Projeto inédito feito com mulheres cis e trans une arte, sustentabilidade e economia circular para fortalecer a autonomia feminina


Cerquilho
tubarão-barriga-dágua (Carcharhinus plumbeus) teve declínio significativo nas capturas em Arraial do Cabo (RJ) devido à sobrepesca. Foto: Guy Marcovaldi/Projeto Tamar.
Nos últimos 60 anos, houve uma queda significativa no número de tubarões capturados ao longo da costa de Arraial do Cabo, no Rio de Janeiro. Sem acesso a áreas de proteção, os indivíduos ficaram expostos à pesca predatória durante o século passado e, como resultado, passaram a ser menos abundantes nos antigos locais de captura a partir de 2006. Portanto, apesar do aumento das atividades pesqueiras na região, pescadores da região relatam uma redução de 75% na captura de espécies destes animais neste período. Os dados são de estudo das Universidades Federais Fluminense (UFF), de Santa Maria (UFSM) e do Oeste do Pará (UFOPA) publicado na revista “Neotropical Ichthyology” na sexta (8) e trazem informações sobre a população desses animais na costa fluminense.
Os pesquisadores entrevistaram, entre julho de 2018 e 2019, 155 pescadores com experiência de pesca de três até 64 anos na região de Arraial do Cabo, Rio de Janeiro, para investigar mudanças no número e na distribuição espacial dos tubarões nesta região. As entrevistas abordaram a época de reprodução, os comportamentos alimentares, a quantidade de capturas ao longo do tempo e outras características das espécies de tubarões. Os dados foram divididos em dois grupos: antes e depois de 2006. Neste ano, houve o fechamento da Companhia Nacional de Álcalis, em Arraial do Cabo, o que fez com que a pesca artesanal voltasse a se tornar a principal fonte econômica do município.
O artigo destaca que cerca de 2 mil indivíduos dessas espécies foram capturados com rede de praia entre 1979 e 2005. De 2006 a 2019, o número de tubarões capturados caiu para 500, ou seja, 75% a menos do que no período anterior. O estudo ressalta que a sobrepesca ao longo dos anos fez com que os animais se afastassem da costa. Após 2006, quando novos locais de pesca passaram a ser explorados, as capturas desses animais passaram a se concentrar em locais mais distantes.
“Os pescadores relataram seis espécies de tubarões, todas categorizadas como ameaçadas segundo listas nacionais e globais, como a Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas e a União Internacional para a Conservação da Natureza”, explica Carine Fogliarini, lider do estudo e pesquisadora da UFSM. Os tubarões mais capturados foram o tubarão-galha-preta, o tubarão-anequim e o tubarão-barriga-dágua. Nas últimas seis décadas, as capturas do tubarão-galha-preta foram marcadas por uma queda de mais de 70% em um dos locais de pesca próximo a costa. Em geral, a localização espacial dos locais de pesca de tubarões na costa cabista também mudou, segundo relatam os pesquisadores.
A região de Arraial do Cabo tem uma reserva extrativista classificada como unidade de conservação de uso sustentável. Criada em 1997 para proteger recursos naturais e direitos de pescadores locais, a Reserva Extrativista Marinha do Arraial do Cabo carece de zonas de proibição de pesca definidas. Assim, a gestão da pesca e a fiscalização da captura de espécies ameaçadas e protegidas é insuficiente, segundo Fogliarini. “A falta de áreas de refúgio ou berçários contribui para a vulnerabilidade das espécies marinhas diante da pesca intensa”, completa.
Os resultados do estudo apontam para a necessidade de políticas de proteção de ecossistemas mais eficazes ampliando o envolvimento das comunidades locais. A pesquisadora defende a promoção do turismo sustentável com uma gestão efetiva da pesca em locais como Arraial do Cabo. “Um tubarão vivo vale muito mais do que um animal morto onde o turismo para ver esses animais existe. Vários países proibiram a pesca de tubarões devido ao risco de colapso das espécies e à importância desses animais para o equilíbrio das cadeias alimentares”.
A equipe de pesquisa quer contribuir para frear ou reverter o declínio populacional de tubarões na costa brasileira, o que pode ser feito por meio do monitoramento de pescarias, campanhas educativas para conscientização e redução do esforço de pesca com abertura de novas possibilidades de geração de renda para os pescadores. “Não adianta apenas proibir a pesca, pois os pescadores precisam sustentar suas famílias. Eles necessitam ter alternativas de geração de renda na pesca ou em outras atividades que sejam mais sustentáveis”, finaliza a autora.
(Pesquisa indexada no Scielo – Fonte: Agência Bori)
A temporada oficial de 2024 do Theatro Municipal do Rio de Janeiro inicia no dia 8 de março, às 19h, com a Série Celebrações ressaltando as obras dos compositores alemães Ludwig van Beethoven e Johannes Brahms, além do austríaco Anton Bruckner, que completa 200 anos de nascimento. Com o Patrocínio Oficial Petrobras, o concerto de abertura contará com a participação do Coro e Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal, sob a regência do maestro titular da OSTM, Felipe Prazeres. Os solistas serão o premiado violinista Guido Sant’Anna e os cantores Michele Menezes (soprano), Lara Cavalcanti (Mezzo-soprano), Guilherme Moreira (tenor) e Leonardo Thieze (baixo).
“Mais uma temporada iniciando no Theatro Municipal e estamos muito felizes com esse momento tão marcante para nós. É sempre uma grande alegria ofertar programação cultural para a cidade do Rio de Janeiro e seus visitantes. No Concerto de Abertura, com a Série Celebrações homenageando Beethoven, Brahms e Bruckner, contamos com a participação especial do artista Guido Sant’Anna, que vem sendo destaque no cenário mundial; isto, somado ao grande trabalho do nosso Coro e Orquestra Sinfônica, nos traz um concerto espetacular. Esperamos vocês de braços abertos no Municipal”, comemora a presidente da Fundação Teatro Municipal, Clara Paulino.
“É uma enorme honra desenhar a temporada artística oficial do Theatro Municipal do Rio de Janeiro pelo terceiro ano consecutivo. Em 2024 reafirmamos uma vez mais o compromisso com o artista nacional e a estreia de novos nomes da cena lírica brasileira, além dos consagrados nomes que se apresentam nas principais casas do Brasil e exterior. Uma temporada recheada de atrações de alta qualidade em total alinhamento com o DNA de nosso Theatro, que se prepara para completar 115 anos. Ballet, ópera e música de concerto revezando-se no maior palco lírico do país. Esperamos por vocês. O Theatro Municipal é de todos”, destaca Eric Herrero, diretor artístico da Fundação Teatro Municipal.
“Nossa abertura da temporada 2024 está recheada de grandes atrações, começando com o mais revolucionário dos compositores, Beethoven, na abertura Coriolano, seguido de Brahms no seu magistral concerto para violino, onde receberemos o mais importante violinista brasileiro da atualidade, vencedor do concurso Fritz Kreisler, Guido Sant’anna, e finalizando com a grande efeméride do ano com o ‘Te Deum’ de Anton Bruckner abrindo as comemorações do seu bicentenário. Um ‘BBB’ imperdível para o nosso querido público frequentador do Theatro Municipal do Rio de Janeiro”, finaliza o maestro titular da OSTM, Felipe Prazeres.
Série Celebrações – Beethoven, Brahms e Bruckner
Programa dia 8 de março
Ludwig van Beethoven (1770–1827)
Abertura “Coriolano”
Johannes Brahms (1833–1897)
“Concerto para Violino em Ré Maior Op. 77”
Anton Bruckner (1824–1896)
“Te Deum”.
Sobre Guido Sant’Anna | Nascido em 2005 em São Paulo e considerado um dos maiores violinistas das Américas da atualidade, Guido Sant’Anna alcançou reconhecimento internacional em 2022 ao se tornar o primeiro violinista sul-americano a vencer o prestigiado Concurso Internacional Fritz Kreisler. Seu triunfo em Viena foi precedido por outra conquista histórica em 2018, quando se tornou o primeiro violinista brasileiro convidado para o Concurso Internacional Yehudi Menuhin, em Genebra, ganhando o Prêmio do Público e o Prêmio de Música de Câmara. Fez recitais no Reino Unido, Alemanha, Áustria, Suíça, Chipre, Brasil e Paraguai. Em junho de 2023, Sant’Anna fez sua estreia no Rheingau Musik Festival com a Sinfonieorchester Frankfurt, sob a batuta de seu diretor musical Alain Altinoglu, interpretando a “Symphonie Espagnole” de Édouard Lalo. Fez sua estreia na Ásia, com uma turnê de recitais pela Coreia do Sul. Aos oito anos, Guido foi finalista do Concurso Prelúdio, promovido pela TV Cultura de São Paulo. Foi bolsista de Cultura Artística desde 2012, sob orientação de sua tutora, Elisa Fukuda. Guido toca um violino feito em 1874 por Jean-Baptiste Vuillaume, generosamente emprestado pelo luthier Marcel Richters. O artista é apoiado pelo KD SCHMID Fellowship Scheme desde maio de 2023, e também é financiado pela ArteMusica Stiftung. Atualmente aluno de Mihaela Martin na Kronberg Academy. Pela primeira vez irá tocar acompanhado pela Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal regida por seu atual maestro titular Felipe Prazeres.
Ficha técnica
Solistas
Guido Sant’Anna – Violino
Michele Menezes – Soprano
Lara Cavalcanti – Mezzo-soprano
Guilherme Moreira – Tenor
Leonardo Thieze – Baixo
Coro e Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal do Rio de Janeiro
Regência – Felipe Prazeres
Direção Artística do TMRJ – Eric Herrero
Serviço:
Concerto de Abertura da Temporada 2024
Série Celebrações – Beethoven, Brahms e Bruckner
Data: 8 de março – sexta-feira
Horário: 19h
Local: Theatro Municipal do Rio de Janeiro
Endereço: Praça Floriano, s/n° – Centro
Classificação: Livre
Duração: aproximadamente 1h30 – intervalo de 15 minutos. Antes da apresentação, será realizada uma palestra gratuita no Salão Assyrio, com a presença de um intérprete de Libras.
Ingressos:
Frisas e Camarotes – R$60,00 (ingresso individual) ou R$360,00 (6 lugares)
Plateia e Balcão Nobre – R$40,00
Balcão Superior – R$30,00
Balcão Superior Lateral – R$30,00
Galeria Central – R$15,00
Galeria Lateral – R$15,00
Os ingressos estão à venda através do site www.theatromunicipal.rj.gov.br ou na bilheteria do Theatro
Patrocinador Oficial Petrobras
Apoio: Livraria da Travessa, Rádio MEC, Rádio Amil Paradiso, Rádio Roquette Pinto – 94.1 FM
Realização Institucional: Fundação Teatro Municipal, Associação dos Amigos do Teatro Municipal
Lei de Incentivo à Cultura
Realização: Ministério da Cultura e Governo Federal, União e Reconstrução.
(Fonte: Assessoria de Imprensa TMRJ)
O Sesc Belenzinho recebe de 9 a 31 de março o espetáculo “Fábulas Teatro de Bonecos” da Cia Mevitevendo. O espetáculo de Teatro de Animação – com máscaras, bonecos e atores – mostra quatro fábulas de diferentes partes do mundo: Brasil (O Velho, O Burro e o Menino), África (A Cobra e o Sapo), Grécia (O Pássaro e o Gato) e França (A Cigarra e a Formiga). Usando a linguagem da animação de forma contemporânea, o espetáculo brinca com elementos do teatro de bonecos e transgride a narrativa tradicional das fábulas, dando novos significados e pontos de vista sobre as histórias.
Num tempo em que os bichos ainda falavam, lá onde as antigas histórias nasceram, ainda existe um mundo fabuloso de seres, sons e imagens. Animais inteligentes e tolos, corajosos e covardes, honestos e trapaceiros aparecem em diferentes fábulas, nos mostrando de maneira engraçada e comovente, como podemos ser tão iguais e tão diferentes deles.
Este é o novo espetáculo da Cia. Mevitevendo, que há 24 anos dedica-se exclusivamente ao Teatro de Figuras (Teatro de Animação). Antigas histórias de diferentes tradições compõem a encenação; aparentemente simples e ingênuas, elas mostram-se sutis e elaboradas – um achado para um trabalho com bonecos, máscaras e manipulação de materiais e um material rico para o teatro de bonecos contemporâneo. Aos pequenos, apresenta um universo mágico e instigante; aos adultos, traz de volta a memória afetiva da infância.
Um pouquinho sobre as fábulas
Elas fazem parte de nosso imaginário coletivo e criar um espetáculo com fábulas não é uma tarefa fácil. Foram inventadas para educar (antigamente eram associadas à famigerada moral da história) e atualmente, no teatro contemporâneo, aparecem para divertir e fazer pensar. Zombando do Rei Sol no século XVII ou protagonistas em espetáculo de Bob Wilson, essas alegorias curtas e cômicas estão cheias de bichos falantes com defeitos e virtudes humanas. As fábulas são atemporais, são sempre compreendidas por todos e há séculos conectam gerações no mundo todo.
A tradição ocidental da fábula começou com o grego Ésopo, que escreveu cerca de 200 contos em 4 a.C., mas depois ela povoou a Idade Média e foi no final do século XII que Marie de France publicou sua incrível coleção de histórias. Em 1668, La Fontaine lançou a famosa coletânea de fábulas satirizando a corte, os burocratas, a igreja e a burguesia – sucesso estrondoso. E, assim, as pequenas histórias críticas e engraçadas espalharam-se pela Europa e influenciaram muitos autores.
No Japão, as Histórias de Kojiki e Nihon Shoki do século VII são fábulas orientais com animais falantes: bichinhos pequeninos e inteligentes e animalões grandes e estúpidos. Já na Índia, a tradição oral das fábulas data do século V a.C., que teve seu apogeu com Panchatantra – uma compilação sânscrita de histórias de animais. Na África, berço de inúmeras fábulas que se espalharam em versões pelo mundo, elas eram transmitidas desde tempos remotos pelos Griôs, tradicionais contadores de histórias que viajavam de vilarejo em vilarejo contando e cantando fábulas que encantavam gente grande e pequena, povoadas de bichos que pareciam gente.
Do século 19 em diante a fábula conquistou um novo público com a ascensão da literatura infantil. Entre os autores mais célebres, estão Lewis Carroll, Beatrix Potter, Andersen, Wilde, Tolkien, Saint-Exupéry e, no Brasil e Monteiro Lobato.
A companhia
Cleber Laguna e Marcia Fernandes criaram a Cia. Mevitevendo (Teatro de Bonecos e Máscaras) em 1998, ano em que mudaram do RS para São Paulo. Em 21 anos, já pesquisaram e encenaram os mais diferentes tipos de espetáculos: curtos, longos, dentro e fora de teatros; uns sem palavras, outros com muito texto, com pequenas figuras articuladas de papel, sombras, bonecos em escala humana e até com um personagem gigante. Seus bonecos estiveram em festivais e programações culturais em 20 estados brasileiros, na Espanha, França e Portugal. Num trabalho que mistura atores, bonecos, máscaras e referências que vão das artes visuais ao cinema de animação, os artistas da Companhia inventam mundos onde personagens “diferentes” habitam lugares estranhos, sempre instigando ideias, pensamentos e criação.
Ficha técnica
Ideia original: Cia. Mevitevendo
Criação e atuação: Cleber Laguna e Marcia Fernandes
Bonecos e máscaras: Cleber Laguna
Figurinos e trilha sonora adaptada: Marcia Fernandes
Cenário e objetos: Cia. Mevitevendo
Operador de som e luz: Adriani Simões
Direção: Cleber Laguna e Marcia Fernandes
Fábulas
De 9 a 31 de março de 2024; sábados e domingos, 12h
Local: Teatro (374 lugares)
Ingressos: R$30,00 (inteira); R$15,00 (meia entrada); R$10,00 (Credencial Plena do Sesc)
Gratuidade para crianças até 12 anos
Recomendação etária: Livre
Duração: 50 minutos
Sesc Belenzinho
Endereço: Rua Padre Adelino, 1000 – Belenzinho – São Paulo (SP)
Telefone: (11) 2076-9700
Estacionamento: de terça a sábado, das 9h às 22h; domingos e feriados, das 9h às 20h
Valores: Credenciados plenos do Sesc: R$5,50 a primeira hora e R$2,00 por hora adicional. Não credenciados no Sesc: R$12,00 a primeira hora e R$3,00 por hora adicional.
Transporte Público: Metro Belém (550m) | Estação Tatuapé (1400m).
(Fonte: Assessoria de Imprensa Sesc Belenzinho)
Rita Constantine, Rosita Cavenaghi (curadora), Ju Barros, Gisele Faganello e Liliane Coelho. Credito da foto: Leda Abuhab.
A artista visual Gisele Faganello está com uma agenda de muita atividade com seus trabalhos.A participação de exposições nacionais e internacionais estão com muita projeção para a artista, que até 21 de fevereiro participou, em Búzios, RJ, da coletiva “Novos Mares, Novas Cores” na Galeria de Arte Nº1; em Porto Alegre, até o dia 3 de abril, suas obras podem serem vistas em “Laços que nos movem”, na galeria Art100. Em São Paulo, celebrando o Dia Internacional da Mulher, está até o dia 24 de março na exposição “Mulheres que transformam”, ao lado de mais 12 artistas por meio da Art A3 Gallery no Shopping Parque da Cidade. Sua agenda se completa em participações internacionais ainda em março, 14 a 17; em Barcelona, Espanha, na Valid World Hall pela Art2 e, em abril, de 5 a 7 no Carrousel du Louvre, I Art Shopping em Paris também por meio da Art100 Gallery. Na região de Campinas, Gisele Faganello é representada pela galerista Ligia Testa, que vem enviando muitos de seus trabalhos em vendas para fora do Brasil.
O MASP – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand apresenta, de 22 de março a 9 de junho de 2024, a mostra “Mário de Andrade: duas vidas”, que ocupa o mezanino localizado no 1º subsolo do museu. Com curadoria de Regina Teixeira de Barros, curadora coordenadora, MASP, e assistência de Daniela Rodrigues, assistente curatorial, MASP, a exposição reúne um conjunto de pinturas, desenhos, gravuras, esculturas e fotografias da coleção pessoal do intelectual brasileiro, ativo na primeira metade do século 20, a partir da perspectiva de uma sensibilidade queer. A mostra tem patrocínio da Lefosse e apoio cultural do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (IEB-USP).
Mário de Andrade (São Paulo, 1893–1945) é um ícone da literatura e do modernismo no Brasil, além de ser um dos escritores mais estudados do país. Em sua faceta pública, foi contista, músico, poeta, professor, romancista, crítico e historiador das artes plásticas, da música e da literatura, além de agente cultural, colecionista e jornalista. Autor de “Pauliceia desvairada” (1922) e “Macunaíma” (1928), participou da Semana de Arte Moderna (1922) e dedicou-se a registrar, estudar, preservar e divulgar as mais diversas manifestações culturais do país, tanto eruditas quanto populares. Esteve à frente do Departamento de Cultura e Recreação da Municipalidade de São Paulo (1935-1938) e criou o Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN) (1937), o primeiro órgão do gênero.
“Passados quase 80 anos da sua morte, a produção intelectual de Mário de Andrade sobre música, artes visuais e arquitetura, seus romances, contos e poemas, além dos levantamentos etnográficos realizados pelo artista, foram e continuam sendo centrais para a compreensão do modernismo no Brasil e para a construção de uma ideia de brasilidade”, elucida a curadora coordenadora, Regina Teixeira de Barros.
Flávio de Carvalho (Barra Mansa, Rio de Janeiro, Brasil, 1899—1973, Valinhos, São Paulo, Brasil) Homem [Man], 1933 Aquarela e tinta de caneta sobre papel [Watercolor and pen ink on paper], 37,5 × 29,7 cm IEB-USP.
A ideia de “duas vidas”, subtítulo desta exposição, aparece em diversos escritos do autor e exalta a dualidade vivida por Andrade entre a vida profissional e pessoal. “Mário se qualifica ora como um ‘vulcão controlado’, ora tomado por uma ‘feminilidade passiva’; oscila entre ser um pansexual casto (!) e um monstro libidinoso”, ressalta Teixeira de Barros. Em carta para Oneyda Alvarenga, o intelectual afirma: “Eu sou um ser como que dotado de duas vidas simultâneas, como os seres dotados de dois estômagos. O que mais me estranha é que não há consecutividade nessas duas vidas”.
O artista registrou em fotografias suas viagens ao Norte e Nordeste do Brasil entre 1927 e 1929. Na série ‘Tarrafeando’ (1927), feita no igarapé de Barcarena, nos arredores de Manaus, os homens estão focados no trabalho enquanto Andrade capta imagens de seus corpos de costas. Em outro conjunto de retratos, adota uma estratégia diversa, fixando o olhar franco e direto de trabalhadores, como se observa em ‘Vaqueiro marajoara Tuiuiú’ (1927). Visto que a câmera era o único objeto que impedia Mário e o retratado de se olharem mutuamente, a curadora reflete que “o fotógrafo permanece protegido pelo objeto diante de si, impossibilitado de retribuir o olhar, defendido de si mesmo e do próprio desejo”.
Mário de Andrade (São Paulo, Brasil, 1893—1945) Aposta de ridículo em Tefé [Bet of Ridiculous in Tefé], 12.6.1927 [June 12, 1927] Impressão digital sobre papel [Digital print on paper], 6,1 × 3,7 cm IEB-USP.
A assistente curatorial Daniela Rodrigues constata que, através de seus escritos e das muitas correspondências, é possível observar o erotismo como um tema que perpassa a vida e o imaginário do autor sobre o Brasil, que se utilizava de inúmeras estratégias literárias para dizer sem explicitar. “Não se trata de ler sua produção como autobiográfica, como se tudo remetesse a ele mesmo, mas em alguns textos veem-se vestígios da sua inquietação sobre a sexualidade enquanto tema e vida”, completa.
Em relação à sua coleção de arte, a pintura ‘O homem amarelo’ (1915-16), de Anita Malfatti, – vista por Mário na famosa exposição de 1917 – inaugurou seu interesse pelas artes visuais. Na ocasião, o poeta profetizou: um dia o quadro seria dele. De fato, comprou a obra na Semana de Arte Moderna, realizada no Theatro Municipal de São Paulo, em 1922. No primeiro artigo que escreveu sobre Anita, em outubro de 1921, descreveu ‘O homem amarelo’ como uma figura fatídica, “feminilizada por uns olhos longínquos, cheios de nostalgia”.
Em ‘Retrato de Mário de Andrade’ (1927), Lasar Segall registrou o poeta de frente, captando sua expressão serena em meio aos atributos modernos — como a gravata estampada com losangos e o fundo abstrato-geométrico. Apesar de reconhecê-la inicialmente como “uma das obras mais admiráveis de seu talento de pintor”, em carta ao artista, alguns anos mais tarde o romancista mudou de ideia, pontuando que Segall captou o que havia de perverso nele. “Ambíguo e conflituoso, compreendendo e registrando como poucos o que constituía um país tão contraditório, Mário pouco conhecia a si mesmo”, reitera Daniela.
“Mário de Andrade: duas vidas” integra a programação anual do MASP dedicada às Histórias da diversidade LGBTQIA+. Este ano a programação também inclui mostras de Gran Fury, Francis Bacon, MASP Renner, Lia D Castro, Catherine Opie, Leonilson, Serigrafistas Queer e a grande coletiva Histórias da diversidade LGBTQIA+.
Acessibilidade | Em 2024, todas as exposições temporárias do MASP possuem recursos de acessibilidade, com entrada gratuita para pessoas com deficiência e seu acompanhante. São oferecidas visitas em libras ou descritivas; textos e legendas em fonte ampliada e produções audiovisuais em linguagem fácil, com narração, legendagem e interpretação em Libras que descrevem e comentam os espaços e as obras. Os conteúdos podem ser utilizados por pessoas com deficiência, públicos escolares, professores, pessoas não alfabetizadas e interessados. Os conteúdos ficam disponíveis no site e canal do Youtube do museu.
Catálogo | Acompanhando a exposição, será publicado um catálogo bilíngue, em inglês e português, com a reprodução de obras da coleção do escritor. A publicação, organizada por Regina Teixeira de Barros, com assistência de Daniela Rodrigues, inclui textos de Carolina Casarin, Daniela Rodrigues, Ivo Mesquita, Jorge Vergara, Nathaniel Wolfson e Regina Teixeira de Barros. Com design de Bruna Sade, a publicação tem edição em capa dura.
MASP Loja | Em diálogo com a exposição, o MASP Loja apresenta produtos especiais, desenvolvidos a partir da coleção do artista, que incluem uma bolsa, postais e ímãs, além do catálogo oficial da mostra.
Serviço:
Mário de Andrade: duas vidas
Curadoria: Regina Teixeira de Barros, curadora coordenadora, MASP, com assistência de Daniela Rodrigues, assistente curatorial, MASP
1º subsolo (mezanino)
22/3—9/6/2024
MASP — Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand
Avenida Paulista, 1578 – Bela Vista – São Paulo, SP
Telefone: (11) 3149-5959
Horários: terças grátis, das 10h às 20h (entrada até as 19h); quarta, quinta, sexta, sábado e domingo, das 10h às 18h (entrada até as 17h); fechado às segundas
Agendamento on-line obrigatório pelo link masp.org.br/ingressos
Ingressos: R$70 (entrada); R$35 (meia-entrada)
Site oficial | Facebook | Instagram.
(Fonte: Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand)