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Projeto Especial da São Paulo Escola de Dança estreia ‘Rostos de Janus’ na Estação CCR das Artes

São Paulo, por Kleber Patricio

Foto: Silvia Machado.

A São Paulo Escola de Dança estreia ‘Rostos de Janus’, nos dias 30 e 31 de maio, às 19h, na Estação CCR das Artes, equipamento que faz parte do Complexo Cultural Júlio Prestes. O espetáculo, com coreografia de Vinícius Anselmo, é protagonizado pelos estudantes do Projeto Especial da SPED. A noite se completa com ‘E Assim Foi…’, de Anselmo Zolla, e a entrada é gratuita. Os ingressos estão sendo distribuídos neste link.

A obra mergulha na complexidade da identidade e do pertencimento, inspirando-se na figura mitológica de Janus e em teorias filosóficas e psicológicas sobre a dualidade entre o eu interior e o exterior. A coreografia alia mitologia e psicologia para investigar como a multiplicidade de papéis e personas molda a experiência humana. Janus é uma figura central na mitologia, representando o deus das mudanças, transições, começos e fins, e é frequentemente descrito com duas faces, uma que olha para o futuro e outra para o passado, simbolizando o dualismo inerente à existência. Já na psicanálise, pode ser interpretado como um arquétipo que representa a dualidade da mente humana, a capacidade de olhar tanto para o passado, quanto para o futuro, e de lidar com a tensão entre eles. Utilizando a técnica da dança contemporânea em diálogo com elementos clássicos e modernos, a obra incorpora conceitos de pensadores como Jacques Lacan (1901–1981) e Carl Jung (1875–1961) para traduzir ideias profundas por meio do movimento.

‘Rostos de Janus’ convida o público a refletir sobre a multiplicidade interna de cada indivíduo e as formas como diferentes facetas do eu se manifestam e se conectam no convívio coletivo. Vinícius Anselmo pontua que coreografar ‘Rostos de Janus’ foi uma experiência intensa e prazerosa. “Fiquei impressionado com o envolvimento e a paixão dos jovens estudantes da SPED, que mergulharam na criação. Foi um processo coletivo, em que cada um contribuiu com sua potência e história. A obra fala sobre dualidades — sentimentos opostos, tempos que se cruzam, o passado e o futuro convivendo num mesmo corpo. É sobre reconhecer que somos feitos de contrastes, e que isso nos fortalece como grupo e como indivíduos. Abraçamos o processo com entrega coletiva e construímos a obra com dedicação e presença”, afirma Vinicius.

A trilha sonora foi especialmente composta pelo instrumentista André Mehmari. “O tema central da música é a busca por um equilíbrio entre o piano acústico e a eletrônica. Toda a base da composição é sustentada pelo piano — único instrumento utilizado, tocado por mim —, mas esse som é transformado por meio de pedais, processamentos e intervenções no computador. O desafio foi justamente o de encontrar um ponto de equilíbrio entre essas duas forças, que muitas vezes parecem contrastantes. Também busquei criar momentos de forte contraste: trechos mais contemplativos e outros mais rítmicos, oferecendo ao coreógrafo uma paleta rica de possibilidades para a criação do movimento”, explica Mehmari.

No início do espetáculo, todos os bailarinos usam paletós pretos, indicando uma massificação dos indivíduos, e máscaras na nuca, para simbolizar a dualidade dos opostos. Durante a coreografia, eles vão tirando os paletós, como que se libertando de uma massificação em busca de uma individualidade. O conceito do figurino foi pensado pelo conceituado Fábio Namatame a partir da individualidade de cada bailarino. “Tentamos trazer uma personalidade e ao mesmo tempo uma neutralidade, para desenvolver estes personagens em busca de transformação e pertencimentos. As linhas são simples, com cores claras em tons de craft. Usamos materiais diversos para trazer o universo mais cotidiano e plural para esta coreografia”, indica o figurinista.

O projeto de iluminação de Marcel Rodrigues enfatiza a dualidade do tempo — passado e futuro coexistindo num mesmo corpo, em dois rostos, duas visões, ou seja, a luz como um portal de transição, revelando camadas de tempo, identidade e movimento. “Usamos contrastes entre cores quentes e frias, luz e sombra, diferentes texturas, criando uma atmosfera em que as diferenças coexistem no mesmo espaço. É uma luz que potencializa o ambiente e amplia a dramaturgia, ajudando a contar a história e a fortalecer a mensagem do movimento”, observa o iluminador.

A obra ainda poderá ser vista em diferentes locais, como o Masp, durante a Semana Paulista de Dança, na Fábrica de Cultura de Brasilândia, na Capital, e também no interior do Estado, em cidades como Bauru e Diadema.

E ASSIM FOI…. | A noite se completa com ‘E Assim Foi…’, de Anselmo Zolla, também criada especialmente para o Projeto Especial da SPED. Com dramaturgia assinada por Andrea Cavinato, a coreografia é uma fábula contemporânea que apresenta dois grupos de seres humanos que habitam a grande floresta e, a partir do encontro de jovens, um de cada grupo, rompem-se tabus, interditos e tradições de seus respectivos círculos sociais, aproximando as duas comunidades. As descobertas de suas diferenças e semelhanças ocorrem em etapas, na alternância dos ciclos de suas rotinas, festas e rituais. A aproximação dos grupos os faz esquecer dos medos impostos e, ao se tocarem, acontece a grande transformação.

A trilha sonora de Joaquim Tomé com locução de Tuna Duwek serve como fio condutor da coreografia em formato de prosa poética musicada, oferecendo uma perspectiva que tem o intuito de pontuar os personagens no desenvolvimento da história, criando o reconhecimento sobre os dois grupos que se encontram e se descobrem. A obra traduz em movimento a essência de diferentes vivências e tradições que coexistem e se transformam no encontro com o outro. “Apresentar esses dois trabalhos na Estação CCR das Artes é uma oportunidade valiosa de ampliar os horizontes formativos dos nossos estudantes e, ao mesmo tempo, de aproximar o público da potência criativa destes movimentos. ‘Rostos de Janus’ e ‘E Assim Foi…’ são obras que refletem, cada uma à sua maneira, questões fundamentais sobre identidade, convivência e transformação — temas que dialogam diretamente com o espírito do nosso tempo”, fala Inês Bogéa, diretora artística e educacional da São Paulo Escola de Dança. 

‘Rostos de Janus’ é um projeto contemplado na Política Nacional Aldir Blanc, via edital Fomento CultSP ProAC Nº23/2024  —  Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas.

PROJETO ESPECIAL | Dentre as ações desenvolvidas pela São Paulo Escola de Dança, destaca-se o Projeto Especial, formado por estudantes dos Cursos Regulares, selecionados por meio de edital próprio, que vivenciam a formação do grupo a cada semestre como bolsistas. Essa iniciativa objetiva a inserção dos estudantes no mundo do trabalho por meio de coreografias próprias do repertório da escola para a participação em eventos extraordinários às atividades curriculares. A rotina do grupo consiste em uma série de ensaios e encontros contínuos, acompanhados por um docente — ou profissional da dança convidado, em processos de montagens específicas para apresentações.

Além de ‘Rostos de Janus’ e ‘E Assim Foi…’, o grupo já protagonizou o espetáculo ‘Cartas de Amor’, composto por cinco coreografias, de cinco diferentes artistas — Claudia Palma, Vinícius Anselmo, Kátia Barros, Sérgio Rocha e Leilane Telles —, uma obra que aborda o reconhecimento de si diante da partida de uma pessoa amada. O programa é composto por: ‘Mergulho’, de Sérgio Rocha; ‘Lamento de Orfeu’, de Kátia Barros; ‘O Último Beijo’, de Vinícius Anselmo; ‘Aqua’, de Cláudia Palma; e ‘O Samba de Orfeu’, de Leilane Teles.

Entre os espaços de apresentações, destacam-se aberturas de espetáculos da São Paulo Cia. de Dança em Fábricas de Cultura e apresentações no MASP.

Serviço:

Estreia: Dias 30 e 31 de maio, às 19h, na Estação CCR das Artes, Complexo Júlio Prestes – Praça Júlio Prestes, 16, Campos Elíseos

Ingressos pelo site da Sala São Paulo.

(Com Elara Leite/Assessoria de Imprensa São Paulo Escola de Dança)