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Paço Imperial apresenta exposição “Jaula”, do artista carioca Daniel Lannes

Rio de Janeiro, por Kleber Patricio

“Pamelão”, 2022 | Daniel Lannes.

O Paço Imperial apresenta a exposição “Jaula”, do artista carioca Daniel Lannes, com curadoria e texto crítico de Lilia Schwarcz, de 20 de julho a 23 de outubro de 2022.

Daniel Lannes nasceu em Niterói em 1981, e vive e trabalha em São Paulo. O artista é mestre em Linguagens Visuais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2012) e Bacharel em Comunicação Social pela PUC-Rio (2006).

Lannes protagonizou exposições em grandes instituições nacionais e internacionais, como as individuais ‘Pernoite’, na Galeria Kogan Amaro, São Paulo (2020), ‘A luz do fogo’, na Magic Beans Gallery, Berlim (2017), ‘Republica’, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (2011), e ‘Midnight Paintings’, no Centro Cultural São Paulo (2007).

A exposição conta com a produção recente do artista, marcada por pinturas a óleo que retratam hipóteses históricas do Brasil através de uma perspectiva subjetiva e transfigurada. Lannes foi vencedor do Prêmio Marcantonio Vilaça, o mais importante prêmio de Artes Visuais do país, e teve uma tela adquirida para o acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo neste ano.

Suas obras integram importantes coleções como do Museu de Arte do Rio de Janeiro (MAR), Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM), Instituto Figueiredo Ferraz, Ribeirão Preto, entre outros.

‘Jaula’ (Lilia Moritz Schwarcz)

‘Jaula’, a nova exposição do consagrado artista carioca, Daniel Lannes, é um convite a um passeio devidamente desviado pelas tintas que interferem e alteram o documento oficial. Nas pinturas aqui apresentadas, a história serve de pretexto para novas traduções políticas e sociais, realizadas com um traço poderoso e apurado senso plásticos e estéticos. Trata-se, assim, de uma “contra história visual” desse país que recriou seu passado sob o signo da concórdia e da harmonia. Uma monarquia tropical e depois uma república que escondiam seus alicerces: a permanência do escravismo e depois da desigualdade. Por isso, os pincéis de Lannes, borram, esfumaçam e confundem.

‘Jaula’ também desestabiliza o retângulo mágico da pintura; as limitações que a tela branca impõe, seus constrangimentos espaciais e possibilidades imaginativas. Muitas vezes imensas, as pinturas de Daniel Lannes se recusam a se confinarem aos espaços a elas originalmente destinados. Vazam sempre e dessa maneira desconcertam.

‘Jaula’ homenageia, ainda, no mesmo movimento que traduz e atualiza, a janela renascentista, com a retomada dos modelos clássicos, da visão subjetiva e ao mesmo tempo racional, feitas das linhas da geometria e da proporção racional presentes nas obras. A figuração aqui engana a jaula, pois deturpa, decompõe, desalinha.

‘Jaula’ é igualmente uma metáfora para pensar no lugar do Museu, essa instituição das artes que inova, mas também regula; abre-se para o novo ao mesmo tempo em que canoniza e torna rotina.

‘Jaula’ é por fim uma referência ao “cubo branco”, uma crítica sensível ao lado opressivo e ao caráter racista da história e da crítica de arte brasileiras, bem como ao perfil de monumentalização que ganham as exposições produzidas no país e que acabam por construir uma história da arte ainda muito colonial, europeia e masculina. Nesse sentido, ‘Jaula’ é a Casa Grande, o trono dos monarcas e seu dossel, a postura dos dominantes, as próprias amarras e utopias que conformam esse país. ‘Jaula’ é nossa limitação cultural, nossa tentativa de racializar o outro e de entender a branquitude como universal. É essa democracia brasileira incompleta, que diz incluir quando exclui, secularmente.

Já o trabalho de Daniel Lannes, como seus pinceis irreverentes – esteticamente sedutores –, entra em todas essas estruturas para delas sair: desmonta, desorganiza, inverte. O artista relê por dentro essa história potencial, que se inscreve pela contraposição, por ironia fina, através de uma arte que domina o traço e as técnicas acadêmicas, mas que dá a eles um outro destino. Invade a Jaula.

Serviço:

‘Jaula’ – Daniel Lannes

Quarta-feira, 20 de julho

12 às 18 horas

Paço Imperial – Rio de Janeiro

Praça XV de Novembro, 48

Entrada gratuita

Visitação:

20 de julho a 23 de outubro de 2022

Terça a sexta, 12 às 18 horas

Finais de semana e feriados, 12 às 17 horas.

(Fonte: Olivia Tavares)