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Projeto prevê reinserção da palmeira Juçara, nativa da Mata Atlântica, através de sistema agroflorestal que alimenta população rural e indígena em Araquari/SC

Araquari, por Kleber Patricio

Muda de palmeira Juçara. Fotos: Acervo Instituto Muhda.

O Projeto Raízes Agroecológicas, realizado pelo Espaço Flor de Hibisco e pelo Instituto Muhda, em parceria com a Agroindústria Familiar Barbacuá, financiado pelo Fundo Casa Socioambiental, melhorará um sistema agroflorestal (SAF) para reinserir uma espécie nativa endêmica da Mata Atlântica, a palmeira Juçara. Como resultado esperado, o projeto prevê, já no primeiro ano, a doação de mais de um milhão de sementes para futuro plantio em terras indígenas Guarani M’bya, do norte de Santa Catarina, que já compõem a rede de parcerias e apoios do Espaço Flor de Hibisco e do Instituto Muhda.

Realizado no assentamento agroecológico Justino Draszevski, onde se situa o Flor de Hibisco, o projeto visa a melhoria de um sistema agroflorestal de 10.000m², existente há 3 anos e que já alimenta cerca de 50 famílias de agricultores e indígenas Guarani M’bya da região (Araquari/SC, São Francisco do Sul/SC, Garuva/SC e Balneário Barra do Sul/SC).

O início das atividades foi em 1º de outubro de 2023: o plantio de outras espécies nativas e endêmicas, além do açaí Juçara, como o milho e o repolho, com mutirões de implantação, plantio e colheita junto às comunidades Guarani. Além disso, 50% da produção resultante do SAF será destinada ao povo M’bya, que participará das atividades, e a outra metade será reservada aos agricultores familiares assentados, principais executores do projeto.

Espaço Flor de Hibisco, em Araquari (SC). 

O desenho do sistema agroflorestal incorpora novos alimentos de base biodiversa e espécies com potencial tintorial para aplicação nas artes naturais, estimulando a prática florestal do bioma Mata Atlântica em conjunto com a valorização de hábitos e culturas tradicionais ancestrais, como o tingimento natural e o cultivo de plantas nativas.

Assim, para as comunidades indígenas Guarani M’bya beneficiadas, o projeto fomentará a criação de redes de suprimentos da matéria-prima pelas sementes de Juçara, utilizadas na produção do artesanato, e também a produção de tinturaria natural a partir das espécies com potencial tintório que integrarão o SAF.

A palmeira Juçara

Por meio de seus frutos e sementes, a palmeira Juçara simboliza hábitos culturais de alimentação, artesanato e cosmovisão de povos tradicionais de diferentes territórios catarinenses. Na dimensão técnico-ambiental, o benefício do projeto passa pela otimização da cadeia produtiva de colheita, beneficiamento, ressignificação do resíduo agroindustrial, que passa a ser reutilizado como matéria-prima para práticas artísticas tradicionais, como o artesanato de povos ancestrais e originários.

A implantação de um modelo agroflorestal de Juçara, com espécies de potencial tintório, gerará diversos benefícios transversais, como o estímulo à geração de renda dos parceiros produtores e extrativistas de Juçara na região sul do Brasil, assim como a doação de sementes e mudas para matéria-prima de artesanato e a manutenção da saúde e soberania alimentar das comunidades beneficiadas.

Sobre o Instituto Muhda

Frutos de palmeira Juçara.

O Instituto Muhda é uma associação civil sem fins lucrativos sediada em Florianópolis (SC) que busca conquistar autonomias com resiliência e determinação, comungando sonhos e trabalhando em união. Enquanto movimento, os caminhos são orientados a partir de diretrizes que, como bússolas, norteiam as intenções do corpo coletivo do Muhda. São elas: soberania alimentar, saúde, educação, apoio às populações vulnerabilizadas, sustentabilidade e estímulo à arte e à cultura.

Na organização do Instituto, uma rede integrada se esforça para catalisar mudanças transformadoras a favor da vida liderando iniciativas socioambientais que promovem diversas formas de autonomia. No coração da entidade, está um quadro de colaboradores e parceiros adeptos com um coletivo de especialistas que abrangem vários campos do conhecimento. Para cada projeto distinto, são selecionados profissionais cujas habilidades se harmonizam e se complementam, alimentando uma visão integrada de suporte e ação impactante nos territórios tocados.

Sobre a Agroindústria Familiar Barbacuá

A Agroindústria Familiar Barbacuá está localizada no município de Praia Grande (SC) e tem como filosofia é a regeneração da Mata Atlântica a partir da conservação da espécie de palmeira Juçara. O estímulo ao plantio das Juçaras promove uma economia circular na medida em que as mudas doadas aos pequenos agricultores permitem o fornecimento de posteriores frutos às famílias produtoras de açaí. Já a presença da Juçara nas áreas agroflorestais permite a disponibilidade de alimentos para animais e humanos, contribuindo para um ecossistema equilibrado.

Em 7 anos de história, o movimento Barbacuá já beneficiou mais de 30 toneladas de frutos e distribuiu 10 milhões de sementes. Cerca de 50 famílias de agricultores foram impactadas durante esse período. A atuação desta rede também se dá pela educação ambiental, no desenvolvimento de práticas e oficinas de conscientização sobre a importância ecológica da palmeira Juçara, o desenvolvimento sustentável, a soberania alimentar e o empreendedorismo agroecológico. Hoje, a rede Barbacuá já integra os municípios de Praia Grande, Mampituba, Morro Grande e Jacinto Machado, em Santa Catarina, além de Itati e Maquiné, no Rio Grande do Sul.

Sobre o Fundo Casa Socioambiental

O Fundo Casa Socioambiental é uma organização que busca promover a conservação e a sustentabilidade ambiental, a democracia, o respeito aos direitos socioambientais e a justiça social por meio do apoio financeiro e fortalecimento de capacidades de iniciativas da sociedade civil na América do Sul.

Para isso, desenvolve uma poderosa rede de apoio a pequenas iniciativas da sociedade civil. Uma rede que mobiliza recursos, fornece suporte e fortalece as suas capacidades, garantindo uma autonomia cada vez maior para esses grupos que estão espalhados por toda a América do Sul. Acredita que a transformação parte da escuta e por isso ouve os verdadeiros protagonistas de cada causa que abraça: aqueles que têm suas vidas diretamente afetadas por qualquer alteração no território que ocupam.

(Fonte: Agência NB Comunicação)