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Mostra ‘Grassmann Presente – 100 Anos de Marcelo Grassmann’ apresenta gravuras e desenhos no Instituto Pavão Cultural, na Cidade Universitária

Campinas, por Kleber Patricio

Obra de Marcelo Grassmann (1925-2013) no Instituto Pavão Cultural. Fotos: Reprodução.

O artista gráfico Marcelo Grassmann (1925–2013) comemoraria 100 anos em 2025 e, para celebrar tal ocasião, foi elaborada uma extensa programação, com organização do Núcleo de Estudos Marcello Grassmann, associação sem fins lucrativos que preserva a memória e divulga a obra do artista nascido em São Simão, no interior de São Paulo. A mostra ‘Grassmann Presente – 100 Anos de Marcelo Grassmann’ abre no dia 24 de abril de 2025 (quinta-feira), às 19h, no Instituto Pavão Cultural, na Cidade Universitária, em Campinas, no interior de São Paulo. A curadoria é do artista visual e professor Sérgio Niculitcheff e a organização fica, por conta do Gabinete de Estampas da Unicamp e do Instituto Pavão Cultural. Serão apresentados 44 gravuras e desenhos que contemplam, majoritariamente, figuras de seres humanos e seres alados. As obras pertencem à coleção do Gabinete de Estampas da Unicamp, que tem cerca de 4 mil peças no total.

“Detentor de uma riquíssima produção, imersa em uma iconografia singular recheada de criaturas míticas; guerreiros, donzelas e animais; evolui nessa temática. As cenas idealizadas são compostas com uma aura de estranhamento, onde estão presentes figuras instigantes ambientadas em um clima incerto, um ‘não lugar’ sublime e atemporal. Estas imagens suscitam uma atmosfera lírica e misteriosa que nos remete a cenas medievais, proporcionadas pela delicadeza da gestualidade de seu traço expressivo”, afirma Sérgio Niculitcheff em seu texto crítico da mostra.

Obra de Marcelo Grassmann (1925-2013) no Instituto Pavão Cultural.

O primeiro evento das comemorações do centenário é a mostra ‘O Gabinete de Marcelo Grassmann’, com curadoria de Luiz Armando Bagolin, que segue até 25 de maio de 2025 no Museu Lasar Segall (Ibram/MinC), no bairro da Vila Mariana, em São Paulo.

Belo Horizonte, São Simão e São Paulo

Posteriormente, acontecem as exposições ‘Centenário Marcello Grassmann e homenagem de Rubens Matuck ao mestre amigo’ – Festival de Inverno, em julho, no Centro Cultural UFMG – Sala Renato de Lima, em Belo Horizonte; na Casa de Cultura Marcelo Grassmann, em São Simão, no interior de São Paulo e, para finalizar, ambas em setembro no loft do Pedro Hiller – o maior colecionador de obras do Marcelo Grassmann, em São Paulo.

Sobre o artista

Marcelo Grassmann nasceu em São Simão, no estado de São Paulo, no ano de 1925. Sétimo filho dos nove que a professora D. Elpídia de Lima Brito teve com seu marido Otto Grassmann. A família permanece na cidade até 1932, quando se muda para a capital, São Paulo. Chegando em janeiro, acompanharam toda a movimentação da Revolução Constitucionalista até mesmo os bombardeios ao Campo de Marte, fundos da casa da família na Rua Voluntários da Pátria, Zona Norte da cidade.
Permaneceram em Santana até a transferência de D. Elpídia para Vila Clementino, entre 1934 e 35. Marcello, neste período, dividia a escola com as revistas em quadrinhos e olhava do alto o fim da rua para o vale por onde passava o bonde Santo Amaro, com o matagal ladeando a passagem.

Obra de Marcelo Grassmann (1925-2013) no Instituto Pavão Cultural.

Nessa ocasião já reconhecia quase todos os desenhistas das histórias em quadrinhos publicadas na época. Marcello diz que sua obsessão não era tanto pelas histórias, mas pelos vários estilos em que os desenhos eram feitos: “Ainda em São Simão ficávamos fascinados pelas imagens e histórias do Tesouro da Juventude. Então apareceram os suplementos infantis, algumas tentativas nacionais de desenhos tipo Tico-Tico, que eram historietas baseadas em protótipos europeus e americanos, porém com uma temática nacional, e nesta salada de estilos e figuras imaginativas, a criança que fui ficava fascinada pela movimentação das imagens”.

Uma transferência de D. Elpídia levou a família para um novo endereço, Rua Cônego Eugênio Leite, zona oeste da cidade, a dois quarteirões do Cemitério São Paulo, no ano de 1938. Os caminhos do menino passavam por onde ficavam as oficinas dos escultores de túmulos e, mesmo, dentro do cemitério, onde uma miscelânea de esculturas desde Victor Brecheret até os acadêmicos mais chatos foram parte da sua formação. A mãe, professora, conhecia o diretor do Instituto Profissional Masculino, onde havia os cursos de orientação profissional para jovens que tivessem acabado o primário e começassem a procura de uma carreira ou aprendizado, técnico ou artístico. Como não havia um curso de escultura propriamente dito, Marcello opta pelo entalhe, que na época lhe pareceu mais próximo. Furtivamente, frequentava as aulas de pintura e escultura. Deste período ficaram os amigos Octavio Araújo e Luís Sacilotto.

Terminado o Instituto, formado e desempregado. O desencontro entre o ensino e a realidade da profissão de entalhador deixaram Marcello com uma nova procura, a expressão artística, conjuntamente com a ampliação de interesses. De 1939 a 1942, duas exposições marcam os jovens egressos do Instituto Profissional Masculino: artistas franceses impressionistas, modernos, contemporâneos e românticos, na segunda pintura abstrata. Nesta altura, os jovens já têm contato pessoal com artistas do modernismo brasileiro: Bonadei e Flávio de Carvalho. A década de quarenta avança, trazendo a primeira exposição no Rio de Janeiro. Em 1949, muda-se para esta cidade, onde frequenta as aulas de Henrique Oswald. Em uma individual sua, conhece pessoalmente Oswaldo Goeldi, de quem admirava o trabalho desde os tempos do Instituto, quando via suas ilustrações para o Suplemento Literário do jornal A manhã, do Rio de Janeiro.

Obra de Marcelo Grassmann (1925-2013) no Instituto Pavão Cultural.

1951 chega, os jovens Marcello, Aldemir (Martins) e Franz (Franz Krajcberg) trabalham como operários na montagem da primeira Bienal de São Paulo participando também com suas obras, e a Marcello é dedicado o prêmio aquisição. Finda a Bienal, segue para a Bahia com Mario Cravo, que conhecera no evento, esperando por eles algo como vinte pedras litográficas, presente ao artista baiano, de Cicillo Matarazzo. Conhecedor dos rudimentos desta arte, aprendida com Poty em 49 no Liceu do Rio de Janeiro, mesmo sem prensa, as pedras são usadas e impressas com colher, como xilogravuras.

1954. Quando finalmente chega o dinheiro da bolsa, ganha em 1952 no Salão Nacional, segue para o velho continente. Quarenta litografias, dois cadernos e dois anos depois volta ao Brasil. Mora em Santo Amaro, próximo ao Cemitério Campo Grande. Lá, Marcello desenvolve a maior parte de sua obra de desenhista e gravador. Forma dois irmãos impressores, Otto (falecido) e Roberto. Participa de outras Bienais nacionais e internacionais, expõe também dentro e fora do país. Em 1979 é inaugurada a Casa de Cultura Marcello Grassmann, onde moravam seus avós em São Simão. Muda-se para sua chácara na grande São Paulo em meados dos anos oitenta.

Várias são as exposições, individuais e coletivas, neste período. Reconhecido como o mais proeminente gravador e desenhista nacional, corre o mundo com seus trabalhos.
Na Pinacoteca do Estado de São Paulo está o maior conjunto de suas gravuras, compradas em 1969 pelo governador Abreu Sodré. Destacam-se as exposições em comemoração aos 25 anos de gravura no MAM/SP (1969), 40 anos de gravura, Pinacoteca do Estado de São Paulo (1984). O mundo Mágico de Marcello Grassmann em comemoração aos seus 70 anos, MASP \ SP (1995). Marcello Grassmann, desenhos. Instituto Moreira Salles, SP/RJ/MG (2006). Sombras e sortilégios, MON/Curitiba, PR (2010). Segue trabalhando até sua morte, em junho de 2013.

Sobre o Núcleo de Estudos Marcello Grassmann

Obra de Marcelo Grassmann (1925-2013) no Instituto Pavão Cultural.

Marcello Grassmann é reconhecido como um dos protagonistas das artes gráficas no Brasil; assim exemplificam os muitos prêmios que lhe foram atribuídos nos mais de 70 anos de atividade. Estudá-lo, significa, portanto, dar visibilidade a uma parte significativa da arte brasileira: a gravura e o desenho. A obra grassmanniana se faz presente em museus brasileiros, internacionais e coleções particulares, e uma parcela dela permaneceu em propriedade do artista durante toda sua vida. São estes os que chamamos de ‘os Grassmanns de Marcello’.

Esse singular acervo foi legado a Ana Elisa (Zizi) Baptista, gravadora e companheira do artista por 17 anos, que decidiu não apenas preservá-lo, mas também ampliá-lo por meio de aquisições, totalizando aproximadamente 1000 obras, incluídos também entalhes, matrizes, ferramentas e objetos pessoais, além da biblioteca particular do artista e livros com referências a este e sua geração.

O ‘Núcleo’ é uma instituição sem fins lucrativos e tem como objetivos preservar a memória do artista, promover a pesquisa da obra grassmanniana por meio de mesas de estudo, debates, gravação de entrevistas, como também a difusão de seu acervo por meio da publicações de livros e exposições, cumprindo um importante papel às artes gráficas brasileira. https://www.nucleomarcellograssmann.org.br

Sobre a coleção

O Gabinete de Estampas: Departamento de Desenhos e Gravuras da Unicamp é um espaço de salvaguarda e pesquisa da coleção de gravuras do Instituto de Artes da Unicamp em parceria com a Biblioteca Central César Lattes, localizada na Universidade Estadual de Campinas. O Gabinete de Estampas teve suas origens no Centro de Pesquisa em Gravura (CPGravura) do Instituto de Artes, em 1997, com apoio da Fapesp. O centro construiu um acervo ao longo de seus vinte anos de existência, possuindo obras de relevantes artistas brasileiros que figuram no cenário artístico contemporâneo.

Obra de Marcelo Grassmann (1925-2013) no Instituto Pavão Cultural.

Hoje, a coleção do Gabinete que incorpora o acervo do CPGravura conta com ampliações por meio da aquisição da coleção de gravuras de Marcello Grassmann (apoio Fapesp) e a recente doação realizada pelo Ateliê Glatt Ymagos de São Paulo, bem como doações particulares disponibilizadas pelos próprios artistas e/ou colecionadores, totalizando cerca de 800 gravuras em sua coleção. O Gabinete de Estampas busca ser um espaço de encontros que mobiliza diversas áreas de conhecimento nos seus processos de preservação, conservação, pesquisa e educativo, difusão e exposição, sendo um ponto de encontro entre as artes, a história, a filosofia, a educação, a Museologia e a curadoria, envolvendo o público interessado e expandindo-se para a comunidade. https://www.iar.unicamp.br/gabinetedeestampas/

Sobre o espaço | O Instituto Pavão Cultural é uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos dedicado a exposições e projetos culturais voltados para artes visuais, artes cênicas, arquitetura, música e atividades educativas para crianças, jovens e adultos. Aberto em março de 2019, o espaço permite várias possibilidades de interação e estrutura para receber manifestações artísticas, culturais, de vivência e lúdicas. Conta também com equipe de expografia, montagens, visitas mediadas e oficinas artísticas. Com o objetivo de facilitar o acesso ao acervo de realizações, ele é disponibilizado permanentemente aqui, com imagens, memórias e novas leituras. Também busca um caminho mais diverso e inclusivo, com propostas que contemplem a comunidade local e virtual. https://pavaocultural.org.br/

Serviço:

Centenário Marcello Grassmann

Mostra Grassmann Presente –  100 Anos de Marcelo Grassmann

Curadoria: Sergio Niculitcheff

Organização: Gabinete de Estampas da Unicamp e Instituto Pavão Cultural

Abertura: 24 de abril de 2025 (quinta-feira), às 19h

Visita: 24 de abril a 31 de maio de 2025 | Quarta e quinta, 15h às 19h; sexta e sábado, 15h às 20h

Quanto: gratuito e livre

Local: Instituto Pavão Cultural

Rua Maria Tereza Dias da Silva, 708 – Cidade Universitária, Campinas – SP

Tel: (19) 99633-4104

E-mail: anagau@unicamp.br

Site: https://www.iar.unicamp.br/gabinetedeestampas/

Redes sociais:

Núcleo de Estudos Marcello Grassmann @nucleomarcellograssmann

Zizi Baptista @zizibaptista

Sergio Niculitcheff @sergioniculitcheff

Gabinete de Estampas @gestampas

Pavão Cultural @pavaocultural.

(Com Erico Marmiroli/Marmiroli Comunicação)