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Mães brancas com pré-natal em clínicas privadas têm o dobro de chance do filho ser diagnosticado com autismo

Montes Claros, por Kleber Patricio

Idade e raça da mãe, além de tipo de cuidado durante gestação, influenciaram no diagnóstico de autismo em crianças e adolescentes em Montes Claros (MG). Foto: Cottonbro Studios/Pexels.

Fatores socioeconômicos e demográficos, como raça e idade da mãe e tipo de cuidado recebido durante a gestação, são determinantes para o diagnóstico do transtorno do espectro autista em crianças e adolescentes. As conclusões são de uma pesquisa da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), em Minas Gerais, publicada na quinta (22) no periódico científico “Portuguese Journal of Public Health”, da editora Karger. Os dados podem ajudar na criação de políticas públicas de acesso ao tratamento e diagnóstico do autismo em crianças.

O estudo foi realizado na cidade mineira de Montes Claros (MG) na última década (2014 e 2023) e envolveu 1134 crianças e adolescentes de dois a 15 anos – 248 diagnosticadas com autismo e 886 fora do espectro. No grupo das crianças com o transtorno, 66 mães se autodeclararam brancas e 182 não brancas. Os pesquisadores coletaram dados em entrevistas com as mães e documentos oficiais e usaram testes estatísticos para traçar um perfil socioeconômico e demográfico do transtorno do espectro autista nesta população.

Características maternas, como idade e raça e tipo de cuidado recebido durante a gestação, foram apontadas como cruciais no diagnóstico do autismo nessa faixa etária. Mães brancas tiveram 49% mais chance de terem filhos diagnosticados dentro do espectro em comparação com outras raças. Crianças que receberam cuidados pré-natais em clínicas e hospitais privados ou filhos de mães com mais de 25 anos tiveram o dobro de chance de serem diagnosticadas com o transtorno do espectro autista.

Segundo destaca a autora do artigo Marise Fagundes Silveira, da Unimontes, esses resultados podem refletir desigualdades no acesso aos serviços de saúde. “Com exceção da idade materna, que pode estar relacionada com o desenvolvimento do autismo, acreditamos que a diferença de diagnóstico de mães brancas e pretas pode ter relação com as condições de acesso aos serviços de diagnóstico e de tratamento”, diz Silveira.

Isso é importante: de acordo com dados da Abramge (Associação Brasileira de Planos de Saúde), os custos com tratamentos para transtorno do espectro do autismo (TEA) superaram os gastos com tratamentos oncológicos nos planos privados. Em 2023, os custos com TEA atingiram 9% do custo médico total, ultrapassando os 8,7% destinados aos tratamentos de câncer.

O gênero da criança também foi crucial para o diagnóstico de pacientes com o espectro. Os meninos apresentaram uma probabilidade de serem diagnosticados com o distúrbio no nascimento quatro vezes maior que as meninas. Isso pode acontecer por causa da influência dos hormônios masculinos no desenvolvimento fetal e comportamental.

“O fato de o transtorno de espectro autista ser associado a características mais comuns em meninos, como inflexibilidade cognitiva e emocional, pode dificultar o diagnóstico em meninas e levar a equívocos nos diagnósticos de saúde mental na idade adulta”, explica o coautor do estudo Gabriel Mangabeira, psiquiatra e pesquisador do Programa de Ensino, Pesquisa e Extensão sobre o Transtorno do Espectro do Autismo, da Unimontes.

A pesquisa, inédita na América Latina segundo os pesquisadores, pode ter papel relevante na formulação de políticas destinadas a reduzir as disparidades no acesso ao diagnóstico e tratamento adequados do transtorno de espectro autista. Agora, a equipe busca apoio para implementar um instrumento de baixo custo idealizado durante o estudo para auxiliar no diagnóstico e avaliações clínicas de crianças com autismo.

(Fonte: Agência Bori)