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Mestre Luiz Paixão celebra 60 anos de carreira com novo álbum “Forró de Rabeca”

São Paulo, por Kleber Patricio

Fotos: Mateus_sa.

Mestre Luiz Paixão tem 72 anos de vida e 60 dedicados à rabeca e sua carreira pode ser considerada um ponto de encontro entre passado e futuro: aprendeu com a tradição familiar e os mestres da Zona da Mata Norte de Pernambuco e, mais tarde, influenciou uma nova geração de artistas nordestinos, que (re)colocaram a rabeca na indústria fonográfica e renovaram o interesse pelo instrumento para além dos limites regionais. O álbum Forró de Rabeca, lançado agora pelo Selo SESC, traz, por um pedido do próprio mestre, esse diálogo entre gerações: reúne seus antigos companheiros de cavalo-marinho da Zona da Mata Norte – festa popular que mistura música, dança e encenação – e os jovens músicos que o acompanham em suas turnês internacionais. Também participam das gravações dois de seus discípulos, os músicos, cantores e compositores Renata Rosa e Siba Veloso. Completa o lançamento um videoclipe da faixa-título do álbum Forró de Rabeca, dirigido pelo fotógrafo Mateus Sá e gravado com o Luiz Paixão na cidade pernambucana de Condado, onde o mestre é residente e símbolo da arte da rabeca.

Para João Selva, produtor e diretor artístico do álbum, Luiz Paixão, como mestre das tradições populares, guarda e transmite saberes dessas manifestações, mas ao mesmo tempo “ele é um musico inventivo e virtuoso, sempre curioso por coisas novas. De fato, ele é muito aberto musicalmente e a idéia desse trabalho era mostrar essa versatilidade”, coloca.

O disco digital tem 14 faixas, entre instrumentais e canções, e reúne as composições preferidas do mestre rabequeiro. Na lista das autorais de Luiz Paixão estão Samba da Santa, Baião Arrochado, Farol de Olinda e a faixa-título Forró de Rabeca, single lançado em 12 de junho. Há também as escritas em parceria com os músicos que o acompanham nesta longa trajetória de festas populares, como Forró do Cambiteiro (com Guga Santos e Stef Pai Véio), Menina Linda e Samba das Rabecas (ambas com Mina), Dona Maria o Coco é Redondo (com Sidraque) e Ciranda da Macaxeira (com Guga Santos), em versão com Siba no vocal e lançado em formato de single no final de maio.

O álbum Forró de Rabeca traz um repertório de ritmos e tradições prontinho para embalar as festas populares pelo país, incluindo as juninas, mesmo que este ano ainda sejam virtuais por conta da pandemia, e o seu lançamento em 24 de junho, dia de São João Batista, o Santo Festeiro, não poderia ser mais apropriado. Entre os temas de domínio público muito conhecidos de quem frequenta as sambadas, mas até hoje pouco gravados, estão Amor Amor Amor, instrumental que conta com a participação de Renata Rosa (rabeca) e lançado em abril como single de abertura, Pé de lírio, Trupê do Cavalo, Urro do Boi e o coco de roda Maria Pequena, única faixa do álbum em que Mestre Luiz Paixão também canta e é um dos destaques do álbum.

Mestre Luiz Paixão (rabeca) tem a companhia dos músicos Rodrigo Samico (violão 7 cordas, cavaco, baixo e guitarras), Guga Santos (caixa, ilú, pandeiro, surdo e tamancos), Mina (pandeiro, bage, ganzá e voz), Leandro Silva (bombo, pandeiro, surdo, tamancos e zabumba), Stef Pai Véio (ganzá, maracás, pandeiro e tamancos), Sidraque (bage, ganzá, triângulo e voz), Maíca (bage e voz) e João Selva (voz) como a banda base do álbum. E ainda um coro formado por todos esses músicos.

Forró de Rabeca foi gravado em abril de 2020, bem no início da pandemia, no Estúdio Gargolândia, em São Paulo. A boa estrutura permitiu gravar as canções “em situação ao vivo”, com todos os músicos tocando juntos, revela o produtor João Selva. “Em seguida, completamos com o coro, cordas e percussão adicionais”. O formato adotado serviu para preservar a espontaneidade e a energia que movem a musicalidade de Seu Luiz, mas sem perder a possibilidade de retrabalhar o som de uma maneira ousada e contemporânea. “É um disco de música contemporânea ‘enraizado’, com tratamento estético atual graças ao trabalho minucioso de Gilberto Monte”, completa.

Considerado um instrumentista virtuoso, Mestre Luiz une no seu toque da rabeca precisão, leveza e agilidade, marcando seu estilo, que já fez o renomado violonista francês Didier Lockwood (1956-2018) apelidá-lo de “Paganini da Rabeca”. Fugindo à regra de tocadores, Luiz Paixão também é um compositor imaginativo, dedicado principalmente à criação de forrós (o grande balaio onde cabem baiões, xotes, sambas e marchas), e deu vida a melodias elaboradas e expressivas, com um efeito infalível sobre quem as escuta. Neste álbum, ele também surpreende ao cantar em uma das faixas, Maria Pequena. “Tradicionalmente, ele não canta, ele acompanha, mas ele se permitiu experimentar esse papel de cantor e foi especial para o trabalho”, diz João Selva.

Repertório

1 – Samba da Santa (Luiz Paixão)

2 – Pé de lírio (domínio público)

3 – Forró de Rabeca (Luiz Paixão)

4 – Maria Pequena (domínio público)

5 – Baião Arrochado (Luiz Paixão)

6 – Amor Amor Amor (domínio público)

7 – Forró do Cambiteiro (Guga Santos, Stef Pai Véio e Luiz Paixão)

8 – Samba das Rabecas (Mina e Luiz Paixão)

9 – Ciranda da Macaxeira (Guga Santos e Luiz Paixão)

10 – Dona Maria o Coco é Redondo (Sidraque e Luiz Paixão)

11 – Menina Linda (Mina e Luiz Paixão)

12 – Farol de Olinda (Luiz Paixão)

13 – Trupê do Cavalo (domínio público)

14 – Urro do Boi (domínio público)

Tradição | Luiz Paixão vem dos canaviais da Zona da Mata Norte de Pernambuco. Mestre rabequeiro e ícone da cultura nordestina, está em andamento sua candidatura para Patrimônio Vivo de Pernambuco, em reconhecimento aos seus saberes. Filho de agricultores e de família de músicos, Luiz Paixão (1949-), que carrega o sobrenome artístico do avô Severino Paixão, também tocador do instrumento, começou a trabalhar aos oito anos de idade cortando cana-de-açúcar e a troco de uma galinha conseguiu a sua primeira rabeca.

Durante quatro décadas, conciliou o trabalho no campo com as noites puxando toadas e baianos e solando em grupos de forró. Segundo ele mesmo conta, muitas vezes passava o final de semana sem dormir embalado pelo som da rabeca. Aos 15, foi escolhido pelo lendário Mestre Batista para integrar o banco do Cavalo Marinho Boi Brasileiro. Décadas mais tarde, herdou o brinquedo e o mantém vivo até hoje.

Em 1998, sua vida tomou novo rumo. Luiz Paixão saiu do anonimato graças ao movimento Mangue Beat e a músicos como Renata Rosa e Siba Veloso. Com esse incentivo, “abandonou o campo” carregado de seu conhecimento profundo do Coco de Roda, do Cavalo Marinho, da Ciranda e do Forró e passou a empunhar sua rabeca em palcos, festivais, cursos e oficinas no Brasil e exterior.

Hoje é conhecido e reconhecido como instrumentista virtuoso na Europa, particularmente na França, onde costuma se apresentar com frequência. Também se tornou objeto de estudos internacionais de Etnomusicologia e é considerado uma das principais referências na arte da rabeca brasileira.

Entre os discos gravados, destaque para o autoral Pimenta com Pitú e Zunido da Mata (2002), este de Renata Rosa. Mestre Luiz Paixão é um patrimônio vivo que carrega em si a musicalidade dos canaviais da zona da mata pernambucana.

Mestre Luiz Paixão está no auge da sua arte. Esse segundo disco vem, portanto, coroar uma vida dedicada à rabeca e demonstrar sua versatilidade como músico, capaz de reinterpretar com maestria melodias ancestrais e apto a expressar sua musicalidade desconcertante em composições inéditas.

Parcerias Renata Rosa e Siba Veloso | Renata Rosa conheceu Luiz Paixão no início dos anos 1990 e logo ele se tornaria seu mestre no instrumento. Em 2002, Luiz Paixão é convidado a participar da gravação do primeiro álbum da cantora, compositora e rabequeira, Zunido da Mata, e, três anos depois, é ela quem produz o primeiro registro fonográfico do mestre da Zona da Mata Norte pernambucana, o CD Pimenta com Pitú. A parceria ganhou os palcos brasileiros e internacionais.

Em 1991, o encontro entre Siba Veloso e Mestre Luiz Paixão transformaria a vida dos dois músicos. Mestre Luiz já era reconhecido na região da Zona da Mata Norte pernambucana, onde vive, pela habilidade no instrumento quando conheceu o jovem recifense e estudante de música da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). O impacto da música produzida por Luiz e seus companheiros foi tão grande que influenciou a carreira artística e profissional de Siba, que logo criaria a banda Mestre Ambrósio. Por outro lado, Siba foi um dos responsáveis pela renovação do interesse pelo instrumento para além dos limites da mata norte pernambucana. Três décadas depois, o mestre rabequeiro Luiz Paixão pode ser considerado uma das principais referências para a geração de músicos nordestinos surgidos a partir do movimento mangue beat e seu trabalho, admirado por diversos públicos do Brasil e exterior, também é tema de pesquisa de estududiosos e artistas mundo afora.

Ficha técnica

Rabeca e voz: Luiz Paixão

Violão 7 Cordas, cavaco, baixo e guitarras: Rodrigo Samico

Caixa, ilú, pandeiro, surdo e tamancos: Guga Santos

Pandeiro, bage, ganzá e voz: Mina

Bombo, pandeiro, surdo e zabumba: Leandro Silva

Ganzá, maracás, pandeiro e tamancos: Stef Pai Véio

Bage, ganzá, triângulo e voz: Sidraque

Bage e voz: Maíca

Voz: João Selva

Coro: Guga Santos, Leandro Silva, Mina, Sidraque, Stef Pai Véio, Maíca e Renata Rosa

Participações especiais: Renata Rosa e Siba

Direção artística, produção musical e arranjos: João Selva

Gravação, coprodução musical e mixagem: Gilberto Monte

Assistente de gravação: Alisson Vines

Masterização: Felipe Tichauer

Produção executiva: Scubidu Music

Diretor de produção: Flávio de Abreu

Fotos: Mateus Sá

Projeto gráfico: Nilton Andrade Bergamini e Alexandre Calderero Lamonato

Gravado em abril de 2020 no estúdio Gargolândia-SP

Mixado entre junho e julho de 2020 em São Paulo-SP

Masterizado em agosto de 2020 no estúdio Red Traxx Mastering, Miami USA.

Serviço:

Selo SESC lança o álbum Forró de Rabeca de Mestre Luiz Paixão

No SESC Digital e nas demais plataformas de streaming a partir de 24 de junho

Videoclipe “Forró de Rabeca” no canal do Selo SESC no Youtube a partir de julho. Para conferir, clique aqui.

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