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O Autor na Praça promove o sarau “Para reconhecer o Azul”

São Paulo, por Kleber Patricio

anpNo dia 5 de novembro, sábado, o projeto O Autor na Praça promove o sarau Para reconhecer o azul, um tributo ao saudoso poeta Rafael Gombez apresentando leituras de seu livro póstumo Aonde o corpo se põe, lançado em 2016 pela Editora Patuá e reunindo poesias do jovem poeta, falecido em 2008,aos 25 anos. O evento contará com a participação de seus amigos e parceiros Bia Lopes, Diogo Cardoso, Marcia Matos e Ricardo Silva. Rafael era um frequentador do Espaço Plínio Marcos e encontrava inspiração para seus textos e poesias nos bares e espaços culturais da praça e da cidade de São Paulo.

Em sua apresentação do livro, José Miguel Wisnik conta: “Rafael Gombez frequentou como aluno extra, não curricular, minhas aulas de literatura naqueles que foram meus últimos anos de atividade continuada na graduação. (…) Um dia fizemos uma incursão pelo ABC, em São Bernardo do Campo, onde ele morava. Antes de uma palestra que eu ia dar lá, fui almoçar na casa dele. Entre nós, no carro, ele me contou que sofria de fibrose cística, doença genética, rara, a rigor incurável. Dizia com serenidade, relatava circunstâncias do tratamento e das crises só porque eu perguntei e sem remeter às agruras da doença ao gênero drama. Não demorei a ficar sabendo, embora não através dele, que no estado de coisas atual da medicina os portadores dessa síndrome não vivem muito tempo. Nada nele denunciava, apesar de tudo, um aspecto ou um caráter doentio, muito menos mórbido. Estava interessado em respirar literatura, em estar entre nós. No dia da minha última aula antes de me aposentar havia uma emoção da despedida, que eu não sabia que era a despedida maior. Ele deixou comigo alguns textos sobre os quais eu não cheguei a conversar com ele e para os quais, como sói (e às vezes dói) acontecer na nossa cegueira costumeira, acreditei que teríamos muito tempo. Fico sabendo que o livro que recebo agora, com o belo título de Aonde o corpo se põe, é a última forma de suas buscas pela poesia e é onde ele reconheceu ter chegado ao legado poético de si mesmo. Na nota introdutória, expressa a preocupação de não incorrer no erro de “jogar mais um sofá ao rio”, de não contribuir para agravar a poluição de todas as atmosferas com mais um caudal insano de palavras vãs. (…) Rafael olhou com lucidez a morte, lutou para desnudá-la dos véus e das vendas tenebrosas com que fomos ensinados a vesti-la e fez com as armas etéreas da poesia aquilo que um dia, com sorte, faremos todos: deixar por um instante extremo, no caos e na presença pungente de uma ausência, a vida toda iluminada”.

O poeta

Natural de Ji-Paraná (Rondônia), viveu em São Bernardo do Campo desde meados da década de 1990. Nos anos 2000, frequentou, participou e realizou atividades na Câmara de Cultura Antonino Assumpção e de outros espaços culturais do ABCD, além de assistir, como aluno ouvinte, às aulas de Literatura Brasileira e Portuguesa na USP. Em São Bernardo do Campo, participou de oficinas de poesia, do movimento estudantil, da militância política e cursou, sem concluir, a Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo. Gostava de transitar pela cidade de São Paulo, por seus eventos culturais, mas quando permanecia muito em suas ruas, sentia muita falta do mar e de um horizonte onde pousar. Leitor atento das falas do cotidiano, de ensaios de filosofia e sociologia, Rafael encontrou na poesia e na literatura lugares propícios e comoventes para trabalhar nas imagens e questões da sua vida.

Rafael faleceu em 2 de janeiro de 2009, aos 25 anos, de fibrose cística, deixando, além de Aonde o corpo se põe, outros textos esparsos e reunidos de prosa e poesia. Seus poemas trazem muitas imagens desse convívio com a vida, com a morte, com a dor, com o cotidiano, com as cidades pelas quais transitava, com as pessoas pelas quais era saudado e a quem ele saudava. Sua escrita e seu modo de existir transformaram-se profundamente no contato com as obras de Augusto dos Anjos, Rimbaud, Manuel Bandeira, Fernando Pessoa, Guimarães Rosa, Roberto Freire, Juliano Garcia Pessanha, Manoel de Barros e Herberto Helder.

Serviço:

O Autor na Praça promove o sarau Para reconhecer o azul, um tributo ao saudoso e jovem poeta Rafael Gombez

Espaço Plínio Marcos – Tenda na Feira de Artes da Praça Benedito Calixto – Pinheiros

Dia 5 de novembro, sábado, 15h – Entrada franca

Informações: Edson Lima: (11) 3739-0208 / oanp@uol.com.br

Realização: Edson Lima e Aapbc – Associação dos Amigos da Praça Benedito Calixto. Parceira: http://radioundercover.com.br. Apoio: Historiarte Educação e Cultura, Max Design, O Cantinho Português (Barraca de comida portuguesa na Feira de Artes da Praça Benedito Calixto) e Restaurante Consulado Mineiro.