
Maior parte dos acidentes de trabalho ocorre com pessoas do sexo masculino. Foto: Nicholas Lim/Pexels.
Todos os anos, mais de 600 mil trabalhadores brasileiros sofrem acidentes de trabalho, segundo o Anuário Estatístico de Acidentes de Trabalho. Mas não é apenas a gravidade de possíveis deficiências resultantes que define se conseguirão ou não voltar ao mercado de trabalho após um acidente laboral. Pesquisa realizada pela UFSJ (Universidade Federal de São João del-Rei) revela que suporte financeiro, apoio psicossocial, minimização do preconceito e adaptações no ambiente de trabalho são decisivos para a reinserção. O estudo foi publicado no último dia 2 na revista Psicologia: Ciência e Profissão.
A pesquisa entrevistou 20 trabalhadores de Minas Gerais que sofreram sequelas graves após acidentes de trabalho, como paraplegia, tetraplegia e amputações. A maioria dos participantes era do sexo masculino, o que está em linha com dados nacionais que apontam maior incidência de acidentes de trabalho entre homens. Do total, apenas dez voltaram às atividades, enquanto quatro se aposentaram e seis permaneciam afastados pelo INSS.
Segundo o estudo, a deficiência, por si só, não foi o principal obstáculo para os que retornaram: “Aspectos organizacionais, como a qualidade do suporte financeiro e psicossocial ofertado pelas empresas e o modo de condução do processo de retorno, podem ser fatores tão ou mais influentes”, afirmam as autoras Joelma Cristina dos Santos e Maria Nivalda de Carvalho-Freitas.
As pesquisadoras apontam que o apoio emocional e material dado durante a reabilitação impacta diretamente o comprometimento do trabalhador com a empresa. Onde houve acolhimento e adaptação de funções, a volta ao trabalho foi mais comum. Já a ausência de suporte, a falta de condições acessíveis e o preconceito sutil no ambiente laboral contribuíram para a desistência ou a aposentadoria precoce. “O foco da reinserção após um acidente de trabalho deve ser, principalmente, o suporte financeiro e psicossocial ao trabalhador e as possíveis adequações a serem realizadas nos ambientes físico e social da organização, ou seja, modificações arquitetônicas, em mobiliários e maquinários, bem como práticas de sensibilização sobre o preconceito em relação a pessoas com deficiência e reabilitadas”, diz.
Para Santos, diante do resultado da pesquisa e de relatos de entrevistados que se sentiram excluídos e até mesmo abandonados, são necessárias regras mais rígidas para que as empresas garantam condições de reabilitação e inclusão dos profissionais.
(Fonte: Agência Bori)