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‘Pops e Rebeldes’ resgata arte que questiona censura, repressão e violência da ditadura

São Paulo, por Kleber Patricio

Zélio Alves Pinto – Conspiração – nanquim sobre cartão, 1965 – 49x66cm. Foto: Divulgação.

Nada é tão atual hoje em dia como a produção artística contemporânea do Brasil dos anos 60 e 70. É com esse leitmotif que a Galeria Berenice Arvani inaugura a exposição Pops e Rebeldes, com curadoria de Celso Fioravante, composta por obras de uma geração que criou a arte pop brasileira, a Nova Figuração, consagrada a partir da exposição Opinião 65 no MAM Rio. A mostra fica aberta para a visitação até o dia 5 de maio de 2025, de segunda a sexta, das 10h às 19h.

“Vejo a Nova Figuração como um dos movimentos mais intensos da arte brasileira, uma resposta crítica ao abstracionismo ao mesmo tempo que se manifestava sobre dilemas sociopolíticos da década de 60. Os artistas ‘Pop e Rebeldes’ da época marcaram uma identidade visual que influencia gerações de outros artistas até hoje”, explica Berenice Arvani.

Judith Lauand, Título: ‘Até a Morte’, Acervo 317, Acrílica sobre Tela, 1969, 105x70cm. Foto: Divulgação.

Celso Fioravante é quem assina a curadoria e acrescenta que os “artistas locais exibiram uma nova imagem do país, um Brasil com sangue nas veias, que grita, moldada a partir de questionamentos a fatos perversos, como a censura, a repressão e a violência impostas pela ditadura de 1964. Além disso, deglutiram movimentos artísticos como o construtivismo, a arte popular e o expressionismo”.

Uma rebeldia pop que ainda é atual

A arte produzida por esses artistas considerados pela galerista e pelo curador como pops e rebeldes é disruptiva e terreno de resistência. Ela protesta e afirma em seu vocabulário de imagens que amor, prazer, política e arte são revolucionários e estarão sempre aqui. São eles:

Antonio Henrique Amaral: conhecido por sua série ‘Bananas’, onde utiliza a figuração para expressar críticas ácidas ao regime político e à repressão da época.

Décio Noviello: artista e designer gráfico, destacou-se pela fusão entre a arte e a comunicação visual, criando obras de forte impacto estético e social.

Glauco Rodrigues: trouxe para suas telas um olhar irônico e colorido sobre a identidade brasileira ressignificando símbolos nacionais com um viés crítico.

Inácio Rodrigues: explorou a relação entre a figuração e o abstrato utilizando cores vibrantes e composições dinâmicas para expressar sua visão de mundo.

Irmgard Longman: trouxe uma abordagem singular para a arte pop brasileira combinando elementos geométricos e figurativos para criar uma estética sofisticada e impactante.

Judith Lauand: transcendeu o concretismo ao incorporar novas experiências visuais, tornando-se uma das grandes expoentes da arte brasileira.

Maurício Nogueira Lima: um dos grandes nomes da arte concreta, mas também transitou pela Nova Figuração explorando a interação entre cor, forma e comunicação visual.

Nelson Leirner: conhecido por sua ironia e crítica contundente ao mercado de arte e à cultura de consumo, utilizando ready-mades e objetos cotidianos em suas obras.

Rubens Gerchman: um dos principais nomes da Nova Figuração, trazendo para suas obras um diálogo direto com a sociedade, a política e a linguagem da propaganda.

Teresa Nazar: artista argentina radicada no Brasil, incorporou elementos surrealistas à sua produção criando imagens oníricas e repletas de simbolismo.

Tomoshigue Kusuno: de origem japonesa, imprimiu sua influência oriental na arte pop brasileira criando uma estética diferenciada e de forte impacto visual.

Victor Gerhardt: explorou temas urbanos e sociais em suas obras trazendo uma abordagem crítica e inovadora para a figuração brasileira.

Zélio Alves Pinto: transitou entre a arte plástica e o cartum utilizando um traço ágil e expressivo para retratar a sociedade com humor e perspicácia.

A Nova Figuração Brasileira

Nelson Leirner – técnica mista – década de 70 – 100x155cm. Foto: Divulgação.

Surgido nos anos 60, o movimento Nova Figuração rompeu com a abstração predominante e trouxe de volta a imagem figurativa, mas, dessa vez, de forma reinventada, agressiva e crítica, principalmente à ditatura militar que comandou o país de 1964 a 1985.

Inspirados pela pop art, pelo expressionismo e pela cultura de massa, os artistas desse movimento criaram obras vibrantes e provocativas, utilizando colagem e abusando da apropriação de imagens e iconografia urbana para abordar temas como consumo, censura, política e identidade nacional.

O movimento ainda é chamado de Pop Art Brasileira; porém, a conexão se limita apenas a influências de forma, estética e linguagem, pois a versão americana do movimento tem muito pouco posicionamento político-ideológico, concentrando suas críticas mais diretamente à sociedade de consumo.

Serviço:

Exposição Pops e Rebeldes

Curadoria: Celso Fioravante

Exposição: até 5 de maio

Dias e horários de visitação: segunda a sexta, das 10h às 19h

Local: Galeria Berenice Arvani

Endereço: Rua Oscar Freire, 540, Jardins

Tel.: (11) 3082-1927

Site: www.galeriaberenicearvani.com

Instagram: @galeriaberenicearvani.

(Com Antonio Montano/Agência Vetor.am)