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Museu da República inaugura mostra coletiva “Nem sempre dias iguais”

Rio de Janeiro, por Kleber Patricio

Obra de Barbara Copque. Foto: divulgação.

No dia 4 de junho foi inaugurada no Palácio do Catete, Museu da República a exposição coletiva “Nem sempre dias iguais”, com obras das artistas cariocas Bárbara Copque, Cláudia Lyrio e Yoko Nishio. Com curadoria de Isabel Portella, a mostra ocupa as três salas de exposições temporárias do Palácio do Catete com cerca de 68 obras, dentre pinturas, desenhos e fotografias produzidos durante o isolamento social. “Os trabalhos resultam dos afetos provocados pelo período pandêmico em nossas pesquisas individuais”, dizem as artistas.

Os trabalhos tratam de temas cotidianos para além da pandemia, como o nosso contato com o mundo através das telas, as relações interpessoais e o excesso de informações e imagens fragmentadas do nosso dia a dia.  Além de artistas, todas são professoras e pesquisadoras.

“Barbara Copque, Cláudia Lyrio e Yoko Nishio – três artistas que traduziram suas vivências durante a pandemia a partir de diferentes poéticas. São olhares que desafiam o medo e a angústia, criando possibilidades de fuga. A porta da rua, as imagens digitais temporárias e grafismos que criam outras invisibilidades são as vias escolhidas por essas mulheres para ultrapassar. Independente do momento, sempre existirá resistência, procura, erros e acertos. Mas certamente sempre haverá essa luta entre a luz e a escuridão, entre o medo e o prosseguir, que leva a propostas e entendimentos incríveis. É o que define a superação criativa, tão inerente ao feminino”, afirma a curadora Isabel Portella.

Antropóloga, a artista Bárbara Copque sempre teve a rua como interlocutora. Durante o isolamento social, no entanto, a porta passou a ser o seu contato com a rua e ela produziu cerca de 800 fotografias a partir do olho mágico da porta de sua casa. Quinze destas fotografias, em formato redondo, com 6,5cm de diâmetro, para que o público também tenha a sensação de estar vendo através de um olho mágico, serão apresentadas na exposição. Além dessas, também serão apresentadas duas impressões especiais que provocam uma ilusão de ótica com imagens em movimento. “A porta é a minha rua e o olho é mágico é uma série de imagens onde, num movimento de autoetnografia – experiências corporificadas, reflexivas e emotivas – , retomo o meu dialogar com a rua ou o meu ‘ruar’ com coisas e corpos sem-isolamentos, que circulam e trabalham, num constante vaivém, enquanto eu seguia conectada nas telas e ‘olhos mágicos’”, conta Bárbara Copque.

Com obras em grandes dimensões, com tamanhos que chegam a dois metros de altura, a artista Cláudia Lyrio apresentará sete desenhos/pintura da série “Manuscritos de Si” que relacionam imagem e escrita. Formada em literatura, a artista interrompeu a pesquisa que vinha fazendo antes da pandemia para mergulhar dentro de si, ampliando as escalas.

Com textos autorais, cada tela pode ser vista como a página de um livro, com escritas em tinta acrílica, grafite, carvão etc., com colagens de papel, tela e fitas. Nas telas, é possível ler os manuscritos, mas também se pode ler a obra enquanto grafismo, textura e escala. “Se a escrita nasceu da imagem, há uma imagem que nasce da escrita. Escrever é tornar visível e/ou criar outras invisibilidades? Espaço, tempo, contexto, texto, linhas que se torcem e se cruzam. Fruir o erro e o rabisco, vacilar”, questiona a artista.

Obra “Diário de Quarentena”, de Yoko Nishio.

Isolada na casa de sua mãe, sem acesso a nenhum material artístico, nem mesmo papel, a artista Yoko Nishio começou a desenhar na própria mão com caneta esferográfica durante o início da pandemia, em trabalhos que fotografava e compartilhava com os amigos. Com centenas de fotos, a artista escolheu as 30 imagens feitas durante o mês de abril de 2020 para mostrar na exposição. “São desenhos efêmeros, que em breve desapareceriam. E a mão, na sua tripla contradição, é o suporte possível de morte, vida e ação”, afirma a artista.

Além desta série, Yoko Nishio também apresentará pinturas da série “Indexados”, em óleo sobre tela, medindo 90cm X 50cm, em formato vertical, como a tela do celular. “São imagens fragmentadas, que vemos o tempo todo nas telas, não só durante a pandemia, mas no nosso cotidiano”, ressalta a artista, cujas obras dão continuidade a sua pesquisa sobre imagem e vigilância. A oferta de imagens remotas nas redes acende para o perigo de uma nova antropometria que vigia os corpos e suas atuações.

Sobre as artistas

Bárbara Copque ama a Portela, seu time é o Madureira e fotografa desde pequena. É pós-doutora em ciências sociais, deu máquinas fotográficas para crianças em situação de rua, entrou com máquinas nos presídios cariocas e sempre utiliza a fotografia nos seus estudos sobre violência institucional; participa como curadora da FAIM – Festival de Artes de Imbariê e do coletivo Negras[fotos]grafias, publicou livros, artigos, realizou ensaios fotográficos, vídeos etnográficos e participou de exposições individuais e coletivas, sendo as últimas no Museu de Arte do Rio de Janeiro/MAR, nas exposições “Casa Carioca” e “Crônicas Cariocas”. Atualmente é professora adjunta na UERJ, onde subchefia o Departamento de Formação de Professores, coordena o Núcleo de Estudos Visuais em Periferias Urbanas, participando também do grupo Afrovisualidades e dos projetos de extensão MACP – Mapeando Arte e Cultura visual Periférica e Museu Afrodigital Rio de Janeiro. Ademais, tem um laboratório fotográfico no banheiro da casa e segue cegamente as palavras de Saramago: “é necessário dar a volta nas coisas para vê-las melhor”.

Cláudia Lyrio é natural do Rio de Janeiro, onde vive e trabalha. É professora substituta no curso de Pintura da Escola de Belas Artes da UFRJ. Graduada em Pintura e Letras (UFRJ), é Mestre em Literatura (UFRJ) e Especializada em História da Arte e Arquitetura no Brasil (PUC-Rio). Desenvolve sua pesquisa em torno da ideia do ciclo da vida, em trabalhos híbridos de desenho, grafismo e pintura, instalação, objetos e gravura. Entre as exposições coletivas que participou, destacam-se: 7 Etnógrafos, Galeria dotArt, Belo Horizonte/MG (2020); A Melancolia da Paisagem, Sem Título Arte Galeria, Fortaleza/CE (2019); Miragens, Centro Municipal de Artes Hélio Oiticica, Rio de Janeiro/RJ (2017); Além da Imagem, Sem Título Arte Galeria, Fortaleza/CE (2017) e Imersões, Casa França-Brasil, Rio de Janeiro/RJ (2017). Foi selecionada para diversos salões, entre os quais o Salão dos Artistas Sem Galeria 2022; Novíssimos (2019); Fortaleza/CE (2017); Guarulhos/SP(2016) e Vinhedo/SP (2016), quando obteve o Prêmio Aquisição de Pintura.

Yoko Nishio é artista visual, professora adjunta da Escola de Belas Artes da UFRJ e pesquisadora. Começou a se dedicar ao tema da violência no doutorado com a pesquisa sobre desenhos e inscrições nas paredes de prisões e delegacias. É doutora e mestre em Artes Visuais pela EBA/UFRJ. Tem diversos trabalhos publicados sobre a relação imagem e violência. Expôs em 2018 no 9º Salão dos Artistas Sem Galeria, nas galerias Zipper (SP), Sankovsky (SP) e Orlando Lemos (MG) e no Abre Alas 14, na galeria Gentil Carioca. Atualmente é pesquisadora do NuVisu – Núcleo de Estudos Visuais em Periferias Urbanas, e do Projeto de Pesquisa e Extensão MACP – Mapeando Arte e Cultura visual Periférica.

Serviço:

Nem sempre dias iguais

Abertura: 4 de junho de 2021, das 13h às 17h

Exposição: até 25 de setembro de 2022

Palácio do Catete, Museu da República

Rua do Catete, 153 – Catete – Rio de Janeiro (RJ)

Telefone: (21) 2127-0324

De terça a sexta, das 10h às 17h. Sábados, domingos e feriados, das 11h às 18h.

(Fonte: Midiarte Comunicação)