos e éticos do escritor, militante comunista com posicionamentos contundentes, que costumava afirmar que não era possível separar o escritor do cidadão. Para ele, como cidadão, sua literatura tinha também uma responsabilidade ética, sendo um dos meios pelos quais poderia contribuir com a reflexão crítica sobre as mazelas que afligem a humanidade: a metáfora da “cegueira branca” que constitui o cerne do romance “Ensaio sobre a cegueira”, de 1995, talvez seja o exemplo mais explícito dessa reflexão provocada pela junção entre o escritor e o cidadão.
Neste ano, quando se comemora o centenário de nascimento do escritor, falecido em 2010, muitas têm sido as homenagens a ele prestadas, em todo o mundo; afinal, não há como se negar a importância de sua obra no panorama literário mundial. Mas como alguma homenagem seria suficiente para um escritor da relevância de Saramago?
Foi com o intuito de responder a esta questão que o Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) uniu-se, no projeto “100 horas com Saramago”, a uma série de outras instituições, de diferentes partes do mundo, para ler, refletir e debater as múltiplas facetas da vida e da obra do escritor português. Para celebrar, na companhia dele, os cem anos de sua vinda ao mundo, com o emblemático número de cem horas de atividades por ele motivadas. Uma celebração coletiva, democrática, humanista, como sua obra.
É assim que, ao longo de todo o ano, o projeto “100 horas com Saramago” está promovendo uma série de atividades, como aulas abertas, conferências, mesas-redondas, clubes de leitura, exposições, que acontecem com diferentes pessoas e em diferentes lugares, mas que têm em comum o interesse em discutir, com Saramago, as questões estéticas, éticas e políticas que permeiam sua obra.
Para tornar disponível todo esse material, o projeto conta com o inestimável apoio do Museu Virtual da Lusofonia, em cujo site estão sendo disponibilizados, paulatinamente, os registros dessas atividades, de modo a garantir que essas cem horas possam se multiplicar mais e mais.
Maria Elisa Rodrigues Moreira é docente do Programa de Pós-Graduação em Letras e do Curso de Letras da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), atuando na área dos estudos literários.
(Fonte: Assessoria de Imprensa | Instituto Presbiteriano Mackenzie)
Homens, de baixa escolaridade, com uma média etária de 48 anos e com tradição profissional familiar – o perfil socioeconômico dos pescadores da bacia amazônica reflete também a necessidade de se ampliar a atenção e os investimentos em políticas públicas para a região. É o que revela pesquisa publicada na revista “Brazilian Journal of Biology”, produzida por estudiosos de centros de pesquisa do Amazonas, Paraná e Espírito Santo.
Atualmente, a pesca é a principal atividade extrativista da bacia do médio rio Negro, fonte de proteína alimentar e sustento de muitas famílias ribeirinhas locais. De acordo com Adriano Oliveira, professor do Instituto Federal do Amazonas (IFAM) e um dos autores do estudo, são poucas as atividades econômicas no médio rio Negro, uma região onde grande parcela da população é dependente do assistencialismo governamental. “No entanto, o acesso a esses benefícios, como a aposentadoria, por exemplo, ainda é limitado. Além disso, a maior parcela dos pescadores dessa região são pessoas com baixo nível de escolaridade, fator que impossibilita muitas das vezes o ingresso em atividades com melhores remunerações”, aponta.
O estudo aplicou questionários com pescadores residentes na zona urbana e rural da cidade de Barcelos, localizado no médio Rio Negro (AM). As entrevistas tiveram a participação de 97 pescadores. Dos respondentes, 71,14% tinham de 18 a 82 anos, com uma média de idade de 48 anos. A baixa escolaridade, com maioria possuindo apenas o ensino primário incompleto ou a total inexistência de vivência na educação formal e um perfil de trabalho familiar, de aprendizado da função de pai para filho, foram os principais achados da pesquisa.
Segundo Oliveira, ao contrário dos pescadores da zona urbana, a pesca em comunidades é realizada de forma artesanal, com emprego de linha e anzol ou zagaia, por meio de canoas em lagos. Além disso, em áreas rurais, pescadores em determinadas épocas praticam agricultura familiar e a extração de produtos da floresta. No entanto, existe também uma íntima relação com a floresta.
A pesquisa também aponta agravantes para as dificuldades enfrentadas pelos pescadores artesanais, como as mudanças sazonais nos níveis dos rios, com alternância de regimes de secas e inundações, sendo que nesta há grande dispersão dos peixes pelos igapós. Outros fatores citados são a competição pelos recursos pesqueiros com barcos grandes e equipados com geladeiras e a baixa comercialização do pescado pela falta de compradores.
Oliveira lembra que os pescadores são os principais usuários dos recursos pesqueiros locais e seu amplo conhecimento sobre as espécies de peixes e os ecossistemas devem ser considerados na formulação de políticas públicas para a região. “Especialmente nas comunidades rurais, estabelece-se uma territorialidade de áreas e locais de pesca. Assim, proibindo a pesca excessiva ou até mesmo o uso de apetrechos (rede de pesca maiores), acreditamos que eles podem participar das políticas públicas e da construção dos planos de manejo por meio da gestão compartilhada, como tem ocorrido em outras regiões da Amazônia”, afirma o pesquisador.
(Pesquisa Indexada no Scielo. Fonte: Agência Bori)
No dia 10 de novembro, o Museu Histórico Nacional inaugura a exposição “Entre os cheiros da história”, com uma instalação olfativa da premiada artista paulistana Josely Carvalho, que há mais de 40 anos se divide entre Nova York, onde mora e trabalha, e Rio de Janeiro, onde mantém ateliê. Criada especialmente para este local, a exposição pretende contar a história por meio dos cheiros, das sensações e lembranças a que os odores nos remetem. Nos dias 12 de novembro de 2022 e 28 de janeiro de 2023, a artista fará uma caminhada olfativa com o público pela exposição, às 15h.
Invisível aos olhos, a instalação será feita em canhões datados entre os séculos XVI e XX. “Ao explorar o olfato, a artista transforma a boca do canhão em túnel do tempo. A arte de cheirar conduz, então, a histórias sensíveis do Brasil”, afirma o professor de história da UFF, Paulo Knauss, no texto que acompanha a exposição.
Pioneira na utilização de cheiros em obras de arte no Brasil, Josely Carvalho utiliza o olfato em suas obras desde a década de 1980 como um “resgate da memória”, mas esta será a primeira vez que a artista fará uma instalação totalmente olfativa, que terá sua visualidade emprestada da coleção histórica de canhões do museu. “É uma obra não para ser vista, mas sentida, que aborda o resgate da memória histórica transitando pelo espaço-tempo e adentrando os túneis dos canhões, que armazenam vestígios dos poderes econômicos, bélicos, políticos e sexuais, vivenciados ainda hoje com intensidade”, afirma Josely Carvalho, que ressalta que o olfato tem sido pouco inserido na arte contemporânea, que privilegia os sentidos da visão e da audição.
A exposição tem patrocínio da Granado, por meio da Lei de Incentivo à Cultura da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro, e apoio da Givaudan do Brasil e Ananse. A produção é do Estúdio Sauá e a realização é do Museu Histórico Nacional.
Canhões e cheiros
Em 20 dos 46 canhões do pátio do museu, a artista introduzirá cápsulas com 15 cheiros criados por ela em parceria com a Givaudan do Brasil especialmente para esta mostra: da ausência à persistência, do medo à ilusão, do mar à invasão.
Para o canhão mais antigo do museu, datado do século XVI e pelo qual os historiadores tem um grande apreço, a artista criou o cheiro “Afeto”, com uma fragrância agradável, com notas adocicadas que lembram momentos familiares e de infância. Para os canhões que participaram de guerras, o cheiro “medo” traz um odor salgado, de transpiração e urina. O canhão da época de Getúlio Vargas, que foi feito com tubo de esgoto, ganhou o cheiro da árvore Abricó de Macaco, que tem lindas e perfumadas flores, mas, o seu fruto denominado “bola de canhão” ao cair no chão, exala um odor que é pútrido. Para o canhão que participou da sangrenta Guerra do Paraguai, conhecido como El Cristiano, que foi fundido a partir de sinos de igreja, foi criado o cheiro “Incenso”, que traz reminiscências da colonização religiosa. Junto a este canhão, haverá o som de um sino tocando de tempos em tempos. Para falar sobre questões ambientais, alguns canhões ganharam o cheiro “Oceano”, que traz a brisa do mar, e “Mata”, com cheiro de terra molhada, e assim por diante.
Artista introduzirá cápsulas com 15 cheiros criados por ela em parceria com a Givaudan do Brasil especialmente para esta mostra.
Josely Carvalho sempre debateu questões do feminino em sua obra, mas, pela primeira vez, está usando o masculino para falar sobre o feminino, trazendo à tona questões sexuais e de poder. “Seu interesse pelos canhões tem justamente a intenção de colocar em questão as leituras da história dominadas pelo ponto de vista masculino. Os canhões de época de fina escultura e rica metalurgia são monumentos que celebram os feitos militares de homens guerreiros, mas ofuscam a lembrança da violência e do que ocorre com mulheres e crianças na guerra”, afirma Paulo Knauss. “Pensei em como lidar com esse poder sexual, masculino, militar, econômico, das guerras, que foram e ainda são predominantemente masculinas. O cheiro é o feminino; é a poesia, e eu me sinto o cheiro penetrando nos canhões em busca das memórias vividas, porém, esquecidas nas paredes internas destas formas fálicas”, ressalta Josely.
Em cada canhão onde a artista introduziu cheiros, um QR Code levará o público à história daquela peça e também ao nome do cheiro criado, às fragrâncias contidas nele e à relação do cheiro com aquela história. Uma história que vem desde a época da fundição de cada canhão, mas é atualizada pela artista para os dias de hoje, refletindo como questões do passado ainda reverberam nos dias atuais.
Sobre a artista
A paulistana Josely Carvalho apresenta, desde a década de 1960, a mulher como protagonista de sua obra. Suas pesquisas ligadas ao olfato datam dos anos 1980. Há 13 anos iniciou, com o apoio da Givaudan do Brasil, a criação de cheiros conceituais. Nos quatro últimos anos, apresentou exposições com essa abordagem nos museus de Arte Contemporânea da USP, Nacional de Belas Artes, no Rio, no centro Harvestworks, em Nova York e na Olfactory Art Keller Gallery, também em Nova York. Nos últimos anos, além dos cheiros, também utilizou vidro soprado em suas obras de arte. Como um desdobramento desta pesquisa, na atual exposição no Museu Histórico Nacional, encapsula os cheiros nos canhões.
Além da exposição “Entre os cheiros da história”, este ano também participa da coletiva “The Difference we’ve Made: New Work by Women Artists of the 70s”, de outubro a novembro, na Carter Burden Gallery em Nova York, e “Art for the Future: Artists Call and Central American Solidarities”, de setembro a dezembro na University of New Mexico Art Museum, no Novo México, EUA, e de fevereiro a agosto de 2023, no DePaul Art Museum, em Chicago, EUA.
Este ano recebeu o prêmio trianual Lee Krasner Award for Life Achievement, da Pollock Krasner Foundation, onde foi a única brasileira contemplada até hoje. Em 2019, recebeu na Holanda o prêmio internacional Art and Olfaction Sadakichi Award, na categoria Obra Olfativa Experimental, com cheiros desenvolvidos para a obra Teto de Vidro com a colaboração de Leandro Petit, perfumista da Givaudan do Brasil com quem tem trabalhado nos últimos anos.
Serviço:
Exposição “Entre os cheiros da história”, de Josely Carvalho
Abertura: 10 de novembro de 2022, às 11h
Exposição: até 29 de janeiro de 2023
Museu Histórico Nacional [Pátio dos Canhões]
Endereço: Praça Marechal Âncora, S/N, Centro – Rio de Janeiro (RJ)
Telefone: (21) 3299-0324
De quarta a sexta, das 10h às 17h. Sábado e domingo, das 13h às 17h.
Entrada franca.
Caminhada olfativa com a artista: 12 de novembro de 2022 e 28 de janeiro de 2023, às 15h.
Realização: Museu Histórico Nacional através da Lei de Incentivo à Cultura da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro
Patrocínio: Granado
Apoio: Givaudan do Brasil, Ananse e Associação de Amigos do MHN.
(Fonte: Midiarte Comunicação)