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Adriana da Conceição desloca objetos de suas funções e cria obras de arte

Campinas, por Kleber Patricio

Adriana da Conceição. Série Estruturas Invisíveis, fotografia, 0,10 x 0,15cm, 2017.

Um olhar atento, telas protetoras de construção, detalhes de ornamentos em escadas, restauros de prédios e até mesmo um acidente doméstico fazem parte da pesquisa da artista visual Adriana da Conceição. O resultado das observações e produção dela, com cinco obras de arte inéditas, será apresentado na exposição individual ‘Dialéticas arquitetônicas [des] construídas’, que conta com a curadoria de Andrés I. M. Hernández. A mostra abre no dia 9 de maio, quinta-feira, às 19h, no AT AL 609 – Lugar de Investigações Artísticas.

Arquiteta de profissão, Adriana divide sua rotina, desde 1998, entre a arte e os projetos de seus clientes – o que não deixa de ser um fazer artístico. Após um tombo em casa, em 2016, ela fraturou o braço e precisou fazer uma cirurgia para o implante de uma prótese de aço com 15 parafusos. Um insight no momento do curativo que estavam fazendo em seu braço lhe deu a visão do quanto sua pesquisa artística engloba suas vivências e seu entorno. “Ver aquele ‘desenho’ sendo trançado fez com que eu ‘lincasse’ tudo dentro do meu processo criativo. Ali estava a tela de proteção e a escada que ajuda a estruturar a circulação entre os pisos da arquitetura. Afinal, a cirurgia e a prótese estavam servindo para reestruturar o que havia se rompido”, declara ela.

Adriana da Conceição. Série Estruturas Invisíveis, fotografia, 0,10 x 0,15cm, 2017.

E é a partir do reconhecimento da importância da prótese de aço para sua recuperação que a artista passa a falar também sobre o corpo, além das estruturas arquitetônicas. Nesta nova mostra, ela traz obras inéditas a partir da estrutura da prótese reproduzida em argila e madeira em diversas escalas. Outras obras que ainda não participaram de nenhuma mostra também estarão lá, como os 70 pequenos degraus que Adriana retirou das várias camadas exploradas do objeto escada. A artista fará uma performance da série ‘Enraizado, em mim’ logo na abertura da mostra. Três vídeos, sendo dois da série ‘Entre o vão e o acesso’ e um da ‘Vias de passagens’ ainda inéditos também serão exibidos.

O espaço expositivo de aproximadamente 46 metros quadrados recebe a expografia criada por Hernández apresenta desde fotografias a performance, passando por pinturas, colagens, croquis, desenhos, livros de artista e instalações – e um conjunto de obras foi selecionado para dialogar com o espectador. Há objetos de diversos tamanhos e escalas, desde uma reprodução de um pequeno degrau, até uma tela em acrílico de 1,20 x 1,00 m na parede. Falando sobre seu processo artístico, a artista aponta que tudo começa com um registro fotográfico, depois passa pelo croqui em pequena escala e, ao final, pode se transformar em um objeto na escala 1:1, como ‘Carimbo’ que estará na mostra.

Adriana da Conceição. Série Estruturas Invisíveis, fotografia, 0,10 x 0,15cm, 2017.

Hernández acompanha a artista há alguns anos como curando suas exposições como ‘Estratégias visuais no site arquitetônico’, na Rabeca Cultural, em 2017. No ano seguinte, organizou duas mostras: ‘Vias de passagem’, no Subsolo-Laboratório de Arte, e ‘Estratégias visuais [em um novo] site arquitetônico’, na Sociedade Hípica de Campinas, além de ter apresentado as obras da artista no Canadá. Para ele, “a exposição em questão evidencia uma sólida evolução e maturidade na trajetória de Adriana como artista visual”.

Material de reuso

Voltando às restaurações e reformas em imóveis, Adriana diz se interessar pelas construções antigas, porque aqueles que ela observa estão sendo restaurados para serem preservados. “A tela de proteção de construção para mim significa um cuidado que estão tendo com aqueles quase ‘indivíduos’”, diz. E, ao reproduzir no desenho aquelas estruturas, percebeu que tinham volume e que ali estava a memória deles. “E é isso o que me importa”, ressalta.

Há anos a artista optou por utilizar material de reuso, explorando múltiplas modalidades artísticas – fotografia, pintura, colagem, cerâmica – e várias escalas usadas na arquitetura. E essa escolha repercute em suas obras continuamente como em um diálogo, sendo possível ver essa transmissão de uma obra para outra. Esse processo também repercutiu na residência artística que participou em 2023 do grupo internacional Broken Forest, em Paranapiacaba, quando usou as telas de proteção, tão presentes em sua pesquisa, para embrulhar os troncos das árvores mantendo seu discurso de preservação e cuidado com a natureza, com a questão do descarte, e o reuso de material.

Adriana da Conceição – Série Enraizado em mim, fotografia, 0,21 x 0,15cm,2024.

A visão certeira de Adriana faz com ela explore, por exemplo, a estrutura e forma de uma escada para deslocar o objeto de sua função literal, apresentando-a em linhas, pontos e movimento. Enquanto na arquitetura as escadas são estruturas que dão acesso a algum lugar, na arte, Adriana vê ali movimento, a subida, a descida, as linhas. Nada é trabalho como um elemento unicamente literal. “As dialéticas sensoriais exploradas e projetadas contrapõem a concretude do fazer arquitetônico em espirais artísticos onde a mutabilidade do fazer e, do feito apropriado e/ou registrado, diluem os discursos dogmáticos nas artes visuais”. Com essas palavras, Hernández analisa o fazer, o criar da artista.

Adriana da Conceição

Adriana é campineira e é formada em arquitetura e urbanismo desde 1982 pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUCCamp) e logo começou a trabalhar na área. Em 1998, iniciou na aquarela com Vera Ferro, quando seguiu também para a pintura em tinta acrílica. Neste mesmo ano, fez sua primeira exposição individual em Lisboa e foi selecionada para expor no Banco Central, em Brasília. De lá para cá, não parou mais e afirma que a arquitetura a alimenta para sua pesquisa artística, porque ela está sempre reproduzindo o que vê na arquitetura dos prédios, dos objetos e outros fragmentos.

Serviço:

Abertura da exposição ‘Dialéticas arquitetônicas [des]construídas’, de Adriana da Conceição Curadoria: Andrés I. M. Hernández

Dia: 9 de maio – quinta-feira – Horário: 19h

Período de visitação: os interessados devem entrar em contato pelo Instagram @609atal ou pelo e-mail lugardeinvestigacoesartisticas@gmail.com

Local: AT AL 609 – Lugar de Investigações Artísticas – Rua Antônio Lapa, 609 – Cambuí – Campinas – SP.

(Fonte: AT AL 609)