O MASP – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand apresenta, de 22 de março a 9 de junho de 2024, a mostra “Mário de Andrade: duas vidas”, que ocupa o mezanino localizado no 1º subsolo do museu. Com curadoria de Regina Teixeira de Barros, curadora coordenadora, MASP, e assistência de Daniela Rodrigues, assistente curatorial, MASP, a exposição reúne um conjunto de pinturas, desenhos, gravuras, esculturas e fotografias da coleção pessoal do intelectual brasileiro, ativo na primeira metade do século 20, a partir da perspectiva de uma sensibilidade queer. A mostra tem patrocínio da Lefosse e apoio cultural do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (IEB-USP).
Mário de Andrade (São Paulo, 1893–1945) é um ícone da literatura e do modernismo no Brasil, além de ser um dos escritores mais estudados do país. Em sua faceta pública, foi contista, músico, poeta, professor, romancista, crítico e historiador das artes plásticas, da música e da literatura, além de agente cultural, colecionista e jornalista. Autor de “Pauliceia desvairada” (1922) e “Macunaíma” (1928), participou da Semana de Arte Moderna (1922) e dedicou-se a registrar, estudar, preservar e divulgar as mais diversas manifestações culturais do país, tanto eruditas quanto populares. Esteve à frente do Departamento de Cultura e Recreação da Municipalidade de São Paulo (1935-1938) e criou o Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN) (1937), o primeiro órgão do gênero.
“Passados quase 80 anos da sua morte, a produção intelectual de Mário de Andrade sobre música, artes visuais e arquitetura, seus romances, contos e poemas, além dos levantamentos etnográficos realizados pelo artista, foram e continuam sendo centrais para a compreensão do modernismo no Brasil e para a construção de uma ideia de brasilidade”, elucida a curadora coordenadora, Regina Teixeira de Barros.

Flávio de Carvalho (Barra Mansa, Rio de Janeiro, Brasil, 1899—1973, Valinhos, São Paulo, Brasil) Homem [Man], 1933 Aquarela e tinta de caneta sobre papel [Watercolor and pen ink on paper], 37,5 × 29,7 cm IEB-USP.
A ideia de “duas vidas”, subtítulo desta exposição, aparece em diversos escritos do autor e exalta a dualidade vivida por Andrade entre a vida profissional e pessoal. “Mário se qualifica ora como um ‘vulcão controlado’, ora tomado por uma ‘feminilidade passiva’; oscila entre ser um pansexual casto (!) e um monstro libidinoso”, ressalta Teixeira de Barros. Em carta para Oneyda Alvarenga, o intelectual afirma: “Eu sou um ser como que dotado de duas vidas simultâneas, como os seres dotados de dois estômagos. O que mais me estranha é que não há consecutividade nessas duas vidas”.
O artista registrou em fotografias suas viagens ao Norte e Nordeste do Brasil entre 1927 e 1929. Na série ‘Tarrafeando’ (1927), feita no igarapé de Barcarena, nos arredores de Manaus, os homens estão focados no trabalho enquanto Andrade capta imagens de seus corpos de costas. Em outro conjunto de retratos, adota uma estratégia diversa, fixando o olhar franco e direto de trabalhadores, como se observa em ‘Vaqueiro marajoara Tuiuiú’ (1927). Visto que a câmera era o único objeto que impedia Mário e o retratado de se olharem mutuamente, a curadora reflete que “o fotógrafo permanece protegido pelo objeto diante de si, impossibilitado de retribuir o olhar, defendido de si mesmo e do próprio desejo”.

Mário de Andrade (São Paulo, Brasil, 1893—1945) Aposta de ridículo em Tefé [Bet of Ridiculous in Tefé], 12.6.1927 [June 12, 1927] Impressão digital sobre papel [Digital print on paper], 6,1 × 3,7 cm IEB-USP.
A assistente curatorial Daniela Rodrigues constata que, através de seus escritos e das muitas correspondências, é possível observar o erotismo como um tema que perpassa a vida e o imaginário do autor sobre o Brasil, que se utilizava de inúmeras estratégias literárias para dizer sem explicitar. “Não se trata de ler sua produção como autobiográfica, como se tudo remetesse a ele mesmo, mas em alguns textos veem-se vestígios da sua inquietação sobre a sexualidade enquanto tema e vida”, completa.
Em relação à sua coleção de arte, a pintura ‘O homem amarelo’ (1915-16), de Anita Malfatti, – vista por Mário na famosa exposição de 1917 – inaugurou seu interesse pelas artes visuais. Na ocasião, o poeta profetizou: um dia o quadro seria dele. De fato, comprou a obra na Semana de Arte Moderna, realizada no Theatro Municipal de São Paulo, em 1922. No primeiro artigo que escreveu sobre Anita, em outubro de 1921, descreveu ‘O homem amarelo’ como uma figura fatídica, “feminilizada por uns olhos longínquos, cheios de nostalgia”.
Em ‘Retrato de Mário de Andrade’ (1927), Lasar Segall registrou o poeta de frente, captando sua expressão serena em meio aos atributos modernos — como a gravata estampada com losangos e o fundo abstrato-geométrico. Apesar de reconhecê-la inicialmente como “uma das obras mais admiráveis de seu talento de pintor”, em carta ao artista, alguns anos mais tarde o romancista mudou de ideia, pontuando que Segall captou o que havia de perverso nele. “Ambíguo e conflituoso, compreendendo e registrando como poucos o que constituía um país tão contraditório, Mário pouco conhecia a si mesmo”, reitera Daniela.
“Mário de Andrade: duas vidas” integra a programação anual do MASP dedicada às Histórias da diversidade LGBTQIA+. Este ano a programação também inclui mostras de Gran Fury, Francis Bacon, MASP Renner, Lia D Castro, Catherine Opie, Leonilson, Serigrafistas Queer e a grande coletiva Histórias da diversidade LGBTQIA+.
Acessibilidade | Em 2024, todas as exposições temporárias do MASP possuem recursos de acessibilidade, com entrada gratuita para pessoas com deficiência e seu acompanhante. São oferecidas visitas em libras ou descritivas; textos e legendas em fonte ampliada e produções audiovisuais em linguagem fácil, com narração, legendagem e interpretação em Libras que descrevem e comentam os espaços e as obras. Os conteúdos podem ser utilizados por pessoas com deficiência, públicos escolares, professores, pessoas não alfabetizadas e interessados. Os conteúdos ficam disponíveis no site e canal do Youtube do museu.
Catálogo | Acompanhando a exposição, será publicado um catálogo bilíngue, em inglês e português, com a reprodução de obras da coleção do escritor. A publicação, organizada por Regina Teixeira de Barros, com assistência de Daniela Rodrigues, inclui textos de Carolina Casarin, Daniela Rodrigues, Ivo Mesquita, Jorge Vergara, Nathaniel Wolfson e Regina Teixeira de Barros. Com design de Bruna Sade, a publicação tem edição em capa dura.
MASP Loja | Em diálogo com a exposição, o MASP Loja apresenta produtos especiais, desenvolvidos a partir da coleção do artista, que incluem uma bolsa, postais e ímãs, além do catálogo oficial da mostra.
Serviço:
Mário de Andrade: duas vidas
Curadoria: Regina Teixeira de Barros, curadora coordenadora, MASP, com assistência de Daniela Rodrigues, assistente curatorial, MASP
1º subsolo (mezanino)
22/3—9/6/2024
MASP — Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand
Avenida Paulista, 1578 – Bela Vista – São Paulo, SP
Telefone: (11) 3149-5959
Horários: terças grátis, das 10h às 20h (entrada até as 19h); quarta, quinta, sexta, sábado e domingo, das 10h às 18h (entrada até as 17h); fechado às segundas
Agendamento on-line obrigatório pelo link masp.org.br/ingressos
Ingressos: R$70 (entrada); R$35 (meia-entrada)
Site oficial | Facebook | Instagram.
(Fonte: Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand)