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Projeto no Pará foca na produção sustentável para combater o aquecimento global e conservar a floresta em pé

Pará, por Kleber Patricio

Fotos: divulgação.

A Organização das Nações Unidas (ONU) declarou o período entre 2021 e 2030 como a Década de Restauração de Ecossistemas e espera que milhões de hectares sejam recuperados e contribuam no enfrentamento à crise climática. Trata-se de um movimento global para sensibilizar governos, empresas, grupos e indivíduos da sociedade civil para recuperação de áreas degradadas e redefinir o manejo dos recursos naturais na perspectiva da sustentabilidade.

Iniciativas na Amazônia estão alinhadas com a expectativa da ONU. É o caso do projeto Florestas de Valor, desenvolvido pelo Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) com patrocínio do Programa Petrobras Socioambiental e Governo Federal. A iniciativa busca fomentar no Pará negócios comunitários e apoiar a estruturação de cadeias produtivas de produtos da sociobiodiversidade por meio de atividades sustentáveis e regenerativas.

As ações do projeto ocorrem na região sudeste do estado, no município de São Félix do Xingu, e na região norte do Pará, em Oriximiná e Alenquer. A expectativa é de contribuir com a permanência dos produtores em seus territórios, impedir o avanço do desmatamento e regenerar áreas degradadas, além de gerar renda e cooperar com a redução dos impactos das mudanças climáticas.

O projeto é executado em áreas com sistemas agroflorestais (SAFs), que regeneraram áreas degradadas do bioma amazônico e recuperam a fertilidade do solo. As atividades desenvolvidas miram a fixação de carbono, a redução de emissões de gases do efeito estufa e a manutenção de estoques de carbono por meio da implantação de sistemas produtivos sustentáveis e da valorização da floresta em pé.

Entre os produtos-alvo do projeto, destaque para a castanha-do-Brasil, óleo de copaíba, sementes de Cumaru, pimenta em pó indígena, cacau e polpa de frutas. Os produtores são apoiados no acesso a políticas públicas de mercados institucionais para produtos da agricultura familiar.

De acordo com Léo Ferreira, coordenador do projeto, a iniciativa vai implantar 180 hectares entre sistemas produtivos sustentáveis e reconversão produtiva de áreas degradadas, combinando técnicas de Sistema Silvopastoril Intensivo, Sistemas Agroflorestais e Roça sem Fogo. Além disso, o projeto realiza atividades de capacitação em boas práticas de produção, facilitação de parcerias comerciais e assessoria aos empreendimentos comunitários. “Nossa expectativa é que o projeto contribua com a consolidação de práticas agropecuárias sustentáveis, conciliando produção e conservação, bem como fortaleça nas regiões abrangidas, a economia florestal dos produtos da sociobiodiversidade, gerando renda a partir de atividades sustentáveis que mantém a floresta em pé”, conta Léo Ferreira.

Impactos

O projeto permite a continuidade da parceria entre o Imaflora, a Petrobras e os territórios, que tem gerado frutos promissores, tanto do ponto de vista da geração de renda e do desenvolvimento territorial, quanto da restauração. Quem conta a experiência é a presidente da Associação das Mulheres Produtoras de Polpa de Fruta (AMPPF), de São Félix do Xingu, Maria Josefa Machado Neves, 51 anos: “nós, como pequenos produtores, temos que fazer a nossa parte, mas também é preciso ter apoio. Eu tiro o sustento da minha família da agricultura e foi a partir das parcerias que entendi que era preciso me organizar e lutar para alcançar meus objetivos, que não são individuais, mas coletivos”, comenta Josefa.

A associação conta com 32 filiações. As ações em parceria com o Imaflora renderam ao grupo a construção de uma agroindústria de despolpamento de frutas e um viveiro de mudas. “São conquistas que geram impactos para toda a região, tanto do ponto de vista da comercialização dos produtos e da renda, mas também da restauração florestal”, argumenta Josefa.

Região estratégica

Segundo dados do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), o Pará é o estado que apresenta maior número de Áreas Protegidas no ranking de ameaça e pressão por desmatamento na Amazônia Legal. Segundo os números obtidos pelo Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD), no ranking das 10 mais ameaçadas, metade fica no Pará.

De acordo com Eduardo Trevisan, gerente do programa Florestas de Valor do Imaflora, as bacias do Xingu, do Tapajós e a região norte do estado do Pará estão especialmente ameaçadas pelo desmatamento e garimpo ilegais. “As áreas protegidas têm papel fundamental na geração de serviços ecossistêmicos, como a regulação do clima e frequência de chuvas. A atuação do Imaflora busca oferecer aos produtores, associações, cooperativas e poder público alternativas de geração de renda que possam conciliar a conservação da floresta com a produção sustentável nos territórios do entorno e no interior de áreas protegidas”, explica Eduardo.

Embora a atuação do projeto não seja exclusivamente no interior de Áreas Protegidas, Eduardo acredita que o trabalho de conservação feito pelo projeto incide diretamente nesses territórios, sobretudo quando a atuação é direta na área do entorno.

Contexto territorial

São Félix do Xingu possui mais de 84 mil km² e é o sexto município mais extenso do país. No último censo, registrou cerca de 128 mil habitantes. As atividades agropecuárias usualmente praticadas no território apresentam baixa produtividade por hectare e geram avanço sobre os remanescentes florestais, principalmente para ampliação de áreas de pastagens para a pecuária extensiva. É reconhecido como o município com o maior número de cabeças de gado do Brasil. As ações do projeto no município incluem a promoção de boas práticas na agricultura principalmente com foco na produção de cacau para proporcionar maior qualidade e produtividade, fortalecendo essa cultura, apoiar ações de formação de jovens e mulheres e o fortalecimento de negócios comunitários.

Na região norte do Pará, a agricultura local utiliza das técnicas de corte e queima com avanço sobre áreas de floresta, uso do fogo para limpeza das áreas e plantio de espécies de ciclo curto como a mandioca. O extrativismo de produtos florestais não madeireiros é importante do ponto de vista econômico e seu fortalecimento com a valorização da floresta em pé é a principal alternativa de desenvolvimento local sustentável que concilia benefícios econômicos à população local compatíveis com a manutenção das extensas florestas da região. As ações do projeto estão focadas na adoção de técnicas sustentáveis na agricultura e no extrativismo, apoio a cooperativas e negócios comunitários e na valorização dos produtos locais como estratégia de conservação.

Sobre o Imaflora | O Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) é uma associação civil sem fins lucrativos criada em 1995 sob a premissa de que a melhor forma de conservar as florestas tropicais é dar a elas uma destinação econômica associada a boas práticas de manejo e à gestão responsável dos recursos naturais. O Imaflora busca influenciar as cadeias produtivas dos produtos de origem florestal e agrícola, colaborar para a elaboração e implementação de políticas de interesse público e, finalmente, fazer a diferença nas regiões em que atua, criando modelos de uso da terra e de desenvolvimento sustentável que possam ser reproduzidos em diferentes municípios, regiões e biomas do país. Site: www.imaflora.org.

(Fonte: Imaflora)