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Instituto Tomie Ohtake apresenta programa expositivo “Diásporas asiáticas”

São Paulo, por Kleber Patricio

Kimi Nii – Brotos e Semente.

Como aponta o diretor artístico do Instituto Tomie Ohtake, Paulo Miyada, em um espaço cultural que recebe o nome de Tomie Ohtake, pensar as diásporas asiáticas é uma tarefa inevitável. Os numerosos conflitos, crises, invenções, revoluções e guerras ao longo do século XX foram determinantes tanto para a diáspora de importantes parcelas da população asiática quanto para o afluxo de imigrantes de diversas partes do mundo ao Brasil – tendo o estado de São Paulo como um destino comum para muitos fluxos diaspóricos devido a suas dinâmicas econômicas e sociais. “É um processo conflituoso, com perdas e trocas que atravessam as gerações e são definidas pela constante transformação”, completa Miyada.

O programa Diásporas asiáticas procura somar forças a esse processo ao sublinhar o impulso criativo de artistas vindos da China, da Coreia do Sul e do Japão (ou mesmo nascidos aqui, em famílias imigrantes), exemplares de seus fluxos migratórios e, ao mesmo tempo, casos singulares dentro da história da arte brasileira. O programa foi produzido com recursos captados via Lei de Incentivo à Cultura do Ministério da Cultura.

Obra de Chen Kong Fang.

Diásporas asiáticas compreende três mostras, sendo duas individuais dos artistas Chen Kong Fang (Tung Cheng, China, 1931 – São Paulo, SP, 2012) e Hee Sub Ahn (Seul, Coreia do Sul, 1940). A terceira mostra, uma coletiva, apresenta trabalhos dos ceramistas nipo-brasileiros Akinori Nakatani, Alberto Cidraes, Hideko Honma, Katsuko Nakano, Kenjiro Ikoma, Kimi Nii, Kimiko Suenaga, Luciane Sakurada, Marcelo Tokai, Mário Konishi, Megumi Yuasa, Mieko Ukeseki, Renata Amaral, Shoko Suzuki e Tomie Ohtake. Ao lado das obras dos ceramistas, haicais do artista Kenichi Kaneko são dedicados a cada um dos ceramistas reunidos. A presença de Tomie se dá, ainda, por uma parte do folder que acompanha a exposição – cujo acesso pode se dar por QR Code – ser dedicada a suas obras públicas e a sua presença na cidade de São Paulo. A publicação conta ainda com textos inéditos dos curadores das mostras sobre os artistas e os universos retratados nas mostras e ainda com um texto comissionado de Lais Miwa, pesquisadora que vem se destacando no debate acerca da presença e da visibilidade da população asiática no contexto brasileiro.

Chen Kong Fang – O refúgio, com curadoria de Paulo Miyada e Yudi Rafael, se debruça sobre a carreira e a obra desse artista que construiu sua vida no Brasil, desenvolvendo a sua prática pictórica no cenário artístico paulistano por cerca de cinco décadas. A exposição, primeira retrospectiva do artista em uma instituição brasileira, reúne um conjunto de mais de cem obras, entre pinturas a óleo e sumi-ês produzidos entre o final dos anos 1940 e o início da última década. Segundo os curadores, em vez de um partido cronológico organizado em fases sucessivas, a mostra enfatiza como o artista, que concebia a pintura como um caminho, fez de seu labor uma lida constante com gêneros pictóricos consolidados. “Tomando partido da reabertura experimental pelas vanguardas modernas, Fang imprimiu sua dicção própria nas ideias de retrato, paisagem e natureza morta”, completam. A exposição Chen Kong Fang – O refúgio conta com o patrocínio da CTG Brasil.

Obra de Hee Sub Ahn.

A exposição Hee Sub Ahn – O caminho, com curadoria de Catalina Bergues e Julia Cavazzini, exibe pela primeira vez o trabalho da artista em um contexto institucional. A partir dos mais de cinquenta anos de criação intensa, selecionou-se um recorte das obras produzidas principalmente na década de 1980, poucos anos após sua chegada. Segundo as curadoras, a produção de Hee é atravessada pelas memórias do lugar de origem e pela nova comunidade aqui construída no bairro do Bom Retiro, na qual a artista ocupa papel central. “A disciplinada e rotineira criação artística de Hee se torna um íntimo ritual de dar significado ao que percebe em seu entorno”, destacam Bergues e Cavazzini.

Tocar a terra – Cerâmica contemporânea nipo-brasileira, com curadoria de Rachel Hoshino, curadora convidada, e que conta com assistência de Ana Roman, elege a cerâmica para tratar do tema diáspora japonesa – “por ser ela, simultaneamente, matéria e metáfora: o terreno no qual se aporta, se planta e se habita é a terra tocada com arte pelo ethos nipônico”, explica a curadora. São obras de 15 artistas baseados no estado de São Paulo cujas atividades, pesquisas e repertórios são influenciados pelas tradições do Japão, independentemente de sua ascendência. Segundo as curadoras, para além de forma e símbolo, é a experiência de energia latente que faz com que sementes e brotos sejam temas recorrentes em suas obras. “Muitas delas são deixadas em ambiente natural, onde continuam sua metamorfose, sob os efeitos de intempéries e da ocupação por outros seres”. Disso, ressalta Hoshino, resulta a outro importante conceito nipônico: “wabi-sabi” (侘び寂び), ideal estético-filosófico segundo o qual o belo reside no imperfeito, no impermanente e no incompleto. “A plasticidade da argila, o respeito pelo tempo e a consciência da interdependência entre tudo fazem com que a cerâmica seja prática favorável ao diálogo do ceramista com a sua história, seu entorno e consigo próprio”, completa Hoshino.

A estas exposições soma-se um programa público de encontros, oficinas e vivências, que serão divulgadas nas próximas semanas. Na pré-abertura, dia 1º de março, realiza-se programação concebida para o público de professores das redes pública e privada, e também para profissionais das artes. A participação no evento é mediante inscrição prévia e sujeito a lotação. No dia 2 de março, o público em geral é convidado a participar da performance e experimentação da técnica do sumi-ê, com a artista Suely Shiba. O dia se encerra com a Roda de Marabaixo do Amapá, Amazonizando mundos.

Exposição – Programa Diásporas asiáticas – Chen Kong Fang – O refúgio, Hee Sub Ahn – O caminho e Tocar a terra – Cerâmica contemporânea nipo-brasileira

Abertura: 2 de março, às 11h – em cartaz até 26 de maio de 2024 – terça a domingo, das 11h às 19h

Entrada franca

Programação para professores e profissionais das artes:

Sexta – 1° de março de 2024 – 14h às 16h30

Evento para professores e profissionais das artes (vagas limitadas, presença mediante inscrição) – Visita às exposições do programa Diásporas asiáticas com a presença da curadora Rachel Hoshino e com o artista Kenichi Kaneko, seguida de prática de ateliê com a equipe educativa do Instituto Tomie Ohtake. Inscrição aqui.

Programação geral:

Sábado – abertura para o público às 11h

14h às 16h – Performance e experimentação da técnica do sumi-ê, com Suely Shiba

16h às 18h30 – Roda de Marabaixo do Amapá, Amazonizando mundos.

Instituto Tomie Ohtake

Av. Faria Lima 201 (Entrada pela Rua Coropé, 88) – Pinheiros (SP)

Metrô mais próximo: Estação Faria Lima/Linha 4 – amarela

Fone: (11) 2245-1900.

(Fonte: Instituto Tomie Ohtake)