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Museu Lasar Segall encerra exibição de ‘Os Caprichos: Crônicas de uma Guerra’ na próxima segunda

São Paulo, por Kleber Patricio

“Aviadores alemães, italianos, franquistas, malditos sejam!” Gustavo Cochet - Água-forte e água-tinta - 14,6 x 19,7 cm - Museo Cochet. O apoio que a sublevação franquista recebeu da Legião Condor alemã e da aviação italiana provocou estragos até então impensáveis em um conflito bélico. A esse horror, Cochet faz referência em seu Diario de un pintor: “As sirenes!... seguidamente a zoada das baterias antiaéreas, imediatamente a terra que treme ao explodirem as bombas da aviação, e enquanto isso o espanto que aperta nossos corações. A cada estampido, punhados de vidas ceifadas; a cada estrondo, sentimos a nossa salva milagrosamente e pensamos: esses aviões que semeiam a morte foram abençoados antes de deixar suas bases”.

“Aviadores alemães, italianos, franquistas, malditos sejam!” – Gustavo Cochet – Água-forte e água-tinta – 14,6 x 19,7 cm – Museo Cochet.
O apoio que a sublevação franquista recebeu da Legião Condor alemã e da aviação italiana provocou estragos até então impensáveis em um conflito bélico. A esse horror, Cochet faz referência em seu ‘Diario de un pintor’: “As sirenes!… seguidamente a zoada das baterias antiaéreas, imediatamente a terra que treme ao explodirem as bombas da aviação, e enquanto isso o espanto que aperta nossos corações. A cada estampido, punhados de vidas ceifadas; a cada estrondo, sentimos a nossa salva milagrosamente e pensamos: esses aviões que semeiam a morte foram abençoados antes de deixar suas bases”.

O Museu Lasar Segall encerra na próxima segunda-feira, 26 de setembro, a exibição da mostra Os Caprichos: Crônicas de uma Guerra (1936-1939). A exposição prossegue diariamente das 11h00 às 19h00 (exceto terça-feira).

“Viva como você gostaria que se vivesse no futuro”, foi o lema dos ativistas libertários e assim viveu Gustavo Cochet durante toda a sua vida, um exemplo moral tão valioso quanto sua obra e seus escritos, nos quais apresenta uma firmeza ética e uma irredutibilidade política condizentes com um conceito de liberdade que resiste a toda forma de dominação.

Nasceu em 1894, em Rosário. Essa pequena cidade portuária era chamada nessa época a “Barcelona argentina”, por abrigar movimentos anarquistas urbanos semelhantes aos da cidade espanhola. Em 1915, embarcou rumo à Europa para conhecer a terra de seu pai francês. Foi primeiro a Barcelona e trabalhou na galeria de Josep Dalmau. Em 1921, viajou a Paris e entrou em contato com um ambiente artístico agitado pela guerra. “Devo minha formação artística a uma feliz conjunção: Barcelona e Paris. Na primeira, dediquei-me ao trabalho, ao sentido artesanal do ofício… em Paris, compreendi o sentido heroico. Lá a chama do ideal se acendeu para durar enquanto durar minha vida”, expressou em seu Diário de um pintor.

Com a reinstauração da República, regressou a Barcelona. Em 1936, tinha seu ateliê na Plaza Real e participava das tertúlias no Bar Canaletas, frequentado pelos artistas engajados na defesa da República. Na direção da Seção de Belas-Artes da CNT, organização anarcossindicalista, pertencente à Federação Anarquista Ibérica, direcionou seu trabalho para uma mudança cultural transcendente, promovendo o livre pensamento, a tomada de consciência da unidade e solidariedade entre os homens como único caminho para construir uma sociedade nova.

“No dia 19 de julho de 1936, fechei as portas do meu ateliê em Barcelona e ali ficaram inconclusas as obras que estavam sendo realizadas; em que minhas pinturas podiam servir ao povo em armas, em sua magna luta? Em nada, absolutamente. Considerei-me então mais um miliciano…”.

Durante a guerra, deixou de pintar e centrou-se exclusivamente na gravura. Trabalhou no Casal de la Cultura, espaço criado como retaguarda cultural da revolução. Iniciou sua série, que chamou de Caprichos, homenageando seu admirado artista espanhol, Goya, e o francês Callot. A técnica utilizada foi a água-forte, incluindo em algumas delas a água-tinta e a gravura a açúcar.

As primeiras imagens são de crítica social, em que põe em evidência relações sociais destruidoras dos laços humanos. Retrata cenas de milicianos e milicianas em ação, e as conspirações e traições dos poderosos. Foi completando a série ao longo do desenrolar da guerra, refletindo seus horrores e injustiças. Sua potência visual emana de sua dor moral pelo conflito intrínseco à modernidade e que esta tenta resolver por meio da guerra.

A última estampa foi realizada quando a guerra já estava perdida e ele já estava no exílio, na cidade fronteiriça de Perpignan, entre janeiro e fevereiro de 1939. Esta última obra não estava incluída na pasta que o Museo Cochet de Rosário conserva e de onde provêm estas obras. A série completa está no Museu Nacional d’Art de Catalunya, de onde veio a imagem exposta, que revela a esperança de uma humanidade unida que se renova com urgente atualidade.

(María Eugenia Prece).

O Museu Lasar Segall fica na Rua Berta, 111, na Vila Mariana, em São Paulo (próximo ao Metrô Santa Cruz). www.museusegall.org.br