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Pinacoteca de São Paulo recebe mostra “Formas Vivas”, de Elisa Bracher

São Paulo, por Kleber Patricio

Foto: Isabella Matheus.

A Pinacoteca de São Paulo acaba de inaugurar a exposição “Elisa Bracher: formas vivas”, no 4º andar da Pinacoteca Estação. Exatos 25 anos após a primeira exibição da artista na Pinacoteca, instalações em madeira, papel e chumbo ocupam as três galerias expositivas do quarto andar do edifício propondo uma organização fluida entre questões que sempre permearam a produção de Bracher: peso, equilíbrio, composição e percurso. Com curadoria de Pollyana Quintella, os trabalhos foram desenvolvidos especialmente para esta exposição.

Desde o início dos anos 1990, Elisa Bracher explora as relações entre forma, matéria e espaço em um percurso que abrange gravuras, esculturas e desenhos que desafiam os materiais no limite de seus atributos. Em 1998, pela primeira vez a artista realizou uma mostra individual na Pinacoteca, ocasião em que expôs no pátio externo e na calçada em frente ao museu um conjunto de suas enormes toras de madeira, obras responsáveis por torná-la amplamente conhecida no cenário artístico brasileiro. Em “Elisa Bracher: Formas vivas”, o público terá acesso a uma apresentação panorâmica do trabalho de Bracher, que responde ao espaço expositivo com três grandes instalações, acompanhadas por composições musicais inéditas de Shen Ribeiro e Rodrigo Felicíssimo, desenvolvidas especialmente para a ocasião.

“‘Elisa Bracher: formas vivas’ desdobra alguns dos aspectos mais importantes da obra da artista. Primeiro, a capacidade de se engajar intimamente com os materiais e suas qualidades; depois, seu modo de lidar com o próprio corpo da instituição como matéria de trabalho. Para Bracher, não há obra antes do espaço – só há obra a partir do espaço, em resposta a ele. Por isso, muitas perguntas foram colocadas ao longo do processo. Por exemplo, quanto peso esse chão suporta? De que é feito o teto? É possível abrir as paredes e as janelas? O edifício é testado física e conceitualmente no limite de sua estrutura. Por fim, como estamos tratando de obras a um só tempo frágeis e vigorosas, é o próprio corpo do público que também é convidado a assumir uma outra postura no museu, uma vez que é preciso se colocar em um estado de cuidado e atenção redobrados para percorrê-las. Trata-se de uma produção que encontra sua força justo no embate com o mundo material e nos conflitos que daí emergem”, conta Pollyana.

“Formas vivas” tem patrocínio da Caterpillar na cota Prata.

Madeira, papel e chumbo

Na primeira sala, uma composição circular de restos de madeiras oriundas de construções rurais e antigas esculturas sugere a iminência de um desabamento, em um equilíbrio instável. Jacarandás, Perobas e Ipês são apresentados ao público como destroços e fragmentos arruinados. Destituída de causa e efeito, a força da obra, chamada de “Novo corpo”, reside em sua ambiguidade: seu esforço de estruturação é frágil, mas persistente.

Ao redor, fotografias em preto e branco da vegetação de São Bento do Sapucaí, município situado na Serra da Mantiqueira, apresentam padrões diversos de folhagens evocando a origem da mata in natura. Vistas juntas, esculturas e fotografias falam de um antes e um depois, em um jogo entre a matéria bruta e o seu usufruto. Se “Novo corpo” põe o espectador em alerta, na medida em que manifesta seu frágil equilíbrio no espaço, desenhos em papel japonês suspensos como uma fina membrana, na sala seguinte, produzem um novo estado de tensão.

Um varal de barras de ferro, responsável originalmente por auxiliar na secagem dos desenhos de grandes dimensões, cruza o espaço da segunda galeria de ponta a ponta. Transportado do ateliê da artista, na Vila Leopoldina, São Paulo, o varal permite que o público observe os papéis como um conjunto, com contornos e áreas preenchidas, traços oleosos e secos, vermelhos, amarelos e negros, em uma espécie de desenho expandido no espaço, de escala arquitetônica, enquanto também assume ares de corpo escultural. Dois vídeos projetados dialogam com os desenhos, transformando-os em coisa viva: um fluxo de óleo e pigmento preenche uma tripa dentro de uma forma de vidro como se testemunhássemos uma operação no interior de um organismo.

Na última galeria, em situação de suposta leveza, lençóis de chumbo se apresentam como retalhos moles. Enormes chapas do material sustentadas por cabos de aço têm sua maleabilidade explorada pela artista para conferir textura e plasticidade, transformando áreas lisas e intactas em matéria deformada. Optando por deixar as janelas da sala abertas, Bracher explora a própria luz natural como meio de expressão da escultura. A capacidade do chumbo de reluzir, de refletir o espaço circundante, colabora aqui para distorcer as dimensões da galeria.

Por fim, o espectador encontrará, depois de percorrer diversas camadas de chumbo, um piano de cauda repousado no espaço. Ao longo da mostra, performances musicais coordenadas por Shen Ribeiro e Rodrigo Felicíssimo serão responsáveis por explorar as propriedades sonoras do chumbo em uma extensa programação de ativações.

Serviço:

“Elisa Bracher: Formas Vivas” – 1/4 a 17/9/2023

Pinacoteca Estação

Funcionamento: de quarta a segunda, das 10h às 18h – Gratuito.

(Fonte: Pinacoteca de São Paulo)