
Bauer Sá 1950, ‘Olhos de Xangô’, da série Nós, por exemplo [Olhos de Xangô, from the series Nós, por exemplo], 1991. Foto: Cortesia Bauer Sá e Galatea.
A abertura da exposição coincide com a semana de uma data significativa: a Independência da Bahia, comemorada em 2 de julho. O episódio histórico, curiosamente, se inicia em Cachoeira, cidade natal de Gilberto Filho e pioneira na luta pela independência, e termina em Salvador, capital baiana onde Bauer Sá nasceu e que se tornou símbolo de resistência da população negra.

Bauer Sá 1950, ‘Offering’, da série Nós, por exemplo [Offering, from the series Nós, por exemplo], Década 1990 [1990s]. Foto: Cortesia Bauer Sá e Galatea.
Bauer Sá (1950) reforça a tradição dos negros baianos que se destacaram como fotógrafos ou fotojornalistas. O diferencial em sua obra é a inclusão de suas fotografias em um sofisticado circuito de instituições e coleções de artes visuais, que é predominantemente branco no Brasil. Explorando a as formas de representação do povo e do corpo negro, ele e Mário Cravo Neto, contemporâneos, integram uma geração que elevou a fotografia baiana ao status de arte, embora o racismo tenha interferido de maneiras diferentes na trajetória de cada um. Na nota biográfica que escreveu sobre o artista, Tomás Toledo, curador sócio fundador da Galatea, comenta: “As fotografias de Bauer Sá são composições conceituais e poéticas que articulam em imagens a ancestralidade e a cultura afro-brasileira, com grande enfoque para as divindades africanas e para temas sociais incontornáveis entre as populações negras, como o racismo. São imagens meticulosamente construídas e moldadas por meio de cenas ensaiadas e dirigidas em que ora um homem, ora uma mulher, sempre negros, interagem com objetos e elementos da natureza, comunicando-se com o espectador por meio de olhares e poses dramatizadas pela luz e sombra da fotografia analógica branca e preta.”

Bauer Sá 1950, ‘Djambê Abalê’, da série Nós, por exemplo [Djambê Abalê, from the series Nós, por exemplo], Década de 1990 [1990s]. Crédito: Cortesia Bauer Sá e Galatea.
Sobre Bauer Sá
(Salvador, 1950)
Por dez anos, Bauer Sá trabalhou como assistente do seu pai, o também fotógrafo Armando Sá, em Salvador. Frequentou o curso de Técnicas Avançadas de Laboratório e Conservação de Filmes e Papeis da Funarte do Rio de Janeiro (1983-1985). Trabalhou como fotógrafo e chefe do Setor Fotográfico do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia entre os anos de 1982 e 1992, tendo, durante esse período, participado de diversos projetos que marcaram a sua carreira. Ao longo da década de 1990, colaborou com a BBC de Londres, atuou na revista norte-americana Callaloo, organizada por professores negros da Universidade da Virgínia e expôs em diversas cidades no Brasil e no exterior.

Gilberto Filho 1953, Edifício Salvador, 1993, Assinado e datado [Signed and dated]. Crédito: Rafael Martins.
Sobre Gilberto Filho
(Cachoeira, 1953)
Nascido na cidade de Cachoeira, no Recôncavo da Bahia, em 12 de novembro de 1953, Gilberto Dias Barbosa Filho é filho de Elza Oliveira Barbosa e Gilberto Dias Barbosa. A sua mãe trabalhava na fabricação de charutos, enquanto seu pai era marceneiro. Ele é casado com Zilma Nascimento Pessoa, professora; a filha do casal, Jamile Pessoa Barbosa, também é professora.

Gilberto Filho 1953, Santa Fé, 1995, Assinado, titulado e datado [Signed, titled and dated]. Foto: Rafael Martins.
Gilberto Filho lembra que, aos 27 anos de idade, começou a fazer esculturas, usando madeira e prego, representando edifícios arquitetônicos, sobretudo prédios religiosos. Nos anos 1990, Gilberto Filho foi experimentando composições com caixas de fósforo, cubos e paralelepípedos de madeira, o que resultou em formas da arquitetura moderna, que chamam a atenção pelo caráter experimental. Foi na mesma década que ele começou a mostrar as suas esculturas em exposições de arte locais.
Gilberto comumente utiliza em suas esculturas madeiras como pau d’arco, sucupira, angelim e louro, que são cortadas, entalhadas e montadas, com o auxílio de formões, serrotes e martelos. Os blocos resultantes harmonizam formas, cores e tamanhos que chegam a 2,5 m de altura.Para o escultor, “a madeira conduz o processo de criação, ela revela como a obra será realizada, é um gatilho para desenvolver a criatividade”. Ele faz questão de enfatizar o papel da imaginação na construção de sua arte: “Não faço cópias de prédios, mas utilizo a imaginação e a beleza da madeira para esculpir as minhas peças”. Diz também que seu processo é lento, dura meses até finalizar uma escultura (Entrevista, 9 mar. 2022).
Gilberto Filho compreende que a marcenaria abriu espaço para a sua prática artística (Entrevista, 9 mar. 2022). Ele traz uma contribuição significativa às artes visuais, por seu processo de ideação das estruturas e volumes a partir de seu olhar sobre o imaginário das grandes cidades, o que resulta em arte construtivista de qualidade. Assim, procede à metalinguagem, ao empregar a linguagem escultórica para evocar a estética futurista na arquitetura.
O escultor participou de várias mostras locais, algumas bienais do Recôncavo na cidade de São Félix, assim como das recentes coletivas ‘Dos Brasis – Arte e Pensamento Negro’ (Sesc Belenzinho, São Paulo, 2023; Sesc Quitandinha, Petrópolis, RJ, 2024) e Cais (Galatea, Salvador, 2024).
Sobre a Galatea
A Galatea é uma galeria que surge a partir das diferentes e complementares trajetórias e vivências de seus sócios-fundadores: Antonia Bergamin esteve à frente por quase uma década como sócia-diretora de uma galeria de grande porte em São Paulo; Conrado Mesquita é marchand e colecionador, especializado em descobrir grandes obras em lugares improváveis; e Tomás Toledo é curador e contribuiu ativamente para a histórica renovação institucional do MASP, de onde saiu em 2022 como curador-chefe.
Tendo a arte brasileira moderna e contemporânea como foco principal, a Galatea trabalha e comercializa tanto nomes já consagrados do cenário artístico nacional quanto novos talentos da arte contemporânea, além de promover o resgate de artistas históricos. Tal amplitude temporal reflete e articula os pilares conceituais do programa da galeria: ser um ponto de fomento e convergência entre culturas, temporalidades, estilos e gêneros distintos, gerando uma rica fricção entre o antigo e o novo, o canônico e o não-canônico, o erudito e o informal.
Além dessas conexões propostas, a galeria também aposta na relação entre artistas, colecionadores, instituições e galeristas. De um lado, o cuidado no processo de pesquisa, o respeito ao tempo criativo e o incentivo do desenvolvimento profissional do artista com acompanhamento curatorial. Do outro, a escuta e a transparência constante nas relações comerciais. Ao estreitar laços, com um olhar sensível ao que é importante para cada um, Galatea enaltece as relações que se criam em torno da arte — porque acredita que fazer isso também é enaltecer a arte em si.
Nesse sentido, partindo da ideia de relação é que surge o nome da galeria, tomado emprestado do mito grego de Pigmaleão e Galatea. Este mito narra a história do artista Pigmaleão, que ao esculpir em marfim Galatea, uma figura feminina, apaixona-se por sua própria obra e passa a adorá-la. A deusa Afrodite, comovida por tal devoção, transforma a estátua em uma mulher de carne e osso para que criador e criatura possam, enfim, viver uma relação verdadeira.
Serviço:
Exposição Bahia Afrofuturista: Bauer Sá e Gilberto Filho
Local: Galatea Salvador
Endereço: R. Chile, 22 – Centro, Salvador – BA
Abertura: 4 de julho
Período expositivo: 4 de julho a 28 de setembro
Mais informações: https://www.galatea.art/.
(Fonte: A4&Holofote Comunicação)