Notícias sobre arte, cultura, turismo, gastronomia, lazer e sustentabilidade

Exposição comemorativa das cinco décadas da Galeria Raquel Arnaud chega aos últimos dias

São Paulo, por Kleber Patricio

Fachada Galeria Raquel Arnaud. Crédito: Clarissa Miranda.

A mostra Galeria Raquel Arnaud – 50 anos marca meio século de existência da galeria paulistana. Com curadoria de Jacopo Crivelli Visconti, a exposição apresenta momentos decisivos da arte contemporânea brasileira desde a década de 1970 e revela como a marchand consolidou, de forma visionária, um projeto artístico claro e coerente, ao promover grandes artistas como Amilcar de Castro, Mira Schendel, Waltércio Caldas e Iole de Freitas, entre muitos outros. A mostra chega à reta final e receberá o público até o dia 24 de maio.

A história da galeria é apresentada ao público por meio de uma linha do tempo, com destaque para documentos raros produzidos pela instituição ao longo dos anos. Livros, convites elaborados por designers, folhetos e publicações podem ser vistos pela primeira vez, além de mais de 40 obras de artistas que passaram pela galeria, como Sérgio Camargo, Hercules Barsotti, Sérvulo Esmeraldo e Mira Schendel – artista suíça que expôs a série ‘Sarrafos’ na instituição pouco antes de falecer, em 1988.

Gabinete de Arte Raquel Arnaud na Av. Nove de Julho – SP, 1980 (adaptado por Lina Bo Bardi). Crédito: Arquivo pessoal.

Segundo o curador, o papel da galeria no fortalecimento da arte contemporânea é o centro da narrativa mostrada na exposição. “Quase se vislumbra uma contradição ao destacar a trajetória de Raquel na exposição, dado que as obras de arte e os artistas sempre ocuparam o posto mais significativo em sua vida. Contudo, ao menos uma vez após meio século, desviar a atenção não para as obras em si, mas sim para a história da galeria, torna-se o foco”, ressalta Visconti.

“A primeira exposição que fizemos no Gabinete de Artes Gráficas foi de Arthur Luiz Piza, com 70 gravuras, um sucesso, todas vendidas e algumas mais encomendadas. O artista Arthur Piza foi o primeiro artista da minha vida como galerista e o acompanhei até sua morte, em 2017”, destaca Raquel Arnaud.

Waltercio Caldas, mostra ‘Algodão Negativo’, Gabinete de Arte, São Paulo, 1983.

No início de sua trajetória como marchand, enquanto desenvolvia a carreira dos artistas de belas artes, Raquel Arnaud dirigiu a galeria Arte Global, da Rede Globo. Um experimento único no mercado de arte brasileiro, que levou ao horário nobre da televisão obras de artistas plásticos através de peças publicitárias elaboradas para a linguagem audiovisual. Uma experiência incomum no meio artístico, mas importante na consolidação de uma instituição que tem em sua base o diálogo.

Grandes nomes do movimento neoconcreto fazem parte do DNA da galeria desde sua formação. Willys de Castro, por exemplo, explorava as possibilidades no campo da abstração geométrica e sempre teve espaço para exibir suas criações, tendo realizado na instituição sua última individual, em 1986. No mesmo ano, a veterana Lygia Clark participou de sua última coletiva na galeria. A escultora chamava atenção pelas suas declarações a respeito de não ser artista. Nos últimos anos de vida, próxima da psicanálise, a dama do neoconcretismo incorporou trabalhos mais gestuais à sua obra.

Willy de Castro, exposição Gabinete de Arte, 1983. Crédito: Arquivo pessoal.

E é justamente na década de 1980 que a instituição entra em uma nova fase e passa a se chamar Gabinete de Arte Raquel Arnaud. Novos nomes como Nuno Ramos e Tunga ganham destaque na programação da galeria com suas técnicas inovadoras. Na mesma época, foi exposta no Gabinete de Arte a série ‘Carimbos’, de Carmela Gross, trabalho que criticava diretamente a censura do regime militar ao tratar da reprodução em massa da imagem. Em um primeiro momento, houve uma baixa adesão do público à exposição. Mas o reconhecimento veio anos depois, quando a obra foi incorporada no acervo permanente do MoMA, em Nova York, confirmando o olhar atento da galerista para novas tendências.

Já a ítalo-brasileira Anna Maria Maiolino expôs com Raquel Arnaud algumas de suas obras mais ousadas. Conhecida por trabalhos que retrataram os perigos dos regimes de exceção, com forte teor contestatório, Maiolino também explorou as possibilidades das linhas, das dobras e formas em trabalhos com argila e tecidos. “Continua sendo um desafio, como sempre foi, dar continuidade à linha de trabalho na galeria, contemplando, por um lado, os nomes consagrados que represento há muitos anos, assim como os mais jovens talentos, que serão também consagrados numa conversa geracional investigativa e produtiva”, pontua Raquel.

Mira Schendel, exposição ‘Sarrafos’, Gabinete de Arte, 1987. Crédito: Arquivo pessoal.

Ao destacar expoentes dos movimentos concreto, cinético, abstrato e geométrico, a galeria Raquel Arnaud não deixou de abrir suas portas para artistas de outras vertentes. Ao longo dos anos, o diálogo virou sinônimo da curadoria desta dama das artes, que mostrou artistas muito distintos entre si, como Vik Muniz, Regina Silveira e Lygia Pape. Alinhada às experimentações visuais e atenta a tendências internacionais, a galerista foi uma das primeiras a trazer grandes nomes da arte cinética, como Almandrade, Jesús Rafael Soto e Carlos Cruz-Diez.

Raquel Arnaud também fundou o Instituto de Arte Contemporânea (IAC) em 1997 para documentar e catalogar obras de artistas do gênero, como Sergio Camargo e Willys de Castro, os primeiros a terem seus acervos incorporados à instituição graças ao papel da galerista. O projeto de reunir arquivos para pesquisa e consulta pública exigiu tempo, dedicação e recursos próprios, uma vez que a instituição se propunha a um papel pioneiro ao disponibilizar material até então inédito para pesquisadores.

Iole de Freitas e Raquel Arnaud, exposição de Iole de Freitas, 1992. Crédito: Arquivo pessoal.

Galeria Raquel Arnaud – 50 anos ficará em cartaz entre fevereiro e maio e terá uma dinâmica inédita ao eleger uma expografia em transformação. “Vamos ter uma série de conversas com artistas de papel importante na galeria e, ao longo dos meses, vamos trazer obras marcantes para construir um diálogo contínuo e vivo. Assim, o público vai poder conhecer trabalhos de vários pintores e escultores que não teriam suas criações mostradas por conta do espaço”, destaca Visconti sobre a rotatividade de alguns trabalhos. No final do semestre, a galeria lançará uma publicação sobre a comemoração, com textos de intelectuais, críticos e curadores que fizeram parte da história da instituição.

Sobre a Galeria Raquel Arnaud

Criada em 1973, com o nome de Gabinete de Artes Gráficas, com espaços marcantes assinados por arquitetos como Lina Bo Bardi, Ruy Ohtake e Felippe Crescenti, o Gabinete passou por diferentes endereços, como as avenidas Nove de Julho e Brigadeiro Luís Antônio, além do espaço que havia pertencido ao Subdistrito Comercial de Arte, na Rua Artur de Azevedo, em Pinheiros, onde permaneceu de 1992 a 2011.

José Resende – Sem título, 1980.

O foco no segmento da abstração geométrica e a atenção especial dada às investigações da arte contemporânea – arte construtiva e cinética, instalações, esculturas, pinturas, desenhos e objetos – perpetuaram a Galeria Raquel Arnaud no Brasil e no exterior tanto por sua coerência como pela contribuição singular para valorização e consolidação da arte brasileira. Para isso, contribuíram de forma fundamental artistas como Amilcar de Castro, Willys de Castro, Lygia Clark, Mira Schendel, Sergio Camargo, Hércules Barsotti, Waltercio Caldas, Iole de Freitas e Arthur Luiz Piza, entre outros.

Atualmente com sede na Rua Fidalga, 125, Vila Madalena, a Galeria Raquel Arnaud representa artistas reconhecidos nacional e internacionalmente – Waltercio Caldas, Carlos Cruz-Díez, Arthur Luiz Piza, Sérvulo Esmeraldo, Iole de Freitas, Maria Carmen Perlingeiro, Carlos Zilio e Tuneu. Os mais jovens atestam a consolidação de novas linguagens contemporâneas – Frida Baranek, Geórgia Kyriakakis, Daniel Feingold, Julio Villani, Célia Euvaldo, Wolfram Ullrich, Elizabeth Jobim, Carla Chaim, Carlos Nunes e Ding Musa.

Raquel Arnaud também fundou o Instituto de Arte Contemporânea (IAC) em 1997, a única instituição no Brasil que cataloga documentação de artistas.

Serviço:

Galeria Raquel Arnaud – 50 anos

Local: Galeria Raquel Arnaud – Rua Fidalga, 125 – Vila Madalena, São Paulo – SP

Período expositivo: 22 de fevereiro a 24 de maio

Horários de visitação: segunda a sexta, das 11h às 19h | sábado, das 11h às 15h

Entrada gratuita

https://raquelarnaud.com/

https://www.instagram.com/galeriaraquelarnaud/.

(Fonte: A4&Holofote Comunicação)