No livro “Do riso ao soro – Reflexões de uma palhaça no hospital e a incrível jornada dos afetos” (Editora Urutau), a multiartista Tereza Gontijo convida o leitor a partilhar sua experiência como palhaça profissional atuando em hospitais de grandes cidades brasileiras por meio da associação Doutores da Alegria.
A publicação, primeiro apresentada em formato digital, em agosto de 2024, acaba de ganhar a versão impressa, pela editora Urutau, e será oficialmente levada ao público na Bienal do Livro no Rio de Janeiro. Não seria mero acaso a obra ser lançada na terra onde viveu a tia-avó da autora, a escritora Maria Clara Machado, consagrada pela criação de famosas peças infantis e fundadora do teatro O Tablado.
Há 17 anos, Tereza dá vida a Guadalupe, e com a palhaça vivencia histórias de luta em alas pediátricas e adultas de instituições públicas de saúde em Belo Horizonte (BH), São Paulo e Rio de Janeiro. Mineira de BH radicada em São Paulo, ela constrói uma narrativa afetuosa e introspectiva que conecta episódios pessoais e o que lhe é apresentado nos hospitais, um trabalho que, segundo Tereza, transforma sua percepção de humanidade. “Posso afirmar que a principal matéria-prima do palhaço não é o riso, é a humanidade comum a todos nós”, destaca Tereza no capítulo “Quando a morte chegar, que ela te encontre vivo”, onde relata o dia em que a Guadalupe atendeu a um pedido especial de uma paciente que seria sedada em seguida à sua apresentação.
Essa e outras histórias – como a “Mãe palhaça”, que conta o dia em que Tereza e Guadalupe se encontram em um grande dilema – pela primeira vez ela deixa a filha internada para atender outras crianças hospitalizadas – podem ser lidas em “Do riso o soro”. “Hoje sei que a Guadalupe sou eu, e que esta máscara que eu achava que me protegia, me escancara e me revela como um ser humano”, conclui.
No texto “Quando um cometa cruza o céu”, Tereza conta sobre um super menino, de três anos, que viveu o Super Homem por um dia, junto com Guadalupe em uma das suas apresentações, e veio a óbito dois dias depois. “Não vou me esquecer do semblante daquele menino olhando para a fantasia, como se fosse o próprio super-herói admirando sua roupa mágica, lustrada e poderosa”, lembra ela. São relatos e histórias reais contados em 210 páginas carregadas de afeto e conexão.
A artista conta que, a partir dos lançamentos das versões digital e física, com essas etapas amadurecidas, está elaborando uma palestra sobre o que chama de “inteligência artesanal” – uma forma de olhar e vivenciar o cotidiano de forma mais humana, a partir da experiência relatada na obra em articulação com pensamentos de outros autores e filósofos. “É uma proposição que visa contribuir para uma cultura de mais afeto e trocas mais humanas em empresas, escolas e organizações de trabalho”, aponta.
Para ela, o novo livro chega como um bebê que nasce ou um velho amigo chegando de uma viagem longa. “Está aqui. Está aí. Para encontrar vocês. Uma nova etapa dessa aventura e eu estou animada”. O lançamento oficial foi em 14 de junho no Riocentro.
A apresentação do livro segue para São Paulo, Belo Horizonte e para a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip).
Jornada dos afetos
A jornada é de levar alegria para pacientes, famílias, enfermeiros, médicos e funcionários. “O livro é um mergulho investigativo. Examino como o encontro do humor com a dor, o desconforto e a morte possibilitaram o desvelamento da profundeza humana, suas fragilidades, potências e mistérios”, diz Tereza. Tudo o que guia sua carreira e revela sua grande paixão: as pessoas, suas histórias de vida e a possibilidade do encontro.
A narrativa não apenas explora a transformação pessoal da autora, como instiga o leitor a refletir sobre a autenticidade e os afetos em sua própria vida. Oferece a oportunidade de apreciar a beleza das experiências humanas e pensar sobre as conexões que tornam a existência mais significativa.
Sobre a autora
Tereza tem 38 anos, é atriz, musicista, professora e diretora teatral, além de especialista na palhaçaria, e uma artista premiada. Para ela, cada pessoa carrega um valor inestimável e uma história a ser honrada, uma expressão única. “A beleza da diversidade é divina e partilhar humanidades há de ser das experiências mais transformadoras que temos o privilégio de vivenciar. Não à toa, além de palhaça, inventei-me profissões novas: detetive de metrô, jardineira de humanidades, pescadora de afetos”.
(Com Lorena Cecília/Agência Guindaste)