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Pinacoteca de São Paulo inaugura programação de exposições de 2024 com mostra panorâmica de Lygia Clark

São Paulo, por Kleber Patricio

“Bicho – Relógio de sol”,1960. Foto: divulgação.

A Pinacoteca de São Paulo apresenta “Lygia Clark: Projeto para um planeta”, exposição panorâmica de uma das artistas brasileiras mais relevantes do século XX. A mostra ocupa as sete galerias expositivas da Pinacoteca Luz com mais de 150 obras que demonstram o legado dos mais de 30 anos de carreira da artista. Com curadoria de Ana Maria Maia e Pollyana Quintella, a exposição comemora o centenário de Lygia Clark apresentando obras como ‘Projeto para um planeta’ (1960) – da série Bichos, que dá nome à exposição, a instalação ‘A casa é o corpo’, feita para a Bienal de Veneza de 1968, e ‘Maquete para interior nº 3’, reproduzida em grande escala especialmente para a Pinacoteca.

Lygia Clark foi uma das artistas responsáveis por reestruturar o vocabulário artístico brasileiro a partir da década de 1960, desafiando as fronteiras entre o papel do artista e do público e propondo uma nova relação entre corpo e objeto. Na Pinacoteca, a exposição estabelece uma conexão entre as diferentes fases da carreira de Clark, apresentando suas pinturas iniciais, a passagem pelo movimento neoconcreto, proposições participativas e projetos arquitetônicos. A mostra reúne uma grande seleção de obras históricas vistas poucas vezes nos últimos anos. “Lygia Clark tem um lugar fundamental na formação de repertório sobre formas de produzir e experimentar arte. Passados 18 anos desde a última mostra dedicada à artista no museu, é preciso assegurar que públicos das mais variadas origens e idades, sobretudo estudantes, possam não apenas ler sobre as obras e proposições da artista, mas acessá-las e vivenciá-las presencialmente”, contam as curadoras.

Sobre a exposição  

A mostra começa a partir de uma proposição fundamental para a artista: a participação do público. Um tablado com réplicas da série Bichos, uma das mais famosas produzidas por Clark a partir de 1960, fica disponível para o manuseio do visitante no centro da galeria expositiva. Ao redor, algumas pinturas da fase inicial e trabalhos importantes da carreira da artista exibidos em 1965 na galeria Signals, em Londres. As séries Superfícies Moduladas e Composições também fazem parte do conjunto de trabalhos exibidos nesta sala.

Na segunda sala, vinte Bichos originais são reunidos pela primeira vez em mais de uma década. Entre eles estão ‘Relógio de Sol’ (1960), adquirida pela Pinacoteca a propósito da mostra Projeto Construtivo Brasileiro, organizada por Aracy Amaral no museu em 1977, e a obra ‘Projeto para um planeta’ (1960). A terceira sala da mostra dá sequência aos desdobramentos da pesquisa de Lygia Clark no campo tridimensional, quando os Bichos dão lugar às ‘Obras moles’ (1964) e aos ‘Trepantes’ (1964-65). Na sala também está a obra ‘Caminhando’ (1964), trabalho que representa um momento crucial da carreira de Clark, quando a artista rompe com a noção de autoria convidando o público, a partir de uma série de instruções, a cortar uma tira de papel em formato de uma fita de Moebius, levando-nos a considerar a obra como “puro ato”.

A quarta sala da mostra se concentra sobre o que a artista chamou de linha orgânica, já interessada nos limites entre arte e vida, ao observar uma linha de espaço que se formava no encontro entre dois materiais distintos. A partir da sua “quebra da moldura”, que passa a ser integrada à pintura, Clark buscou abandonar o espaço metafórico da representação em direção à conquista do espaço real, sem dissociar a obra do mundo. Na galeria estão presentes trabalhos fundamentais dessa fase, como ‘Quebra da moldura’ (1954) e ‘Descoberta da linha orgânica’ (1954).

Foi a partir da descoberta da linha orgânica que se deu a aproximação de Clark com a arquitetura. Pensando formas funcionais e olhando para o espaço cotidiano, a artista passa a desenvolver propostas arquitetônicas interessadas em permitir que o usuário pudesse transformar a estrutura física do espaço. A obra ‘Maquete para interior nº 3’ (1955), foi remontada em grande escala especialmente para a Pinacoteca. Outros trabalhos em maquete, composições, ‘Estruturas de caixas de fósforos’ (1964) e a série ‘Escadas’ (1948-51), parte importante do seu estudo de linhas e planos, complementam a sala.

Com a superação do objeto artístico conquistada com a obra ‘Caminhando’, Lygia passa a apostar numa experimentação mais profunda do corpo. A partir de meados da década de 1960, a artista realiza seus “Objetos relacionais”, feitos de material simples e ordinário em busca de um reencontro sensorial entre sujeito e mundo. As duas últimas salas da exposição apresentam trechos de filmes, fotos e documentos que exibem as propostas individuais e agenciamentos coletivos de Clark – estes últimos, frutos das experiências da artista em Paris, onde morou entre 1970 e 1976, ministrando um curso na Universidade Sorbonne. A mostra traz obras como ‘Pedra e ar’ (1966), primeiro objeto relacional desenvolvido pela artista, a instalação ‘A Casa é o corpo’, criada para a Bienal de Veneza de 1968, além de registros do seu método terapêutico ‘Estruturação do Self’.

Complementando a exposição, a nova sala de vídeo do museu, inaugurada em 2023, recebe o filme “O mundo de Lygia Clark” (1973), de Eduardo Clark, que apresenta uma série de proposições da artista como ‘Canibalismo’, ‘Rede de Elástico’  e ‘Diálogo de óculos’, entre outras.

A exposição será acompanhada por um catálogo publicado em edição bilíngue (português e inglês), reproduzindo as obras da mostra, ensaios escritos por Ana Maria Maia e Pollyana Quintella, Irene V. Small, Tania Rivera, Sabrina Fontenele e Bruna Bonfim Guimarães, bem como uma fortuna crítica republicando textos históricos de Guy Brett, Ferreira Gullar, Mário Pedrosa, Paulo Herkenhoff e Suely Rolnik. (Brochura, 28 x 23 cm, 265 páginas).

A exposição Lygia Clark: Projeto para um planeta tem patrocínio da B3 – A Bolsa do Brasil e Livelo (cota Platinum), Ternium, Usiminas e Mattos Filho (cota Ouro), UBS e Verde Asset Management (cota Prata).

Sobre a artista | Lygia Clark (Belo Horizonte, Minas Gerais, 1920 – Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1988) é um dos mais importantes nomes da arte brasileira contemporânea, parte de uma geração responsável por ampliar as linguagens, estabelecer vínculos com as questões socioculturais e engajar todas as pessoas, sendo artistas ou não, na experiência transformadora de criar. Gradualmente seu trabalho passa do suporte bidimensional a experiências tridimensionais e processuais. Na Pinacoteca, destaca-se a presença da artista na coletiva Projeto construtivo na arte Brasileira (1977) e na individual Da obra ao acontecimento (2005-2006). A última exposição institucional da artista no Brasil, “Lygia Clark: uma retrospectiva”, aconteceu em 2012 no Itaú Cultural.

Sobre a Pinacoteca de São Paulo | A Pinacoteca de São Paulo é um museu de artes visuais com ênfase na produção brasileira do século XIX até a contemporaneidade e em diálogo com as culturas do mundo. Museu de arte mais antigo da cidade, fundado em 1905 pelo Governo do Estado de São Paulo, vem realizando mostras de sua renomada coleção de arte brasileira e exposições temporárias de artistas nacionais e internacionais. A Pina também elabora e apresenta projetos públicos multidisciplinares, além de abrigar um programa educativo abrangente e inclusivo.

Serviço:

Lygia Clark: Projeto para um planeta

Período: 2/3 a 4/8/2024

Curadoria: Pollyana Quintella e Ana Maria Maia

Pinacoteca Luz (7 salas)

De quarta a segunda, das 10h às 18h (entrada até 17h)

Gratuitos aos sábados – R$30,00 (inteira) e R$15,00 (meia-entrada), ingresso único com acesso aos três edifícios válido somente para o dia marcado no ingresso | quintas-feiras com horário estendido B3 na Pina Luz, das 10h às 20h (gratuito a partir das 18h)

Programação de abertura:

2/3, sábado

10h – Abertura pública

11h – Ativação Rede de Elástico (Octógono)

14h – Ativação Corpo Coletivo (Octógono)

15h – Conversa com Gina Ferreira e Lula Wanderley (Auditório Pina Luz)

11h às 12h e das 14h às 15h – Caminhando

3/3, domingo

11h – Ativação Rede de Elástico (Octógono)

14h – Ativação Corpo Coletivo (Octógono)

15h – Conversa com Suely Rolnik e Paulo Sérgio Duarte (Auditório da Luz)

11h às 12h e das 14h às 15h – Caminhando (Octógono)

9/3, sábado

11h – Ativação Rede de Elástico (Octógono)

14h – Ativação Canibalismo (Octógono)

11h às 12h e das 14h às 15h – Caminhando (Octógono)

10/3, domingo

11h – Ativação Rede de Elástico (Octógono)

14h – Ativação Canibalismo (Octógono).

(Fonte: Pinacoteca de São Paulo)