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Tecnologias focadas em problemas de áreas como Amazônia e saúde podem ser base para políticas públicas no país, aponta documento

São Paulo, por Kleber Patricio

Projeto da WTT usou inovação orientada por missões para mapear desafios concretos de agricultores do semiárido brasileiro. Na foto, colheita de abacaxi do semiárido baiano. Foto: David Theodoro Junghans/Embrapa Mandioca e Fruticultura.

Uma metodologia pretende mudar a maneira de se fazer e implementar tecnologias para resolver problemas nacionais — o que pode acarretar transformações, também, na forma de se elaborar políticas públicas. A ferramenta, descrita em documento-síntese lançado nesta quinta (23), foi apresentada a gestores públicos e privados durante o 1º Fórum Brasileiro de Inovação Orientada por Missões, em São Paulo, organizado pelo World-Transforming Technologies (WTT).

O evento foi o primeiro do tipo promovido no Brasil e contou com a participação de empresários, diretores de agências de fomento à inovação e pesquisa e diretores de ONGs e institutos de cinco áreas estratégicas: Amazônia, indústria, transição energética, agricultura e saúde.

A inovação, orientada por missões, consiste em desenhar e implementar soluções tecnológicas inovadoras para desafios complexos a partir da definição de uma meta ambiciosa. A ideia é que diferentes atores dos setores privado e público colaborem em projetos para gerar tecnologias para resolver problemas socioambientais e consigam monitorar o seu impacto. O foco se desloca da quantidade para a qualidade das inovações propostas – sempre com acompanhamento ao longo do tempo para aferir o seu sucesso. “A abordagem de inovação orientada por missões coloca a inovação no centro do debate e tem em seu cerne a pergunta: inovar para quê? Essa provocação vem da ideia de que a ciência precisa ter uma direcionalidade, um propósito”, explica o diretor de inovação da WTT André Wongtschowski.

Alguns exemplos de tecnologias desenvolvidas seguindo o modelo estão em trabalho publicado recentemente pelo WTT. No projeto, pesquisadores e sociedade civil se juntaram para mapear desafios concretos de agricultores do semiárido brasileiro e criaram tecnologias nacionais para reutilizar água e revestir frutas, impulsionando a agricultura familiar na região.

Com relatos de experiências e conceitos, o documento lançado agora provoca o Estado a refletir sobre o seu papel no incentivo ao ecossistema de inovação brasileiro, divulgando editais para o financiamento de inovações, por exemplo. É o que pretendem o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), que anunciaram um amplo pacote de investimentos em apoio à inovação empresarial a partir de áreas temáticas alinhadas às missões do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI).

As próprias políticas públicas poderiam ser desenhadas a partir da ferramenta de inovação orientada por missões, de acordo com o documento. Neste caso, a ideia é que sejam estabelecidos metas e objetivos precisos, o que difere de formas tradicionais de formulação de políticas públicas, cujos objetivos são vagos e em que geralmente não são definidos prazos para a entrega de resultados.

A colaboração e, principalmente, a participação da sociedade civil aparecem como elementos-chave para o sucesso da agenda orientada por missões. “Para trabalharmos com problemas complexos, precisamos de ampla colaboração da sociedade. Nenhuma organização, nem o próprio governo, vai conseguir dar conta dos desafios relacionados ao desenvolvimento sustentável de forma isolada”, comenta Wongtschowski.

(Fonte: Agência Bori)