Notícias sobre arte, cultura, turismo, gastronomia, lazer e sustentabilidade

Autismo em adultos: quando o diagnóstico é tardio

Brasil, por Kleber Patricio

Imagem de karelinlestrange por Pixabay.

Hoje, graças à facilidade de acesso e rapidez das informações, muitos casos de autismo que não foram diagnosticados quando deveriam estão chegando com muito mais frequência nos consultórios de profissionais que trabalham com o tratamento integral do autismo. São jovens e adultos; desde os casos mais leves, como os aspergers, até os casos muito graves, que, por falta de tratamento adequado, de informação e de acesso aos diversos tratamentos multidisciplinares que temos hoje, acabaram crescendo sem desenvolver progressos significativos. E o pior: sem alcançarem independência, inclusive dos pais, o que causa para estes uma terrível angústia, porque o desgaste e a preocupação são muito grandes e a pergunta é uma só: O que fazer agora?

Os portadores da Síndrome de Asperger e os autistas de inteligência mediana ou acima acabam levando uma vida normal até que aconteça algo que traga à tona o autismo – e não é raro que até mesmo um dos pais possa acabar sendo identificado também como dentro do espectro.

Diagnóstico na adolescência

A forma mais comum de identificar o autismo no adolescente dos 12 aos 18 anos, por exemplo, é o comportamento dele nesta fase. Geralmente ele não sabe se relacionar e não consegue lidar com coisas simples como uma mudança de casa, cidade ou escola, além de problemas frequentes nos relacionamentos com colegas e com sua própria sexualidade.

Foto: divulgação.

Tudo isso, juntamente com a forma deste adolescente não se comportar como os demais, começa a causar uma angústia nele e nos pais, que não entendem o que pode estar acontecendo. Neste caso, acabam por apresentar um quadro de ansiedade extrema, que não consegue ser solucionado com a terapia tradicional.

Quando isso acontece, exames mais extensos podem confirmar um diagnóstico de autismo. É importante saber que o diagnóstico preciso e minucioso deve ser conduzido por psiquiatras, neuropsiquiatras e neuropsicopedagogos, que deverão ter total acesso a todas as informações sobre como foi a infância deste paciente.

Somente assim, depois de um diagnóstico correto – ou seja, depois de dar nome ao que eles sentem –, eles e a família encontram respostas para perguntas que vinham fazendo durante todas as suas vidas. E isso traz, para o autista e para a família, um alívio imenso.

E quando eu não estiver mais aqui? O que vai ser do meu filho autista?

Quanto mais cedo a descoberta do espectro, melhor pode ser a evolução do tratamento e da independência do autista. É muito comum, ao realizar o diagnóstico de TEA em crianças, ver que a primeira preocupação dos pais é como será a vida acadêmica o filho em questão, a preocupação com a fala e como ele vai se relacionar para seguir com o fluxo normal da vida. Passado isto, um pouco mais tarde, já frente à realidade do dia a dia, a preocupação da grande maioria dos pais, principalmente os pais de autistas com grau severo, é: E quando eu não estiver mais aqui? O que será do meu filho autista?

A neuropsiquiatra, especialista em tratamento integral do autismo, neurodesenvolvimento e saúde mental Dra. Gesika Amorim, lida com essas situações todos os dias e diz: “Sabemos que não é fácil e que muitos pais  abandonam suas vidas para cuidar de seus filhos, que em graus mais severos do  autismo, acabam sendo absolutamente dependentes. Dito isto, gostaria de enfatizar algumas coisas:

1 – Quanto mais cedo seu filho for diagnosticado, mais chances e melhores elas serão de ele ter independência, que ,de fato, é o que mais vai importar e o que realmente ele e vocês, pais por mais que no primeiro momento possam achar que não – vão precisar que ele tenha.

2 – Jamais deixe de contar ao seu filho que ele é um autista. Proteção demais pode trazer grandes prejuízos no futuro, justo quando ele precisará ter o máximo possível de independência para lidar de fato com o mundo. No mais, autistas sem grandes comprometimentos cognitivos, que sabem seu diagnóstico desde cedo, conseguem lidar mais facilmente com todas estas questões mais difíceis, como, por exemplo, relacionamento, sexualidade e mudanças”, diz a especialista.

Dra. Gesika Amorim diz que, infelizmente, ao menos até agora, desconhece programas de governo que sejam dedicados a cuidar de autistas adultos com graus mais severos; tanto na ausência dos pais, quanto na falta de recursos, condições físicas, estruturais e emocionais de lhes oferecer estes cuidados. Então, ela ressalta a importância das ONGs neste momento. “É muito necessário que ONGs, ativistas e profissionais envolvidos com a causa e famílias se movam e comecem a buscar este tipo de suporte, porque todos têm direito à vida com dignidade e sabemos que, no autismo, principalmente em casos do adulto com grau severo, esta não é uma realidade”, ressalta a médica.

Mas existe uma luz no fim do túnel: em 2012, foi sancionada a Lei Berenice Piana, (12.764, 2012), que institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista. Em 2020, foi sancionada a Lei 13.977, de 2020, que cria a Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (Ciptea), que assegura aos portadores, atenção integral, pronto atendimento e prioridade no atendimento e no acesso aos serviços públicos e privados, em especial nas áreas de saúde, educação e assistência social.

Segundo a própria Berenice Piana, a próxima luta será para conseguir, através do governo, uma casa de apoio para os autistas que por algum motivo perdem os seus cuidadores. “Vamos acreditar e lutar para isso.”

Uma outra solução muito sábia e prática a ser tomada pelas famílias que podem contar com outros parentes ou conhecidos, é deixar acordado, por intermédio de um advogado, um documento de tutela de seu filho autista, no caso de um dos pais faltarem.

E sobre a sexualidade?

A sexualidade é inerente ao ser humano. Todos temos. Quando vamos falar da sexualidade no autista, existem muitas nuances envolvidas, pois o autista pode não ter controle sobre suas emoções e, por conseguinte, sobre os seus instintos sexuais, explica a neuropsiquiatra Dra. Gesika Amorim: “Isso pode causar situações constrangedoras, pois  o paciente dentro do espectro não tem filtro para falar o que deseja fazer e, em situações extremas, no caso de pacientes não verbais, podem ocorrer masturbações em público ou mesmo o toque dos órgãos genitais de pessoas ao seu redor, o que causa intenso constrangimento”.

Foto: divulgação.

Dra. Gesika orienta: “Eles podem não conseguir se controlar ou ter postura frente ao certo e errado que é imposto dentro de uma sociedade. Então, é necessário que os cuidadores, terapeutas com experiência em autismo, os profissionais e a família, sejam uma espécie de córtex pré-frontal desse paciente, fazendo-o entender como lidar com essas emoções e sensações; explicando o que é correto ou incorreto e o que pode o que não pode, exatamente como explicamos para uma criança as regras sociais da vida. É importante que eles tenham absoluta confiança em seus pais.

Nos casos extremos, de autistas adultos não verbais e sem terapia, pode ser necessário intervir com medicações para contenção de libido”.

Dra. Gesika Amorim é médica pediatra e neuropsiquiatra com ênfase em saúde mental e neurodesenvolvimento infantil. É pós graduada em Psiquiatria e Neurologia Clínica. É também referência no Tratamento de TEA – Transtorno do Espectro Autista com utilização de HDT – Homeopatia Detox – tratamento integral do autismo e Medicina Integrativa.

www.dragesikaamorim.com.br

Instagram: @dragesikaautismo.