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Bienal Sesc de Dança apresenta panorama da produção mundial das artes do corpo

Campinas, por Kleber Patricio

“The Sacrifice”. Foto: John Hogg.

Desde 2015, os meses de setembro, nos anos ímpares, tornaram-se especiais para o Sesc Campinas. Isso porque a Unidade passou a receber a Bienal Sesc de Dança. Realizada em parceria com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e a Prefeitura Municipal, via Secretaria de Cultura, o festival já se consolidou na agenda cultural como um dos principais eventos de dança do país. E a edição de 2023 traz ainda mais motivos para celebração, a começar pelo retorno do festival ao formato presencial, após um hiato de quatro anos.

Na pluralidade de espetáculos e propostas que integram uma bienal, evento que se dispõe a apresentar um panorama da produção mundial em dança contemporânea respeitando todas as diferenças de gêneros, corpos, abordagens e gerações, com um olhar atento para a história e experiência de quem está há tempos produzindo dança, de quem está começando, das experiências comunitárias e das criações coletivas.

“Corpos velhos – pra que servem”. Foto: Emidio Luisi.

A programação abrange espetáculos vindos de oito países e de 12 estados brasileiros, de todas as regiões do país, e coproduções entre artistas de diferentes nacionalidades, além de obras voltadas às crianças, performances, instalações e ações formativas com a proposta de colocar todo mundo para dançar. E, para aproximar artistas e públicos, durante a Bienal, a Área de Convivência do Sesc Campinas se transforma numa grande pista de dança, com atrações especiais para colocar todo mundo para trocar experiências e dançar. São 11 dias de imersão no universo da dança contemporânea, iniciados no dia 12 com a apresentação do espetáculo “Encantado”, com Lia Rodrigues (em) Companhia de Dança. Todos os detalhes e programação completa estão disponíveis no link sescsp.org.br/bienaldedanca.

Diante dessa proposta plural, um destaque é a estreia nacional do espetáculo “Corpos Velhos – Pra que servem?”, do coreógrafo e diretor argentino Luis Arrieta (Dia 15/9, sexta, às 21h30, no Galpão do Sesc Campinas. Ingressos de R$10 a R$30). Onde estão os corpos velhos da dança? A partir desse questionamento nasce o espetáculo idealizado e dirigido pelo bailarino e coreógrafo Luis Arrieta. Ao lado de expoentes da dança brasileira como Célia Gouvêa, Décio Otero, Iracity Cardoso, Lumena Macedo, Marika Gidali, Mônica Mion, Neyde Rossi e Yoko Okada, Arrieta investiga em cena as danças possíveis para esses corpos. Cada um deles traz seus gestos e movimentos, com os erros inerentes ao saber, no tempo e lugar presentes. O encontro abre espaço para uma conversa não falada, para um improviso carregado de memórias e de histórias de criadores de uma geração pioneira da dança cênica, com mais de meio século de trajetórias distintas.

“Lavagem”. Foto: Christopher Mavric.

Na sexta, faz sua estreia no Brasil o espetáculo internacional “The Sacrifice”, com a coreógrafa Dada Masilo, da África do Sul (Dias 15 e 16/9, sexta e sábado, às 20h, no Teatro Castro Mendes. Ingressos: R$12, R$20, R$40. Classificação 16 anos). O estudo de danças pouco conhecidas e sua fusão com a dança contemporânea e o balé clássico sempre fascinou Dada Masilo. Desta vez, a coreógrafa e bailarina se volta para a dança Tswana, do país africano Botswana. Essa dança muitas vezes é utilizada em rituais de cura e como forma de contar histórias. Nesta montagem, o minimalismo compassado da dança Tswana se encontra com a complexidade rítmica da obra “Sagração da Primavera”, montagem da coreógrafa Pina Bausch inspirada na música de Igor Stravinsky.

No segundo dia da Bienal, tem ainda a apresentação do espetáculo “Lavagem” (Dias 15 e 16/9, sexta e sábado, às 20h30, no Ginásio do Sesc Campinas. Ingressos: R$10, R$15, R$30. 14 anos), com a Cia REC, de Alice Ripoll, do Rio de janeiro. Espetáculo interativo em que, a partir do ato de lavar – com a ajuda de baldes, água e sabão, a performance investiga imagens ambivalentes e questiona o que, realmente, precisa ser limpo. A proposta é refletir sobre posições sociais e hierarquias.

Outra estreia é a montagem “Sangria – Manifestos Poéticos” (Dias 16 e 17/9, sábado e domingo, às 19h, no Teatro do Sesc. Ingressos: R$10, R$15, R$30. 14 anos). Trata-se do primeiro trabalho do Osibàtá Coletivo de Dança, grupo formado pelos mestres da cultura popular Enoque Santos, Kiusam de Oliveira e Rose Maria. Debatendo a decolonialidade e estabelecendo diálogos dançantes por meio da corporeidade e da cultura popular, a obra propõe uma reflexão crítica sobre os efeitos do racismo nos corpos negros e um caminho ancestral para a cura. Expurgando as dores sofridas, o corpo sangra e também se autorregula, num ato de preservação. O trabalho se manifesta como um bailado de existência, resistência, resiliência e reconstrução.

“Sangria”. Foto: Fábio Vera Cruz.

Outra produção internacional a ser apresentada no período é “Somoo” (Dias 20 e 21/9, quarta e quinta, às 20h, no Teatro Castro Mendes. Ingressos: R$12, R$20, R$40. 14 anos), do Art Project Bora. O espetáculo da coreógrafa coreana Kim Bora, celebra a libertação do corpo feminino. Abordando o corpo da mulher como sujeito, capaz de ser visto e tocado em sua forma original e não manipulado como uma ideia ou um objeto de fetiche, o trabalho da diretora artística do grupo Art Project BORA questiona os papéis de gênero. Os bailarinos manipulam seus próprios corpos por meio de cordas – como se fossem marionetes. Gestos tradicionais da cultura asiática se misturam a movimentos da dança contemporânea e criam um banquete de imagens para os sentidos.

Uma das montagens campineiras em cartaz na Bienal é “Cacunda” (Dias 21 e 22/9, quinta e sexta, às 19h, no Espaço Arena do Sesc Campinas. Ingressos: R$10, R$15, R$30. Livre), criação da dançarina Adnã Ionara, natural de Rio Claro (SP) e radicada em Campinas desde 2013. Originada na língua africana quimbundo, a palavra cacunda diz respeito à curvatura acentuada das costas, geralmente consequência da idade. No solo de Adnã Ionara, cacunda dá nome a uma dança que mobiliza o tempo e suas curvas, questionando e celebrando o peso da existência. Para criar o espetáculo, a artista partiu de referenciais bibliográficos e simbologias afrodiaspóricas ligadas ao tempo e à memória. Em cena, uma narrativa física é amparada por sonoridades e sutilezas do álbum “Padê”, de Juçara Marçal, e das obras literárias “Um Defeito de Cor”, de Ana Maria Gonçalves, e “Becos da Memória”, de Conceição Evaristo.

“Cacunda”. Foto: Paula Freitaz.

O grupo catarinense Cena 11, participa de mais uma edição da Bienal com a montagem “Eu Não Sou Só Eu em Mim – Estado de Natureza – Procedimento 01” (Dias 20 e 21/9, quarta e quinta, às 21h30, no Galpão Multiuso do Sesc Campinas. Ingressos: R$10, R$15, R$30. 16 anos. O trabalho propõe um contraponto anarco-coreográfico em relação ao conceito de “povo brasileiro”, encontrado na obra de Darcy Ribeiro (1922–1997). A partir da obra do antropólogo, os artistas investigam a identidade como um fluxo constante de mudanças, questionando o que poderia ser uma dança brasileira. Com concepção e direção de Alejandro Ahmed, a obra é o primeiro procedimento de aplicação teórico-prática do novo projeto do grupo, que pesquisa formas de reconsiderar as tensões práticas e terminológicas da dicotomia entre comportamento e linguagem, à luz da tecnologia como natureza. O espetáculo contém sequência com flashes de luz que podem afetar espectadores fotossensíveis.

A Bienal oferece uma série de ações formativas, como práticas compartilhadas que colocam também os públicos em movimento. O objetivo é promover um evento em que todos dançam. As oficinas, rodas de conversas, residências artísticas, aulas abertas e demais atividades que integram a programação são um convite para que artistas, público e pesquisadores possam estar juntos para trocar suas vivências e práticas em dança.

O público infantil também tem vez na Bienal Sesc de Dança. Neste fim de semana, uma das atrações é o infantil “NumCorre” (Dia 16/9, sábado, às 17h, na Gare do CIS Guanabara, e dia 17/9, domingo, às 16h, no Jardim do Galpão do Sesc. Grátis. Livre), com o Núcleo Iêê, de São Paulo. Neste espetáculo, o Iêê busca trazer à luz a simplicidade perdida com o passar dos anos. O trabalho propõe uma vivência fragmentada em corpo, música e poesia que compara e conecta o paradoxo entre a correria infantil e o “corre” do adulto. Os artistas convidam as crianças a verem no ato de brincar as possibilidades de aprender; e os adultos a criarem uma válvula de escape em suas rotinas e a se conectarem com suas crianças interiores.

“Campo”. Foto: Husam Adin.

Outras atrações voltadas para as crianças são “Campo” (Dia 16/9, sábado, às 15h, na Gare do CIS Guanabara. Grátis. Livre, com o Artefactos Bascos; e “Cabeção pelo Mundo, o Show” (Dia 16/9, sábado, às 16h, na Gare do CIS Guanabara; e dia 17/9, domingo, às 15h, no Jardim do Galpão do Sesc. Grátis. Livre), com Maria Eugênia Tita.

O período traz, ainda, as performances “Corpografias do Pixo” (Dias 16 e 17/9, sábado e domingo, às 11h, no Largo das Andorinhas, Travessa São Vicente de Paula. Grátis. Livre), com as artistas maranhenses Gê Viana e Marcia de Aquino; e “Trovoada” (Dia 16/9, sábado, às 17h, no Jardim do Galpão do Sesc Campinas, grátis. Livre), com o Fernanda Silva, do Grupo de Teatro Metáfora, do Piauí.

A programação performática apresenta “Histórias de Gestos” (Dia 17/9, domingo, às 20h30; e dia 18/9, segunda, às 15h30, na Área de Convivência. Grátis. Livre), com Estela Lapponi, Eduardo Fukushima, Luis Ferron, David Xavinho e Silvana de Jesus: “Cuidado com Nós” (Dia 18/9, segunda, às 11h, no Senac Campinas; às 12h, na Praça Rui Barbosa e às 13h, na Praça Bento Quirino; dia 19/9, terça, às 16h30, no Jardim do Galpão; às 17h30 na Área de Convivência e às 18h30, no Terminal Rodoviário de Campinas. Grátis. Livre), com Gabriel Cândido, do Repertórios Sobre Vivências, e Luiz Antonio Cândido; e “SustentAção – Performance Duracional em Dança” (Dia 21/9, quinta, às 11h; e dia 22/9, sexta, às 17h, na Praça Bento Quirino. Grátis. Livre), com o  Núcleo Fuga!, que reúne artistas de Campinas e Mato Grosso do Sul.

 

“Eu não sou só eu em mim”. Foto: Karin Serafin.

O período traz, ainda, o resultado das residências artísticas “Ka’adela – Ação Coletiva de Contra-Ataque” (Dias 20 e 21/9, quarta e quinta, às 16h30, no Monumento à Mãe Preta, em frente à Igreja São Benedito. Grátis. Livre), com a plataforma Ka’adela e participantes locais da residência; e “Barricada” (Dias 21 e 22/9, quinta e sexta, às 19h, na Estação Cultura, Grátis), com Marcelo Evelin, da Demolition Incorporada (PI) e artistas locais.

Para mais informações ou esclarecimento de dúvidas, entre em contato com a Central de Atendimento do Sesc Campinas pelo telefone (19) 3737-1500. A programação completa, com as atividades regulares e outras oficinas e cursos, pode ser acessada no link https://linktr.ee/sesccampinas.

(Fonte: Sesc Campinas)