
Pesquisadores pediram que entrevistados avaliassem sua preferência por quatro perfis fictícios de candidatos – do tradicional ao outsider completo. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil.
Os eleitores paulistas desejam mudanças, com novos candidatos, projetos e soluções na Presidência do país. Porém, não acreditam no potencial de eleição de um novato e desconfiam que, caso eleito, torne-se um refém do sistema pela falta de experiência política. Há um ceticismo generalizado sobre a possibilidade de mudanças concretas e de melhoria de vida, com desconfiança tanto dos candidatos veteranos quanto dos inexperientes. Por isso, o apelo antissistema pode não ser suficiente para impulsionar outsiders na disputa presidencial de 2026.
As conclusões são de estudo do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Representação e Legitimidade Democrática (INCT ReDem), sediado na Universidade Federal do Paraná (UFPR), publicado na quinta (22). Realizada por meio de grupos focais em fevereiro de 2025, a investigação reuniu 60 eleitores das classes C, D e E, moradores de São Paulo e Bauru. Os participantes foram organizados em seis grupos, conforme faixa etária, voto na eleição de 2022 (Lula ou Bolsonaro) e posicionamento ideológico.
Após discussões sobre a percepção geral de política e políticos, avaliaram quatro perfis fictícios de candidatos — criados com base na tipologia de outsiders do cientista político Miguel Carreras — e indicaram em quem votariam e por quê.
Perfil 1: insider, político tradicional, tem anos de experiência na política, integra um partido consolidado e valoriza a experiência e as alianças políticas para fazer um bom governo;
Perfil 2: completamente outsider, sem carreira política prévia, concorrendo por um partido pequeno, com discurso anti-establishment, apresentando-se como aliado do povo e um contraponto ao sistema político.
Perfil 3: outsider amador, candidato sem experiência na política, que está concorrendo por um partido grande, mas não tem laços com os políticos tradicionais; em seu discurso, ressalta a sua proximidade com ‘pessoas comuns’, a capacidade para governar e a disposição para alianças;
Perfil 4: outsider rebelde, político que já foi filiado a partidos grandes, mas que agora está em um partido pequeno para concorrer a Presidente, e adota um discurso de revolta contra o sistema político ‘corrupto’ para justificar sua candidatura.
As impressões foram analisadas qualitativamente com o auxílio de inteligência artificial. O candidato tradicional (perfil 1) foi o mais rejeitado, mas nenhum teve adesão unânime — e os novatos antissistema (perfis 2 e 4) foram vistos com desconfiança. “O discurso antissistema chamou a atenção, mas a maioria não acredita que um candidato com esse discurso vá mudar algo e, ao mesmo tempo, têm medo do tipo de mudança que ele faria”, aponta Roberta Picussa, coordenadora do estudo.
A autora complementa que os partidos e alianças políticas foram vistos de forma pragmática, como uma espécie de mal necessário para a governabilidade do Presidente: “Essa percepção faz com que os candidatos com um discurso antissistema, tanto novatos como antigos, que concorrem por partidos pequenos, sejam vistos como fracos e não atraiam tantos votos.”
Também foram constatadas diferenças entre os eleitores de Lula e Bolsonaro. Quem votou em Lula mostra frustração diante de promessas não cumpridas e inexistência de mudanças; já eleitores de Bolsonaro enfatizam mais a descrença com o sistema político, associando-o à corrupção.
Picussa observa que, neste experimento, a polarização maior no discurso não é entre esquerda e direita; e sim, entre os cidadãos e a classe política, com um sentimento dominante de desilusão. Segundo a pesquisa, o discurso antissistema não será o suficiente para impulsionar candidatos novatos na próxima eleição. “Um candidato novato terá mais chances se mostrar que terá apoios para governar, usar uma retórica mais moderada e se apresentar como originário ou próximo das classes C, D e E”, conclui a pesquisadora.
(Fonte: Agência Bori)