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Sesc Ipiranga recebe espetáculo “Hileia: Semeadora das Águas”, da Cia Mundu Rodá

São Paulo, por Kleber Patricio

Cena de “Hileia: Semeadora das Águas”. Fotos: Susan Oliveira.

A Cia Mundu Rodá estreia dia 23 de fevereiro no Sesc Ipiranga (Rua Bom pastor, 822, Ipiranga, São Paulo, SP) o espetáculo “Hileia: Semeadora das Águas”, realizado a partir da nova pesquisa do grupo baseada em temas urgentes e universais: o útero, a ancestralidade, o mercúrio, a seca, a enchente e a água. A nova montagem, com dramaturgia de Dione Carlos, traz trilha original executada vivo e emerge de pesquisas do grupo realizadas nos últimos anos, envolvendo o delicado tema das questões ambientais por meio do aprofundamento de um teatro imbricado nas tradições populares e nas corporeidades contemporâneas. Com direção de Ana Cristina Colla, do Lume Teatro, a peça fica em cartaz até 24 de março no Sesc Ipiranga – Auditório e os ingressos podem ser adquiridos em https://www.sescsp.org.br/programacao/hileia-semeadora-das-aguas/.

“Da trajetória do meu antepassado avô, que semeava rios por onde passava, das vozes ancestrais que tanto nos alertam e me ensinam, peço licença para evocar memórias de mulher-rio. Da inquietude de transformar a mim e o que puder alcançar, lançamos sementes de águas para que possamos colher rios”, evoca Juliana Pardo, atriz e uma das criadoras do espetáculo.

Hileia: Semeadora das Águas parte de uma pesquisa que entrelaça as memórias pessoais da atriz Juliana Pardo, uma das fundadoras da companhia, além de documentos e narrativas que demonstram a construção da capital paulista por meio do apagamento violento de seu desenho hídrico, e materiais levantados durante duas expedições realizadas pela Mundu Rodá na região Amazônica, pelos rios Xingu e Iriri em 2017 e Rio Acre e Tapajós (2019). O espetáculo teve como inspiração a história real do avô da atriz, que foi carreiro de boi e que coletava águas de rios em pequenas garrafinhas de vidro, autodenominando-se um “colecionador de rios”. Somam-se à construção do espetáculo elementos da cultura popular, pesquisa que tem orientado a criação teatral da Cia. Mundu Rodá desde o seu surgimento, no ano 2000.

Na vida real da artista Juliana Pardo, a figura que guardava águas de rios em garrafas é seu avô Francisco Teles, mas na ficção proposta por Dione Carlos, a avó Hileia é quem coleciona os rios nos potes de vidro. A peça transita também sobre o “ser mulher” em um mundo onde o machismo silencia, o medo imobiliza e o poder patriarcal subsiste há muitas gerações.

Sinopse | Hileia, uma mulher prestes a perder a visão, acaba de herdar uma coleção da avó: rios engarrafados que a anciã reuniu durante toda a sua vida. Impactada diante do acervo, cria um altar para os objetos, passando a adorá-los até ser transportada para uma realidade paralela na qual já não é apenas humana, mas um ser híbrido – meio bicho, meio planta, meio água. Navegando pelos rios soterrados de São Paulo, o espetáculo trama a história de mulheres-rios em diferentes gerações.

Profundidades musicais

Do som gravado das baleias às bacias de água em cena, dos diferentes timbres de chocalhos à rabeca (instrumento constante na pesquisa da Mundu Rodá), são muitas as camadas sonoras de “Hileia”. Da trilha original feita para o espetáculo por Alício Amaral, Juliana Pardo e Amanda Martins, o espectador sem dúvida pode esperar gozo e encantamento. “Partimos das poéticas da água, desde o som da superfície, do meio e das águas mais profundas, além das viagens e encontros com as cantigas e canções tradicionais”, explica Alício Amaral, compositor e pesquisador da Mundu Rodá que executa a trilha no espetáculo ao lado de Amanda Martins. Aos instrumentos e abordagens inusitadas, juntam-se as músicas tradicionais, como as “Cantigas do Baião de Princesas” da Casa Fanti Ashanti, Família Menezes e do Grupo A Barca, do Maranhão, e a “Canção dos Encantados”, de dona Maria Zenaide (cantora e parteira do Rio Juruá, no Acre). Completando as corporeidades e pesquisas de Hileia, ainda há a investigação corporal e o Butoh Dance, colaboração com Yumiko Yoshioka.

Histórico – Cia Mundu Rodá

A Cia. Mundu Rodá (SP), fundada em 2000 pelos artistas Juliana Pardo e Alício Amaral, possui um trabalho continuado de pesquisa que, desde seu surgimento, tem contribuído para um movimento das artes brasileiras contemporâneas que se pensam para além dos padrões eurocêntricos de criação e modos de produção. Vem construindo uma linguagem cênica própria a partir da observação, inter-relação e prática com as Manifestações Tradicionais Brasileiras e o trabalho de artistas intérpretes nas áreas do teatro, dança e música. A partir de pesquisas de campo e intercâmbios com artistas de diferentes áreas, foi criada uma metodologia de preparação e encenação de artista intérprete que dialoga com as urgências e formas de nossa própria época e com os saberes ancestrais que constituem nossas fontes ativas. Os princípios físicos e energéticos que constituem as Manifestações Tradicionais Brasileiras, assim como o estudo biomecânico do corpo-brincador e dos diferentes elementos que o constituem, permeiam nossos trabalhos artístico-pedagógicos.

As criações da Mundu Rodá são, hoje, uma referência importante dentro e fora do Brasil pelo modo como articulam tradição e inovação; situam-se na zona de fronteiras entre as artes e, desta forma, rompem com as velhas dicotomias entre as linguagens e estilos, esboçando novas formas de expressões contemporâneas da arte brasileira, assim como na vasta atuação pedagógica que demarca o trabalho da Cia.

Ficha Técnica

Direção: Ana Cristina Colla

Codireção: Alício Amaral

Atuação: Juliana Pardo

Músico e Musicista em Cena: Alício Amaral e Amanda Martins

Dramaturgia: Dione Carlos

Designer Audiovisual: Yghor Boy

Figurinos: Awa Guimarães

Visagismo: Tiça Camargo

Direção musical: Alício Amaral

Criação musical: Alício Amaral, Amanda Martins e Juliana Pardo

Cantigas: Baião de Princesas – Casa Fanti Ashanti, Família Menezes e Grupo A Barca e Canção dos Encantados – Maria Zenaide

Investigação corporal – Butoh Dance: Yumiko Yoshioka

Tradução e Mediação de Contato/Produção (Yumiko Yoshioka): Eduardo Okamoto

Treinamento corporal: Lu Favoreto e Juliana Pardo

Investigação vocal: Lari Finocchiaro, Andrea Drigo e Letícia Góes

Concepção Cenário: Giorgia Massetani

Luz: Eduardo Albergaria

Operação de Luz: Felipe Stucchi e Kenny Rogers

Captação das imagens Rio Jureia: Laboratórios Cisco

Equipe de produção: Corpo Rastreado – Lucas Cardoso

Assessoria de Imprensa: Canal Aberto – Márcia Marques, Daniele Valério e Marina Franco

Créditos da primeira etapa do projeto:

Pesquisa e criação | Assistência de Direção: Natacha Dias e Alício Amaral Designer Audiovisual: Clara Moor e Julia Ro Figurinos: Thaís Dias Cenário e Cenotecnia: Wanderley Silva Provocadores dos Estudos Cênicos I e II: Daniel Munduruku, Francois Moïse Bamba, Patrícia Furtado e Adriano Sampaio Tradução e Mediação de Contato / Produção (Francois Moïse Bamba): Laura Tamiana Captação das imagens Rio Jamari e das crianças da aldeia jupaú, T.I. Uru Eu Wau Wau – Povo Uru Eu Wau Wau; e desenhos criados pelas crianças da Aldeira Tubatuba, T.I.Xingu, Povo Yudjá: Clara Moor.

Serviço:

Hileia: Semeadora das Águas

De 23 de fevereiro a 24 de março, sextas às 21h30, e sábados e domingos às 18h30

Local: Sesc Ipiranga – Auditório – Rua Bom Pastor, 822, Ipiranga, São Paulo/ SP

Duração: 60 minutos

Classificação Indicativa: 12 anos

Ingressos: R$40 (inteira), R$20 (meia-entrada) e R$12 (credencial plena) | Vendas nas bilheterias das unidades do Sesc e no link Informações e ingressos, em https://www.sescsp.org.br/programacao/hileia-semeadora-das-aguas/.

(Fonte: Canal Aberto Assessoria de Imprensa)