
O Lago dos Cisnes – II Ato, por Mario Galizzi – Crédito: Silvia Machado | Autorretrato, de Leliane Teles – Crédito: Iari Davies | dos SANTOS, de Alex Soares. Fotos: Iari Davies.
A São Paulo Companhia de Dança (SPCD) volta ao palco do Teatro Sérgio Cardoso para sua tradicional temporada de apresentações na casa. O espaço – que também é um equipamento cultural da Secretaria, gerido pela Amigos da Arte – receberá três programas distintos, que serão apresentados de 19 a 22 e de 26 a 29 de junho, e 3 a 6 de julho, compostos por obras que vão do clássico ao contemporâneo, e mostram a versatilidade do repertório da SPCD.
Além dos espetáculos, a programação inclui as já conhecidas atividades educativas, com espetáculos gratuitos, palestras e ações de acessibilidade, com audiodescrição das obras e intérprete de libras durante as palestras aos sábados. Os ingressos já estão à venda e podem ser adquiridos a partir de R$ 30 pelo site: https://spcd.com.br/ingressos/.
Programação 2025
Intitulada ‘Todos os mundos em nós’, esta temporada foi inspirada pelo poema de Adélia Prado ao celebrar a intensidade do ser humano, suas pluralidades e o equilíbrio entre profundidade emocional e criatividade.
“Eu sou composta por urgências: minhas alegrias são profundas; minhas tristezas, torrenciais”. (Adélia Prado – Poema Composição)
“Somos compostos por urgências, como Adélia Prado nos diz. Nossas alegrias profundas e tristezas torrenciais nos levam a explorar quem somos e o que carregamos dentro de nós. Nesta temporada, cada semana é parte do mosaico que revela a intensidade da existência humana – um convite a olharmos para dentro e encontrarmos os mundos que habitam em nós. A cada semana, “os mundos” que nos compõem se desdobram no palco, revelando as urgências da existência e a autenticidade de cada expressão artística”, conta Inês Bogéa, diretora artística da São Paulo Companhia de Dança.
As apresentações têm início em junho, quando a SPCD sobe ao palco do Teatro Sérgio Cardoso com três programas diferentes. De 19 a 22 de junho, o público confere ‘O Lago dos Cisnes – II Ato’, por Mario Galizzi, a partir de Marius Petipa (1818-1910) e Lev Ivanov (1834-1901); ‘Cada Olhar’, de Henrique Rodovalho; e a estreia de ‘be yourself – everyone else is already taken’, de Michael Bugdahn e Denise Namura.
Esta última propõe uma reflexão sobre identidade em um mundo globalizado. A coreografia explora a dualidade entre abundância e escassez, destacando a infinidade de informações acessíveis contrastada com a crescente escassez de recursos naturais e o enfraquecimento das relações humanas. A velha questão “De onde viemos e para onde vamos?” permanece relevante. A fusão de gêneros, o trânsito entre culturas e a construção de conexões fazem parte da identidade artística dos dois coreógrafos, que demonstram uma sensibilidade singular ao indivíduo e à poesia do cotidiano. Voltados para a dimensão humana da vida e da arte, eles propõem uma reflexão profunda sobre a existência e suas múltiplas facetas.
Já o segundo ato de O Lago dos Cisnes é um dos mais aclamados balés do mundo. Este ato mostra o encontro do príncipe Siegfried e da princesa Odete, na floresta. Da meia noite ao amanhecer, ela é a princesa da noite, uma criatura mágica e delicada, que o príncipe deseja amar e proteger. Durante o dia, a rainha dos cisnes: frágil, amedrontada e, ao mesmo tempo, corajosa e protetora do seu grupo. O feiticeiro Rothbart é um nobre e um pássaro. O príncipe que sai para caçar com seus amigos tem a elegância da nobreza. Essa obra marca a história da arte e encanta todas as gerações pelo seu tema e pela ligação entre a dança e a música.
Por fim, em Cada Olhar, Henrique Rodovalho traz o olhar de cada uma das sete bailarinas em palco, como cada uma se sente e se apropria diante deste singular momento de movimentos e música, construído, inicialmente, pelo olhar do coreógrafo. E a partir dessa construção, provocar o olhar de cada espectador, convidando-o a fazer suas próprias escolhas e criar suas impressões genuínas sobre este instante efêmero e intenso, que se desdobra diante dos seus olhos, diante de cada olhar.
Na semana seguinte, de 26 a 29 de junho, o público pode assistir a ‘Autorretrato’, de Leilane Teles; ‘dos SANTOS’, de Alex Soares e a estreia de ‘A Vingança do Flamingo’, de Carlos Pons Guerra.
Em sua primeira criação para a São Paulo Companhia de Dança, em A Vingança do Flamingo o espanhol Carlos Pons Guerra traz ao centro do palco uma história sobre beleza, resistência e desequilíbrio ambiental. Vistosos flamingos dominam a cena para expor, com ironia e lirismo, as tensões entre espetáculo e natureza. Inspirado por memórias da infância nas Ilhas Canárias, o coreógrafo transforma o palco em um espaço onde a vida selvagem performa para nos entreter — enquanto silencia, esgota e adoece.
“Quando Inês me convidou para pensar sobre a crise climática, voltei à minha infância, onde assistia a shows de flamingos — aves lindas, trazidas da África, treinadas para entreter humanos. Eles andavam de bicicleta, tocavam piano. Mas eu só conseguia pensar que eles deveriam estar voando. Isso me fez refletir sobre como estamos transformando o mundo natural em um circo — um espetáculo que nos serve, mas que tem consequências sérias”, conta o coreógrafo.
Com figurinos de Fernanda Yamamoto que evocam texturas e volumes inspirados nas plumagens, iluminação de Wagner Freire que alterna brilhos e sombras, e trilha sonora que flutua entre lirismo, vaudeville e exuberância, A Vingança do Flamingo é uma obra performática e profundamente sensível, que confronta a crueldade velada por trás do espetáculo e convida à empatia — com o planeta, com os animais, com tudo o que ainda pode resistir.
Autorretrato – segunda criação de Leilane Teles para a São Paulo Companhia de Dança – é uma coreografia que reflete sobre a identidade brasileira e nossas influências ancestrais e foi inspirada em obras do acervo do pintor Cândido Portinari. A trilha sonora e o figurino complementam a narrativa, que contou com a consultoria indígena de Cristiane Takuá e Carlos Papá.
Já dos SANTOS, primeira obra de Alex Soares para a SPCD, é inspirada em uma cantiga do Brasil Colonial chamada ‘Matais de Incêndio’, uma canção simples e alegre associada a festividades religiosas cujo autor é desconhecido, datada por volta de 1700. A obra move, cruza e questiona identidades que ao longo do tempo ajudaram a lapidar a nossa rica e diversa cultura.
O terceiro e último programa, de 3 a 6 de julho, apresenta Les Sylphides (Chopiniana), por Ana Botafogo, a partir da obra de 1909 de Mikhali Fokine (1880-1942); Casa Flutuante, de Beatriz Hack e a estreia de Ataraxia, de George Céspedes.
Ataraxia é a primeira obra de Céspedes para uma companhia brasileira. Reconhecido por seu estilo singular, que combina dança com elementos geométricos e matemáticos, o coreógrafo — um dos grandes nomes da dança contemporânea global — desenha no palco grandes formas por meio do movimento coordenado de grupos de bailarinos, adicionando contrastes dinâmicos e emocionais à narrativa.
O nome da obra, Ataraxia, é uma palavra de origem grega que significa ausência de perturbação. No estoicismo, representa um conceito central: a dor não está na mudança, mas na resistência a ela. Busca-se, assim, um estado de serenidade imperturbável, no qual a mente se mantém equilibrada diante das adversidades. A iluminação enfatiza a precisão dos movimentos e intensifica as atmosferas criadas, amplificando as emoções. Já os figurinos, inspirados na moda urbana, dialogam com a contemporaneidade, proporcionando liberdade de movimento e expressão individual, além de reforçar o caráter vibrante e dinâmico da obra.
O clássico Les Sylphides (Chopiniana) evoca a era romântica do balé para retratar o encantamento de um poeta sonhador pela dança das sílfides, seres mágicos que habitam as florestas. Sob o luar, elas materializam o ato poético em seus movimentos e desenham o palco com arabescos, resultando em uma obra de grande beleza contemplativa.
Por fim, Casa Flutuante revela diferentes conceitos de ‘casa’ e suas impermanências na cena. Conduzidos por uma trilha sonora eclética, o elenco flutua entre os gestos propostos pela coreógrafa e desenvolvidos a partir da experiência pessoal de cada um. Os movimentos individuais e de grupo exploram as relações humanas e interpessoais.
Atividades Educativas
Quarenta e cinco minutos antes dos espetáculos, o público interessado em se aprofundar nas histórias e nos bastidores das criações poderá conversar com a diretora da Companhia, Inês Bogéa, em palestras gratuitas sobre os processos criativos das obras. As conversas têm duração de cerca de 30 minutos e, aos sábados, contará com a presença de intérpretes de libras.
A temporada da São Paulo Companhia de Dança é realizada pelo Ministério da Cultura, Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas e São Paulo Companhia de Dança via Lei de Incentivo à Cultura Lei Rouanet, Ministério da Cultura e Governo Federal União e Reconstrução. Patrocínio Itaú.
Serviço e Fichas Técnicas:
Teatro Sérgio Cardoso
Endereço: R. Rui Barbosa, 153 – Bela Vista, São Paulo – SP, 01326-010
Horários: quinta, sexta e sábado às 20h | domingo às 16h
Capacidade física: 827 lugares
Acessibilidade: Sim
Ingressos: balcão – R$ 60 (inteira), plateia lateral – R$ 70 (inteira) e plateia central – R$ 80 (inteira) | à venda via Sympla ou pelo site https://spcd.com.br/ingressos/
Programa 1: de 19 a 22 de junho
Link para compra: bit.ly/3FhSmPf
Classificação: Livre
O Lago dos Cisnes – II Ato (2017)
Coreografia: Mario Galizzi, a partir de Marius Petipa (1818-1910) e Lev Ivanov (1834-1901)
Música: Piotr I. Tchaikovsky (1840-1893)
Iluminação: Wagner Freire
Figurino: Tânia Agra
Perucas: Emi Perucas
Adereços: Robson Rui
Assistente de coreografia: Sabrina Streiff
Cada Olhar (2024)
Coreografia e Iluminação: Henrique Rodovalho
Música: Obatalá, escrita por Kiko Dinucci, interpretação e produção de Metá Metá
Figurino: Fábio Namatame
be yourself – everyone else is already taken (2025)
Concepção, Dramaturgia e Coreografia: Michael Bugdahn e Denise Namura
Figurino: Fabio Namatame
Iluminação: Caetano Vilela
Programa 2: de 26 a 29 de junho
Link para compra: https://bit.ly/3ZqtVG4
Classificação: Livre
Autorretrato (2024)
Coreografia: Leilane Teles
Músicas: Grupo krahó, de Indios Krahó, interpretada por Marlui Miranda; Pasha Dume Pae, de Amazon Ensemble; Canto da liberdade, de Akaiê Sramana, interpretada por Akaiê Sramana; Tchori Tchori feat. Uakti, de Marlui Miranda e Índios Jaboti de Rondônia, interpretada por Marlui Miranda, Rodolfo Stroeter, Uakti; Mae Inini (The Power of the Earth), de Amazon Ensemble; Tamburim, de Josy.Anne; Kworo Kango, de Canto Kaiapó, interpretada por Berimbaobab Brasil.
Produção Musical: Fernando Leite
Figurino: André von Schimonsky
Iluminação: Gabriele Souza
Assistente de Figurino: Wellington Araújo
Aderecista: Satie Inafuku
Consultores para Assuntos Indígenas: Cristiane Takuá e Carlos Papá Mirim Poty
dos SANTOS (2024)
Coreografia: Alex Soares
Músicas: Matais de incêndios, anônimo, interpretado por Vox Brasiliensis e Ricardo Kanji; Partita for 8 voices, No.4 Passacaglia, Caroline Shaw, interpretada por Brad Wells e Roomful of Teeth; Final Parade, Felix Rösch; Obstacle Course, Christophe Zurfluh
Figurino: Cassiano Grandi
Iluminação: Wagner Freire
A Vingança do Flamingo (2025)
Coreografia: Carlos Pons Guerra
Músicas: Tanga, Álbum: A man & his music: El Padrino | Intérprete: Machito | Compositor: Mario Bauza; La familia de Glória, Álbum: Almodóvar Early Films (Original Motion Picture Soundtrack) | Intérprete: Bernardo Bonezzi by Altafonte | Compositor: Bernardo Bonezzi; Ilariê, Albúm: Xuxa em Espanhol | Compositor: Cid Guerreiro, Dito, Ceinha; Bachianas brasileiras No. 5, W 389: I. Ária, Álbum: Villa-Lobos: Bachianas brasileiras No. 5, W 389: I. Ária – Sibélius: Lounnotar, Op. 70 – Ravel: Shéhérazade ℗ Sony Classical | Intérprete: Carl Stern, Leonard Bernstein, Netania Davrath, New York Philharmonic | Compositor: Heitor Villa-Lobos Manuel Bandeira Ruth Valadares Corréa; Chancha Via Circuito – Ilaló (Ft. Mateo Kingman), Álbum: Bienaventuranza | Intérprete: Chancha Vía Circuito · Mateo Kingman ℗ 2018 | Compositor: Pedro Canale; Herbie MannMachito & His Afro Cubans, Álbum: Mozamba | Intérprete: Herbie MannMachito & His Afro Cubans | Compositor: Herbie Mann;Lamento Borincano, Intérprete: Chavela Vargas | Compositor: Rafael Hernandez; Arrastran el cadáver (From “Volver”), Albúm: Volver (Banda Sonora Original) | Intérprete: Alberto Iglesias | Compositor: Alberto Iglesias; Los Pastores, Álbum: Bienaventuranza | Intérprete: Chancha Vía Circuito · Mateo Kingman ℗ 2018 | Compositor: Pedro Canale
Figurino: Fernanda Yamamoto
Iluminação: Wagner Freire
Programa 3: de 3 a 6 de julho
Link para compra: https://bit.ly/4jj9jGZ
Classificação: Livre
Les Sylphides (Chopiniana) (2021)
Coreografia: Ana Botafogo, a partir da obra de 1909 de Mikhail Fokine (1880-1942)
Assistência de Remontagem: Duda Braz e Teresa Augusta
Professora de Interpretação: Vivien Buckup
Música: Frédéric Chopin (1810-1849)
Iluminação: André Boll
Figurino: Tânia Agra
Cenografia: Fábio Namatame
Visagismo: Augusto Sargo
Casa Flutuante (2024)
Coreografia: Beatriz Hack
Músicas: Boi nº1, Foli Griô Orquestra com Cacau Amaral; Nordavindens Klagesang, de Vàli; Giardini Di Boboli, de Manos Milonakis feat. Jacob David e Grégoire Blanc; Encruzilhada, de Tulio; e Marie, de Cristobal Tapia De Veer – mixagem por Renan Lemos.
Figurinos: Balletto
Ataraxia (2025)
Coreografia: George Céspedes
Assistência de Coreografia: Aymara Rodrigues
Músicas: Trilha original de George Céspedes; Count To Six And Die (The Vacuum Of Infinite Space Encompassing), de Marilyn Manson e John Lowery, The Golden Age Of Grotesque, de Brian Warner e Tim Skold, ambas interpretadas por Marilyn Manson; Candil De Nieve, de Raúl Torres, interpretada por Pablo Milanés.
Figurino: Marco Lima
Iluminação: André Boll
*Atenção: a obra apresenta cena com efeito estroboscópico que pode afetar espectadores fotossensíveis.
(Com Rafaela de Carvalho Eufrosino/Associação Pró-Dança)